top of page

Fado Moleira

(ou Moleirinha)

Moleira dos Longos Olhos
Letra:                        Vicente da Câmara
Música:                     Branco Rodrigues
Intérprete:                 Vicente da Câmara




Olha como roda a roda da velha azenha
Olha como volta e anda sempre a voltear

Lá vão com ela rodando sem mais parar
Os pensamentos que no seu girar apanha  (bis)

 

 

 

À sua porta sentada lá está fiando
A moleirinha que o seu fuso faz girar

E com o fuso também faz rodopiar
Os belos sonhos que ela tem vindo sonhando  (bis)

 

 

 

À sua volta tudo roda e rodopia
Até a brisa suas tranças despenteia

E entre as mós os belos sonhos porque anseia
Saem desfeitos como o grão se desfaria  (bis)

 

 

 

Mas oh moleira, uma estrada sem abrolhos
É como azenha que não tenha movimento

É pois chegado esse natural momento
De abrires p'rá vida teus belos e longos olhos  (bis)

​Pequena biografia do poeta e intérprete:
                                                                                                                         Vicente da Câmara
Dom Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara nasceu em Lisboa,
no Alto de Santa Catarina, no dia 7 de Maio de 1928. Descende de uma
antiga família cujas raízes remontam a João Gonçalves Zarco.
Filho de Maria Edite e João Luís da Câmara, jornalista e locutor na
Emissora Nacional, começou a interessar-se pelo Fado ouvindo os
discos de João do Carmo de Noronha, seu tio avô, e assistindo aos
ensaios de sua tia, Maria Teresa de Noronha.
Vicente da Câmara começou a “puxar para a fadistice” e, com
15 anos, já interpretava o fado como amador, frequentando com os
amigos, espaços como a Adega Mesquita, a Adega Machado ou a Adega da Lucília. Nesta altura aprende também a tocar guitarra. Apesar de presença habitual nestes espaços, o fadista nunca integrou nenhum elenco fixo das casas de fado.
Incentivado pela tia e por Henrique Trigueiro participa num concurso da Emissora Nacional, nesse ano a vencedora é Júlia Barroso, mas no ano seguinte Vicente da Câmara ganha o 1º prémio. A partir dessa data, 1948, atuou num grande número de programas daquela estação, como os “Serões para Trabalhadores”, programas de estúdio e sobretudo no programa que a sua tia, Maria Teresa de Noronha, manteve naquela emissora até 1962.
Por essa altura, em 1950, e em vésperas da sua partida para Luanda (Angola), onde permanecerá 2 anos, assina o seu primeiro contrato discográfico, com a Valentim de Carvalho, e grava o seu primeiro disco, lançando os temas: "Fado das Caldas" e "Varina".
A 23 de Abril de 1955 casa-se com D. Maria Augusta de Mello Novais e Atayde, com quem terá 6 filhos. O mais novo, José da Câmara, segue as pisadas do pai, chegando os dois a pisar o mesmo palco e a gravar juntos, como acontece no CD “Tradição” (EMI, 1993), onde se juntam a Nuno da Câmara Pereira numa homenagem a Maria Teresa de Noronha.
Vicente da Câmara passa a ser contratado da editora Custódio Cardoso Pereira em 1961. É neste período que escreve "A Moda das Tranças Pretas", hoje reconhecidamente o seu maior. Em 1967 celebra um contrato com a Rádio Triunfo, onde grava temas como "Guitarra Soluçante", “O Fado Antigo é Meu Amigo” e "Há Saudades Toda a Vida".
No cinema participou na "Última Pega" (1964), filme realizado por Constantino Esteves, com Leónia Mendes e Fernando Farinha. Vicente da Câmara protagoniza uma desgarrada com Fernando Farinha. Só voltará ao cinema em 2007, mas as suas participações em programas de televisão serão uma constante ao longo de toda a carreira.
Após o 25 de Abril o fado passa por um conhecido período de menor popularidade que se reflete para o fadista numa quase total ausência de espetáculos. Vicente da Câmara mantém a sua atividade profissional, durante 19 anos, como inspetor da CIDLA, pelo que a sua dedicação ao fado como profissional, com uma atividade bastante intensa, a nível nacional e internacional, atinge o auge na década de 80.
Desde então tem realizado espetáculos na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Holanda, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Seul, Coreia, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola.
Em 1989, por ocasião dos seus 40 Anos de Carreira Artística, os amigos organizam uma Festa de Homenagem, no Cinema Tivoli, onde ele próprio atuou e, como confidência "jamais esquecerá".
No dia 25 de Setembro, na inauguração do Museu do Fado (do qual é um dos membros do Conselho Consultivo), abriu o espetáculo realizado no Largo Chafariz de Dentro, gravado pela RTPi.
Poeta e intérprete do fado, acompanhando-se à guitarra, D. Vicente continua a manter a tradição do fidalgo fadista, imprimindo às suas interpretações um cunho muito particular, destacando-se uma característica única, o timbre e musicalidade da sua voz, numa sempre clara articulação dos poemas.
O seu registo discográfico mais recente, “O rio que nos viu nascer”, foi editado pela Ovação em 2006. O mercado acolhe também algumas reedições das suas gravações em formato CD, de que salientamos as coletâneas do seu trabalho nas coleções “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1994) e “Biografia do Fado” (EMI, 2004).
Em 2007 regressa ao cinema, no filme de Carlos Saura, "Fados", protagonizando um excerto dedicado às Casas de Fados, onde se junta a Maria da Nazaré, Ana Sofia Varela, Carminho, Ricardo Ribeiro e Pedro Moutinho para recriar o ambiente das interpretações.
Em 2009, Vicente da Câmara festeja os seus 60 anos de carreira artística. O Teatro Tivoli é novamente o palco de comemoração da efeméride com um espetáculo onde, para além do próprio atuaram José da Câmara, Maria João Quadros, Teresa Siqueira e António Pinto Basto, entre outros. Ainda neste ano a Fundação Amália Rodrigues distinguiu-o com o “Prémio Carreira”.




Seleção de fontes de informação:

Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
Museu do Fado - Entrevista realizada em 17 de Novembro/2006.


Última atualização: Abril/2009

bottom of page