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Fado Patolas

(ou Tradição)

Embuçado
Letra:            Gabriel de Oliveira

Música:         Alcídia Rodrigues
Intérprete:      João Ferreira Rosa


 

 

Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas;

Andava p’la Mouraria
E em muito palácio havia
Descantes e guitarradas (bis)

 

 


A história que eu vou contar
Contou-ma, certa velhinha

Uma vez que foi cantar
Ao salão dum titular
Lá p'ro Paço da Rainha (bis)

E nesse salão doirado
De ambiente nobre e sério

Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério (bis)

 

 


Mas certa noite, houve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala

Embuçado, nota bem
Que hoje não fique ninguém
Embuçado, nesta sala (bis)

Ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado

Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado  (bis)

​Pequena biografia da autora:

​                                                                                                                                              Alcídia Rodrigues

Filha de Luzia da Silva, costureira, e Manuel Augusto Rodrigues, marceneiro, Alcídia

Rodrigues Gameiro foi a mais nova de cinco irmãos, nascendo em Lisboa, no bairro

de Alcântara, no dia 20 de Fevereiro de 1912.

Em 1914, em virtude das dificuldades financeiras que a sua família vive, Alcídia parte

as Caldas da Rainha onde é acolhida por outra família. Neste local e junto da família

de acolhimento Alcídia viveu até aos oito anos de idade. Nesta cidade era frequente

acompanhar a mãe adoptiva aos "bailaricos", facto esse que nos relata: “tudo quanto

elas cantavam, eu ia para ao pé delas e aprendia os versos todos e depois ia para a

minha mãe adoptiva e cantava.” Despertava então, para a jovem Alcídia, o gosto pela

música e pela sua interpretação.

Aos 8 anos de idade Alcídia regressa à cidade natal, Lisboa, retomando o contacto com a sua família de origem. Aqui se estabelece e passa por vários empregos, desde costureira (como a sua mãe), a empregada de balcão e empregada num restaurante, até enveredar pela carreira artística, que é traçada da seguinte forma: “…fiz um trabalho de costura e fui entregá-lo à Calçada dos Cavaleiros. Quando passei, ouvi tocar uma guitarra e fui ver… espreitei, era uma casa onde se vendia ginjinha. Os guitarristas iam para lá ensaiar os rapazes e as raparigas. (…) Convidaram-me a entrar para ouvir cantar, disse que não podia pois tinha um trabalho para entregar. Quando vim entrei, aproveitei o convite, era mesmo isso que eu queria.”. Encorajada como o convite para entrar, Alcídia Rodrigues acaba por cantar para o público.

Surge também, neste contexto, a oportunidade de Alcídia Rodrigues conhecer poetas, que lhe escrevem versos, mas aos quais lhes dá uma interpretação muito pessoal.

Aos 16 anos de idade começa então por cantar como amadora, em colectividades e associações, muitas vezes acompanhada ao piano e banjo. Destes locais, destaque para o Avenida-Bar, vindo a estrear-se como profissional, no Café Luso no dia 6 de Fevereiro de 1934. Mais tarde, apresenta-se também nos emblemáticos Retiro da Severa, Capitólio, Café Luso e Café Mondego.

Ainda como amadora integra o elenco de duas peças de teatro que se estreiam no Lisboa Clube, localizado no Bairro Alto. Integrando uma companhia de teatro percorre todo o país e viaja até à Guiné, a convite de Rui Metelo, um conhecido empresário na área. Em entrevista Alcídia Rodrigues acrescentará: “Não aceitei mais contratos devido à família. Queriam que fosse às Ilhas, tive contactos para o Brasil, o Pimentel dizia que o género que cantava era muito bom, cantava fados alegres, mas não pude, tinha a família e tinha que olhar por eles…”.

A sua popularidade alarga-se e passa a actuar em verbenas, colectividades, festas de beneficência e várias casas particulares, com destaque para a do Conde de Burnay. É convidada a interpretar alguns temas de Fado em rádios locais tais como a Rádio Graça, a Rádio Luso e a Rádio Peninsular, Rádio Club Português. Alcídia Rodrigues revela-se então, como uma das mais acarinhadas fadistas, afirmando “fui sempre muito bem recebida pelo público.”

Na Rádio Graça, Alcídia Rodrigues grava o seu primeiro disco de 78 rpm que será comercializado nos Estados Unidos da América.

Em 1946 Alcídia Rodrigues protagoniza um curioso episódio em que, em resposta a um presumível “detractor” do fado, revela todo o seu profissionalismo e dedicação à causa fadista. Este gesto, em notícia na imprensa da época, revela Alcídia Rodrigues como “…uma pequena figura de mulher, todavia sua alma, que ela expande, glorificando-a num arrebatamento espiritual, é enorme, é vasta como a própria alma do povo.” (Cf. “Canção do Sul”, 02 de Março de 1946).

Em “Ídolos do Fado”, Vítor Machado, refere que os fados “Horácio” e “Martinho” são de autoria de Alcídia Rodrigues (Vítor Machado (1937): 49) e de acordo com a publicação “Canção do Sul” somam-se a estes, os seguintes registos: "Fado da Bica", e "Bailarico de Santo António", entre outros. (“Canção do Sul”, 1 Março de 1938). Destaque ainda para a música do “Fado Tradição”, sobre a qual a nos confidência: “Quem popularizou o fado Embuçado, que é o Fado Tradição, música minha e letra de Gabriel de Oliveira, foi o Ferreira Rosa. (…) Gostei que ele fizesse isso.”.

Alcídia Rodrigues é autora de outras músicas que entretanto registou na Sociedade Portuguesa de Autores, desejando que as mesmas tivessem maior divulgação. No seu repertório destacamos poemas de grandes poetas da época, tais como João Linhares Barbosa, Carlos Conde, Gabriel Oliveira, Armando Neves e Raul de Oliveira.

No decorrer da sua carreira foi acompanhada por excelentes instrumentistas, com destaque para Armandinho, Jaime Santos, José Nunes, Casimiro Ramos, Miguel Ramos, entre outros.

A carreira artística de Alcídia Rodrigues revelou na década de 30 um período de grande apogeu, com destaques na imprensa, que lhe atribuíam grandes elogios, registos de uma personalidade simples, alegre, uma voz graciosa e de muita dedicação à sua carreira, "Alcídia é uma fadista autêntica", dirão. Com efeito, neste período, é comum a realização de festas de homenagem aos artistas, semelhante à que decorre no dia 23 de Janeiro de 1949 no restaurante Gingão. Neste almoço de homenagem a Alcídia Rodrigues, confraternizaram nomes como Carvalhinho e Adelina Ramos. (cf. “Ecos de Portugal”, 15 de Fevereiro de 1949).

No âmbito da 1ª sessão do ciclo de homenagens “Eu Lembro-me de Ti”, organizada pelo Museu do Fado em Abril de 1999, Alcídia Rodrigues junta-se a outros homenageados como Adelina Ramos, Gabino Ferreira, Frutuoso França, Augusto Saraiva e Judite Pinto, integrando uma sessão de fados.

Selecção de fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 08 Dezembro de 1935

“Guitarra de Portugal”, 20 Dezembro de 1936

“Canção do Sul”, 01 Março de 1938

“Canção do Sul”, 01 de Março de 1946

“Ecos de Portugal”, 15 de Fevereiro de 1949

Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;

Museu do Fado - Entrevista realizada em 26 de Setembro/2006.

Ultima actualização: Abril/2010

Pequena biografia do poeta:
                                                                                                                                           Gabriel de Oliveira

Gabriel de Oliveira - Poeta Popular, terá nasci­do em 1891, e provavelmente

em Lisboa. Mor­reu na Figueira da Foz em 1953.
Em 1909 assentou praça na Marinha de Guer­ra como aluno, tendo completado o

curso de arti­lheiro. Combatente da Primeira Guerra Mundial co­mo artilheiro, foi

condecorado com a medalha da Vitória. A sua alcunha de marujo sur­ge, pois, da

sua profissão.
De estatura imponente e grande valentia, par­ticipou activamente no apoio a Sidónio

Pais,fa­zendo comícios no Largo da Guia, na Mouraria. Terá mesmo posto ao serviço

deste político alguns barcos, o que lhe valeu outra alcunha, a de maru­jo almirante.

Mais tarde entra para a Intendência, onde exerce as funções de fiscal.
Manteve uma longa ligação com a cantadeira Natália dos Anjos, das suas composições contam-se algumas das mais clássicas letras do repertório fa­dista como é o caso de Igreja de Santo Estêvão, pa­ra ser cantado por Joaquim Campos (com o qual frequentemente trabalhou) na famosa composi­ção deste Fado Vitória, e Café das Camareiras, com letra e criação de Alfredo Marceneiro a quem tam­bém se deve a música para Senhora do Monte, que após ter sido um sucesso na voz de Marceneiro, o foi igualmente na interpretação de Carlos Ramos. Ainda para música de Marceneiro (a Marcha do Alfredo), escreveu Há Festa na Mouraria, criado por este,  e que teve grande  êxi­to também cantado por Amália, gerador de outros temas como «a Rosa do Capelão», «a procissão da Senhora da Saú­de», entre outros.
Inspirando-se  alegadamente ao gosto do rei D. Carlos pela guitarra e pelo Fado, escreveu  a letra do Fado, O Embuçado. Ori­ginalmente criado por Natália dos Anjos, a músi­ca foi composta pelo guitarrista José Marques Pis­calarete, que lhe deu o título de Fado Natália que, como tema musical, entraria igualmente no reper­tório fadista com outras letras. Os restos mortais de Gabriel de Oliveira re­pousam na Cripta dos Combatentes da Grande Guerra, em Lisboa.

​Seleção de fontes de informação:

http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/274766.html

Última atualização:  Junho/2012

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