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Fado Maria Vitória

A Saudade Aconteceu
Letra:               Jorge Rosa

Música:            Alves Coelho
Intérprete:         Camané

 

 

 

 

Há pouco quando ficaram
Teus olhos presos nos meus;  (bis)

Quantos segredos contaram
Quantas coisas revelaram
No silêncio desse adeus  (bis)

 

 

 

Há pouco quando teimosas
Duas lágrimas rolaram  (bis)

Trementes silenciosas
Deslizaram caprichosas
E nosso beijo selaram  (bis)

 

 


Há pouco quando partiste
Todo o céu enegreceu  (bis)

Ainda bem que tu não viste
Formou-se uma nuvem triste
E a saudade aconteceu  (bis)

Pequena biografia do intérprete:
                                                                                                                                                         Camané
Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos adotou o nome artístico de Camané, diminutivo
que tinha desde a creche. Nasceu em Oeiras a 20 de Dezembro de 1966. Tem dois irmãos
mais novos, também eles intérpretes profissionais de fado: Hélder Moutinho e Pedro
Moutinho.
Na instrução escolar não chegou a completar o 9º ano, pelo que o pai, chefe de construção
naval, lhe arranjou um emprego no Arsenal do Alfeite, onde esteve dois anos, deixando
esse trabalho quando foi cumprir o serviço militar obrigatório.
Os primeiros contactos com o fado surgiram em sua casa, onde muito se apreciava este género musical. Durante a recuperação de uma doença na infância, Camané teve de permanecer em casa durante 20 dias e ouviu compulsivamente a coleção de discos dos pais, maioritariamente composta por discos de fado. Tomou assim contacto com todos os grandes intérpretes do género: Amália Rodrigues, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, Maria Teresa de Noronha, Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos, Hermínia Silva e Carlos do Carmo, entre outros.
Através destas audições assimilou de tal a forma característica de canto e os próprios fados que, passado pouco tempo, o seu pai trauteava a primeira fase musical de um fado tradicional e ele adivinhava-o porque os conhecia todos.
A sua primeira interpretação em público fê-la no restaurante Cesária, em Alcântara, por sua própria iniciativa em se dirigir aos músicos e pedir para cantar um fado de Fernando Maurício. Cantou, as pessoas acharam muita graça e aplaudiram muito e, a partir daí, aos fins de semana gostava de ir com os pais às coletividades que tinham fado, podendo assim continuar a cantar.
Camané participa em 1979 no concurso “Grande Noite do Fado” e sagra-se vencedor, facto que lhe permite gravar os seus primeiros discos, em formato 45 rpm. No ano seguinte, com cerca de 13 anos, grava o primeiro LP, um disco produzido pelo guitarrista António Chainho.
Nesta altura Camané está na mudança de voz e afasta-se do fado, mas regressa com 18 anos, pela mão de Alcino Frazão, que o leva para a casa "Fado Menor". Aproveitou o período de serviço militar, como escriturário na Direção de Armas de Artilharia, para atuar nas várias casas de fado, circuito em que se manteve com regularidade até à edição do seu segundo CD, em 1998.
Durante esse período apresenta-se em diversas casas típicas, passando por espaços como o já referido Fado Menor, ou o Faia, Adega Machado, Luso, Clube de Fado e Senhor Vinho, entre outros.
O percurso de Camané permitiu-lhe ouvir cantar os grandes vultos do universo do fado, caso de Marceneiro, e conviver com alguns deles, como Amália Rodrigues ou Carlos Conde. Este especto foi de grande importância para a sua aprendizagem, que complementou com os anos passados a cantar em casas de fado.
Fez as suas primeiras apresentações em programas televisivos, pela mão de Teresa Guilherme e Herman José e, mais tarde, recebe um convite para participar em alguns espetáculos de Filipe La Féria. As produções teatrais permitem-lhe ganhar uma maior popularidade e é também nessa altura que surge o convite da EMI para gravar o seu primeiro CD, Uma Noite de Fados, editado em 1995.
De facto uma mudança importante acontece na sua carreira com os convites de Filipe la Féria para os projetos "Grande Noite", "Maldita Cocaína" e "Cabaret". Para além da notoriedade resultante da divulgação televisiva, Camané tem a hipótese de cantar num palco, e ganhar mais segurança, porque até essa altura, estava habituado a cantar em casas de fado e para um público de apreciadores muito mais reduzido.
É durante a gravação do espetáculo "Maldita Cocaína" que surge o convite para gravar o seu primeiro CD para a editora EMI. O registo "Uma Noite de Fados" é gravado ao vivo, durante quatro noites consecutivas, no Palácio das Alcáçovas, recriando o ambiente de uma verdadeira casa de fado. No fundo procurando reconstituir em disco aquilo que foi o seu percurso de fadista entre os 18 e os 27 anos.
A edição de "Uma Noite de Fados", elogiada pela crítica especializada, elege Camané como a voz mais representativa da nova geração do fado. E o seu trabalho discográfico seguinte – “Na Linha da Vida” (1998), confirma as expectativas que "Uma Noite de Fados" provocara, e consagra-o em definitivo como um dos intérpretes mais impressionantes do fado.
Desde essa altura as suas atuações alargam-se aos grandes palcos, efetuando diversos espetáculos em Portugal e no estrangeiro, como as participações, logo em 1998, nos festivais “Tombées de La Nuit”, em Rennes e “Les Méditerranées à l'Européen” em Paris. Progressivamente, Camané abandona as atuações profissionais nas casas de fado.
O disco “Esta Coisa da Alma” (2000), tal como os anteriores, teve produção de José Mário Branco, e foi editado simultaneamente em Portugal, na Bélgica e na Holanda. Para além da apresentação do disco de norte a sul de Portugal, Camané realizou, também, digressões na Bélgica e na Holanda, para além de concertos em Espanha, Suíça, Alemanha e França.
Em 2001 Camané é distinguido com os prémios Globo de Ouro da SIC de “Melhor Intérprete Individual”; Prémio Bordalo para “Melhor Intérprete de Música Ligeira”, atribuído pela Casa da Imprensa; e o Prémio Blitz/Clix para “Melhor Voz Masculina Nacional”.
No final do ano lança o seu quarto CD – “Pelo Dia Dentro”, novamente com produção de José Mário Branco, e participação do mesmo trio de músicos do seu anterior álbum: José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (Viola) e Carlos Bica (contrabaixo).
O seu primeiro registo discográfico ao vivo, de título “Como Sempre… Como Dantes” (2003) é um CD duplo que obteve o galardão de “Disco de Ouro” e dá o mote para a realização de inúmeros espetáculos no ano de 2004, com início no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, e posteriormente passando por cidades como Famalicão, Coimbra, Évora, Porto e Lisboa.
Em 2004 integra o projeto Humanos, com David Fonseca e Manuela Azevedo, interpretando canções inéditas de António Variações o que projetou a sua imagem a nível nacional para um público mais alargado. Para além da edição em CD, são gravados os espetáculos ao vivo realizados nos Coliseus de Lisboa e do Porto, em 2005, e editados em DVD.
Considerando-se sempre um fadista, Camané aprecia integrar na sua carreira alguns espetáculos diferentes, realçando que a sua forma de cantar algo diferente vem precisamente da carga emotiva e interpretativa que lhe dá o fado. Neste âmbito integra-se, também, o espetáculo “Outras Canções” (Teatro São Luiz), onde Camané interpretou canções de referência da música portuguesa e brasileira.
A Fundação Amália Rodrigues atribuiu-lhe o prémio de “Melhor Intérprete Masculino” na sua primeira Gala, em 2005.
No ano seguinte, com base nos concertos realizados no Teatro São Luiz, na digressão do espetáculo “Como Sempre… Como Dantes”, é lançado no mercado o DVD “Camané ao Vivo no S. Luiz”.
Em 2006 Camané realizou com Carlos do Carmo um grande concerto de encerramento das Festas de Lisboa, com um palco instalado na Torre de Belém. Este espetáculo teve uma audiência de 20 mil pessoas.
O fadista participou, em 2007, numa película cinematográfica consagrada ao fado como género musical, onde interpreta dois temas. Da autoria do premiado realizador espanhol Carlos Saura, o filme "Fados" teve uma circulação a nível mundial que certamente contribui para uma maior popularidade de Camané junto de públicos mais vastos.
Em Maio de 2008 Camané apresentou o seu novo disco de originais “Sempre de Mim”, com um concerto no Coliseu dos Recreios. “Insistindo na divulgação de um repertório centrado no seu lado Tradicional, sem deixar de arriscar ao utilizar novas linguagens poéticas e musicais, os novos fados refletem duas vertentes, uma de novidade temas inéditos de Alain Oulman, poemas de Luís de Macedo nunca antes musicados, um “fado” de Sérgio Godinho ou uma letra de Jacinto Luas Pires num fado tradicional outra pelas escolhas que já deram bons frutos poemas de Fernando Pessoa e Pedro Homem de Mello, a irresistível métrica de Manuela de Freitas e as inconfundíveis melodias de José Mário Branco” (cf. www.vachier.pt).
Atualmente Camané mantém uma agenda de espetáculos muito ativa que abarca digressões de norte a sul de Portugal e um pouco por todo o mundo, sendo um nome sempre presente entre os consagrados do universo fadista.

 

Seleção de Fontes de Informação:

"Pública", 14 de Fevereiro de 2000;
"Expresso", 16 de Maio de 2000;
"Visão", 15 de Novembro de 2001;
"Focus", 3 de Dezembro de 2003;
"DNA", 10 de Setembro de 2004.
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Halpern, Manuel (2004), "O Futuro da Saudade", Lisboa, Dom Quixote;
www.camane.em.pt/
www.vachier.pt


Última atualização: Abril/2009

Pequena biografia do poeta:

                                                                                                                                                Jorge Rosa

Jorge Rosa, artista plástico multifacetado, com uma obra invulgarmente extensa,

considerando os variados campos da arte a que se dedicou, nasceu a 8 de Março

de 1930 e morreu a 9 de Agosto de 2001
Frequentou o curso de artes decorativas, da extinta escola António Arroio, com

o objectivo de prosseguir os estudos na Escola Superior de Belas Artes.
Aos 18 anos começou a distinguir-se pelo elevado valor artístico dos seus trabalhos

de desenho, a crayon de nus artísticos e animais e a tinta da china de obras de

religiosas como a Descida da Cruz, Cristo Crucificado e as fachadas de igrejas e

monumentos de Lisboa apresentando já, na opinião dos seus mestres, uma elevada

qualidade e rigor de pormenor.
Aos 20 anos com a morte de seu Pai, sendo o mais velho de 6 irmãos, foi obrigado a abandonar os estudos para conjuntamente com uma irmã, que tomou igual decisão, trabalhar para sustentabilidade da família.
Até à sua reforma, exerceu actividades sem ligação à arte, tendo sido funcionário administrativo de uma agremiação empresarial e depois a actividade comercial e de apoio à decoração de interiores, num grupo fabricante de mobiliário, com lojas de exposição e venda de mobiliário e artigos de decoração.
Contudo, jamais abandonou as actividades artísticas que sempre realizou em paralelo com a profissão, sistematicamente realizadas após o horário laboral, até altas horas da madrugada. Sempre dormiu pouco.
Ao longo de mais de 50 anos, dedicou-se ininterruptamente e simultaneamente, com singular maestria, às artes de: desenhador, maquetista, pintor, decorador, figurinista, cenógrafo e poeta.
Sendo um apaixonado pela cidade de Lisboa e da sua vida nocturna e particularmente dos seus bairros mais populares como a Madragoa, Alfama, Bairro Alto e Mouraria, onde se cantava o fado de que muito gostava, pintou magistralmente as sua casas, suas escadinhas e suas gentes, de que se destacam os quadros de casario, telhados e figuras típicas como as varinas, os fadistas e os vendedores de rua. Realizou dezenas de exposições individuais e colectivas, com centenas de quadros que produziu
Como maquetista, desenhou e pintou, programas de espectáculos, catálogos de exposições,  cartazes publicitários de montra e de parede de filmes, de peças de teatro, especialmente revistas do Parque Mayer, onde durante 40 anos então como cenógrafo, concebeu cenários e desenhou guarda roupas, tendo também colaborado com poemas.
Para as marchas dos santos populares dos bairros de Alfama, Madragoa, Mouraria e Carnide, desenhou arcos e produziu as letras das marchas, algumas das quais, também musicou.
Na televisão como cenógrafo e caricaturista colaborou em vários programas de que destacamos, em colaboração com Júlio Isidro,  “Festa é Festa”, “A festa continua”, “Amigos Disney” e Passeio dos Alegres” onde concebeu, cenários e decorações complementares e em directo caricaturou os convidados tal como no programa de Rui Guedes, “Rui Guedes ao piano”
Como caricaturista, a sua capacidade de apreensão rápida em poucos traços das características mais significativas de cada caricaturado, tornaram-no , sem dúvida, de longe, no caricaturista português preferido, com uma obra impar quer em qualidade quer em quantidade.
Entre os anos de 1950 e 2000 foi o caricaturista que produziu 90% das caricaturas de todos os livros de curso editados na zona da Grande Lisboa, cada um deles com dezenas de imagens.
Paralelamente, quase todos os artistas nacionais e muitos internacionais de teatro,
rádio, televisão,  cinema e fadistas, foram caricaturados por ele, assim como os  principais políticos após o 25 de Abril.
Como poeta, em parceria com os melhores maestros e músicos, compôs fados inesquecíveis que foram cantados por todos os fadistas de maior nomeada.
Sob pena de omitir músicos e fadistas, que tornaram os seus poemas populares e aos quais pedimos as nossas desculpas, referimos, como musicólogos: António Chaínho, Arlindo de Carvalho, Carlos Rocha, Domingos Carvalhinho, Domingos Camarinha, Ferrer Trindade, Fontes Rocha, Genny Telles, Jorge Machado, Martinho d’Assunção, Nóbrega e Sousa e Nuno Nazaré Fernandes; como fadistas: Ada de Castro, Anita Guerreiro, Beatriz da Conceição, Berta Cardoso, Camané, Carlos do Carmo, Celeste Rodrigues, Cidália Moreira, Fernando Maurício, Hélder Moutinho, Jorge Fernando, Manuel Fernandes, Maria Armanda, Maria Clara, Maria da Fé, Mafalda Drumond, Natalina Bizarro, Natalino Duarte, Natércia da Conceição, Pedro Moutinho e Tristão da Silva.
Os poemas que originaram fados, canções e marchas e que se encontras registados na Sociedade Portuguesa de Autores, rondam os 800, não considerando aqueles, e foram muitos, de que o poeta abdicou dos seus direitos autorais para oferecer aos seus amigos e amigas cançonetistas e fadistas.
Do seu enorme espólio artístico de pinturas, caricaturas e poemas, destacam-se cerca de 3.000 poemas inéditos que os seus herdeiros põem à disposição de todos os artistas que os quiserem cantar, alguns dos quais já foram escolhidos, após sua morte, por artistas consagrados como Maria da Fé e Pedro Moutinho um fadista da nova escola de fado, irmão dos fadistas Hélder Moutinho e Camané que, este mês efectuou o lançamento de um DVD com uma colectânea de fados, entre eles, um do artista.



Seleção de fontes de informação:

http://salfino.blogs.sapo.pt/2506.html

Última atualização:  Abril/2009

                                                                                                                                                    Maria Vitória

Filha de pais espanhóis e nascida em Espanha, Maria Vitória de "espanhola" não

conservava nada. Antes pelo contrário, foi ao Fado, essa canção tão portuguesa

que Maria Vitória se entregou por completo, alcançando o maior êxito na sua tão

curta vida. Morreu tuberculosa em 1915. Tinha 27 anos incompletos.

Avelino de Sousa recordava-a:

"Cantatriz por excelência, o Povo elegeu-a rainha do Fado, desse Fado que fala

a alma do Povo e que ela cantava tão bem.

(...)

“E assim numa noite - quando seguia viagem para o Porto onde ia deliciar o público

do Norte com os fados lindos do "31" - uma chuva húmida e fria penetrou-lhe as

carnes viçosas infiltrando-se-lhe no organismo débil, tomando-lhe os pulmões,

lançando lá o gérmen da tísica, dessa maldita tísica que jurara tragá-la, amarfanhá-la, possuí-la só para si, num egoísmo feroz que para sempre no la roubou a 30 de Abril de 1915. Tinha 24 anos apenas." (cf. Avelino de Sousa in Guitarra de Portugal de 30 de Novembro de 1927)

Em 1946, Avelino de Sousa voltava a lembrá-la, traçando-lhe a biografia:

"Maria Vitória era espanhola de origem, nascida na cidade de Málaga em 13 de Março de 1888, vindo para Lisboa muito pequenina, acompanhada pela mãe. Foi educada numa casa religiosa e, como era muito inteligente, aprendeu muito no convento, sendo pena que o seu espírito irrequieto a levasse a fugir de lá, não tendo por esse motivo completado a sua educação.

Era morena, de olhos negros, muito simpática, mas entrou cedo na Vida, não sabendo aproveitar o grande amor que por ela sentia um belo rapaz, filho dum velho amigo nosso que felizmente ainda vive e teve desgosto com essa ligação do filho querido, motivo porque não se publica o nome do pobre rapaz que a adorava apaixonadamente.

Diz um biógrafo da infeliz e simpática Maria Vitória que: «o fundo religioso da sua educação, um certo misticismo próprio da sua maneira de ser, combinados com a sua sentimentalidade e sensualidade, deram o Fado».

(…)

Começou então a aparecer nas feiras, nas pandegas, nas noitadas, na estúrdia, rendida e embriagada pela vibração dulcíssima da guitarra, cantando o fado que ela adorava e que a celebrizou, adquirindo, além da popularidade e dos frenéticos aplausos que o público lhe dispensava - especialmente as senhoras, que por ela tinham uma extraordinária simpatia - os germes da tísica que a matou na flor da mocidade, no vigor da vida.

Um dia apareceu a cantar o Fado na taberna Flor da Boémia, na Travessa da Espera nº 11, em pleno coração do Bairro Alto, de que era dono um tal Joaquim Rato, um dos seus amores. E depois, durante a sua curta vida, formou-se à sua volta uma ronda de galãs, rapazes da época, mais ou menos boémios e estúrdios como aliás é próprio da mocidade, e essa ronda amorosa, tal como as sentinelas, diligenciava render-se no quartel do seu coração, todos apaixonados pela graciosa morena de olhos negros, sonhadores, cheios de misticismo e de uma sentimentalidade sensual que quase a tornavam bonita, à força de tornar-se simpática.

Ansiava, porém, por entrar para o teatro. Ao contrário do que alguns biógrafos afirmam, ela não se estreou como atriz no Salão Fantástico, à Rua Jardim do Regedor, mas sim no Casino de Santos, onde o crítico do Jornal Polichinelo afirma tê-la visto estrear em 1908.

Esteve depois no Salão Fantástico e na Rua do Condes, à porta do qual, por uma questão de ciúmes, se atirou à pancada a uma outra atriz, também especializada no Fado, se bem que não fosse fadista como ela, nem alcançasse o nome a que podemos chamar glorioso que ela alcançou no Teatro, posto que não chegasse a ser uma grande atriz. Era, todavia, artista, e conseguiu guindar-se no conceito do público, que é juiz supremo.

Com o seu feitio irrequieto, a simpática atriz só estava bem aonde não estava, e um dia, muito atacada pela tuberculose, recolhe ao Sanatório do Caramulo, de onde também fugiu, voltando ainda ao Teatro.

Até que no dia 30 de Abril de 1915, com 27 anos de idade, a infeliz rapariga tombou nas garras da maldita doença, falecendo na sua casa na Rua Neves Piedade, nº 1 RC.

Pobre avezita gentil!... Esteve 7 anos no teatro, mas esse curto espaço de tempo chegou para que granjeasse um nome que ainda perdura, não só na memória daqueles... mas do teatrinho que tem o seu nome no Parque Mayer.

O poeta Júlio Guimarães recorda-a ainda hoje saudosamente porque, tendo morada no mesmo prédio onde ela também morava, à Rua das Pretas, ia muito a casa dela, quando tinha apenas 12 anos de idade. Maria Vitória brincava muito com ele e um dia ofereceu-lhe um cigarro. Foi o primeiro que o Júlio Guimarães fumou, e o caso é que até agora ainda não perdeu o vício.

Maria Vitória foi enterrada no cemitério de Benfica e, a certa altura, o tal rapaz, seu primeiro amor, que nunca a pudera esquecer, foi comovidamente tratar da trasladação para as catacumbas. Quando exumavam o cadáver, só aparecia um dos brincos de oiro. Levantaram-se suspeitas sobre o pessoal, visto que o cadáver ficara ali toda a noite. O brinco apareceu embaraçado na grande massa dos negros cabelos da pobre Maria Vitória. (…)

E o rapaz, seu grande apaixonado, veio a falecer também tísico." (cf. Avelino de Sousa e Júlio Guimarães in Guitarra de Portugal, 1 de Outubro de 1946)

Seleção de fontes de informação:

“A Guitarra de Portugal”, 30 Novembro de 1927

“A Guitarra de Portugal”, 01 de Outubro de 1946

 

Última atualização: Abril/2008

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