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Fado Alexandrino  das Patameiras

 

 

Título:     Lenda

Intérprete:     Nuno de Aguiar

Letra:           Aires Ângelo dos Santos

Música:       José Fontes Rocha

 

Guitarra:  José Fontes Rocha e José Pracana

Viola:         Manuel Martins

Viiola-baixo:        Júlio Garcia

 

Data da 1ª edição        1993

Numa rua de Alfama,

existe um chafariz,
Testemunho fiel

de lendas muito antigas!

 

O Chafariz d’el-Rei,

segundo o povo diz,
Fui palco dos amores

de lindas raparigas!   (bis)

Certa donzela, um dia,

sentindo desconsolo,
Por ter partido a bilha,

que com ela levava!

 

Mas alguém que passava,

com um menino ao colo,
Pegou na cantarinha,

a ver se a concertava...!   (bis)

Foi milagre de Deus

ou artes do demónio,
Pensou a linda moça,

ao ver tal maravilha...!,

 

Então reconheceu,

que fora Santo António,
Que cheio de esplendor,

lhe concertara a bilha!   (bis)

Esta lenda, faz parte

das lendas seculares,
Recontadas p´lo povo,

preito tradicional,

 

Pois, quando se festejam,

os Santos Populares,
São tradições bairristas

do nosso Portugal!   (bis)

 

Fado Alexandrino das Patameiras


Fado em modo maior, que como todos os fados Alexandrinos, assim chamados em homenagem ao poeta francês Alexandre Berné, tem como característica ser cantado com versos em quadras de 12 sílabas, e com a particularidade do cantador se antecipar ligeiramente à música! Os fados Alexandrinos, são considerados fados da 1ª geração ou, como diz o "expert" na matéria Dr. Nuno de Siqueira, da 1ª geração e 1/2...!

Conta-se que um certo dia, se reuniram em casa do cantador Nuno de Aguiar, alguns músicos, para ensaiarem o repertório que aquele artista iria gravar no seu próximo disco.
Entre eles encontrava-se um dos grandes guitarristas do século XX, felizmente ainda vivo: José Fontes Rocha!
A companheira de Nuno de Aguiar, tinha preparado uns petiscos para entreter o estômago dos presentes. Mestre José Fontes Rocha, quando viu aquilo disse: “Ah! Que pena não haver um queque”.
Logo se providenciou um prato daquele bolo e Mestre Fontes, muito agradado com a atitude, resolveu responder, compondo logo ali um fado. E que melhor nome para esse fado do que Fado Queque? Tudo parecia resolvido...! Mas não...! Aconteceu, que esta denominação, não mereceu o consenso dos presentes! Então, e depois de alguma conversa, ficou resolvido chamar à música acabado de compôr, "Fado das Patameiras", isto porque estavam em casa de Nuno de Aguiar, que se situava no Bairro das Patameiras, em Odivelas!
Como o fado era cantável em versos Alexandrinos, ficou o "Fado Alexandrino das Patameiras"!
Coisas do Fado...!                                                                                                                               

                                                                                                                                            José Fontes Rocha

 

 

Pequena biografia do autor:


José Fontes Rocha, nasceu no Porto (Ramalde), em 1926.
Nasceu numa família de gente ligada à música; o seu avô paterno, foi regente de

uma banda popular, tendo com ele aprendido música e a tocar violino; contudo,

seria o pai, que tocava guitarra, quem mais o influenciou a tocar o instrumento que

veio a ser a sua grande vocação. Aprendeu o ofício de eletricista.
Aos 20 anos, começou a tocar como amador entre amigos e em festas particulares e, dez anos depois, veio para Lisboa, começou por adotar o estilo de José Nunes, que acabou por marcar profundamente a sua própria interpretação. Na capital, atuou durante algum tempo no Restaurante Típico "Patrício", na Calçada de Carriche e, quando este encerrou em 1956, foi trabalhar na sua profissão de eletricista para os CTT.
Atuou também Pampilho, na Calçada de Carriche (ex-Nova Sintra).

Abandona definitivamente a profissão de eletricista e dedica-se em exclusivo à guitarra.
Foi contratado para a "Adega Mesquita", donde transitou para a "Taverna do Embuçado" e depois para o Senhor Vinho, onde atuou vários anos.
Fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery ( então também integrado por Júlio Gomes e Joel Pina ), com o qual se deslocou ao estrangeiro para acompanhar Maria Teresa de Noronha em vários espetáculos e com Amália Rodrigues, que acompanhou durante doze anos, tendo-se exibido em diversos países.
De todos os espetáculos em que participou, realça-se no Olympia de Paris, em 1968, destinado aos emigrantes portugueses com o viola Castro Mota ainda no conjunto de guitarras de Raul Nery.
Outro espetáculo memorável em que Fontes Rocha participou, com Pedro Leal à viola, foi nas Halles, também em Paris, cuja exibição, se saldou em mais um sucesso, em particular para Amália Rodrigues.
Também no Lincoln Center, em Nova York, na temporada de 1969/1970, fazendo parte do mesmo conjunto de guitarras, teve ocasião de atuar com a Orquestra de André Kostelanetz e de contribuir para o êxito de Amália, que na interpretação da Casa Portuguesa, batizada pelos americanos de Kiss Song, obteve um dos seus maiores sucessos.

Além dos discos gravados com o conjunto de guitarras de Raul Nery, Fontes Rocha gravou mais três discos com guitarradas, e noutros acompanhou Amália e Natália Correia, esta na declamação de poesias.
É também autor das músicas de vários fados, tais como "Quentes e Boas" ( com letra de José Luís Gordo ), "Fado Isabel" (Corrido cantado com diversas letras ), "Anda o Sol na minha rua" ( versos de David Mourão-Ferreira), "Lavava no rio lavava" e "Trago o Fado nos sentidos" ( ambos com letras de Amália Rodrigues ).

( Origem do texto desta biografia: lisboanoguiness.blogs.sapo.pt ).

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​Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                                   José Fontes Rocha
José Fontes Rocha, "Fontes Rocha", nasce no Porto, na freguesia de Ramalde, em 20 de

Setembro de 1926.
Descendente de uma família de músicos, o seu avô paterno, Joaquim Rocha foi regente

e compositor da Banda de Santiago, uma banda civil, das chamadas "bandas

regimentares" que abrilhantavam os coretos e as festas das vilas e aldeias do norte do

país. Foi este seu avô que, aos 12 anos, começou a ensinar-lhe solfejo e,

simultaneamente, aprendia a tocar violino. O gosto pela guitarra adquiriu-o por influência

do pai, António da Silva Rocha que tocava este instrumento em paródias de amigos. Foi assim que aos 16 anos começou a dedicar-se à guitarra, desta feita como autodidata, aprendendo a tocar sozinho.
Dos 16 aos 30 anos exerceu a profissão de eletricista, no norte do país, conciliando-a com a atividade de guitarrista amador, que começou a praticar aos 20 anos, tocando entre amigos, em tertúlias e em festas particulares. O seu gosto pela guitarra portuguesa era fomentado também pela audição dos programas de guitarradas, nomeadamente na Emissora Nacional, e de onde se destacam os nomes de Raul Nery, Paredes, José Nunes e Carvalhinho.
Dez anos depois, em 1956 e a convite de José Nunes, vem para Lisboa, e integra o elenco do Restaurante "Patrício", na Calçada de Carriche tocando guitarra portuguesa. Quando o "Patrício" encerrou portas, Fontes Rocha começa a trabalhar nos Correios de Portugal, e de forma esporádica toca no "Pampilho", uma casa também situada na Calçada de Carriche. Pouco tempo depois foi contratado pela "Adega Mesquita", e abandonou definitivamente a profissão de eletricista, decidindo tornar-se guitarrista profissional. Neste período acompanha o fadista Fernando Farinha tendo inclusivamente realizado vários concertos no Canadá e E.U.A. (1962). Na "Adega Mesquita" terá um dos encontros mais decisivos da sua carreira, conhece a fadista Amália Rodrigues, com quem irá desenvolver um grandioso trabalho musical.
Como instrumentista, diz-nos Pedro Caldeira Cabral, que tinha "como modelos estilísticos os dos guitarristas Armandinho e José Nunes, cuja influência no seu tipo de sonoridade é perfeitamente reconhecível. Fontes Rocha desenvolveu, no entanto, com uma persistência notável uma série de aperfeiçoamentos na sonoridade das guitarras, introduzindo técnicas de «surdina», redesenhando a forma das unhas e o ângulo de ataque das cordas, etc." (Pedro Caldeira Cabral, “A Guitarra Portuguesa”, Lisboa, Ediclube, 1999).
Fontes Rocha fez parte do Conjunto de Guitarras de Raul Nery (integrado também por Júlio Gomes e Joel Pina), com o qual se deslocou ao estrangeiro, também para acompanhar Maria Teresa de Noronha. Enquanto executante neste conjunto participam todas as semanas em programas na Emissora Nacional, onde interpretam 4 peças diferentes, o que exigia ensaios e uma grande dose de profissionalismo, uma vez que, segundo Fontes Rocha, é muito complicado pôr 4 instrumentos a tocar simultaneamente.
Com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, atuou com a Orquestra de André Kostelanetz, na temporada de 1969-1970, contribuindo para o grande êxito alcançado por Amália Rodrigues no Lincoln Center de Nova Iorque.
Na década de 60 destaca-se como guitarrista de Amália Rodrigues, sendo um dos pontos altos do percurso artístico do guitarrista. Com Amália percorre praticamente todos os palcos do mundo, desenvolvendo um trabalho de elevada qualidade, quer a nível de composições, como de sonoridades, em estreita colaboração com Alain Oulman e aliadas a uma cuidada escolha de poemas. Das numerosas apresentações que fez com a fadista destacam-se espetáculos como o realizado no Olympia de Paris, em 1968, destinado aos emigrantes portugueses, onde, para além do Conjunto de Guitarras de Raul Nery, participaram também Carlos Paredes, Simone de Oliveira, Duo Ouro Negro e o Grupo de Bailados Verde Gaio.
Além dos discos gravados com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Fontes Rocha editou ainda três discos com guitarradas, tocou para Natália Correia num disco de poesias e fez o acompanhamento em discos de inúmeros fadistas, caso de Ada de Castro, António Mourão, Carlos do Carmo (no LP "Por morrer uma andorinha"), Fernando Farinha, João Braga, Maria Amélia Proença e Maria da Fé, entre muitos outros.
Das gravações feitas com Amália Rodrigues, Fontes Rocha destaca com orgulho o trabalho realizado para o disco "Com Que Voz", com músicas de Alain Oulman, onde o guitarrista foi autor dos arranjos e do som. Como nos relata o próprio: "tive a sorte de fazer o melhor trabalho dela. Foi um disco que foi premiado em todo o mundo, com um prémio que só se dá a grandes músicas eruditas (…). Esse disco foi feito por mim (…) eu peguei na minha guitarra de Coimbra (afinada por Artur Paredes para o Fado de Coimbra). E foi nessa guitarra afinada de Coimbra que eu fiz esse disco, que está certíssimo para a música, e até inclusivamente para os poemas." (Baptista Bastos, "Fado Falado", Lisboa, Ediclube, 1999).
José Fontes Rocha é autor da música de vários Fados, alguns bastante famosos, tais como "Quentes e Boas" (com letra de José Luís Gordo), "Fado Isabel" (corrido cantado com diversas letras), "Anda o Sol na minha rua" (letra de David Mourão-Ferreira), "Lavava no rio lavava" e "Trago o Fado nos sentidos" (ambos com poemas de Amália). Compôs também melodias de guitarradas, como a "Valsa em Si menor", "Variações à Roda de uma Valsa", "Variações em Ré menor", "Variações em Sol Maior" e "Evocação em Mi menor".
Em 2005 recebe o Prémio Amália Rodrigues para Melhor Compositor de Fado.
O seu talento e sensibilidade são reconhecidos numa justa homenagem aos 80 anos de vida, realizada em 19 de Outubro de 2006, no Fórum Lisboa, com a participação de João Braga, Maria da Fé, Maria Armanda, Joana Amendoeira, Ana Sofia Varela, Gonçalo Salgueiro, Miguel Capucho, Rodrigo Costa Félix, Carlos Gonçalves, Carlos Manuel Proença, Joel Pina, Raul Nery e Ricardo Rocha, que interpretaram melodias de sua autoria.
Exímio acompanhador e compositor de melodias, José Fontes Rocha continua hoje a ser uma fonte inspiradora para todos os instrumentistas e fadistas.

 

 

 


Seleção de fontes de informação:

Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Caldeira Cabral, Pedro (1999), "A Guitarra Portuguesa", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
Museu do Fado - Entrevista realizada em 05, 21, 28 de Novembro de 2006.

 


Última atualização: Outubro/2011

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