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Fado Pão de Gestos

Pão de Gestos
Letra:            Torre da Guia

Música:         Alvaro Martins
Intérprete:     Beatriz da Conceição

 

 

 

Cresce farto e dourado
Por esses campos, o pão
E há tanto mal espalhado
No gesto de cada mão

 


Cada mão, cada senhor

Fazendo gestos à gente
Como se gestos na dor

Fossem do pão a semente
 


A semente que germina

Gesto bom na semeada
E transforma cada sina

Numa cruz menos pesada
 


Menos pesada que aquela

Que o povo tem carregado
Sem saber se será nela

Um dia, crucificado

alvaro martins.jpg

Pequena biografia do autor:                                                                                            Alvaro Martins

                                                                                                  

Filho de Joaquim Martins dos Santos, barbeiro, e de Alzira Rosa Martins, foi

na barbearia do seu pai e localizada no centro do Padrão da Légua, que Álvaro

Martins começou a tocar aos 5 anos de idade. Nessa época, nas barbearias era

frequente haver uma guitarra portuguesa e uma viola para os clientes e/ou os

barbeiros tocarem.

Entretanto, Álvaro Martins começou a tocar em outros estabelecimentos e

acompanhar João Gago, tio de 2º grau de Angelo Jorge, um dos violas que

o mais acompanhou.

E aos 12 anos de idade, Álvaro Martins tocou pela primeira na vez na antiga Emissora Nacional.

Nos anos 40 do século passado, José Maria Nóbrega, atualmente um dos grandes violas de Fado, estabeleceu-se no Padrão da Légua como alfaiate. Nesta zona do concelho de Matosinhos, José Maria Nóbrega conheceu Álvaro Martins, que o lançou no Fado. Durante cerca de dez anos, ambos tocaram no Tamariz, casa de fados no Porto. No Tamariz, passaram todos os grandes nomes do Fado da época, havendo um forte intercâmbio entre fadistas de Lisboa e Porto. Quando Moniz Trindade ouviu os dois no Tamariz, convidou a dupla para atuar em Lisboa, durante um mês, no Café Pam-Pam, uma casa de fados que ia abrir perto da Praça do Chile. É assim que, em 1957, José Maria Nóbrega e Álvaro Martins chegam à capital para atuarem cerca de um mês. Findo o contrato, ambos os músicos regressam ao Porto. Para além da excelente relação profissional que eles tiveram, Álvaro Martins foi padrinho da filha de José Maria Nóbrega.

No final da década de 1950, em 1959, a sua música “Noite” foi incluída no disco "Amália Rodrigues" da Amália Rodrigues e acompanhou Fernando Farinha no Coliseu do Porto no dia 25 de Outubro.

Em 1965, Álvaro Martins conheceu o poeta Torre da Guia no restaurante típico A Candeia.

Torre da Guia como poeta e Álvaro Martins como compositor tornaram-se na dupla criadora de grandes Fados como "Pão de Gestos", que se tornou um sucesso popular nos anos 80 do século passado na voz de Beatriz da Conceição e Rodrigo, ou "Olhai a Noite", que é cantado por centenas de fadistas (por exemplo, Tony de Matos, Fernando Maurício, Fernando Gomes, Fernando João, António Calvário, etc.).

Durante a sua carreira, Álvaro Martins fez muitas digressões nas comunidades de emigrantes portugueses e não só como acompanhador de Fados mas também como solista. Estados Unidos da AméricaBrasilFrança ou Moçambique são alguns dos países.

Entre as muitas casas de fado em que atou, destaca-se A Candeia, Arcadas Dom Vaz, Lisboa à Noite, O Requinte e Tamariz.

Entre os muitos violas de Fado, que formaram dupla com Álvaro Martins, destacam-se José Maria Nóbrega, José Maria de Carvalho, Mário Lopes, Manuel Carvalho e Angelo Jorge.

E entre os fadistas, que foram acompanhados à guitarra portuguesa por Álvaro Martins, destacam-se Amália RodriguesFernando FarinhaFernando MaurícioTristão da Silva, entre outros grandes fadistas.

Álvaro Martins faleceu a 8 de novembro de 2003 com 85 anos de idade no Padrão da Légua, a sua terra natal.

Com o passar do tempo, a sua obra, que é composta por mais de 100 trabalhos editados, ganha cada vez mais importância. Atualmente, é alcunhado como Mestre.

Em 2015, André Almeida Rodrigues, familiar de Álvaro Martins, produziu e realizou "O Barbeiro Guitarrista", um pequeno documentário sobre este artista no âmbito do Mestrado Som e Imagem da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Este filme, que se encontra disponível no Youtube, conta com os depoimentos de Angelo Jorge (viola de fado), Armindo Álvaro (filho de Álvaro Martins), Fernando João (fadista), Humberto Teixeira (empresário de fado), Rodrigo (fadista) e Torre da Guia (poeta e letrista), ganhou o Prémio Latino de Melhor Curta Metragem Portuguesa (Fundación Mundo Ciudad, 2016, Espanha), Menção Honrosa no FARCUME (Faro, 2016), foi nomeado ao Sophia Estudante (Academia Portuguesa de Cinema) e exibido em 19 países.

  • Álvaro Martins dizia que era barbeiro de profissão e guitarrista de paixão;

Até a sua morte, em novembro de 2003, Álvaro Martins acompanhou os grandes nomes do fado da sua época e deixou mais de 100 trabalhos editados.

 

Fontes de informação:          https://pt.wikipedia.org/wiki/Álvaro_Martins_dos_Santos

Pequena biografia da intérprete: 

                                                                                                                                    Beatriz da Conceição

Beatriz da Conceição Mendes Lage nasceu no Porto na freguesia de Santo

Ildefonso a 21 de Agosto de 1939, cidade onde viveu até ao dia que um passeio

a Lisboa a fez abraçar a carreira de fadista. À volta do ano de 1960, Beatriz da

Conceição visitou a capital com um grupo de amigos e foi à casa de fados Márcia

Condessa onde acabou por ser convidada a cantar. Após a sua interpretação a

própria Márcia Condessa contratou-a para integrar o elenco. Beatriz da Conceição

estabeleceu-se em Lisboa como fadista e, passado um ano, tirou a carteira

profissional.

Ao longo da sua carreira passou por muitas das casas de fado mais importantes

de Lisboa, como A Viela, a Adega Machado, a Nonó, Os Ferreiras, a Taverna do

Embuçado e, atualmente, o Senhor Vinho.

Em 1965 grava o seu primeiro disco para a etiqueta RCA. Um EP de título “Fui

por Alfama”, onde Beatriz da Conceição interpreta, para além do tema título, um

poema de Guilherme Pereira da Rosa com música de Francisco Carvalhinho, “Eu sou do fado”, letra de Lopes Victor para música de Francisco Carvalhinho, “Fado do adeus”, poema de Nelson de Barros e música de Frederico Valério, e “Agora choro à vontade”, com música de Eugénio Pepe e letra de Guilherme Pereira da Rosa.

Curioso é o texto da contracapa deste disco, onde a editora apresenta a seguinte descrição: “Jovem, turbulenta e irreverente, Beatriz da Conceição é como que uma rajada de ar fresco no meio fadista nacional. Pertencendo à chamada Nova Vaga do Fado ela interpreta com igual valor tanto o género alegre como o triste e dramático. Duma flexibilidade sem limites é, contudo, nas interpretações dramáticas que melhor podemos apreciar a «garra» e o «sentimento» que ela empresta a cada fado que canta.”

Se nos dias que correm Beatriz da Conceição, já com mais de 40 anos de carreira, passou a fazer parte dos grandes valores consagrados do universo fadista, o seu perfil continua a registar as mesmas características de irreverência, de exaltação de garra e sentimento nos fados que interpreta, que marcaram todo o seu percurso como fadista. “Beatriz canta sempre de cabeça levantada numa atitude afirmativa, forte e quase sanguinária” (…) “Perder um espetáculo de Beatriz da Conceição é desmarcar um encontro com as grandes emoções humanas.” (cf. “Um Porto de Fado”: 55).

Beatriz da Conceição começou a trabalhar em teatro em 1966, destacando-se nos palcos com a interpretação de temas como: “Fado para esta noite” (Francisco Ferrer Trindade – Rogério Manuel Tavares Bracinha – César Augusto Gonçalves de Oliveira), ou “John Português” (João de Vasconcelos – César Augusto Gonçalves de Oliveira), onde a fadista fazia o papel de um marinheiro, neto de emigrante, para uma revista do Teatro ABC, no Parque Mayer.

Como todos os grandes fadistas, obstinou-se em ter um repertório próprio, chegando mesmo, no início da sua carreira a comprar letras de Fado de que gostava. Ao ouvir Beatriz da Conceição podemos contar com letras de grandes poetas, casos de: Domingos Gonçalves Costa, João Dias, João Linhares Barbosa, César d' Oliveira, Ary dos Santos ou Vasco de Lima Couto.

José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo criaram o fado “Meu Corpo”, que muitos conhecem como o "Fado da Bia", diminutivo familiar da artista. Este fado foi criado de um dia para o outro em virtude de Beatriz da Conceição ir substituir Tonicha na revista “Uma no Cravo, Outra na Ditadura”, e ser necessário ter um original para interpretar.

A grande referência fadista para Beatriz da Conceição é Lucília do Carmo: “ a musa da minha inspiração, e por quem eu morria de ouvir cantar” (cf. Baptista Bastos: 85). Ainda assim, também considera no grupo de eleição as fadistas Argentina Santos e Fernanda Maria. Para o fado no masculino enumera, como seus preferidos, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos, Tony de Matos, Max, Manuel de Almeida e Tristão da Silva.

Na década de 1990 Beatriz da Conceição participou nos programas de televisão, criados por Filipe la Féria: a "Grande Noite" (1990) e o "Cabaret" (1994).

Em 1996, Beatriz da Conceição e António Rocha foram convidados a integrar uma experiência única, o projeto “Tears of Lisbon”, dirigido pelo maestro Paul van Nevel e o Huelgas Ensemble, com uma recolha de temas de Fado e de música portuguesa do séc. XVI. Neste âmbito são realizados diversos espetáculos por todo o Benelux e, patrocinado pelo “Festival Van Vlaanderen International”, é gravado um CD ao vivo, no Refectory of the Bijloke Abbey, em Ghent na Bélgica. Neste disco Beatriz da Conceição interpreta os temas: “Voltaste” (Joaquim Pimentel), “Eu preciso de te ver” (Vasco de Lima Couto – Fontes Rocha), “Noite” (Vasco de Lima Couto – Max), “Vesti a minha saudade” (Francisco Viana – António Campos) e “Meu corpo” (Ary dos Santos – Fernando Tordo).Sobre Beatriz da Conceição diz Paul van Nevel que a fadista se exprime com uma força contida, que a sua interpretação é de uma tal tristeza emotiva, que consegue imprimir poesia mesmo aos silêncios entre as palavras e versos (cf. “Les Larmes de Lisbonne”).

Das edições discográficas mais recentes destacamos: “Sou um Fado desta idade” (1996), da Emi-Valentim de Carvalho, “Beatriz da Conceição” (1997), edição “O Melhor dos Melhores”, da Movieplay, e, ainda, “O Melhor de Beatriz da Conceição”, editado pela Iplay em 2008. A fadista, como grande referência do Fado integra inúmeras coletâneas, a título de exemplo referimos: “Fado Capital”, editada pela Ovação em 1994, “Parque Mayer”, editada pela Valentim de Carvalho em 2003 e “Mulheres Fadistas”, CNM, 1998.

Muitos são os espetáculos que tem feito no estrangeiro, seja para cantar em comunidades portuguesas, nos Estados Unidos da América e Canadá, ou em festivais internacionais de música, para um público mais cosmopolita. A 1 de Novembro de 2007, no âmbito do “Festival Atlantic Waves”, Beatriz da Conceição esteve no Queen Elizabeth Hall, em Londres, partilhando o palco com as fadistas Maria da Fé, Mafalda Arnauth, Aldina Duarte, Joana Amendoeira e Raquel Tavares, num espetáculo intitulado “The Grand Divas of Fado”.

Beatriz da Conceição é uma forte referência para os jovens fadistas. Aldina Duarte revelou em diversas ocasiões que foi após ouvir Beatriz da Conceição cantar que desejou ser fadista. Mafalda Arnauth homenageou a fadista interpretando o tema de Max “Pomba branca, pomba branca”, no seu disco “Flor de Fado”. E Ana Moura convidou Beatriz da Conceição para o palco do Coliseu dos Recreios, a 26 de Junho de 2008, para interpretar o seu “clássico” “Meu Corpo”, um concerto que foi posteriormente editado em DVD.

Nos últimos anos, para além dos espaços das casas de fado (atualmente integra os elencos do Senhor Vinho e do Café do Museu do Fado), tem feito diversos espetáculos de que salientamos os seguintes: Casa da Música no Porto (2007), “Festa do Fado”, Castelo de São Jorge, em Lisboa (2007), “Vozes do Fado”, Auditório Municipal Ruy de Carvalho, em Carnaxide (2008), “Gala do Fado Carlos Zel”, no Casino Estoril (2008).Em Maio de 2008 Beatriz da Conceição foi distinguida com o “Prémio Carreira” da Fundação Amália Rodrigues, e nesse mesmo mês foi homenageada na sua cidade natal, com o espetáculo “Alma Lusitana”, que teve lugar no Teatro Sá da Bandeira.

 

 

 

Seleção de fontes de informação:

 

Programa do espetáculo “Um Porto de Fado” (2001), Lisboa, HM Música;

Programa do espetáculo “Les Larmes de Lisbonne” (1996), Abbaye-aus-Dames, 8 de Julho.

Baptista-Bastos (1999), “Fado Falado”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube.

 

Última atualização: Março/2009

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