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Fado dos Sonhos

Fica Comigo Saudade
Letra:             Luís Eduardo de Campos
Música:          Frederico de Brito
Intérprete:       Tony de Matos

 

 

 


Bendita seja, bendita
Esta saudade infinita
Que me mata lentamente

Bendita seja a loucura
Que me traz nesta amargura
Só por te amar cegamente   (bis)

 

Mesmo a poeira da estrada
Ficou negra, enlameada
De tanto por ti chorar

O tudo da minha vida
É esta esperança perdida
De nunca mais te encontrar   (bis)

  

Fica comigo, saudade
Te peço por caridade
Dá-me um pouco de alegria

Minha saudade é tão pobre
É o manto que me cobre
Quer de noite, quer de dia   (bis)

​Pequena biografia do intérprete:

                                                                                                                                                 Tony de Matos
Tony de Matos é uma das figuras mais carismáticas do meio artístico português.

Filho de Afonso de Matos e Mila Graça, António Maria de Matos, nasce no Porto

a 28 de Outubro de 1924. Vive até aos 5 anos nesta cidade, altura em que a sua

mãe passa a integrar a Companhia de Teatro itinerante de Rafael de Oliveira. Tony,

como era tratado por todos, começa cedo a pisar os palcos e passa grande parte

da sua infância e adolescência, de cidade em cidade.
Aos 13 anos estreia-se como ponto e, por os pais o quererem afastado da vida artística,

aprende o ofício de barbeiro, o qual vai pondo em prática nas terras onde a companhia se vai estabelecendo.
O desejo de cantar fá-lo rumar até Lisboa, onde, paralelamente, se emprega na Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Tony de Matos é recusado, por duas vezes, no concurso de admissão à Emissora Nacional, mas com a interpretação dos temas “Se Eu Morrer Amanhã” e “Noite de Luar” é finalmente aprovado em 1945.
Três anos mais tarde, num regresso à Companhia de Teatro, e em noite de exibição numa das muitas Verbenas, desta feita no Atlético, Tony canta alguns temas do repertório de Alberto Ribeiro e, naturalmente, impressiona quem o ouve. Júlio Peres é, nessa data, diretor artístico do recinto e logo o convida para se apresentar no Luso, casa onde é de imediato contratado para integrar o elenco, recebendo 50 escudos por noite. É nesta altura que Tony de Matos, com 23 anos, se profissionaliza, num "ambiente puramente fadista", facto que justifica, em entrevista, dizendo: “também sou fadista a meu modo porque, como sabe, entre os meus números de mais agrado encontram-se alguns de fado-canção…” (“A Voz de Portugal”, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos alcança grande popularidade quando integra a programação da APA (Agência de Publicidade Artística) e o "Comboio das Seis e Meia", com os quais percorre todo o país, em inúmeros espetáculos. São os temas românticos que passam a marcar todo o seu percurso artístico.
Logo a abrir a década de 50, Tony de Matos é convidado por Manuel Simões a gravar o primeiro disco, em Madrid, de onde se destaca o tema "Cartas de Amor", um estrondoso sucesso na rádio. No regresso a Portugal é convidado a filmar o documentário “Almourol”, realizado por Fernando Garcia.
Data de 1953 a sua estreia no teatro de revista, primeiro no elenco de "Cantigas Ó Rosa", a que se segue a peça "Saias Curtas", onde faz um dueto com Maria José da Guia.
Em finais desse mesmo ano, e graças ao sucesso alcançado até então, surge o convite de empresário Mangioni para uma temporada no Brasil. Para além de se apresentar em programas de televisão e rádio, Tony de Matos é contratado para atuar nas casas: Oásis, Lord e Esplanada. Permanece no Brasil por um período de seis meses e grava 4 discos de 78 RPM, onde revela um novo êxito, o tema "Rosinha dos Limões".
Regressa a Lisboa por apenas um mês e volta ao Brasil, a bordo do "Santa Maria", para uma visita às cidades do Rio de Janeiro e Santos. Em entrevista, Tony de Matos revela: "Contratos não faltam, felizmente. O público do país irmão tem-me acarinhado de tal maneira que eu no Rio ou em São Paulo, estou como em minha casa!" (“A Voz de Portugal, 10 de Setembro de 1954).
Tony de Matos é então dos artistas mais destacados da época e passa a ser solicitado em todo o mundo para espetáculos e digressões, que passam pelas ilhas dos Açores e Madeira, e por países como Espanha, Itália, São Tomé, Angola, Moçambique, África do Sul, Congo, Rodésia, Goa, Líbano, Iraque, Egipto, Turquia, entre outros.
Depois de percorrer vários continentes faz, em 1957, nova viagem de regresso ao Brasil, onde ficará por seis anos. Tony de Matos, entretanto casado com a cantora Maria Sidónio, abre com ela, em Copacabana, o restaurante "O Fado", em 1959. Tony de Matos continua com apresentações na rádio e televisão brasileiras, com destaque para a TV Rio, TV Tupi, Rádio Nacional e Clube 36. Corre todo o Brasil e arrecada inúmeras ovações, faz novas gravações e para a sua crescente popularidade também contribuem Joaquim Pimental e António Rodrigues, que lhe escrevem, entre outros, o tema "Vendaval", um dos seus maiores sucessos, rapidamente difundido pela rádio e televisão.
Volta a Portugal com vários discos gravados, onde se encontram músicas que serão futuros êxitos, casos de, por exemplo: "Lugar Vazio", "Lado a Lado", "Procuro Mas Não te Encontro", "Poema do Fim", ou a já referida "Vendaval". Assina contrato com a editora Valentim de Carvalho para as futuras gravações, passando a receber uma percentagem record (7%) da receita das vendas.
Neste seu regresso Tony de Matos sonha em abrir um restaurante semelhante ao que havia possuído no Brasil (O Fado) e, em 1964, inaugura um espaço a que chama Lado-a-Lado. Ainda em 1964, faz a sua estreia no grande ecrã, no filme "A Canção da Saudade", de Henrique Campos, onde interpreta o tema "Só nós dois". A 3 de Abril de 1965 Tony de Matos recebe o Prémio Música Ligeira, para melhor cançonetista, e, nesse mesmo ano, volta ao cinema, protagonizando ao lado de Leónia Mendes o filme "Rapazes de Táxis", realizado por Constantino Esteves.
Em 1966, Tony de Matos concorre ao Festival da Canção, com "Nada e Ninguém", um poema de autoria de António José, mas classifica-se no último lugar. Dois anos mais tarde fará o seu regresso ao teatro no elenco da revista "Arroz de Miúdas", onde criou "O Que Sobrou da Mouraria", com letra de Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha e música de João Nobre.
Tony de Matos é uma das vozes mais proeminentes e populares no mundo da canção portuguesa, como nos diz a revista “Antena”: “cantou em quatro continentes, a sua voz está implantada em milhares de discos, o rosto surgiu na tela grande, a presença firmou-se na retina de quem o aplaude no teatro ou na televisão, quem o escuta nas mais diversas horas do dia penetrando em nossos lares” (“Antena”, 15 de Setembro de 1967).
As suas participações em películas cinematográficas incluem, ainda, os filmes: "O Destino Marca a Hora", realizado por Henrique Campos, em 1970; e "Derrapagem", de Constantino Esteves e datado de 1974.
Após a Revolução de Abril de 74, Tony de Matos sente um decréscimo na sua popularidade e consequente contratação para espetáculos. Inicia uma digressão pelos Estados Unidos da América, volta a apaixonar-se, a casar e por ali fixa residência durante cerca de 8 anos.
O retorno a Portugal coincide com novas experiência no teatro de revista, revelando-se uma das principais vedetas em algumas peças. Estabelece uma relação "séria, feliz, duradoura" com a fadista Lídia Ribeiro, que o acompanhará até ao fim da sua vida (“A Capital”, 24 de Setembro de 1988). No mesmo período, partilha com Carlos Zel e Filipe Duarte a gerência da casa Fado Menor, por onde passam grandes vultos do Fado.
Em 1985 João Henriques escreve-lhe a canção "Romântico" que, aliada ao convite de Vitorino para um concerto realizado no Coliseu dos Recreios, que resultou numa plateia rendida ao seu talento; o vai projetar de novo para a fama. Prova disso mesmo é o concerto em nome próprio que realiza em Novembro de 1985, onde, para gáudio de todos os presentes, interpreta grande parte dos temas mais célebres da sua longa carreira.
Tony de Matos morre a 8 de Junho de 1989, pondo fim a uma carreira repleta de êxitos. Ficará para sempre recordado como o cantor romântico que, com a sua característica voz, moldada num timbre único e inimitável, tão bem soube exaltar o amor.
Em 2006 é editado, numa produção RTP e Ovação, o DVD do último concerto de Tony de Matos e, em 2007, é lançado o álbum "A Vida de um Romântico", sob a chancela da Farol.

 

 

 


Seleção de fontes de informação:

"A Voz de Portugal", 10 de Setembro de 1954;
Revista "Flama", 16 de Março de 1962;
Revista "Flama", 14 de Fevereiro de 1964;
"Antena", 15 de Setembro de 1967;
"A Capital", 24 de Setembro de 1988;
“TV 7 Dias”, 16 a 22 de Junho de 1989.

 


Última atualização: Outubro/2008

Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                           Frederico de Brito
Figura emblemática, Frederico de Brito, ou Britinho, - como era mais conhecido

– afirma-se como poeta e compositor de alguns dos temas mais interpretados

no universo fadista, autor de poemas e músicas que refletem uma rara e

peculiar beleza artística.
Joaquim Frederico de Brito nasceu na freguesia de Carnaxide, em Oeiras,

em 1894. Tinha apenas oito anos quando leu o livro “Lira de Fado” de Avelino

de Sousa, sentindo-se de tal forma inspirado que, desde essa altura, começou

a fazer versos para oseu irmão mais velho, João de Brito, cantar em festas de

amadores. Nessa época morava no bairro de Alcântara e a sua juventude

causava dúvidas na autoria de poesia que, posteriormente, se dissiparam quando

o próprio passou a interpretar os versos, como improvisador.
Em entrevista a João Linhares Barbosa para o jornal “Guitarra de Portugal” de 31 de Julho de 1923,
Frederico de Brito conta como começou “trabalhando no repentismo do verso”, há uma dezena de anos na
Ajuda: “Depois de muitos glosamentos, onde o Manuel Maria mostrou o seu valor, (…). Eu, meu caro
Barbosa, senti cá dentro… sabe o quê? Eu lhe digo… a inveja, que n’esse caso é santa. Foi este o toque de clarim, (…). De então fiz-me como você sabe: improvisador”.
Desta forma convenceu os mais incrédulos da sua potencialidade criadora e “iniciou a sua longa carreira de
poeta popular, que até cerca dos 30 anos acumulou com a de cantador, participando em vários espetáculos públicos, como aconteceu com a opereta “História do Fado”, em que atuou como atracão cantando versos seus".
Frederico de Brito foi estucador, taxista e, mais tarde, trabalhou na Companhia de Petróleos Atlantic (depois BP), mas manteve sempre a sua atividade de poeta, escrevendo “em qualquer parte e quando tenho necessidade de o fazer: em casa, na rua, no café, no escritório e até no carro elétrico…” (cf. “Guitarra de Portugal”, 30 de Junho de 1945, pág. 4).
Em 1930 Frederico de Brito publica o livro “Musa ao Volante: quadras”, com prefácio de Albino Forjaz de
Sampaio e dois anos depois, em 1932, “Terra Brava: versos”, desta feita com uma carta prefácio de Teixeira de Pascoais.
Nos alvores da década de 1930, Joaquim Frederico de Brito está entre os autores de fado mais procurados, ao lado de outros grande poetas populares do fado, como Henrique Rego, João da Mata, Linhares Barbosa, Francisco Radamanto, Carlos Conde, Gabriel de Oliveira ou Armando Neves (Nery: 210).
Paralelamente Frederico de Brito tem uma colaboração ativa com um dos mais importantes jornais de
temática fadista, a “Guitarra de Portugal” e, a 1 de Fevereiro de 1941, apresenta-se como diretor e editor do
jornal “O Galarim”.
A partir de 1934, Frederico de Brito torna-se, também, autor de marchas para os bairros de Lisboa. Muitas
das suas criações acabaram por se tornar clássicos das apresentações como é o caso, por exemplo, do tema “É raparigas”, com música de Raul Ferrão, que a Marcha de Benfica apresentou pela primeira vez no desfile de 1934; ou da “Marcha de Marvila de 1963”, com música de Alves Coelho Filho, posteriormente
interpretadas ao longo das décadas seguintes.
A sua extensa produção de poemas para as marchas populares prolonga-se entre os anos de 1934 e 1969, colaborando com os bairros da Ajuda, Alcântara, Alfama, Alto do Pina, Bairro Alto, Benfica, Bica, Campo de Ourique, Campolide, Castelo, Chelas, Graça, Madragoa, Marvila, Mouraria, Olivais, Santa Catarina e São Vicente.
Também no teatro Frederico de Brito deixa a sua marca, estreando-se nesta faceta com a peça “Anima-te
Zé”, apresentada em 1935 no palco do Teatro Maria Vitória. Sucedem-se parcerias na escrita de diversas
revistas, das quais destacamos: “Chuva de Mulheres”, apresentada em 1937 no Éden Teatro, onde Frederico de Brito escreveu os textos com V. de Matos Sequeira, A. Amaral e L. Lauer, a que se aliaram as músicas de C. Calderón e F. Valério (nesta revista Hermínia Silva interpreta o famoso tema “Soldado do Fado”, com letra de Frederico de Brito e música de Frederico Valério); e “Sol e Dó”, levada à cena no Teatro Variedades, em 1943, com textos de Frederico de Brito, C. Alberto, Ascensão Barbosa, A. Nazaré e A. Cruz, e músicas de F. de Carvalho. (cf. Rebello: 88; Sucena: 286).
Ainda neste âmbito, Frederico de Brito, em parceria com José Galhardo e Carlos Lopes, foi autor dos textos da peça “Haja Saúde”, a qual inaugurou o palco do Teatro ABC, no Parque Mayer, em Janeiro de 1956. No decorrer de várias décadas de intensa produção criativa acredita-se que “até ao final da sua longa vida tenha escrito mais de um milhar de letras e várias centenas de músicas.” (Guinot, Carvalho e Osório: 318). Mas deste imenso universo são de destacar as suas criações musicais e poéticas para o fado, de que lembramos os inesquecíveis “Fado do Britinho”, “Fado da Azenha”, “Fado dos Sonhos”, “Biografia do Fado”, “Janela Virada para o Mar”, “Não digam ao fado…”, “Canoas do Tejo” ou “Carmencita”. Os seus fados foram criados e gravados por vozes igualmente consagradas como Carlos Ramos, Tristão da Silva, Amália Rodrigues, Beatriz da Conceição, Carlos do Carmo, Fernanda Maria ou Lucília do Carmo.
Joaquim Frederico de Brito faleceu com 85 anos, deixando um grande legado de criatividade artística, o qual é constantemente recordado, quer pela audição dos intérpretes e criadores originais da sua poesia e música, quer pelas constantes homenagens patentes na interpretação dos seus temas, constantemente revisitados pelas mais jovens gerações do fado.

Seleção de fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 31 de Julho de 1923;
“Guitarra de Portugal”, 7 de Junho de 1934;
“Guitarra de Portugal”, 30 de Junho de 1945;
Guinot, M., Carvalho, R., Osório, José Manuel (1999), “Histórias do Fado”, Col. “Um Século de Fado”,
Lisboa, Ediclube;
Nery, Rui Vieira (2004), “Para uma História do Fado”, Lisboa, Público/Corda Seca;
Rebello, Luiz Francisco (1984), “História do Teatro de Revista em Portugal”, Vol. 2, Lisboa, Dom Quixote;
Sucena, Eduardo (1992), “Lisboa, o Fado e os Fadistas”, Lisboa, Vega.


Última atualização: Setembro/2009

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