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Fado Adiça

De Quem São as Chinelinhas

Letra:              Manuel Pardal
Música:           Armandinho
Repertório:       António Rocha

 

 

 

De que são as chinelinhas
Que andavam no bailarico,  (bis)
Eu vi-as bailar sozinhas

Não devem ter namorico  (bis)
 

Gosto delas podem crer
Como se elas fossem minhas

Mas não consigo saber
De que são as chinelinhas  (bis)

Dia e noite em busca delas
Mas sem saber eu não fico

De quem são essas chinelas
Que andavam no bailarico  (bis)

 

 

 

Como é possível tão belas
Como duas avezinhas

Se ninguém bailasse com elas
Eu vi-as bailar sozinhas  (bis)

 


Se elas andavam assim
Sozinhas no bailarico  (bis

Talvez esperem por mim
Não devem ter namorico  (bis)

 

Pequena biografia do autor:                                                                                                                          

                                                                                                                                                Armandinho
 

Armando Augusto Salgado Freire nasceu em Lisboa, no Pátio do
Quintalinho, perto da Rua das Escolas Gerais, em Alfama, a 11 de Outubrode 1891.
Com o pai aprende a tocar bandolim mas, aos dez anos, começa a
interessar-se pela guitarra portuguesa e quatro anos depois, em 1905 faz a
sua primeira atuação em público, no Teatro das Trinas, iniciando desta
forma a sua carreira como instrumentista, profissão onde ficará conhecido
pelo nome de Armandinho.
A sua carreira é impulsionada quando, em 1914, conhece o mais famoso guitarrista da época - Luís Carlos da
Silva, conhecido por Luís Petrolino, e se torna seu discípulo. Ainda assim, manterá diversas profissões seja
como meio-oficial de sapateiro, moço de bordo, operário da Companhia Nacional de Fósforos, servente do
Casão Militar ou fiscal do Mercado da Ribeira.
Armandinho, apresentou-se pela primeira vez em público em 1905, com apenas 14 anos, no velho Teatro das
Trinas, na Madragoa. Mas a sua estreia como guitarrista profissional tem lugar no Olímpia Club, situado na
Rua dos Condes, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves.
Em 1925 acompanha cantadores e cantadeiras no Solar da Alegria, local de culto dos amantes do Fado que,
amiúde, ali se deslocam para se deliciarem com as "improvisações" de Armandinho ou para ouvi-lo
interpretar as composições do seu Mestre, Luís Petrolino.
Em 1926 faz a primeira gravação em Portugal em microfone de bobine elétrica móvel. Grava seis
composições, acompanhado na viola por Georgino de Sousa, para a His Master’s Voice, que em Portugal é
financiada e vendida pela Valentim de Carvalho.
Dois anos depois, em 1928, também acompanhado por Georgino de Sousa, Armandinho grava em duas
sessões no Teatro S. Luís, um conjunto de Fados, variações em tons diferentes uma marcha, mais uma vez
editados no formato de 78 rpm. Estas faixas serão reeditadas em CD pela editora Heritage, em 1994.
Armandinho foi dos primeiros a realizar digressões artísticas fora do continente português. Em 1922 anuncia
a sua ida a Espanha e a Inglaterra com João da Mata Gonçalves (cf. "Guitarra de Portugal", 4 de Novembro
de 1922). Entre 1932 e 1933 desloca-se em tournée pelas Ilhas portuguesas, por Angola e Moçambique,
acompanhado pelo mesmo violista e por Martinho d'Assunção, Ercília Costa, Berta Cardoso e Madalena de
Melo.
Sobre as suas tournées, relata o próprio em 1936, na publicação "Azes do Fado": "Constituímos um pequeno
grupo, que foi muito bem acolhido: Ercília Costa, João da Mata, Martinho de Assunção e eu. Mais tarde,
animados pelo êxito deste primeiro voo, organizámos uma «tournée» à África (...). Percorremos as Costas
Ocidental e Oriental. (...). A terceira «tournée» em que entrei, porventura a mais importante, já pelo número
de artistas, já pelo reportório, foi ao Brasil, Argentina e Uruguai. Era a Embaixada do Fado, embaixada
luzidia em que figuravam, além da minha humilde pessoa, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Lina
Duval, Branca Saldanha, José dos Santos Moreira, Alberto Reis, Felipe Pinto, Joaquim Pimentel e Eugénio
Salvador." Nesta última digressão Lina Duval e Eugénio Salvador apresentavam coreografias.
Músico autodidata, toca de ouvido e, para além de um excelente executante, é também compositor de
grandes melodias. Autor de muitos Fados e variações que sobrevivem até aos dias de hoje criou temas que se
tornaram "clássicos", casos de "Fado Armandinho", "Fado de S. Miguel", "Fado do Cívico", "Fado do 39
Bacalhau", "Fado Mayer", "Fado do Ciúme", "Fado Estoril", "Variações em Ré Menor", "Variações em Ré
Maior", "Ciganita", "Fado Fontalva", "Fado Conde da Anadia", entre muitos outros.
O guitarrista afirma que a sua primeira composição foi o "Fado Armandinho" e, para o teatro, foi o "Fado do
Cívico", cantada por Estêvão Amarante na revista "Torre de Babel", levada à cena no Teatro Apolo em 1917.
Depois, também para teatro, compôs o "Fado do Bacalhau", interpretado por José Bacalhau a que se
seguiram numerosas colaborações.
São inúmeras as vozes fadistas que acompanhou quer em atuações em espetáculos e casas de fado quer em
gravações discográficas, a título de exemplo salientamos: Alberto Costa, Maria Vitória, Ângela Pinto,
Adelina Ramos, Berta Cardoso, Madalena de Melo ou Ercília Costa, entre muitos outros.
Armandinho atuou nas mais emblemáticas casa de Fado de Lisboa, e, em 1930, tornou-se empresário,
quando abriu o seu próprio espaço no Parque Mayer, o Salão Artístico de Fados, onde atuou durante alguns
anos, mas depressa tomou consciência de que teria de se repartir por digressões e espetáculos pelo que
abandonou este projeto.

Atuou ainda, em inúmeras casas particulares, especialmente nas casas da fidalguia como, por exemplo, nas da Família Burnay, Fontalva e Castelo Melhor.
Para além de João da Mata, Georgino de Sousa ou Martinho d'Assunção, outros grandes violistas tocaram
com ele, entre os quais se destacam Abel Negrão, Fernando Reis, Santos Moreira ou Pais da Silva.​

As suas interpretações são suaves e subtis, incluem pianinhos que retirava da guitarra tocando com as suas
próprias unhas e, para determinados efeitos tímbricos, recurso à surdina. Armandinho revelou-se um marco
na execução da guitarra portuguesa, criando "escola" onde se filiaram outros grandes nomes como José
Marques Piscalareta, Carvalhinho, José Nunes, Jaime Santos, Raul Nery ou Fontes Rocha, entre outros.
O guitarrista exibia uma técnica adaptada aos fadistas que acompanhava, criando uma espécie de diálogo que
evidenciava as particularidades interpretativas dos cantadores e que lhe permitia assumir uma posição de
igualdade com os fadistas e não a subalternização dos guitarristas muito vulgarizada nas primeiras décadas
do século XX. As suas interpretações tinham tal força que inspiraram ao poeta Silva Tavares as seguintes
quadras:
 

“A guitarra - alma da raça,
Amante do meu carinho,
Tem mais perfume e desgraça
Nas mãos do nosso Armandinho.
Benditos os dedos seus
Que arrancam assim gemidos
Tal como se a voz de Deus
Falasse aos nossos ouvidos.”
 

Armandinho faleceu a 21 de Dezembro de 1946 na sua casa situada na Travessa das Flores, em Lisboa,
deixando o Fado de luto como escreveu na sua capa o jornal "Guitarra de Portugal" de 1 de Janeiro de 1947.
Deixou viúva e um filho, também guitarrista: Armindo Freire.
Foi um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses em 1927.
Desta forma assumiu-se como responsável pela recolha de muitas melodias de Fado e pelo registo dos seus
autores naquela sociedade, facto que nos permite o conhecimento atual de muitas destas melodias.
A Câmara Municipal de Lisboa, através de Edital de 01/08/2005, atribuiu o nome de Armandinho a um
arruamento da Freguesia de Marvila.

Seleção de Fontes de Informação:
 

“Guitarra de Portugal”, 4 de Novembro de 1922;
“Guitarra de Portugal”, 12 de Junho de 1931;
“Guitarra de Portugal”, 31 de Julho de 1933;
“Guitarra de Portugal”, 1 de Janeiro de 1947;
Cabral, Pedro Caldeira (1999), "A Guitarra Portuguesa", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Guinot, Maria, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório (1999) "Histórias do Fado", Col. "Um Século de
Fado", Lisboa, Ediclube;
Rodrigues, Mário (1936), "Armandinho: sua vida - sua história", in "Azes do Fado", Ano I, nº 2, 15 de
Fevereiro;
Sucena, Eduardo (1992), "Lisboa, o Fado e os Fadistas", Lisboa, Vega.
CD "Arquivos do Fado Vol. IV - Armandinho (As sessões HMV 1928-1929) ", Ed. Heritage, 1994.
 

 

Última atualização: Fevereiro/2008

Pequena biografia do intérprete:

​                                                                                                                                                António Rocha

António Domingos Abreu Rocha nasceu em Belém, Lisboa, a 20 de Junho de 1938.
Frequentou apenas a escola até completar a instrução primária, pela necessidade

de seempregar e assim ajudar nos rendimentos familiares.
Com apenas 13 anos, em 1951, ganhou um concurso de Fado organizado pelo jornal
Ecos de Portugal, mas como estava na idade da mudança de voz, só volta a cantar
passados alguns anos num restaurante da Cova da Piedade, o Riba-Mar. Nesse
restaurante é ouvido pelo Conde de Sobral que, entusiasmado com as suas
interpretações, o apresenta a Deolinda Rodrigues. A fadista apadrinha a carreira de
António Rocha, desafia-o a cantar em Lisboa, no Retiro Andaluz, e a receção que
obtém não podia ser melhor. Faz a sua estreia profissional em 1956, como contratado deste espaço.
Apesar de nessa altura estar ainda empregado numa loja de ferragens, com os êxitos que se vão somando,
cedo acaba por optar pela carreira artística.
No mesmo ano em que se estreia profissionalmente faz programas de televisão, entra para a Emissora
Nacional e é convidado a gravar o seu primeiro EP, com 4 faixas, para a editora Fonomate.
Em 1959, num concurso levado a cabo pelo Café Luso, é eleito “Rei” do Fado menor, uma das formas
clássicas do Fado tradicional, que continua a interpretar como ninguém.
António Rocha assume já nesta altura um papel de relevo no panorama da música nacional, com uma
popularidade plenamente demonstrada com a atribuição do título de “Rei do Fado”, em 1967, numa votação
realizada pelo público para a revista “Plateia”.
Por esta ocasião o poeta Carlos Conde publica um poema sobre António Rocha, elucidativo da sua
popularidade por um lado e, por outro, das suas qualidades de intérprete:
 

“Porque encanta quando canta,
O António Rocha parece
Que tem sempre na garganta
A ternura de uma prece!
 

Põe na voz tal melodia
E um sabor tão requintado
Que perfuma de magia
As próprias rimas do Fado!
 

Conseguiu ter um reinado,
Um trono alto, uma grei;
- o Rocha tem o seu Fado,
O Fado tem o seu Rei!”
 

Sucedem-se os contratos para se apresentar nas mais conceituadas casas de Fado de Lisboa, os espetáculos
por todo o país, atuando em restaurantes típicos e casinos, bem como as deslocações ao estrangeiro,
nomeadamente aos Estados Unidos.
As apresentações em espetáculos para rádio e televisão são também uma constante e António Rocha tem
durante algum tempo o seu próprio programa radiofónico, onde apresenta uma rubrica esclarecedora das
questões dos ouvintes sobre Fado.
Nas últimas décadas o fadista continua a brilhar nos elencos das Casas de Fado de Lisboa, estando já há
vários anos no Faia. Mas as suas apresentações não se limitam ao território nacional, sendo diversas vezes
convidado a integrar festivais de música do mundo ou a realizar espetáculos em países como os Estados
Unidos, Itália, Espanha, França, Holanda e Bélgica.
Fadista consciente da importância de ter um repertório próprio, cedo constituiu o seu repertório individual,
sendo autor da maior parte dos poemas que canta e ainda de algumas das músicas.
António Rocha atuou em quase todas as Casas de Fado de Lisboa, das quais destacamos, pelo número de
anos de permanência no elenco, o Solar da Hermínia, o Timpanas e o Faia, onde faz parte do atual elenco.
Em 1996, com Beatriz da Conceição, foi convidado a integrar o projeto de Paul van Nevel e o Huelgas
Ensemble, “Tears of Lisbon”, que consistia numa recolha, realizada pelo maestro, de fados e música
portuguesa do século XVI. Para além dos inúmeros espetáculos realizados foi, também, gravado um CD ao
vivo, no Refectory of the Bijloke Abbey, em Ghent na Bélgica. Neste disco António Rocha interpreta temas
com poemas da sua autoria, como “Luz de teu caminho”, com música de Paulo Valentim, ou “Pede à noite”,
com música de Manuel Mendes.
Os espetáculos de António Rocha estenderam-se a inúmeros Restaurantes Típicos e Casinos do país, bem
como a vários locais no estrangeiro.
Destacamos, nos anos mais recentes, a sua presença nos seguintes espetáculos:
- Semana Portuguesa em Roma, em 1988;
- Noites Longas, realizadas no âmbito da Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura;
- Holanda, a convite do maestro Paul Van Nevel, em 1994;
- Bélgica, a convite do maestro Paul Van Nevel, em 1995;
- França, a convite do maestro Paul Van Nevel, em 1996;
- Festival de Música do Mundo, realizado em Barcelona no ano de 1997;
- Sete espetáculos realizados na EXPO’ 98;
- Festival de Música de Bruxelas, em 1998;
- Digressão por várias cidades da França e da Bélgica, em 1999;
- Encontros em la Musica, no Tenerife, em 2000;
- Festival des Bucoliques du Pays de Racan, em França, no ano de 2000;
- I e II Festival da Música e dos Portos, em Lisboa, nos anos de 2000 e 2001
- XXIII Festival Sabandeño, em 2001;
- Espetáculos no âmbito do Porto Capital da Cultura, 2001;
- Os Poetas Populares, CCB, Festas de Lisboa 2004.
O mais recente trabalho discográfico de António Rocha, “Silêncio, Ternura e Fado”, foi editado pela Ovação
em 2004. Das 12 faixas apresentadas, podem escutar-se 11 poemas do fadista.
É sócio fundador da APAF (Associação Portuguesa dos Amigos do Fado).
Entre 2001 e 2004 foi professor do Gabinete de Ensaios para Intérpretes de Fado, na Escola de Guitarra
Portuguesa do Museu do Fado.

Seleção de Fontes de Informação:
 

Dados biográficos fornecidos pelo fadista;
Programa do espetáculo “Um Porto de Fado” (2001), Lisboa, HM Música;
Programa do espetáculo “Les Larmes de Lisbonne” (1996), Abbaye-aus-Dames, 8 de Julho.
Museu do Fado - Entrevista realizada em 8 de Julho/2006.
 

Última atualização: Junho/2006

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