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Fado Zé António 6ª

Disse-te Adeus e Morri

Letra:                Vasco de Lima Couto

Música:             José António Sabrosa
Intérprete:          Amália Rodrigues

 

Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés
Gritos de búzios perdidos
Roubaram aos meus sentidos
A gaivota que tu és


Gaivota de asas paradas
Que não sente as madrugadas
E acorda à noite, a chorar
Gaivota que faz um ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a voar


Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas
Pois na ausência que deixaste
Meu amor, como ficaste
Meu amor, como demoras  (bis)

Pequena biografia do poeta:

​                                                                                                                                      Vasco de Lima Couto

"Eu sou um poeta. Maldito, mas poeta. Sou, também, actor. Incómodo, mas actor.

Como actor, empresto. Como poeta, dou.

Entre estas duas posições, vivo. Não represento nenhuma escola, porque não

preciso de falar ao tempo do meu povo. Sou o tempo do meu povo! Se algum

mérito possuo, é o de não ser intelectual partido, para intelectuais de partido.

Canto como sei e sei como sinto. Não dou respostas convenientes, porque 

felizmente, sou inconveniente. Entre o homem chateado e a criança maravilhada,

rasgo o tempo que possuo. O mais que queiram ver, em mim, é estrume de animal

que mastiga a comida que não merece e que o povo paga."

Vasco de Lima Couto reflectia sobre as coisas do seu tempo. Pensava sobre a vida cultural e social do seu país, principalmente quando se embrenhava nelas. Em 1972, fala deste modo sobre a sua vida de actor:
"O Teatro está cheio de espertos. Tanto lhes faz que seja assim como assado, e como isso a que chamam teatro lhes facilita os dias, eles vão de peça em peça, sem talento e sem religião. Depois, os que comandam esta anarquia da inteligência, que finge não querer actores porque lhes têm de pagar de acordo com a força do seu trabalho; preferem contratar amadores, com jeito ou não, que, ingénuos e incipientes, podem ser enganados.

E o resultado está à vista. Há peças que caem redondas porque não foram vestidas, só foram cobertas. (...) O actor, hoje não pode ser só o hábil senhor que se movimenta e inflexiona. Tem que ser, por dedução, a inteligência e a cultura de quem espera e a angústia colectiva de quem procura. A experiência só por si não chega. O actor tem que estar atento aos movimentos sociais da sua época mesmo quando pelas circunstâncias anormais da vida tem de transigir.
Mas não deverá nunca transigir servindo-se da benevolência idiota dos mecenas, porque esses - como dizia Afonso Lopes Vieira - entram na poesia como os camelos no jardim. Ninguém proíbe ninguém de ser inteligente!"

É extraordinária a actualidade destas palavras no nosso panorama teatral. Infelizmente, mudou apenas uma coisa. Os mediocres, incipientes e amadores, continuam a encher os palcos dos nossos teatros (e, já agora, das nossas televisões), mas a receberem tanto ou mais de cachet, quanto os actores de qualidades comprovadas.

Nascido no Porto a 26 de Novembro de 1923, vem a falecer em Lisboa no dia 10 de Março de 1980. Estreou-se nos palcos em 27 de Março de 1947 "empurrado" por Alves da Cunha. Percorreu todo o país em digressão falando de poetas e de teatro até que, em 13 de Março de 1951, ingressa na Companhia de Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, para o elenco da peça "La Niña Boba", de Lope de Vega, que seria posta em cena em 7 de Abril de 1953, com Gina Santos como "menina tonta", Helena Féliz, Álvaro Benamor e Maria Albergaria.
Lima Couto representou em mais de 40 peças ao longo de toda a sua carreira, nunca acusando qualquer atitude de concessão ao "status" ou amolecimento das linhas mestras da sua personalidade criativa e, por vezes, revolucionária.
Mas, como refere João Aguiar no Diário de Noticias de dia 14 de Março de 1980, "será exagerado dizer que Vasco de Lima Couto foi 'actor por acréscimo'. Algumas das suas interpretações não serão esquecidas tão cedo".
Por volta de 1952, Lima Couto volta ao Porto para se juntar ao Teatro Experimental, onde permanece cerca de oito anos. Aí, representou peças tão importantes como: "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Miller; "As Guerras de Alecrim e Manjerona", de António José da Silva; "Volpone", de Ben Johnson; "Edda Gabler", de Ibsen; "Ratos e Homens", de Steinbeck; "Tio Vania", de Tchecov, entre outras.
Em 1960 volta para a capital portuguesa onde representará a figura de D. Afonso IV na peça "Castro", de António Ferreira. "Teve enorme êxito, o qual, segundo as próprias palavras, se deve à direcção de Paulo Renato".
Durante dois anos trabalhou para o Teatro da Câmara - Estufa Fria, sob a direcção de Pedro Bom, mas considerava o tipo repertório lá representado como "chato e despido de qualquer realidade".
O grande sucesso vem com o "Mercador de Veneza", de Shakespeare, onde Vasco de Lima Couto representava o papel de Lancelote Gobbo. "O êxito foi tal que, ao sair de cena, num dos melhores momentos da peça, o público interrompia a representação com uma salva de palmas".

Em 1966 vai para o Teatro da Trindade, para representar "Todos eram meus filhos", de Miller. A peça vai em tournée pelo pais inteiro.
Um ano depois vai para o TEL (Teatro Experimental de Lisboa) onde representa, basicamente, peças de Luzia Maria Martins.
Mas a situação do TEL era desastrosa. Vasco de Lima Couto viu-se sem dinheiro, sendo "obrigado" a ir trabalhar para a televisão, em peças que em nada lhe interessavam. Chega mesmo a aceitar o convite de Vasco Morgado para representar o "Vison Voador", no Villaret.
Em 1971 concorre ao "Festival da Canção" com o célebre e polémico "Zé Brasileiro Português de Braga".
Conhece finalmente África, por quem se apaixona. Em Angola, inicia uma série de programas na Emissora Oficial, como colaborador e assistente literário. Era o programa "Cantar de Amigo", dedicado à divulgação da poesia portuguesa. Aí, "muitos dos que sistematicamente o ignoravam na crítica, na presença e na divulgação, eram citados sem qualquer ressentimento".
Trava conhecimentos com o jornalista João Aguiar, sub-chefe de redacção do Diário Falado e produtor radiofónico. Este, leva Lima Couto a interpretar na rádio uma adaptação do romance "Um Cântico para Leibowitz", à altura com o nome, "A crónica de S. Leibowitz". "O original gravado, um dos raros documentos que se salvaram depois da independência, é a amostra mais que convincente do grande talento e capacidade de um actor".

Nos inicios de 1974, inexplicavelmente, Vasco de Lima Couto regressa a Portugal.
Com grande mágoa encontra António Pedro afastado do TEP. Vai para a Cornucópia, que depressa abandona para se fixar uns meses em Paris. Ao regressar, ingressa na Companhia Maria Matos para representar o "Encoberto", de Natália Correia.
No entanto surge uma vida nocturna intensa, cada vez mais ligado ao fado. No "Painel do Fado", na "Taberna de S. Jorge" (no Porto) ou na "Taberna do Embuçado", Vasco de Lima Couto escreve, lê e ouve cantar a sua poesia. Grandes nomes da canção (ligeira e fado) cantam as suas palavras: Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Simone de Oliveira, entre outras.

"No principio e no fim de tudo, estava a poesia. E à medida que o tempo foi passando, o "resto" foi ficando pelo caminho, como veste que se usa bem, mas que depois se larga - nem sempre por vontade própria, mas sempre com intima tranquilidade. Lima Couto sabia que, através do tumulto emocional, ideológico e politico, ele haveria de desentender-se com o "establishment", pois isso acontecera antes, acontecera sempre; e, como antes, como sempre, o "establishment" não lhe perdoaria e fechar-lhe-ia as portas. Mas sabia também que havia duas coisas que nunca ninguém lhe poderia tirar: Uma, a liberdade que lhe advinha de não ter nada para perder; a outra, a sua condição e essência de poeta."

João Aguiar
Diário de Noticias, 14 de Março de 1980







Seleção de fontes de informaçãp:



/www.portaldofado.net/content/view/127/327/



Última atualização:  Janeiro/2011

​Pequena biografia da poeta e intérprete:

                                                                                                                                           Amália Rodrigues
Amália Rodrigues, de seu nome completo Amália da Piedade Rebordão Rodrigues,

nasceu em Lisboa por acaso, quando os seus pais, Lucinda da Piedade Rebordão

e Albertino de Jesus Rodrigues, se encontravam de visita aos avós maternos, na

Rua Martim Vaz, na freguesia da Pena.
No registo de nascimento consta a data de 23 de Julho de 1920, porém, dado

existirem algumas reservas quanto ao dia exato, a artista adotou o dia 1 de Julho

como data de aniversário durante toda a sua vida.
Após o seu nascimento e depois de um curto período na capital à procura de vida melhor, os pais regressaram ao Fundão deixando a filha, então com catorze meses, ao cuidado dos avós.
Quando tem seis anos os seus avós mudam-se para o bairro de Alcântara, onde Amália viverá até aos 19 anos, primeiro com os avós e depois com os pais. Abandona os estudos após completar a instrução primária, por ser necessário trabalhar e ajudar no sustento familiar. Foi aprendiza de costureira, de bordadeira e operária de uma fábrica de chocolates e rebuçados. Mais tarde, com a sua irmã Celeste, vende fruta à percentagem pelas ruas do cais de Alcântara.
Desde muito cedo mostrou gosto por cantar e, em 1935, foi escolhida para cantar o "Fado Alcântara" como solista, nos festejos dos Santos Populares, acompanhando a Marcha Popular do seu bairro.
Em 1938 Amália faz audições para o "Concurso da Primavera", onde cada bairro apresentava as suas concorrentes, disputando-se o prémio Rainha do Fado desse ano. Amália não chega a participar, mas conhece, neste concurso, Francisco da Cruz, um guitarrista amador com quem, em 1940, se casa. Este casamento não dura muito tempo, embora o divórcio só se concretize em 1949. Voltará a casar, em 1961, no Brasil, com o Engenheiro César Henrique de Seabra Rangel, com quem vive até ao falecimento deste em 1997.
Entretanto continua a cantar em festas e verbenas com o nome de Amália Rebordão. E, nesse mesmo ano, aparece pela primeira vez uma foto da fadista e uma crítica muito elogiosa na imprensa (cf. “Guitarra de Portugal”, 10 de Agosto de 1938). Só mais tarde adota o nome artístico de Amália Rodrigues, por sugestão de Filipe Pinto, então diretor artístico do Solar da Alegria.
Por influência de Santos Moreira presta provas no Retiro da Severa, e faz a sua estreia profissional em 1939. Neste local exibe-se durante 6 meses, passando depois para o Solar da Alegria e para o Café Mondego. O seu sucesso é tal que rapidamente se torna cabeça de cartaz e, graças à intervenção de José Melo, passa a cantar no Café Luso com um cachet que atinge valores nunca antes pagos a um fadista. Nesta altura Amália já não canta diariamente, fazendo-o apenas 4 vezes por mês e recebendo por atuação.
A partir de 1941 as suas atuações serão menos regulares, mas ainda assim uma constante na cidade de Lisboa até ao início dos anos 50. A sua presença regista-se na Cervejaria Luso e Esplanada Luso, em 1941; no Casablanca, Pavilhão Português e Retiro dos Marialvas, em 1942; no Casablanca, Retiro dos Marialvas e Café Latino, em 1943; no Café Luso, em 1944, e de 1947 a 1950; no Casino Estoril, em 1949 e 1950, e no Comboio das Seis e Meia, um programa de variedades gravado no Teatro Politeama e depois transmitido pela rádio, em 1950.
Amália Rodrigues realiza longas viagens de digressão em espetáculo a partir do início da década de 1950, pelo que as suas aparições em Portugal se limitam a alguns espetáculos anuais, como a Grande Noite do Fado, o Natal dos Hospitais, o Réveillon do Casino Estoril e outras festas e festivais, muitas de beneficência.
Apenas em 19 de Abril de 1985 apresenta o seu primeiro concerto individual em Portugal, no Coliseu dos Recreios de Lisboa, o qual será repetido no Coliseu do Porto a 26 de Abril do mesmo ano.                                                                                                            
A sua primeira saída do país ocorre em 1943, para atuar numa festa do Embaixador português em Madrid, Dr. Pedro Teotónio Pereira. Faz-se acompanhar do cantador Júlio Proença e dos instrumentistas Armandinho e Santos Moreira. No ano seguinte, vai ao Brasil, onde atua no Casino de Copacabana, Teatro João Caetano e na Rádio Globo. Voltará ao Brasil logo em 1945, numa estadia que se prolongará até Fevereiro de 1946, na qual grava os seus primeiros discos, oito edições de 78 rpm para a editora Continental.
As viagens de Amália sucedem-se, os destinos de atuação no estrangeiro serão uma constante durante a sua longa carreira e abarcam os cinco continentes. Amália Rodrigues tem pois um estatuto de exceção marcado por uma carreira repleta de êxitos e de tournées um pouco por todo o mundo, e não apenas para atuações em comunidades de emigrantes.
Logo em 1949, a convite de António Ferro atua em Paris e em Londres. Em 1950 vai à Madeira e desloca-se uma vez mais ao estrangeiro, para participar numa série de espetáculos patrocinados pelo Plano Marshall em Berlim, Roma, Trieste, Dublin, Berna e Paris. Canta pela primeira vez em Nova Iorque, em 1952, no La Vie en Rose, onde ficará 14 semanas em cartaz. No ano seguinte, atua na Cidade do México e volta a Nova Iorque onde participa no programa de Eddie Fisher, sendo esta a primeira apresentação de um artista português na televisão norte-americana.
Em 1956, a convite de Bruno Coquatrix, empresário do Olympia de Paris, estreia-se naquela casa de espetáculos e alcança grande êxito. Em seguida canta na Côte d'Azur, Bélgica, Argélia, Rio de Janeiro e na Cidade do México.
Em 1957 volta ao Olympia acompanhada pelo guitarrista Domingos Camarinha e pelo violista Santos Moreira, sala onde atuará novamente em 1959 e 1960. No ano de 1957
canta ainda na Côte d' Azur, em Estocolmo, Lausane e Caracas.                                
Amália Rodrigues regressa com vários espetáculos ao Brasil, em 1960 e 1961. Em 1963 canta "Foi Deus" na Igreja de São Francisco no aniversário da independência do Líbano. Na década de 1960 atua em Tunes, Argel, Sidi Abbes, Bruxelas e Atenas. Participa no Festival Internacional de Edimburgo, canta em várias cidades de Israel, no I Festival Internacional de Música Ligeira de Brasov em Leningrado, Moscovo, Tiflis, Erivan e Baku, entre outras cidades e países.

Em 1970 esteve pela primeira vez no Japão, onde voltou em 1976, 1986 e 1990. E em 1972 atua na Austrália. Durante esta década e na seguinte prossegue as suas digressões artísticas por vários países.
Em 1989 grava um espetáculo para a televisão espanhola, inserido num programa apresentado por Sara Montiel. Ainda nesse ano, comemora os cinquenta anos de atividade artística profissional, realizando uma grande tournée com espetáculos em Espanha, França, Suíça, Portugal, Israel, India, Macau, Coreia, Japão, Bélgica, Estados Unidos e Itália, de que destacamos o regresso, pela oitava vez, ao Olympia de Paris. As interpretações de Amália Rodrigues podem também ser vistas no teatro e no cinema, bem como escutadas em inúmeras gravações discográficas.
A estreia da fadista no teatro faz-se em 1940, no Teatro Maria Vitória, com a peça "Ora vai tu!". Até 1947 Amália Rodrigues participa em várias revistas e operetas: "Espera de Toiros" (Teatro Variedades, 1941), "Essa é que é essa" (Teatro Maria Vitória, 1942), "Boa Nova" (Teatro Variedades, 1942), "Alerta está!" (Teatro Apolo, 1943), "A Rosa cantadeira", "Ó viva da costa!" e "A Senhora da Atalaia" (Teatro Apolo, 1944); "Boa Nova" e "A Rosa cantadeira" (reposição no Teatro República, Brasil, 1945), "Estás na Lua", e reposição de "Mouraria" (Teatro Apolo, 1946); e "Se aquilo que a Gente Sente" (Teatro Variedades, 1946).
O seu regresso ao teatro ocorrerá apenas em 1955 para participar na reposição da peça "Severa", levada à cena por Vasco Morgado no Teatro Monumental.
A relação de Amália com o cinema inicia-se com a interpretação do papel de Maria Lisboa, ao lado de Alberto Ribeiro, no filme "Capas Negras", de Armando Miranda. A película estreia no cinema Condes a 16 de Maio de 1947. No mesmo ano protagonizou, com Virgílio Teixeira, "Fado, História de uma Cantadeira", realizado por Perdigão Queiroga; e participa, ainda, com Jaime Santos e Santos Moreira nas curta-metragens realizadas por Augusto Fraga: "Fado da Rua do Sol", "Fado Malhoa", "Fado Amália", "Fado lamentos", "O meu amor na vida (Confesso)", "Só à Noitinha", "Ronda dos Bairros", "Eu disse adeus à casinha" e "Ai! Lisboa".
Voltará ao cinema em 1949, com Manuel dos Santos no filme "Sol e Toiros" de José Buchs, e com Paulo Maurício no filme "Vendaval Maravilhoso", de Leitão de Barros. Em 1955 participa com Daniel Gelin no filme "Les Amants du Tage (Os Amantes do Tejo)" de Henri Verneuil, onde canta a canção "Barco Negro", com letra de David Mourão Ferreira. Ainda em 1955, com António dos Santos, participa no filme "April in Portugal" de Evan Lloyd.
As suas últimas interpretações para o grande ecrã são: em 1958, no filme "Sangue Toureiro", de Augusto Fraga, onde canta o Fado "Que Deus me Perdoe"; em 1964, como figura central do filme "Fado Corrido", de Jorge Brum do Canto e baseado num conto de David Mourão Ferreira; e em 1965, nos filmes "As Ilhas Encantadas" de Carlos Vilardebó, rodado em Porto Santo, e "Via Macao", de Jean Leduc.                                                    
Amália Rodrigues destaca-se, também, pela forma como introduziu inovações na postura e indumentária dos fadistas que vieram a transformar-se em verdadeiras convenções performativas, como é o caso do uso sistemático do vestido e xaile negros, e do posicionamento à frente dos guitarristas.
O interesse pela poesia erudita é mais uma novidade imposta pela fadista. Assim, logo no início da década de 1950, Amália Rodrigues grava "Fria Claridade" de Pedro Homem de Mello e, em 1953, "Primavera" de David Mourão-Ferreira. A colaboração com estes dois poetas será uma constante e outros fazem parte, posteriormente, das suas interpretações, caso de Luiz Macedo e Sidónio Muralha (1954), Alexandre O’Neill (1964), José Régio (1965), Vasco de Lima Couto (1967), ou Manuel Alegre e José Carlos Ary dos Santos (1970).                                                       
Em 1962 a fadista lança o seu primeiro LP com composições de Alain Oulman, muitas vezes referidas como as "óperas" de Amália. Neste disco, "Busto" ou "Asas Fechadas", inicia-se uma ligação que durará até 1975, e que incluí gravações discográficas onde para além dos poetas já referidos, a fadista integra poesias do passado, como os trovadores galaico-portugueses, o Cancioneiro de Garcia de Resende ou Camões, que resultarão em discos de referência na história do Fado: "Fado Português", "Fado’67", "Vou dar de beber à dor" e "Com que voz". Em 1965, Amália Rodrigues edita o disco Amália canta Luís de Camões e o jornal Diário Popular, de 23 de Outubro de 1965, interroga várias figuras públicas sobre a legitimidade dessas interpretações, apresentando este tema polémico na capa do jornal.
Amália foi autora de muitos poemas que interpretou e editou em disco, alguns deles estão entre as faixas que mais a celebrizaram. Estes poemas foram editados no livro "Versos" da editora Cotovia, em 1997. A título de exemplo destacamos os seguintes: "Estranha forma de vida", "Lágrima", "Asa de vento", "Grito", "Gostava de ser quem era", "Trago o Fado nos sentidos", "Entrei na vida a cantar", "Ai esta pena de mim", "Lavava no rio lavava", "Teus olhos são duas fontes", "Fui ao mar buscar sardinhas".
Em 1987 é lançada a sua biografia oficial, escrita por Vítor Pavão dos Santos, com base em entrevistas realizadas entre 15 de Novembro de 1985 e 16 de Setembro de 1986. Escrita na primeira pessoa é um documento fundamental para compreender a carreira da mais importante fadista portuguesa.
As comemorações dos seus 50 anos de carreira, em 1989, são marcadas por diversas iniciativas que se prolongam pelo ano seguinte: um espetáculo no Coliseu dos Recreios, a 8 de Janeiro de 1990; a exposição "Amália Rodrigues. 50 Anos", no Museu Nacional do Teatro, de Junho de 1989 a Março de 1990; a retrospetiva "Amália no Cinema", na Cinemateca Portuguesa, em Novembro de 1989; uma grande tournée com espetáculos em Espanha, França, Suíça, Israel, Índia, Macau, Coreia, Japão, Bélgica, Estados Unidos e Itália.
Após o seu afastamento dos palcos, em 1994, Amália continuou a ser convidada de honra em inúmeros eventos culturais, nomeadamente durante a exibição das Marchas Populares no dia de Santo António, em Lisboa. E, em 1998 foi alvo de uma homenagem pública durante um espetáculo na Expo'98, no Parque das Nações.                                    
Faleceu no dia 6 de Outubro de 1999. O seu funeral constituiu uma grande e sentida manifestação de dor e saudade como nunca antes se vira. O país inteiro chorou a sua Diva do Fado. Os seus restos mortais foram transladados do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional a 8 de Julho de 2001.
Amália Rodrigues é uma figura incontornável da História do Fado sendo por isso uma referência muito presente na exposição permanente do Museu do Fado. Ainda assim, em Junho de 2004 o Museu do Fado apresentou "Amália, Gostava de Ser Quem Era", uma mostra evocativa da fadista que esteve patente ao público durante um ano. Por vontade testamentária da fadista foi instituída a Fundação Amália Rodrigues, oficialmente criada a 10 de Dezembro de 1999, dois meses após a sua morte. Desde 2005 que esta fundação realiza uma gala anual, com atribuição dos seguintes prémios: Carreira Feminina e Masculina, Revelação Feminina e Masculina, Internacional, Música Étnica, Viola, Viola Baixo, Guitarra Portuguesa, Intérprete Feminina e Masculino, Registo Discográfico, Poeta de Fado, Compositor de Fado, Música Sinfónica, Fado Amador, e Ensaio e Divulgação.
Alguns Prémios e condecorações:
1948 - Prémio do SNI para a Melhor Atriz do Ano, pelo desempenho como atriz no filme "Fado, História de uma Cantadeira";
1958 - Grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada;
1959 - Grande Medalha de Prata da Cidade de Paris;
1965 - Prémio do SNI para a Melhor Atriz do Ano, pelo desempenho como atriz nos filmes "Fado Corrido" e "As Ilhas Encantadas";
1966 - Prémio Pozal Domingues para o EP "Fandangueiro";
1967 - Prémio M.I.D.E.M. 1965-1966 para o record de vendas no mercado discográfico português;
1968 - Prémio M.I.D.E.M. 1966-1967 para o record de vendas no mercado discográfico português;
1966 - Prémio Pozal Domingues para o EP "Vou dar de beber à dor";
1969 - Prémio M.I.D.E.M. 1967-1968 para o record de vendas no mercado discográfico português;
1970 - Grau de Oficial da Ordem Militar da Ordem Militar de Santiago de Espada;
1980 - Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique;
1980 - Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa (7 Julho), Teatro São Luís;
1985 - Grau de Comendador da Ordem das Artes e Letras;
1986 - Medalha de Ouro da Cidade do Porto;
1990 - Grã Cruz da Ordem de Santiago de Espada;

 

 

 

 

Seleção de Fontes de Informação:


“Guitarra de Portugal”, 10 de Agosto de 1938;
“Canção do Sul”, 1 de Março de 1940;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Junho de 1945;
“Ecos de Portugal”, 1 de Março de 1948;
“Flama”, 4 de Julho de 1952;
“Álbum da Canção”, 1 de Junho de 1963;
“Flama”, 18 de Junho de 1965;
“O Século Ilustrado”, 29 de Junho de 1968;
“Rádio & Televisão”, 5 de Dezembro de 1970;
“Rádio & Televisão”, 9 de Fevereiro de 1974;
“Mais”, 12 de Agosto de 1983;
“Telestar”, 27 de Dezembro de 1986;
“Visão”, 29 de Junho a 5 de Julho de 1995;
“Expresso”, 1 de Julho de 1995;
“Caras”, 8 de Outubro de 1999;
Santos, Vítor Pavão dos (1987), "Amália: uma biografia", Lisboa, Contexto;
Sucena, Eduardo (1992), "Lisboa, o Fado e os Fadistas", Lisboa, Veja;
Rodrigues, Amália (1997), "Versos", Lisboa, Cotovia;
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Coelho, Nuno Almeida, 2005, "Amália", Col. "Grandes Protagonistas da História de Portugal", Lisboa, Planeta DeAgostini.
“The Art of Amália” (DVD), EMI Valentim de Carvalho, 2004.

 


Última atualização: Dezembro/2007

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