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Fado Corrido

É Tão Bom Ser Pequenino
Letra:                Linnhares Barbosa
Música:             Popular
Intérpretre:         Fernando Maurício

 

 

 

É tão bom ser pequenino,

ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no destino,

e ter quem goste de nós

Vem cá José Manuel,

dás-me a graciosa ideia
De Jesus da Galileia,

a traquinar no vergel
És moreninho de pele,

como foi o Deus menino
Tens o mesmo olhar divino,

ai que saudades eu tenho
Em não ser do teu tamanho,

é tão bom ser pequenino

Os teus dedos delicados,

nessas tuas mãos inquietas
Lembram-me dez borboletas,

a voejar nos silvados
E como tu sem cuidados,

também já corri veloz
Vem cá falemos a sós,

dum caso sentimental
Quero dizer-te o que vale,

ter pai, ter mãe, ter avós

Ter avós afirmo-te eu,

perdoa as imagens minhas
É ter relíquias velhinhas,

e ter mãe é ter o céu
Ter pai assim como o teu,

te dá o pão e o ensino
É ter sempre o sol a pino,

e o luar como rouxinóis
Triunfar como os heróis,

e ter esperança no destino

Tu sabes o que é esperança,

o sonho, a ilusão, a fé
Sabes lá o que isso é,

minha inocente criança
Tu és fonte na pujança,

e eu o rio que chegou à foz
Eu sou antes e tu após,

que saudades, que saudades
A gente a fazer maldades,

e ter quem goste de nós   (bis)

Pequena biografia do autor:                                           

                                                                                                                                  Linhares Barbosa
João Linhares Barbosa nasceu a 15 de Julho de 1893 em Lisboa, no Bairro da
Ajuda onde sempre viveu e foi lá que veio a falecer em 1965.
Figura incontornável do universo do Fado, a sua obra poética estima-se em mais
de 3.000 versos. A defesa do Fado que preconizou toda a vida - nomeadamente
dos seus ambientes e seus protagonistas - a par de um imenso talento poético
consagrá-lo-iam como o “Príncipe dos Poetas” vulto maior de entre os Poetas
Populares do Fado.
Autodidata, ativo até 1965 - ano em que viria a falecer – João Linhares Barbosa viu os seus primeiros versos publicados no jornal “A Voz do Operário” chegando muitas das vezes a ser ele próprio a declamá-los quando contava apenas 14 anos de idade.
Mais tarde, exerceria a profissão de torneiro mecânico até à fundação do seu próprio jornal, “Guitarra de Portugal”, precisamente no dia em que completou 29 anos, no dia 15 de Julho de 1922. Este periódico viria rapidamente a assumir-se como um dos mais emblemáticos títulos de uma imprensa especializada no fado que vingou, a partir de 1910.
Sob a sua direção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório fadista como se envolveu em duras polémicas com os críticos do Fado, particularmente ativos durante a década de 30. O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carvalhais, Artur Inês, Antônio Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amadores de Fado, tendo assinantes em praticamente todo o país.
Nos primeiros tempos de vida da Guitarra de Portugal, João Linhares Barbosa contou com a colaboração dos amigos, também poetas populares, Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai). Foi nas páginas da “Guitarra de Portugal” que, ao longo dos anos, João Linhares Barbosa defendeu o Fado, os poetas e os fadistas, dos ataques de um grupo de detratores do Fado que teve em Luiz Moita, célebre autor da obra “O Fado, Canção de Vencidos” um dos maiores expoentes. Para além de uma vastíssima obra poética, a João Linhares Barbosa se fica a dever uma ação preponderante na reabilitação do Fado e na dignificação da carreira dos fadistas.
Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetariamente o retorno do seu trabalho.
Foi muito tempo Diretor Artístico do Salão Luso.
Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta de Fado”
Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o seu nome a uma rua de Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.

Seleção de fontes de informação:

Dados biográficos fornecidos pelo Sr. Francisco Mendes.

Última atualização: Setembro/2008

Fado Corrido

O Cancioneiro de músicas Populares diz que este fado já era popularíssimo em 1870, e dá-lhe a letra de algumas quadras que andam na tradição oral. Mas o Corrido não é mais que o simples acompanhamento do canto. Sobre este tipo melódico têm sido bordadas muitas variantes por Alexandre Rey Colaço, Reynaldo Varella, Militão e outros, incluindo um compositor estrangeiro, Munier. O Fado Corrido anda em todas as colecções.

 

 

Seleção de fontes de informação:

 

www.zoomlab.net/2012-web2/pub/grupo1/?p=detalhe_fados&id=2

Pequena biografia do intérprete::

                                                                                                                                   Fernando Maurício
 

Fernando da Silva Maurício nasceu em Lisboa na Rua do Capelão, em pleno coração

da Mouraria em 21 de Novembro de 1933.
Oriundo de uma família centenária naquele bairro, com apenas oito anos de idade

cantava já numa taberna da sua rua, o Chico da Severa, onde se reuniam os fadistas

que regressavam das festas de beneficência, então frequentes, onde participavam

graciosamente.
Desses tempos idos da infância recorda com saudade as fugas de casa de seus pais,

nas madrugadas em que “abria o ferrolho, abria a porta pela surdina e ia para a taberna.

Eles (os artistas) iam para ali matar o bicho e de vez em quando tocavam ali um fadinho. Eu tinha uma paixão pela guitarra. Era uma loucura. Punham-me em cima de uma pipa e eu começava para ali a cantar...parecia um papagaio...”
Em 1947, com apenas 13 anos de idade, trabalhava já como manufator de calçado e cantava em associações de recreio quando se organizou, no “Café Latino” o concurso de Fados “João Maria dos Anjos”. Depois de obter um meritório 3º lugar iniciaria, nessa época, com uma autorização especial da Inspeção dos Espetáculos, a sua carreira profissional.
Em 29 de Junho do mesmo ano, participa já na Marcha Infantil da Mouraria representando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severa.
Foi então contratado pelo empresário José Miguel para atuar aos fins-de-semana nas casas que ele, por essa altura explorava, designadamente o “Café Latino”, o “Retiro dos Marialvas”, o “Vera Cruz” e o “Casablanca” no Parque Mayer.
Depois de profissionalizado cantou, nos anos 50 no “Café Luso”, no Bairro Alto, na “Adega Machado” e na casa típica “O Faia”.
Nos anos 60 e 70, casas como a “Nau Catrineta”, a “Kaverna”, “O Poeta”, a “Taverna d’El Rey” e, novamente, o “Café Luso”, conquistaram novos públicos com as atuações daquele a que o destino apelidaria de Rei do Fado. Na década de 80, esta sorte bateria à porta da “Adega Mesquita”.
Durante cerca de 20 anos Fernando Maurício cantou em programas de Fados na Emissora Nacional, atuou na RTP, gravou discos, obteve prémios – Prémio da Imprensa (1969) e os Prémios Prestígio e de Carreira da Casa da Imprensa (1985/1986) – tendo participado em inúmeros espetáculos no estrangeiro: Luxemburgo, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
Da discografia gravada destacam-se, para além dos Fados com Francisco Martinho e da participação em inúmeras coletâneas de Fado, os discos, atualmente disponíveis no mercado: “De Corpo e Alma Sou Fadista” (Movieplay, 1984), “Fernando Maurício, Tantos Fados Deu-me a Vida” (Discossete, 1995), “Fernando Maurício, Os 21 Fados do Rei” (Metro-Som, 1997), “Fernando Maurício”, col. “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1997) e, finalmente, “Fernando Maurício”, Clássicos da Renascença (Movieplay 2000).
Despreocupado em relação à necessidade de uma regular carreira discográfica, e dotado de um perfil pleno de abnegação e humanismo, Fernando Maurício cantou, durante toda a sua vida, em centenas de festas de beneficência, por todo o país.
Considerado o maior fadista da sua geração, possuidor de uma das mais originais vozes de Fado, a sua vasta carreira fez dele Rei do Fado e da Mouraria.
Recusando os galões, Fernando Maurício manteve-se fiel a uma simplicidade autêntica, preferindo manter-se ligado às raízes, ali mesmo na Mouraria, que visitava diariamente.
Ali revia os amigos da sua juventude: das cantorias, dos bailaricos de Verão, das cegadas na Adega do Luís Saloio, dos passeios pela Praça da Figueira, a ver os magalas e as sopeiras, do futebol, do jogo da Laranjinha e do Rei Mandado, da malandrice, dos banhos no Chafariz da Guia, das correrias a Alfama, da Calçada de Santo André até à Rua da Regueira, das brincadeiras no Tejo, onde aprendeu a nadar.
Desses tempos recorda com saudade: “havia uma padaria na Rua do Capelão onde eu nasci e nós naquela altura - nos anos 40 - dormíamos todos na rua. De manhã levantávamo-nos e íamos lavar a cara ao Chafariz da Guia. Eram muitos amigos que eu tinha. Tínhamos uma equipa de futebol e jogávamos à bola na Rua do Capelão. Entre o Capelão e a Guia. Jogávamos descalços. Nessa padaria havia cestos de verga com pão quentinho, acabadinho de sair do forno. De madrugada, enquanto o padeiro trabalhava, encostávamo-nos à porta e tirávamos uns pães. Era uma época muito má. Corriam os tempos da guerra. Nós éramos 5 irmãos, depois nasceram os dois mais novos. A minha mãe era do Bonfim, do Porto. Lavava roupa para ajudar em casa”.
Aos amigos e à família estima acima de tudo. A filha, Cláudia, a quem Amália Rodrigues costumava apelidar de Rainha Cláudia, é, para Fernando Maurício, motivo de um imenso orgulho.
Com os amigos – o Zé Brasileiro, o Calitas, o Lenine e outros tantos - adora partilhar memórias, perder o tempo em conversas longas, ao sabor de um baralho de cartas, evocando as memórias de um quotidiano vivido no bairro da Mouraria.
Fernando Maurício faleceu a 15 de Julho de 2003.
Observações:
Em Junho de 1989, Amália Rodrigues descerrou, na Rua do Capelão, duas lápides evocativas das vozes emblemáticas da Mouraria - Maria Severa Onofriana e Fernando da Silva Maurício.
Em 31 de Outubro de 1994, a comemoração das bodas de ouro artísticas de Fernando Maurício acontece no Teatro Municipal de S. Luiz, numa Festa de Homenagem promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Em 12 de Maio de 2001, o Município presta-lhe nova homenagem no Coliseu dos Recreios em Lisboa sendo-lhe atribuído, pela Presidência da República, o título honorífico da Comenda de Bem Fazer.
A 5 de Fevereiro de 2004, num espetáculo intitulado “Boa Noite Solidão”, o Município presta-lhe uma homenagem póstuma no Coliseu dos Recreios de Lisboa, com a participação de inúmeros colegas do Fado. As receitas deste espetáculo revertem na sua totalidade para a família do fadista Fernando Maurício.
Excerto do texto “O Fado é o meu bairro”, Lisboa, CML, 2001; atualizado com informação após o falecimento do fadista.

Seleção de fontes de informação:

http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=301

 


Última atualização: Abril/2008

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