top of page

Fado Alcântara

Negro ciúme
Letra:            Domingos Gonçalves da Costa
Música:         Raúl Ferrão

Repertório:     Fernanda Maria

 

 


Quando vieram dizer-me que fui traída
Senti-me só e vencida, chorei, confesso
E como louca fiquei para ali a um canto
Vertendo o amargo pranto que nunca esqueço


Pois ver a gente a derrocada dum sonho
Ao sopro vil e medonho duma traição
É sentir lume, ódio rancor, negro ciúme
E jamais acreditar numa afeição


Não há dor mais profunda mais triste
Que a da mulher trocada por outra mulher
É veneno, é ciúme que existe
P'la mulher desprezada por quem adora e quer

Onde outrora era dia risonho
Cai a fria noite negra e sem luar
É tão triste meu Deus, tão medonho
Que eu canto esta dor, co'a alma a chorar


Fui ter com ela e o que lhe disse nem sei
Sei apenas que chorei de raiva e dor
Pois nos seus olhos bailava a negrura enorme
Dum coração frio que dorme, sem ter amor


E uma praga lhe roguei em pleno rosto
Que Deus lhe desse um desgosto, igual ao meu
E hoje ao ver-me, essa mulher foge de mim
Meu amor voltou p'ra mim, e ela sofreu

Não há dor mais profunda mais triste
Que a da mulher trocada por outra mulher
É veneno, é ciúme que existe
P'la mulher desprezada por quem adora e quer

 

Onde outrora era dia risonho
Cai a fria noite negra e sem luar
É tão triste meu Deus, tão medonho
Que eu canto esta dor, co'a alma a chorar

​Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                         Raúl Ferrão
Ninguém diria, mas o compositor de algumas das mais populares e conhecidas

canções, fados e marchas de Lisboa era... militar de carreira!
Raul Ferrão escreveu música para mais de uma centena de peças de teatro e

revistas e ainda para alguns dos mais aclamados filmes portugueses.
A ele se devem êxitos como Cochicho, As Camélias, Burrié, Velha Tendinha,

Rosa Enjeitada, Ribatejo, e ainda canções para os filmes A Canção de Lisboa,

Maria  Papoila, A Aldeia da Roupa Branca e A Varanda dos Rouxinóis; e

escreveu ainda música para operetas como A Invasão, Ribatejo, Nazaré,

Colete Encarnado ou Senhora da Atalaia.
Em 1907, com 17 anos de idade, ingressou na carreira militar. Foi professor da Escola de Guerra em 1917 e 1918, depois de ter cumprido comissões de serviço em África durante a I Guerra Mundial.
Ferrão, formado em engenharia química, começou a compor durante os anos vinte e chegou a ser
representante da antecessora da Sociedade Portuguesa de Autores, a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, em congressos internacionais de direitos de autor.
Extraordinariamente produtivo como compositor (só na década de quarenta escreveu música para quase
quarenta revistas!), as suas criações atravessaram gerações, e basta recordarmos duas das mais importantes: Lisboa Não Sejas Francesa, originalmente composta para a opereta A Invasão, e o eterno Coimbra, que, contudo, tem uma história curiosa.
De facto, a melodia de Coimbra existia desde 1939 sem que Ferrão conseguisse que lha aceitassem numa peça. A canção foi ficando na gaveta até que, finalmente, apareceu em 1947 no filme Capas Negras, onde foi criada por Alberto Ribeiro, ironicamente, sem grande sucesso. Só três anos mais tarde, quando Amália a interpreta numa digressão internacional, a canção se tornaria popular em todo o mundo, ficando conhecida no estrangeiro como Avríl au Portugal ou Apríl in Portugal... Ferrão ainda assistiu ao triunfo desta "canção enjeitada" antes de falecer em 1953. O realizador e produtor televisivo Ruy Ferrão, seu filho, encarregou-se de manter viva a sua memória.
 

Seleção de fontes de informação:
 

http://www.portaldofado.net/content/view/2334/327/
 

Última atualização: Fevereiro/2011

Pequena biografia da intérprete:                                                                                                                                                                                                                                                     Fernanda Maria
Maria Fernanda Carvalheira dos Santos nasceu na freguesia do Socorro, Hospital

de S. José em 06 de Fevereiro de 1937. O seu pai era tipógrafo e cantava muito

bem o Fado, e segundo Fernanda Maria deverá ter sido com ele que apanhou o

compasso e o gosto pelo Fado.
Desde muito nova, 12/13 anos, empregou-se a servir à mesa, na "Adega Patrício",

de que era proprietária a fadista Lina Maria Alves. Mais tarde passou para o

restaurante de Argentina Santos, a "Parreirinha de Alfama", e foi ali, naquele

espaço tão especial, que surgiu uma das maiores intérpretes do género, símbolo

do mais puro estilo fadista.
Fernanda Maria começa a sentir o apelo de cantar e incentivada pelos frequentadores das casas onde servia à mesa, descobre a sua vocação. Impulsionada por Alfredo Lopes inicia os testes para a Emissora Nacional e feitas as devidas provas estreia-se no Serão para Trabalhadores, emitido a partir da Voz do Operário.
Em 1957 tira a carteira profissional e para além dos programas na Emissora Nacional passa a participar em variados espetáculos como o "Passatempo APA" no Cinema Éden, "Do Céu Caiu uma Estrela" no Òdeon, e o "Comboio das 6h30" no Capitólio. Uns dos momentos que Fernanda Maria recorda com mais saudade são os espetáculos de variedades realizados no Pavilhão dos Desportos e no Coliseu dos Recreios.
Por motivos de vida familiar recusou muitos convites ao estrangeiro, mantendo as suas atuações assíduas nas casas de Fado "A Severa", "Toca", "Nau Catrineta" e "Viela" até se fixar no seu próprio espaço, a casa típica "Lisboa à Noite", que abriu em 1964, e deixou após o falecimento do seu marido, Romão Martins. Passaram por este espaço grandes nomes do género, Manuel de Almeida, Manuel Fernandes, Tristão da Silva, Alice Maria, Maria da Fé, Cidália Moreira, entre outros.
A primeira gravação de disco deu-se quando atuava na "A Severa" e mais tarde gravou também pelas
editoras Valentim de Carvalho e Alvorada. A convite do empresário José Miguel, Fernanda Maria integra o elenco da revista "Acerta o Passo" (1964) junto de Ivone Silva, contudo foi uma breve passagem, já que a fadista não se fascina por esta arte e pelos grandes palcos.
Foi acompanhada por grandes instrumentistas: Pais da Silva, Acácio Rocha, Jaime Santos, Carvalhinho,
Martinho D´Assunção, Raul Nery, Fontes Rocha, Joel Pina.
Fernanda Maria, voz carismática e peculiar, tem como principais referências Argentina Santos e Maria
Teresa de Noronha, pelas quais nutre um enorme respeito e admiração. Do seu vasto repertório fazem parte versos de grandes poetas, casos de: Linhares Barbosa, Nelson de Barros, Frederico de Brito, João Dias e Carlos Conde, dos quais resultaram grandes sucessos tais como "Não passes com ela à minha rua", de Carlos Conde, e "Zanguei-me com o meu amor" de Linhares de Barbosa.
Símbolo máximo do Fado castiço, Fernanda Maria é distinguida em 1963 com o Prémio da Imprensa, na
categoria Fado e em 2006 com o Prémio Amália Rodrigues Carreira Feminina.
 

Seleção de fontes de informação:
 

Museu do Fado - Entrevista realizada a 14 de Novembro/2006.
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado" Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
 

Última atualização: Dezembro/2007

bottom of page