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Fado Versículo

Fado Fracasso
Letra:                  Linhares Barbosa
Música:              Alfredo Marceneiro
Intérprete:           Berta Cardoso
 

 

Quando há bocado me viste...

reparaste
Que eu trazia um ar cansado...

um ar doente

Eu ando cansada e triste...

e arrependida
De ter andado a teu lado...

ultimamente (bis)

 

Jurei aos pés do altar...

piedosamente
E jurei a uma Virgem...

de olhos doces

Em sempre te acompanhar...

como uma sombra
Fosses tu ao fim do mundo...

aonde fosses (bis)

 

 

 

Mas um dia, um dia veio...

um dia não
Reparei que o teu amor...

era aparente

E fiquei abandonada...

desprezada
Porque tu sem reparar...

seguiste em frente (bis)

 

 

Eu cansei de ser sombra...

de ser crente
E por isso tu me viste...

com cansaço

Arrastando tristemente...

e arrependida
A falência do meu sonho...

o meu fracasso (bis)

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A curiosidade está no seguinte..: Alfredo Duarte , que eu conheça, nunca gravou o fado menor em versiculo, também de sua autoria...e penso que se "estreou" nos versiculos com o Fado Pierrot...à maneira dele..

​Pequena biografia da intérprete:

                                                                                                                                                 Berta Cardoso
Berta dos Santos Cardoso, que adotou o nome artístico de Berta Cardoso, nasceu em

Lisboa, na Rua da Condessa (ao Carmo), a 21 de Outubro de 1911. Os pais, Américo

Melande Cardoso e Rosalina Jorge dos Santos, tinham já quatro filhos, dois rapazes e

duas raparigas, frutos de ligações anteriores.
Com apenas 9 anos, e em virtude de ficar órfã de pai, a sua educação passou a estar

a cargo de uma instituição oficial, ditando-se assim um afastamento da mãe e dos

irmãos, até à data em que Berta Cardoso consegue a sua independência económica e

volta a ter junto de si a sua mãe.
Por influência de um dos seus irmãos, Américo dos Santos, que era violista amador, estreia-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, com apenas 16 anos (1927). O êxito da sua atuação fez com que ficasse logo a trabalhar nessa casa.
Também no ano de 1927, Berta Cardoso foi mãe pela primeira vez de um rapaz a que deu o nome de Humberto, tragicamente falecido em Moçambique, em 1959, onde residia com o pai, com apenas 26 anos. Nunca casou, mas teve ainda um outro filho, de nome Américo.
Num tempo em que o Fado começa a ser cantado no Teatro de Revista por cantadores profissionais, e já não pelos atores e atrizes a representar nas peças, Berta Cardoso surge como uma das cantadeiras que faz larga carreira neste tipo de espetáculo.
Dois anos depois de se ter apresentado em público pela primeira vez, no Salão Artístico de Fados, a cantadeira inicia-se neste meio, com a participação na revista "Ricócó", em 1929, no Teatro Maria Vitória do Parque Mayer. Nesse mesmo teatro, integra outros espetáculos como o "Viva o Jazz!" e "A Nau Catrineta", revistas em cartaz no ano de 1931.
Esta atividade será intercalada ao longo da sua vida com o constante envolvimento em diversas atuações de Fado. Assim, em 1932, a fadista é apresentada no elenco do Salão Jansen e, nesse mesmo ano, recebe um convite para se juntar à Companhia Maria das Neves. Passa a integrar um elenco protagonizado por Beatriz Costa e parte numa digressão de vários meses com rumo ao Brasil. As suas interpretações têm tal sucesso que são vários os jornais brasileiros a destacar a sua forma de cantar e a calorosa receção do público presente nos espetáculos.
Em meados da década de 1930 já a cantadeira é uma presença incontornável no universo fadista, acumulando as críticas que a retratam, por exemplo, como "artista e mulher que tão magnificentemente sabe imprimir sentimento a todos os Fados, a todas as canções trinadas na sua majestosa garganta, que mais parece um rosário de notas musicais, tocadas de qualquer ritmo divino, que uma voz humana" (Cf. "Canção do Sul", 16 de Janeiro de 1936).
Tal como Ercília Costa, Berta Cardoso tem um papel fundamental num primeiro período de internacionalização do Fado, com deslocações que se centram no Brasil, nas ilhas e nas colónias portuguesas. Testemunho dessa linha de novos mercados, é não só a viagem ao Brasil realizada com a Companhia Maria das Neves, mas também o agrupamento com outros intérpretes de nomeada para uma longa digressão em terras africanas.
Neste contexto surge o "Grupo Artístico de Fados", formado pelas cantadeiras Berta Cardoso e Madalena de Melo, e pelos instrumentistas Armando Augusto Freire (Armandinho), Martinho d’ Assunção Júnior e João da Mata, que é constituído no ano seguinte, 1933.
Este conjunto de intérpretes de renome parte a bordo do navio Niassa para um percurso de espetáculos na África Ocidental e Oriental e também nas ilhas portuguesas. Concretiza-se como a primeira viagem que o Fado faz a África, tornando-se numa digressão muito noticiada pelos jornais, uma vez que os espetáculos se desenrolam ao longo de quase um ano, passando por diversos locais, de onde destacamos Angola, Moçambique e Rodésia.
Fadista muito apreciada pelo público e pela crítica, Berta Cardoso faz a sua primeira gravação discográfica em 1931, para a editora Odeon, e a convite dos representantes da marca em Lisboa desloca-se a Madrid para gravar juntamente com Cecília de Almeida, estando o acompanhamento de ambas a cargo da guitarra de Armandinho e da viola de Georgino de Sousa. Nos anos trinta e quarenta do século XX, Berta Cardoso prossegue a gravação de discos, nesta altura para a editora Valentim de Carvalho.
Berta Cardoso desenvolve uma atividade intensa ligada ao Teatro de Revista, onde se apresenta com uma regularidade de cerca de duas peças por ano. Aparece frequentemente na imprensa, em particular na que se dedica a temas fadistas, que vai fazendo o registo da sua interpretação de números de Fado nestas peças, e lhe dispensa numerosas apreciações que nos permitem assegurar o seu lugar de destaque junto do público e da crítica.                            
Nos anos de 1936 a 1938, Berta Cardoso participa em diversas revistas, apresentadas em palcos de diferentes teatros. Mas, apesar das muitas intervenções e da grande relação com os palcos teatrais, Berta Cardoso considera-se sempre uma cantadeira e continua a assegurar apresentações em elencos dos melhores espaços e casas de Fado de Lisboa, nomeadamente no Café Luso, em 1936, e no Retiro da Severa, em 1937.
Neste mesmo ano, e nesta última casa, Retiro da Severa, o elenco privativo transforma-se na "Embaixada do Fado do Retiro da Severa", integrando grandes nomes como Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Alfredo Duarte (Marceneiro), Júlio Proença, ou José Porfírio.
Esta Embaixada desloca-se para atuar, durante vários dias, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e no Teatro Variedades, com apresentações sempre esgotadas e descrições nos jornais, tanto no norte como em Lisboa, de um espetáculo de grande qualidade, onde muitas vezes são destacadas as atuações de Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro.
Em 1939 a fadista é contratada pela Companhia Beatriz Costa, que tem em Beatriz Costa a figura central, para fazer um regresso a terras brasileiras, onde se estreiam, no mês de Março, com a revista "Eh, Real", no Teatro República do Rio de Janeiro. Apresentam também as revistas "Oh, meu rico São João", "Dança da Luta" e "Pega-me ao Colo".
Ainda em 1939 a fadista é homenageada pelos seus colegas no Retiro da Severa e, antes de embarcar para o Brasil, grava, com Alfredo Marceneiro, atuações no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme "Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. Este filme estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952.
Após o regresso do Brasil, em 1940, passa a integrar a "Embaixada do Fado do Solar da Alegria", que obtém grande êxito em deslocações ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Neste elenco juntam-se a Berta Cardoso, outros nomes consagrados da interpretação do Fado, caso de Maria Cármen, Júlio Proença e Amália Rodrigues. Também no decorrer deste ano, Berta Cardoso prossegue as suas interpretações no teatro, participando nas peças "Porto ao Sol", no Teatro Sá da Bandeira, e "Toma Lá Cerejas!", estreada no Teatro Pax-Júlia com a Companhia do Teatro Apolo.
Posteriormente a fadista integra o elenco da empresa Monumental, como primeira figura do elenco (cf. "Guitarra de Portugal", 25 de Dezembro de 1945), com o qual se apresenta não só em Lisboa, mas também no Porto. Nos anos seguintes Berta Cardoso viaja para atuar no Cine-Jardim, na Madeira, em 1947, e, em 1948, na peça "Isto é o Porto", levada à cena no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
A revista "Lisboa é Coisa Boa", de autoria de Eduardo Fernandes e Ricardo Covões, estreia em Fevereiro de 1951, no Coliseu dos Recreios, precisamente no dia em que se realiza o funeral da mãe de Berta Cardoso, sendo feito um reconhecimento público à fadista pelo seu profissionalismo, por se ter mantido em atuação num momento tão doloroso.
Também durante o mês de Fevereiro de 1951, Berta Cardoso tirou a sua carteira profissional, inscrevendo-se na categoria de "Artista Dramática". Mas a partir de 1960, a cantadeira decide abandonar definitivamente os palcos do teatro de revista.
Prossegue pois com a sua carreira de fadista e com as gravações discográficas que, durante as décadas de 1950 e 1960, são realizadas na Estoril, a mesma editora que muitas décadas mais tarde, em 1992, lança o CD "Orquestra de Guitarras", numa edição especial numerada e autografada, que integra seis dos seus Fados com maior êxito.
A partir desta altura, a atividade artística de Berta Cardoso vai-se centrando mais nas atuações em Casas de Fado, como é o caso do Faia, casa onde os seus colegas e amigos lhe prestam uma merecida homenagem em 1954.
Desde 1961 e até ao final da década seguinte, Berta Cardoso estabelece-se no elenco da Viela, casa onde foi, também, homenageada em 1967.
Como figura conceituada da interpretação do Fado tradicional, Berta Cardoso fez também as suas aparições na televisão, destacando-se a sua presença, em 1969, no programa de grande audiência "Zip, Zip", ou na transmissão da sua festa no programa "Bodas de Ouro de uma Fadista".
Berta Cardoso finaliza a sua longa carreira artística no ano de 1982, quando atua no Poeta, espaço aberto, nesse mesmo ano, pelo poeta José Luís Gordo e a sua esposa, a fadista Maria da Fé.
Apesar de concluir o curso de enfermagem, com a especialização de obstetrícia, na Faculdade de Medicina, em 1943, e de vários jornais e revistas anunciarem o seu afastamento dos palcos do Fado, tal nunca veio a suceder. Berta Cardoso nunca exerceu as funções de enfermeira e manteve a profissão de cantadeira muito ativa até 1982.
Berta Cardoso foi internada num lar da Santa Casa da Misericórdia por lhe ter sido diagnosticada uma doença degenerativa do sistema nervoso, já em estado muito avançado, em 1996, a qual implicava cuidados e vigilância permanentes, tendo falecido, nesse mesmo lar, a 12 de Julho de 1997.
Já após a sua morte foram editados vários CDs com a sua obra gravada, nomeadamente "The Story of Fado", pela editora Hemisphere, em 1997, "Portugal, Fado: Chant de l’mee", pelas Éditions du Chên, em 1998, "Berta Cardoso, Márcia Condessa e Adelina Ramos", na coleção "Fados do Fado", da editora Movieplay, em 1998 e, da mesma editora o volume 1 da coleção "Fado Português", editado em 1999.
Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista.

 

Seleção de Fontes de Informação:

"Guitarra de Portugal", 30 de Outubro de 1930;
"Guitarra de Portugal", 24 de Junho de 1933;
"Canção do Sul", 16 de Janeiro de 1936;
"Guitarra de Portugal", 27 de Agosto de 1937;

"Guitarra de Portugal", 10 de Maio de 1938;
"Canção do Sul", 1 de Dezembro de 1939;
"Guitarra de Portugal", 25 de Dezembro de 1945;
"Ecos de Portugal", 1 de Outubro de 1948;
Brito, Joaquim Pais de (Dir.), 1994, “Fado: Vozes e Sombras”, Lisboa, Lisboa94/ Electa;
Pereira, Sara (Dir), 2006, "Berta Cardoso", Lisboa, EGEAC/ Museu do Fado.
www.bertacardoso.com

 


Última atualização: Março/2008

​Pequena biografia do poeta:

                                                                                                                                          Linhares Barbosa
João Linhares Barbosa nasceu a 15 de Julho de 1893 em Lisboa, no Bairro da
Ajuda onde sempre viveu e foi lá que veio a falecer em 1965.
Figura incontornável do universo do Fado, a sua obra poética estima-se em mais
de 3.000 versos. A defesa do Fado que preconizou toda a vida - nomeadamente
dos seus ambientes e seus protagonistas - a par de um imenso talento poético
consagrá-lo-iam como o “Príncipe dos Poetas” vulto maior de entre os Poetas
Populares do Fado.
Autodidata, ativo até 1965 - ano em que viria a falecer – João Linhares Barbosa viu os seus primeiros versos
publicados no jornal “A Voz do Operário” chegando muitas das vezes a ser ele próprio a declamá-los
quando contava apenas 14 anos de idade.
Mais tarde, exerceria a profissão de torneiro mecânico até à fundação do seu próprio jornal, “Guitarra de
Portugal”, precisamente no dia em que completou 29 anos, no dia 15 de Julho de 1922. Este periódico viria
rapidamente a assumir-se como um dos mais emblemáticos títulos de uma imprensa especializada no fado
que vingou, a partir de 1910.
Sob a sua direção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório
fadista como se envolveu em duras polémicas com os críticos do Fado, particularmente ativos durante a
década de 30. O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carvalhais, Artur Inês, Antônio
Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amadores de Fado, tendo assinantes em
praticamente todo o país.
Nos primeiros tempos de vida da Guitarra de Portugal, João Linhares Barbosa contou com a colaboração dos
amigos, também poetas populares, Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai). Foi nas páginas da
“Guitarra de Portugal” que, ao longo dos anos, João Linhares Barbosa defendeu o Fado, os poetas e os
fadistas, dos ataques de um grupo de detratores do Fado que teve em Luiz Moita, célebre autor da obra “O
Fado, Canção de Vencidos” um dos maiores expoentes. Para além de uma vastíssima obra poética, a João
Linhares Barbosa se fica a dever uma ação preponderante na reabilitação do Fado e na dignificação da
carreira dos fadistas.
Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas
da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetariamente o
retorno do seu trabalho.
Foi muito tempo Diretor Artístico do Salão Luso.
Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta
de Fado”.
Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o seu nome a uma rua de
Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.

Seleção de fontes de informação:

Dados biográficos fornecidos pelo Sr. Francisco Mendes.

Última atualização: Setembro/2008

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