top of page

Fado Esmeraldinha

Aquela Feia
Letra:               Frederico de Brito  (Britinho)
Música:            Júlio Proença
Intérprete:         Carlos Ramos

 

 

 


Eu gosto muito mais daquela feia
Há nela um grande amor que não tem fim

É minha essa ambição com que me enleia
E sente um certo orgulho até por mim   (bis)

 

 

 


Despreza os artifícios de beleza
Limita-se a ser feia e muito minha

Não usa joias raras de riqueza
E não se julga ao espelho, uma rainha
   (bis)

 

 

 


As outras, as bonitas, são perigosas
Faziam-me ciúme a vida inteira

São sempre mais senhoras, mais vaidosas
E sabem que têm muito quem as queira   (bis)

 

 

 


Dão sempre aos seus afetos, mais valor
E até os bons caprichos valorizam

Chegando muitas vezes a supor
Que a gente há-de beijar o chão que pisam   (bis)

 

 

 


Se o pobre coração é um vassalo
Do belo que perturba e nos enleia

Será questão de gosto, mas deixá-lo
Eu gosto muito mais daquela feia
   (bis)

​Pequena biografia do intérprete:

                                                                                                                                             Carlos Ramos
Na voz de Carlos Ramos há “tudo o que caracteriza um artista de classe: expressão,

calor e, talvez acima de tudo, aquele timbre tão pessoal, roufenho talvez, mas

incontestavelmente pleno de verdadeiro sentido fadista.” (cf. CD “Sempre que Lisboa

Canta”, 1998).
Carlos Augusto da Silva Ramos nasceu em Alcântara a 10 de Outubro de 1907.

Conviveu com a música desde criança, uma vez que o pai, João da Silva Ramos,

tocava trompa nas caçadas do rei D. Carlos, de quem era, também, funcionário

como Porteiro da Real Câmara no Palácio das Necessidades.
Carlos Ramos aprendeu a tocar guitarra portuguesa integrado num grupo de estudantes do Liceu Pedro Nunes, que se dedicavam à aprendizagem deste instrumento no intervalo das aulas. Neste grupo incluía-se o Dr. Amaro de Almeida, de quem Carlos Ramos voltou a ser colega na Escola de Medicina.
Com a morte do pai, quando tinha apenas 18 anos, foi forçado a desistir da medicina e empregou-se como escriturário nos estaleiros da CUF e, posteriormente, como radiotelegrafista na Marconi, experiência profissional que tinha adquirido, anteriormente, na prestação do serviço militar.
Os primeiros contactos de Carlos Ramos com o fado surgiram no bairro de Alcântara onde residia. A sua carreira iniciou-se pelo acompanhamento à guitarra portuguesa de diversos fadistas, passando depois a cantar, muitas vezes acompanhando-se a si mesmo. Em entrevista ao jornal "Guitarra de Portugal" de 30 de Junho de 1945, afirma que apesar de cantar há cerca de 15 anos, apenas se profissionalizou em 1944, por conselho de Filipe Pinto. E assim, em 1944, fez aquela que considerou como a sua estreia profissional, no Café Luso.
No início da sua carreira, como guitarrista, Carlos Ramos acompanhou os mais conceituados fadistas em espetáculos e digressões várias e em restaurantes típicos, como o Retiro da Severa ou o Café Mondego, e mesmo nas muitas solicitações que teve para participar em peças do Teatro de Revista.
Na sua primeira deslocação ao estrangeiro, em 1939, acompanhou Ercília Costa numa digressão aos Estados Unidos, por iniciativa do embaixador português em Washington, Dr. João Bianchi.
Será na década de 1950 que Carlos Ramos efetuará mais espetáculos no estrangeiro, conforme ele próprio revela em entrevista, após o regresso a Lisboa de uma digressão realizada à África Portuguesa. Carlos Ramos enumera os locais onde realizou espetáculos, caso da América do Norte, Brasil, Espanha, Açores, Madeira, Itália, França e Egipto. (Cf. "Voz de Portugal", 1 de Novembro de 1956).
O seu horário de trabalho para a Marconi não lhe proporcionava integrar os elencos fixos das casas típicas, no entanto a sua presença nestes espaços era muito regular. Atuou em muitos desses restaurantes e, em 1952, tornou-se artista privativo da Tipóia, onde se manteve até abrir o seu espaço em nome próprio – A Toca.
Carlos Ramos participou em muitos espetáculos de homenagem a colegas, como nas festas dedicadas a Alfredo Marceneiro, em 1948 no Café Luso e, em 1963, no Teatro São Luiz, ou na Festa de Consagração de Manuel de Almeida, realizada no Pavilhão dos Desportos em 1962.
O fadista foi também presença frequente na rádio, quer na Emissora Nacional quer no Rádio Clube Português, e dos primeiros programas de fado transmitidos pela televisão, o que muito contribuiu para o aumento do seu sucesso e popularidade junto de um público mais alargado.
Em 1956 já tinha gravado 16 discos e este número foi sempre crescendo. Gravou os seus primeiros discos ainda em formato de 78 rpm, a que se sucederam vários EPs e LPs, inicialmente em edições da Columbia e, posteriormente, da Valentim de Carvalho.
Em entrevista à revista Plateia, de 1 de Julho de 1964, Carlos Ramos relata a possibilidade surgida para participar no filme "Fado Corrido" e fala sobre os outros filmes em que participou: "Cais Sodré" (1946), "Fado" e "Lavadeiras de Portugal" (1957), afirmando que apesar de as suas intervenções serem sempre a cantar, gostaria de ter experiências de participação como ator.
Tal não viria a suceder e o "Fado Corrido" será a sua última intervenção em cinema. Este filme foi realizado em 1964 por Jorge Brum do Canto, sobre um argumento de David Mourão-Ferreira. Uma película protagonizada por Amália Rodrigues, onde o fadista interpreta temas editados pela Columbia, ainda nesse ano, no EP "Carlos Ramos canta «Atrás de um Sonho» do Filme Fado Corrido".
Quando em 1959 abre a sua própria casa de fado, A Toca, conta com a presença de Maria Teresa de Noronha, José António Sabrosa e Alfredo Marceneiro na inauguração e torna-se proprietário daquele que será um dos restaurantes típicos mais afamados do Bairro Alto.
Apesar de ser nesse seu espaço que regularmente se passam a poder escutar as interpretações de Carlos Ramos, o fadista continua a participar em inúmeros espetáculos, em palcos, na rádio e na televisão e mesmo a colaborar com as Marchas Populares, como padrinho, em 1963, ao lado de Celeste Rodrigues na Marcha de Alcântara e, em 1966, com Maria do Espírito Santo, na Marcha do Bairro Alto.
Carlos Ramos frequentou regularmente as casas típicas de Lisboa, durante as décadas de 1940 e 1950, fez uma breve carreira internacional, participou em revistas e filmes e, em 1952, passou a integrar o elenco exclusivo da Tipóia, ao lado de Adelina Ramos, de onde só sairia em 1959 para abrir A Toca, espaço localizado na Travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto.
Uma trombose ocorrida em meados da década de 60 faria terminar abruptamente com a sua carreira artística. O fadista morreria alguns anos mais tarde, a 9 de Novembro de 1969.
A sua voz particular conquistou o público e popularizou-o em grandes êxitos como: "Senhora do Monte" (Gabriel de Oliveira – José Marques, Fado Carriche), "Anda o Fado Noutras Bocas" (Artur Ribeiro), "Não Venhas Tarde" (Aníbal Nazaré – João Nobre), "Canto o Fado" (João Nobre). Temas que se eternizaram na memória coletiva e foram interpretados por inúmeros fadistas ao longo de gerações, que desta forma continuam a homenagear este nome incontornável do universo do fado.

Seleção de Fontes de Informação:

“Guitarra de Portugal”, 28 de Dezembro de 1939;
“Canção do Sul”, 16 de Setembro de 1944;
“Guitarra de Portugal”, 30 de Junho de 1945;
“Ecos de Portugal”, 1 de Abril de 1948;
“Ecos de Portugal”, 15 de Dezembro de 1949;
“Voz de Portugal”, 1 de Novembro de 1956;
“Plateia”, 1 de Julho de 1964;
Guinot, Maria, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório (1999) "Histórias do Fado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Folheto do CD “Sempre que Lisboa Canta”, EMI – Valentim de Carvalho, 1998.

Última atualização: Julho/2009

Alfacinha de gema, Carlos Ramos tornou-se num dos fadistas mais queridos do público português, graças à sua voz quente e à sua postura modesta e discreta - e ao anormal número de grandes êxitos que teve, aliás ligados à popularidade crescente do disco e da televisão, meios de comunicação que explorou com grande sucesso no início da década de sessenta. Contudo, poucos se recordam que, apesar da sua apetência pelo fado vir de criança, só tardiamente Carlos Ramos o abraçou como carreira a tempo inteiro.
De facto, Ramos gostava de ficar a ouvir o fado nas tascas de Alcântara, bairro onde nasceu em 1907, e foi como guitarrista acompanhante que iniciou carreira, aprendendo a tocar guitarra portuguesa na adolescência, nos intervalos dos estudos liceais. Estudou para médico, mas a morte do pai, com apenas 18 anos, obrigou-o a trabalhar para sustentar a família, dedicando-se à radio-telegrafia, ofício que aprendera no serviço militar e do qual faria carreira profissional. Continuava, contudo, a tocar e cantar nas horas vagas, primeiro apenas como acompanhante (nomeadamente de Ercília Costa numa digressão americana) depois também como fadista em nome próprio, acompanhando-se a si próprio à guitarra, acabando, a conselho de Filipe Pinto, por se profissionalizar como cantor em 1944. Estreou-se então no Café Luso, no Bairro Alto, criando Senhora do Monte o seu primeiro grande êxito.
Ao longo da sua carreira, Carlos Ramos viria a especializar-se no fado-canção, género inicialmente pensado para os palcos de revista, e no qual conseguiria alguns dos seus maiores êxitos: Não Venhas Tarde e Canto o Fado. Frequentador regular das casas típicas de Lisboa durante as décadas de quarenta e cinquenta, fez também uma breve carreira internacional, participou em revistas e filmes e tornar-se-ia em 1952 artista exclusivo da casa de fado Tipóia, ao lado de Adelina Ramos, de onde sairia para, em 1959, abrir a sua própria casa, A Toca, experiência cujo sucesso não correspondeu às expectativas. Uma trombose ocorrida em meados da década de sessenta viria terminar abruptamente a sua carreira artística. Ramos morreria alguns anos mais tarde, em 1969.

​Pequena biografia do autor:

​                                                                                                                                         Júlio Proença

Filho de Amélia da Conceição Proença, Júlio Proença nasceu em Lisboa, no bairro

da Mouraria, no dia 25 de Outubro de 1901. Desde cedo Júlio Proença sentiu o

apelo fadista, aprendendo a cantar com a sua mãe.

Sobrinho do cantador António Lado, começou aos 16 anos (1917) a cantar o fado

como amador e, até à sua profissionalização em 1929, na opereta "Mouraria"- que

se estreou no Coliseu dos Recreios, cantou em inúmeras festas de beneficência,

nas esperas de touros, e outros espaços.

Júlio Proença exerceu sempre a profissão de estofador-decorador numa das mais

importantes casas do ramo sita na cidade de Lisboa.

Ao longo da sua actividade artística, Júlio Proença passou pelo “Salão Artístico de Fados” e pelos retiros: “Charquinho”, “Ferro de Engomar”, “Caliça” e “Pedralvas”, entre outros.

Na década de 20 fez parte da primeira digressão artística de artistas de Fado que percorreu algumas terras do país e de que faziam parte os colegas Maria do Carmo, Joaquim Campos, Alberto Costa, Raul Ceia, os guitarristas Armando Freire "Armandinho", Herculano Rodrigues e o violista Abel Negrão.

Júlio Proença passou também pelos teatros: “Apolo”, “Trindade”, “Avenida”, “Maria Vitória”, “Joaquim de Almeida”, “Éden-Teatro”, “São Luís”, “Variedades” e “Capitólio” e nos clubes “Ritz”, “Monumental”, “Olímpia” e “Maxim's”, evidenciando, em inúmeros espectáculos, o seu enorme talento.

Posteriormente, cantou no “Retiro da Severa”, no “Solar da Alegria” (que dirigiu em conjunto come Deonilde Gouveia em 1931) e cafés “Gimnásio”, “Mondego” e “Luso”.

Júlio Proença foi um dos primeiros cantadores a cantar nas emissoras C.T.1 A.A, Rádio Luso, Rádio Peninsular e Rádio Condes.

Destacamos as gravações: “Mentindo Sempre”, “Olhos Fatais”, “Como Nasceu o Fado”, “Mentindo”, “Três Beijos”, “Meu Sentir”, “Meu Sonho”, “Minha Terra” (de cuja música é autor), bem como das músicas dos fados “Verbena”, “Lélé”, “Arlete”, “Fado Proença”, “Modesto” e “Fado Moral”. Regista-se também a gravação em dueto com Joaquim Campos dos discos “Dueto sobre o Fado” e “Romance”.

Participou numa audição de fados no Forte de Monsanto, no dia de Novembro de 1934, «1ª festa que da grande série que este jornal está empenhado em realizar em estabelecimentos prisionais e hospitalares», conjuntamente com Maria Carmen, Rosa Maria, Joaquim Campos, Joaquim Seabra, Júlio Correia e António Sobral (cf. Guitarra de Portugal de 14 de Novembro de 1934)

"Júlio Proença (juntamente com Ercília Costa e Márcia Condessa) tomou parte no espectáculo da "Mãe de Portugal" que se realizou no Coliseu do Porto, sob o alto patrocínio de Madame Carmona." (cf. Canção do Sul de 16 Setembro de 1944)

Em 1946 partiu para Moçambique onde fixou residência e onde viria a falecer, em Setembro de 1970.

Observações:
Em 21-05-1946, aquando da sua ida para África, foi homenageado numa festa realizada na Sala Júlia Mendes no Parque Mayer.

Selecção de fontes de informação:
 

“Guitarra de Portugal” 14 de Novembro de 1937;
“Canção do Sul” 16 de Setembro de 1944;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Agosto de 1946;
Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;
Sucena, Eduardo (1992) “Lisboa, O Fado e os Fadistas”, Lisboa Vega;

Última actualização: Maio de 2008

bottom of page