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Fado Georgino

Pede-me Tudo
Letra:                     Jorge Rosa
Música:                  Georgino de Sousa
Intérprete:               Fernando Maurício

 

 

 

 

Pede-me a luz das estrelas
O seu doce cintilar
Que eu farei por conseguir;

 

Escolher entre todas elas
As que mais podem brilhar
As que mais sabem luzir  (bis)

Pede-me o brilho da lua
Do sol radioso e quente
O soalheiro calor

 

Logo a lua será tua
Do astro-rei, num repente
Terás também o fulgor  (bis)

Pede-me o sal das marés
As ondas, a cor do mar
Da alva espuma, a cambraia

 

Pronto terás a teus pés
Oceanos desmaiar,
Tal e qual como na praia  (bis)

Tudo o mais que te apeteça
Sentirás ao teu dispor
Se me pedires te darei

Só não peças que te esqueça
Acredita meu amor
Como fazê-lo, não sei  (bis)

Pequena biografia do autor:

Georgino de Sousa Ferrão, viola de fado,  (1889 - 1949). 

Pequena biografia do poeta:

                                                                                                                                                 Jorge Rosa

Jorge Rosa, artista plástico multifacetado, com uma obra invulgarmente extensa,

considerando os variados campos da arte a que se dedicou, nasceu a 8 de Março

de 1930 e morreu a 9 de Agosto de 2001
Frequentou o curso de artes decorativas, da extinta escola António Arroio, com o

objectivo de prosseguir os estudos na Escola Superior de Belas Artes.
Aos 18 anos começou a distinguir-se pelo elevado valor artístico dos seus trabalhos

de desenho, a crayon de nus artísticos e animais e a tinta da china de obras de

religiosas como a Descida da Cruz, Cristo Crucificado e as fachadas de igrejas e

monumentos de Lisboa apresentando já, na opinião dos seus mestres, uma elevada

qualidade e rigor de pormenor.
Aos 20 anos com a morte de seu Pai, sendo o mais velho de 6 irmãos, foi obrigado a abandonar os estudos para conjuntamente com uma irmã, que tomou igual decisão, trabalhar para sustentabilidade da família.
Até à sua reforma, exerceu actividades sem ligação à arte, tendo sido funcionário administrativo de uma agremiação empresarial e depois a actividade comercial e de apoio à decoração de interiores, num grupo fabricante de mobiliário, com lojas de exposição e venda de mobiliário e artigos de decoração.
Contudo, jamais abandonou as actividades artísticas que sempre realizou em paralelo com a profissão, sistematicamente realizadas após o horário laboral, até altas horas da madrugada. Sempre dormiu pouco.
Ao longo de mais de 50 anos, dedicou-se ininterruptamente e simultaneamente, com singular maestria, às artes de: desenhador, maquetista, pintor, decorador, figurinista, cenógrafo e poeta.
Sendo um apaixonado pela cidade de Lisboa e da sua vida nocturna e particularmente dos seus bairros mais populares como a Madragoa, Alfama, Bairro Alto e Mouraria, onde se cantava o fado de que muito gostava, pintou magistralmente as sua casas, suas escadinhas e suas gentes, de que se destacam os quadros de casario, telhados e figuras típicas como as varinas, os fadistas e os vendedores de rua. Realizou dezenas de exposições individuais e colectivas, com centenas de quadros que produziu
Como maquetista, desenhou e pintou, programas de espectáculos, catálogos de exposições,  cartazes publicitários de montra e de parede de filmes, de peças de teatro, especialmente revistas do Parque Mayer, onde durante 40 anos então como cenógrafo, concebeu cenários e desenhou guarda roupas, tendo também colaborado com poemas.
Para as marchas dos santos populares dos bairros de Alfama, Madragoa, Mouraria e Carnide, desenhou arcos e produziu as letras das marchas, algumas das quais, também musicou.
Na televisão como cenógrafo e caricaturista colaborou em vários programas de que destacamos, em colaboração com Júlio Isidro,  “Festa é Festa”, “A festa continua”, “Amigos Disney” e Passeio dos Alegres” onde concebeu, cenários e decorações complementares e em directo caricaturou os convidados tal como no programa de Rui Guedes, “Rui Guedes ao piano”
Como caricaturista, a sua capacidade de apreensão rápida em poucos traços das características mais significativas de cada caricaturado, tornaram-no , sem dúvida, de longe, no caricaturista português preferido, com uma obra impar quer em qualidade quer em quantidade.
Entre os anos de 1950 e 2000 foi o caricaturista que produziu 90% das caricaturas de todos os livros de curso editados na zona da Grande Lisboa, cada um deles com dezenas de imagens.
Paralelamente, quase todos os artistas nacionais e muitos internacionais de teatro,
rádio, televisão,  cinema e fadistas, foram caricaturados por ele, assim como os  principais políticos após o 25 de Abril.
Como poeta, em parceria com os melhores maestros e músicos, compôs fados inesquecíveis que foram cantados por todos os fadistas de maior nomeada.
Sob pena de omitir músicos e fadistas, que tornaram os seus poemas populares e aos quais pedimos as nossas desculpas, referimos, como musicólogos: António Chaínho, Arlindo de Carvalho, Carlos Rocha, Domingos Carvalhinho, Domingos Camarinha, Ferrer Trindade, Fontes Rocha, Genny Telles, Jorge Machado, Martinho d’Assunção, Nóbrega e Sousa e Nuno Nazaré Fernandes; como fadistas: Ada de Castro, Anita Guerreiro, Beatriz da Conceição, Berta Cardoso, Camané, Carlos do Carmo, Celeste Rodrigues, Cidália Moreira, Fernando Maurício, Hélder Moutinho, Jorge Fernando, Manuel Fernandes, Maria Armanda, Maria Clara, Maria da Fé, Mafalda Drumond, Natalina Bizarro, Natalino Duarte, Natércia da Conceição, Pedro Moutinho e Tristão da Silva.
Os poemas que originaram fados, canções e marchas e que se encontras registados na Sociedade Portuguesa de Autores, rondam os 800, não considerando aqueles, e foram muitos, de que o poeta abdicou dos seus direitos autorais para oferecer aos seus amigos e amigas cançonetistas e fadistas.
Do seu enorme espólio artístico de pinturas, caricaturas e poemas, destacam-se cerca de 3.000 poemas inéditos que os seus herdeiros põem à disposição de todos os artistas que os quiserem cantar, alguns dos quais já foram escolhidos, após sua morte, por artistas consagrados como Maria da Fé e Pedro Moutinho um fadista da nova escola de fado, irmão dos fadistas Hélder Moutinho e Camané que, este mês efectuou o lançamento de um DVD com uma colectânea de fados, entre eles, um do artista.

Seleção de fontes de informação:

http://salfino.blogs.sapo.pt/2506.html

Última atualização:  Abril/2009

Pequena biografia do intérprete::

                                                                                                                                              Fernando Maurício
Fernando da Silva Maurício nasceu em Lisboa na Rua do Capelão, em pleno coração

da Mouraria em 21 de Novembro de 1933.
Oriundo de uma família centenária naquele bairro, com apenas oito anos de idade

cantava já numa taberna da sua rua, o Chico da Severa, onde se reuniam os fadistas

que regressavam das festas de beneficência, então frequentes, onde participavam

graciosamente.
Desses tempos idos da infância recorda com saudade as fugas de casa de seus pais,

nas madrugadas em que “abria o ferrolho, abria a porta pela surdina e ia para a taberna.

Eles (os artistas) iam para ali matar o bicho e de vez em quando tocavam ali um fadinho. Eu tinha uma paixão pela guitarra. Era uma loucura. Punham-me em cima de uma pipa e eu começava para ali a cantar...parecia um papagaio...”
Em 1947, com apenas 13 anos de idade, trabalhava já como manufator de calçado e cantava em associações de recreio quando se organizou, no “Café Latino” o concurso de Fados “João Maria dos Anjos”. Depois de obter um meritório 3º lugar iniciaria, nessa época, com uma autorização especial da Inspeção dos Espetáculos, a sua carreira profissional.
Em 29 de Junho do mesmo ano, participa já na Marcha Infantil da Mouraria representando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severa.
Foi então contratado pelo empresário José Miguel para atuar aos fins-de-semana nas casas que ele, por essa altura explorava, designadamente o “Café Latino”, o “Retiro dos Marialvas”, o “Vera Cruz” e o “Casablanca” no Parque Mayer.
Depois de profissionalizado cantou, nos anos 50 no “Café Luso”, no Bairro Alto, na “Adega Machado” e na casa típica “O Faia”.
Nos anos 60 e 70, casas como a “Nau Catrineta”, a “Kaverna”, “O Poeta”, a “Taverna d’El Rey” e, novamente, o “Café Luso”, conquistaram novos públicos com as atuações daquele a que o destino apelidaria de Rei do Fado. Na década de 80, esta sorte bateria à porta da “Adega Mesquita”.
Durante cerca de 20 anos Fernando Maurício cantou em programas de Fados na Emissora Nacional, atuou na RTP, gravou discos, obteve prémios – Prémio da Imprensa (1969) e os Prémios Prestígio e de Carreira da Casa da Imprensa (1985/1986) – tendo participado em inúmeros espetáculos no estrangeiro: Luxemburgo, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
Da discografia gravada destacam-se, para além dos Fados com Francisco Martinho e da participação em inúmeras coletâneas de Fado, os discos, atualmente disponíveis no mercado: “De Corpo e Alma Sou Fadista” (Movieplay, 1984), “Fernando Maurício, Tantos Fados Deu-me a Vida” (Discossete, 1995), “Fernando Maurício, Os 21 Fados do Rei” (Metro-Som, 1997), “Fernando Maurício”, col. “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1997) e, finalmente, “Fernando Maurício”, Clássicos da Renascença (Movieplay 2000).
Despreocupado em relação à necessidade de uma regular carreira discográfica, e dotado de um perfil pleno de abnegação e humanismo, Fernando Maurício cantou, durante toda a sua vida, em centenas de festas de beneficência, por todo o país.
Considerado o maior fadista da sua geração, possuidor de uma das mais originais vozes de Fado, a sua vasta carreira fez dele Rei do Fado e da Mouraria.
Recusando os galões, Fernando Maurício manteve-se fiel a uma simplicidade autêntica, preferindo manter-se ligado às raízes, ali mesmo na Mouraria, que visitava diariamente.
Ali revia os amigos da sua juventude: das cantorias, dos bailaricos de Verão, das cegadas na Adega do Luís Saloio, dos passeios pela Praça da Figueira, a ver os magalas e as sopeiras, do futebol, do jogo da Laranjinha e do Rei Mandado, da malandrice, dos banhos no Chafariz da Guia, das correrias a Alfama, da Calçada de Santo André até à Rua da Regueira, das brincadeiras no Tejo, onde aprendeu a nadar.
Desses tempos recorda com saudade: “havia uma padaria na Rua do Capelão onde eu nasci e nós naquela altura - nos anos 40 - dormíamos todos na rua. De manhã levantávamo-nos e íamos lavar a cara ao Chafariz da Guia. Eram muitos amigos que eu tinha. Tínhamos uma equipa de futebol e jogávamos à bola na Rua do Capelão. Entre o Capelão e a Guia. Jogávamos descalços. Nessa padaria havia cestos de verga com pão quentinho, acabadinho de sair do forno. De madrugada, enquanto o padeiro trabalhava, encostávamo-nos à porta e tirávamos uns pães. Era uma época muito má. Corriam os tempos da guerra. Nós éramos 5 irmãos, depois nasceram os dois mais novos. A minha mãe era do Bonfim, do Porto. Lavava roupa para ajudar em casa”.
Aos amigos e à família estima acima de tudo. A filha, Cláudia, a quem Amália Rodrigues costumava apelidar de Rainha Cláudia, é, para Fernando Maurício, motivo de um imenso orgulho.
Com os amigos – o Zé Brasileiro, o Calitas, o Lenine e outros tantos - adora partilhar memórias, perder o tempo em conversas longas, ao sabor de um baralho de cartas, evocando as memórias de um quotidiano vivido no bairro da Mouraria.
Fernando Maurício faleceu a 15 de Julho de 2003.
Observações:
Em Junho de 1989, Amália Rodrigues descerrou, na Rua do Capelão, duas lápides evocativas das vozes emblemáticas da Mouraria - Maria Severa Onofriana e Fernando da Silva Maurício.
Em 31 de Outubro de 1994, a comemoração das bodas de ouro artísticas de Fernando Maurício acontece no Teatro Municipal de S. Luiz, numa Festa de Homenagem promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Em 12 de Maio de 2001, o Município presta-lhe nova homenagem no Coliseu dos Recreios em Lisboa sendo-lhe atribuído, pela Presidência da República, o título honorífico da Comenda de Bem Fazer.
A 5 de Fevereiro de 2004, num espetáculo intitulado “Boa Noite Solidão”, o Município presta-lhe uma homenagem póstuma no Coliseu dos Recreios de Lisboa, com a participação de inúmeros colegas do Fado. As receitas deste espetáculo revertem na sua totalidade para a família do fadista Fernando Maurício.
Excerto do texto “O Fado é o meu bairro”, Lisboa, CML, 2001; atualizado com informação após o falecimento do fadista.

Seleção de fontes de informação:

http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=301

 


Última atualização: Abril/2008

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