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Fado Faia

Feitiço

Letra:             Linhares Barbosa

Música:          Martinho d’Assunção

Intérprete:      Berta Cardoso

 

Vieram dizer-me há pouco

Que andavas louco por certa dama

Muito nobre e muito bela

E que vinhas com ela aqui para Alfama

 

Não adivinho quem seja

Nem tenho inveja, mas dá nas vistas

Que uma senhora tão chique

Cante ao despique com as fadistas

 

Estes becos e travessas

não são p’ra essas senhoras finas

Alfama é das cantadeiras,

das costureiras e das varinas

 

Se é só para te agradar

que anda a cantar, diz-lhe que não

Que não cometa o pecado

de usar o fado como brasão

 

A guitarra nos teus dedos

Tem mil segredos e faz feitiço

A ela todos se prendem

Todos se rendem sem dar por isso

 

Se foi a tua guitarra

Bruxa bizarra, que ao fado a trouxe

Que seja muito feliz

Já que Deus quis que eu o não fosse

Guitarra:      Casimiro Ramos

Viola:           Miguel Ramos (1954)

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Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                   Martinho d' Assunção

( 12 Abril, 1914 - 29 Março, 1992 )

Ainda na sua infância experimentou a guitarra, o bandolim e o violino.

Martinho d´Assunção Júnior optou pela viola, e já em 1927 a “Guitarra de

Portugal”, após um concerto seu no Politeama, dava conta da virtude de tão

“pequenito tocador de viola”

Filho do poeta do fado, Martinho d´Assunção nasceu em Lisboa, na freguesia

de Santos-o-Velho, em 12 de Abril de 1914.

A vocação para instrumentista desde cedo que se manifestou na sua vida.

Ainda na sua infância experimentou a guitarra, o bandolim e o violino. Martinho

d´Assunção Júnior optou pela viola, e já em 1927 a “Guitarra de Portugal”, após

um concerto seu no Politeama, dava conta da virtude de tão “pequenito tocador de viola”. Anteriormente, em 1926, já o pequeno violista se havia estreado ao lado de Armandinho.

Fundamental na sua aprendizagem, em termos de conhecimentos musicais e de execução, foi a figura de João da Mata Gonçalves, de quem foi discípulo.

Por ocasião do V aniversário da “Guitarra de Portugal”, celebrado no Teatro de S. Luís em 1927, Martinho d´Assunção viria a revelar uma vez mais as suas potencialidades, ao lado da jovem guitarrista Isabel de Sousa. Rapidamente Martinho d´Assunção se projecta em concertos e espectáculos, tanto a nível nacional como internacional, e em 1932 acompanha Armandinho, Ercília Costa e João da Mata, numa digressão pelas Ilhas da Madeira e dos Açores.

Em 1933 a “Guitarra de Portugal” volta a referir mais uma tournée, por terras de Angola, Moçambique e ex-Rodésia, desta vez Martinho d´Assunção integra o Grupo Artístico de Fados, juntamente com Berta Cardoso, Madalena de Melo, Armandinho e João da Mata.

A sua carreira de violista passou também pelos espaços de fado em Lisboa, dos quais se destacam: “Salão Jansen”, “Casablanca”, “Solar da Alegria”, “Café Mondego”, “Mirante”, “Luso”, “Toca”, “Lisboa à Noite” e “Faia”, entre outras.

Entre 1937 e 1938 Martinho d´Assunção dirigiu um conjunto de guitarras composto por Carvalhinho, Fernando Freitas, e José Duarte Costa, tendo Constança Maria como vocalista. No iníco da década de 1940 integrou o “Conjunto Artístico Português”, junto de Jaime Santos, Fernando Freitas, Miguel Ramos e Freitas da Silva.

No final da mesma década integrou o “Conjunto Típico de Guitarras” ao lado de Jaime Santos, Francisco Carvalhinho, Alberto Correia e o pianista Fernando Potier. E, em 1950, o “Quartecto Típico de Guitarras” com António Couto, Francisco Carvalhinho e Joel Pina.

Mais tarde, na década de 1950, tem uma passagem pelo elenco dos Companheiros da Alegria, de Igrejas Caeiro e Elvira Velez.

Martinho d´Assunção Júnior mesmo enquanto instrumentista e solista nunca deixou de se dedicar ao Fado e compôs várias músicas para letras de poetas consagrados, com destaque para o “Fado Faia”, letra de João Linhares Barbosa, que foi interpretado por nomes como Amália Rodrigues, Berta Cardoso, Anita Guerreiro, Maria Marques ou Cidália Meireles, e que chegou a ser editado em disco no Brasil e em Espanha. Foi também autor de temas como “Bom dia Meu Amor”, letra de Vasco de Lima Couto, “Fado do Chiado” com letra de Ary dos Santos, ou “lisboa da Beira-Mar”, com poema de Alfredo Meca, que foi gravado por Maria Pereira e Anita Guerreiro, e editado em Espanha pela etiqueta discográfica Canciones del Mundo.

A par da faceta de compositor, o violista dedicou-se também ao ensino do instrumento, contribuindo de modo significativo para a divulgação do mesmo.

Nos últimos anos da sua vida trabalhou praticamente em exclusivo para o “Faia”, de Lucília do Carmo e quando aquela casa encerrou, formou o “Trio de Guitarras de Martinho d’Assunção”, com Arménio de Melo e Vital Assunção (seu neto) e, posteriormente o “Opus Fado” onde, ao trio anterior se juntava o fadista Chico Madureira. Com esta formação de trio actuou em casas de fado como o Painel do Fado, a Tipóia e Os Gordos, bem como em tournées internacionais, com espectáculos na Suécia, França, Alemamnha, entre outros.

Faleceu em 29 de Março de 1992.

 

Selecção de fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 04 de Junho de 1927

“Guitarra de Portugal”, 09 de Julho de 1933

Sucena, Eduardo (1992) “Lisboa, o Fado e os Fadistas”, Lisboa, Vega;

Guinot, M., Carvalho, R., Osório, J.M. (1999) “Histórias do Fado”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube.

Última actualização: Maio de 2014

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