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Fado Mayer

Não Digas Mal Dele

Letra:                Linhares Barbosa
Música:             Armandinho
Intérprete:          Amália Rodrigues

 



Foi mau, não minto,
Falso, ruim,
Vil e cruel,
Mas não consinto
Que ao pé de mim
Digas mal dele

Tu és banal,
Não se perdoa,
Não é decente
Dizer-se mal
De uma pessoa
Que está ausente

 

Não, não tolero
E não quero
Trazer de novo à cena
Dor que ainda me dói,
Não foi nada contigo
Não, não tolero,
A não ser que tenhas pena
De não ser como ele foi,
Para meu maior castigo

Tudo ruiu
Como um castelo
Feito na areia
Deves tal brio
E não trazê-lo
À minha ideia

Agora é tarde
Para censuras,
Sabe-lo bem
Que Deus o guarde
De desventuras
E a nós também

Não, não tolero
E não quero
Trazer de novo à cena
Dor que ainda me dói,
Não foi nada contigo
Não, não tolero,
A não ser que tenhas pena
De não ser como ele foi,
Para meu maior castigo

Pequena biografia do autor:                                                                                                                         
                                                                                                                                               Armandinho

Armando Augusto Salgado Freire nasceu em Lisboa, no Pátio do
Quintalinho, perto da Rua das Escolas Gerais, em Alfama, a 11 de Outubrode 1891.
Com o pai aprende a tocar bandolim mas, aos dez anos, começa a
interessar-se pela guitarra portuguesa e quatro anos depois, em 1905 faz a
sua primeira atuação em público, no Teatro das Trinas, iniciando desta
forma a sua carreira como instrumentista, profissão onde ficará conhecido
pelo nome de Armandinho.
A sua carreira é impulsionada quando, em 1914, conhece o mais famoso guitarrista da época - Luís Carlos da
Silva, conhecido por Luís Petrolino, e se torna seu discípulo. Ainda assim, manterá diversas profissões seja
como meio-oficial de sapateiro, moço de bordo, operário da Companhia Nacional de Fósforos, servente do
Casão Militar ou fiscal do Mercado da Ribeira.
Armandinho, apresentou-se pela primeira vez em público em 1905, com apenas 14 anos, no velho Teatro das
Trinas, na Madragoa. Mas a sua estreia como guitarrista profissional tem lugar no Olímpia Club, situado na
Rua dos Condes, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves.
Em 1925 acompanha cantadores e cantadeiras no Solar da Alegria, local de culto dos amantes do Fado que,
amiúde, ali se deslocam para se deliciarem com as "improvisações" de Armandinho ou para ouvi-lo
interpretar as composições do seu Mestre, Luís Petrolino.
Em 1926 faz a primeira gravação em Portugal em microfone de bobine elétrica móvel. Grava seis
composições, acompanhado na viola por Georgino de Sousa, para a His Master’s Voice, que em Portugal é
financiada e vendida pela Valentim de Carvalho.
Dois anos depois, em 1928, também acompanhado por Georgino de Sousa, Armandinho grava em duas
sessões no Teatro S. Luís, um conjunto de Fados, variações em tons diferentes uma marcha, mais uma vez
editados no formato de 78 rpm. Estas faixas serão reeditadas em CD pela editora Heritage, em 1994.
Armandinho foi dos primeiros a realizar digressões artísticas fora do continente português. Em 1922 anuncia
a sua ida a Espanha e a Inglaterra com João da Mata Gonçalves (cf. "Guitarra de Portugal", 4 de Novembro
de 1922). Entre 1932 e 1933 desloca-se em tournée pelas Ilhas portuguesas, por Angola e Moçambique,
acompanhado pelo mesmo violista e por Martinho d'Assunção, Ercília Costa, Berta Cardoso e Madalena de
Melo.
Sobre as suas tournées, relata o próprio em 1936, na publicação "Azes do Fado": "Constituímos um pequeno
grupo, que foi muito bem acolhido: Ercília Costa, João da Mata, Martinho de Assunção e eu. Mais tarde,
animados pelo êxito deste primeiro voo, organizámos uma «tournée» à África (...). Percorremos as Costas
Ocidental e Oriental. (...). A terceira «tournée» em que entrei, porventura a mais importante, já pelo número
de artistas, já pelo reportório, foi ao Brasil, Argentina e Uruguai. Era a Embaixada do Fado, embaixada
luzidia em que figuravam, além da minha humilde pessoa, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Lina
Duval, Branca Saldanha, José dos Santos Moreira, Alberto Reis, Felipe Pinto, Joaquim Pimentel e Eugénio
Salvador." Nesta última digressão Lina Duval e Eugénio Salvador apresentavam coreografias.
Músico autodidata, toca de ouvido e, para além de um excelente executante, é também compositor de
grandes melodias. Autor de muitos Fados e variações que sobrevivem até aos dias de hoje criou temas que se
tornaram "clássicos", casos de "Fado Armandinho", "Fado de S. Miguel", "Fado do Cívico", "Fado do 39
Bacalhau", "Fado Mayer", "Fado do Ciúme", "Fado Estoril", "Variações em Ré Menor", "Variações em Ré
Maior", "Ciganita", "Fado Fontalva", "Fado Conde da Anadia", entre muitos outros.
O guitarrista afirma que a sua primeira composição foi o "Fado Armandinho" e, para o teatro, foi o "Fado do
Cívico", cantada por Estêvão Amarante na revista "Torre de Babel", levada à cena no Teatro Apolo em 1917.
Depois, também para teatro, compôs o "Fado do Bacalhau", interpretado por José Bacalhau a que se
seguiram numerosas colaborações.
São inúmeras as vozes fadistas que acompanhou quer em atuações em espetáculos e casas de fado quer em
gravações discográficas, a título de exemplo salientamos: Alberto Costa, Maria Vitória, Ângela Pinto,
Adelina Ramos, Berta Cardoso, Madalena de Melo ou Ercília Costa, entre muitos outros.
Armandinho atuou nas mais emblemáticas casa de Fado de Lisboa, e, em 1930, tornou-se empresário,
quando abriu o seu próprio espaço no Parque Mayer, o Salão Artístico de Fados, onde atuou durante alguns
anos, mas depressa tomou consciência de que teria de se repartir por digressões e espetáculos pelo que
abandonou este projeto.
Atuou ainda, em inúmeras casas particulares, especialmente nas casas da fidalguia como, por exemplo, nas da Família Burnay, Fontalva e Castelo Melhor.
Para além de João da Mata, Georgino de Sousa ou Martinho d'Assunção, outros grandes violistas tocaram
com ele, entre os quais se destacam Abel Negrão, Fernando Reis, Santos Moreira ou Pais da Silva.​
As suas interpretações são suaves e subtis, incluem pianinhos que retirava da guitarra tocando com as suas
próprias unhas e, para determinados efeitos tímbricos, recurso à surdina. Armandinho revelou-se um marco
na execução da guitarra portuguesa, criando "escola" onde se filiaram outros grandes nomes como José
Marques Piscalareta, Carvalhinho, José Nunes, Jaime Santos, Raul Nery ou Fontes Rocha, entre outros.
O guitarrista exibia uma técnica adaptada aos fadistas que acompanhava, criando uma espécie de diálogo que
evidenciava as particularidades interpretativas dos cantadores e que lhe permitia assumir uma posição de
igualdade com os fadistas e não a subalternização dos guitarristas muito vulgarizada nas primeiras décadas
do século XX. As suas interpretações tinham tal força que inspiraram ao poeta Silva Tavares as seguintes
quadras:

“A guitarra - alma da raça,
Amante do meu carinho,
Tem mais perfume e desgraça
Nas mãos do nosso Armandinho.
Benditos os dedos seus
Que arrancam assim gemidos
Tal como se a voz de Deus
Falasse aos nossos ouvidos.”

Armandinho faleceu a 21 de Dezembro de 1946 na sua casa situada na Travessa das Flores, em Lisboa,
deixando o Fado de luto como escreveu na sua capa o jornal "Guitarra de Portugal" de 1 de Janeiro de 1947.
Deixou viúva e um filho, também guitarrista: Armindo Freire.
Foi um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses em 1927.
Desta forma assumiu-se como responsável pela recolha de muitas melodias de Fado e pelo registo dos seus
autores naquela sociedade, facto que nos permite o conhecimento atual de muitas destas melodias.
A Câmara Municipal de Lisboa, através de Edital de 01/08/2005, atribuiu o nome de Armandinho a um
arruamento da Freguesia de Marvila.


Seleção de Fontes de Informação:

“Guitarra de Portugal”, 4 de Novembro de 1922;
“Guitarra de Portugal”, 12 de Junho de 1931;
“Guitarra de Portugal”, 31 de Julho de 1933;
“Guitarra de Portugal”, 1 de Janeiro de 1947;
Cabral, Pedro Caldeira (1999), "A Guitarra Portuguesa", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Guinot, Maria, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório (1999) "Histórias do Fado", Col. "Um Século de
Fado", Lisboa, Ediclube;
Rodrigues, Mário (1936), "Armandinho: sua vida - sua história", in "Azes do Fado", Ano I, nº 2, 15 de
Fevereiro;
Sucena, Eduardo (1992), "Lisboa, o Fado e os Fadistas", Lisboa, Vega.
CD "Arquivos do Fado Vol. IV - Armandinho (As sessões HMV 1928-1929) ", Ed. Heritage, 1994.

Última atualização: Fevereiro/2008

​Pequena biografia do poeta:

                                                                                                                                       Linhares Barbosa
João Linhares Barbosa nasceu a 15 de Julho de 1893 em Lisboa, no Bairro da
Ajuda onde sempre viveu e foi lá que veio a falecer em 1965.
Figura incontornável do universo do Fado, a sua obra poética estima-se em mais
de 3.000 versos. A defesa do Fado que preconizou toda a vida - nomeadamente
dos seus ambientes e seus protagonistas - a par de um imenso talento poético
consagrá-lo-iam como o “Príncipe dos Poetas” vulto maior de entre os Poetas
Populares do Fado.
Autodidata, ativo até 1965 - ano em que viria a falecer – João Linhares Barbosa viu os seus primeiros versos
publicados no jornal “A Voz do Operário” chegando muitas das vezes a ser ele próprio a declamá-los
quando contava apenas 14 anos de idade.
Mais tarde, exerceria a profissão de torneiro mecânico até à fundação do seu próprio jornal, “Guitarra de
Portugal”, precisamente no dia em que completou 29 anos, no dia 15 de Julho de 1922. Este periódico viria
rapidamente a assumir-se como um dos mais emblemáticos títulos de uma imprensa especializada no fado
que vingou, a partir de 1910.
Sob a sua direção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório
fadista como se envolveu em duras polémicas com os críticos do Fado, particularmente ativos durante a
década de 30. O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carvalhais, Artur Inês, Antônio
Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amadores de Fado, tendo assinantes em
praticamente todo o país.
Nos primeiros tempos de vida da Guitarra de Portugal, João Linhares Barbosa contou com a colaboração dos
amigos, também poetas populares, Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai). Foi nas páginas da
“Guitarra de Portugal” que, ao longo dos anos, João Linhares Barbosa defendeu o Fado, os poetas e os
fadistas, dos ataques de um grupo de detratores do Fado que teve em Luiz Moita, célebre autor da obra “O
Fado, Canção de Vencidos” um dos maiores expoentes. Para além de uma vastíssima obra poética, a João
Linhares Barbosa se fica a dever uma ação preponderante na reabilitação do Fado e na dignificação da
carreira dos fadistas.
Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas
da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetariamente o
retorno do seu trabalho.
Foi muito tempo Diretor Artístico do Salão Luso.
Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta
de Fado”.
Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o seu nome a uma rua de
Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.



Seleção de fontes de informação:

Dados biográficos fornecidos pelo Sr. Francisco Mendes.


Última atualização: Setembro/2008

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