top of page

Fado Tia Dolores

Tia Dolores
Letra:             Linhares Barbosa
Música:          José António Sabrosa
Intérprete:       Lucília do Carmo

Vi hoje a Tia Dolores
Veio falar-me dos filhos
Cheia dum prazer profundo;
Porque esses seus dois amores
São os únicos atilhos
Que a trazem segura ao mundo

O João é marinheiro
Um rapagão denodado
Que anda sempre a navegar
É um moço prazenteiro
No seu olhar esverdeado
Andam vestígios do mar

De olhos azuis, o segundo
Mais novo do que o João
É um cabeça no ar
Nunca se prendeu ao mundo
Quis ir para a aviação
E leva a vida a voar

Assim, a Tia Dolores
Conta, não escondendo as mágoas
Que a envolvem como um véu
Os olhos dos seus amores
Um é verde cor do mar
Outro, azul da cor do céu

 

Ela procede aos amanhos
Duma casinha na serra
Aonde espera morrer
Velhinha de olhos castanhos
Castanhos, da cor da serra
Da terra que a viu nascer

 

Um, tem olhos cor do mar
Outro, olhar azul divino
No céu, no mar, andam escolhos
Eu então fico a pensar
Se a gente segue o destino
Que diz bem á cor dos olhos

Pequena biografia da intérprete:

                                                                                                                                            Lucília do Carmo
Lucília do Carmo, de nome completo Lucília Nunes Ascensão do Carmo, nasceu

em Portalegre a 4 de Novembro de 1919, filha de Francisco de Ascensão e de

Georgina Nunes.
Iniciou a sua carreira como cantadeira amadora em sociedades de recreio e

festas de beneficência em Portalegre. Veio para Lisboa e, ainda como amadora,

cantou na Verbena do Pessoal dos Caminhos de Ferro Portugueses, em Alcântara.
Estreou-se no dia 1 de Abril de 1937, no "Café Mondego", em Lisboa, obtendo um

êxito estrondoso. O seu cartão de profissional data de 29 de Março de 1937 e

foi-lhe concedido quando contava apenas 17 anos de idade, graças ao empenho do

escritor e poeta Vítor Machado, que nesse mesmo ano a integrou na sua obra

“Ídolos do Fado”, e lhe escreveu o poema “Canção de Vencedores”.
Cantou no Solar da Alegria, nos cafés "Mondego" e "Luso" e na "Parreirinha de Alfama".
Participou em programas de fados na Emissora Nacional, na Rádio Graça e na Rádio Luso, sendo através da rádio que alcançou grande notoriedade.
Colaborou em festas de homenagem a vários colegas em Setúbal e em Lisboa, nunca se furtando a qualquer gesto de solidariedade.
Casada com o empresário Alfredo de Almeida, a fadista teve um único filho, em 1939, que viria a herdar os dotes artísticos da mãe, tornando-se no grande fadista Carlos do Carmo.
Nos anos 40 deslocou-se a Lourenço Marques, onde atuou no Casino da Costa, naquela cidade, dando conta o jornal “Canção do Sul” de 16 de Agosto de 1943 que: "De Lourenço Marques chegam as notícias do formidável sucesso alcançado pela popular cantadeira Lucília do Carmo".
Ainda nessa década, Lucília do Carmo fez uma grande digressão artística pelo Brasil. Mas a fadista realizou muito poucas tournées, especialmente após 1947, quando, com seu marido, abriu uma casa de fados em nome próprio, a Adega da Lucília, na Rua da Barroca, no Bairro Alto, que mais tarde veio a alterar o nome para Faia.
A partir desta data a fadista concentrou-se cada vez mais neste seu espaço, onde passou a atuar diariamente, e o qual tornou num dos mais importantes locais de atuação do circuito fadista, onde os clientes podiam sempre contar com interpretações de um estilo personalizado e um timbre característico que tornaram inconfundível o seu estilo de cantar.
Este exemplo, de abrir restaurantes típicos de fado por nomes que se consagraram no universo do Fado será posteriormente seguido por muitos dos seus colegas, como Hermínia Silva, que abre o Solar da Hermínia, Carlos Ramos com A Toca, Adelina Ramos com A Tipóia, ou Fernanda Maria com a casa Lisboa à Noite, apenas para salientarmos alguns dos locais de maior êxito.
De facto nas décadas de 1950 e 60 é neste circuito de casas de Fado que vamos encontrar os mais conceituados intérpretes deste género musical, seja como figuras cartaz da sua própria casa, como parte integrante dos seus elencos, ou mesmo como frequentadores habituais do espaço.
Com as sua interpretações características, Lucília do Carmo tornou populares muitos temas, dos quais destacamos: “Maria Madalena” e Travessa da Palha”, com poemas de Gabriel de Oliveira, musicados por Frederico de Brito; “Anda a Saudade Bem Alta”, também com poema de Gabriel de Oliveira e música de Alberto Costa; e “Loucura”, de autoria de Júlio de Sousa.
Lamentavelmente, Lucília do Carmo não deixou muitos discos gravados, mas os que deixou são referências muito importantes no universo do Fado. Existem em formato CD algumas das suas gravações e o seu nome é constantemente incluído em coletâneas generalistas desta forma musical. Com o seu filho, Carlos do Carmo, gravou dois LPs, “O Fado em duas gerações” e “An Evening at the Faia”, que foram também reeditados em CD.
Por sua própria iniciativa, retirou-se da vida artística com 60 anos, optando o seu filho Carlos do Carmo por deixar o espaço da Casa de Fados Faia, que ainda hoje se mantém em atividade, mas com outra gerência.
Lucília do Carmo faleceu aos 79 anos, vítima da doença de Alzheimer. O seu corpo foi velado na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, saindo o seu funeral para o cemitério dos Prazeres, no dia 20 de Novembro de 1998.
Considerando a importância de perpetuar a memória desta grande fadista, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o seu nome a uma rua da cidade, na freguesia de São Francisco Xavier.

​Seleção de fontes de informação:

http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=381

Última atualização: Abril/2008

​Pequena biografia do poeta:

                                                                                                                                        Linhares Barbosa
João Linhares Barbosa nasceu a 15 de Julho de 1893 em Lisboa, no Bairro da
Ajuda onde sempre viveu e foi lá que veio a falecer em 1965.
Figura incontornável do universo do Fado, a sua obra poética estima-se em mais
de 3.000 versos. A defesa do Fado que preconizou toda a vida - nomeadamente
dos seus ambientes e seus protagonistas - a par de um imenso talento poético
consagrá-lo-iam como o “Príncipe dos Poetas” vulto maior de entre os Poetas
Populares do Fado.
Autodidata, ativo até 1965 - ano em que viria a falecer – João Linhares Barbosa viu os seus primeiros versos
publicados no jornal “A Voz do Operário” chegando muitas das vezes a ser ele próprio a declamá-los
quando contava apenas 14 anos de idade.
Mais tarde, exerceria a profissão de torneiro mecânico até à fundação do seu próprio jornal, “Guitarra de
Portugal”, precisamente no dia em que completou 29 anos, no dia 15 de Julho de 1922. Este periódico viria
rapidamente a assumir-se como um dos mais emblemáticos títulos de uma imprensa especializada no fado
que vingou, a partir de 1910.
Sob a sua direção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório
fadista como se envolveu em duras polémicas com os críticos do Fado, particularmente ativos durante a
década de 30. O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carvalhais, Artur Inês, Antônio
Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amadores de Fado, tendo assinantes em
praticamente todo o país.
Nos primeiros tempos de vida da Guitarra de Portugal, João Linhares Barbosa contou com a colaboração dos
amigos, também poetas populares, Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai). Foi nas páginas da
“Guitarra de Portugal” que, ao longo dos anos, João Linhares Barbosa defendeu o Fado, os poetas e os
fadistas, dos ataques de um grupo de detratores do Fado que teve em Luiz Moita, célebre autor da obra “O
Fado, Canção de Vencidos” um dos maiores expoentes. Para além de uma vastíssima obra poética, a João
Linhares Barbosa se fica a dever uma ação preponderante na reabilitação do Fado e na dignificação da
carreira dos fadistas.
Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas
da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetariamente o
retorno do seu trabalho.
Foi muito tempo Diretor Artístico do Salão Luso.
Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta
de Fado”.
Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o seu nome a uma rua de
Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.

Seleção de fontes de informação:

Dados biográficos fornecidos pelo Sr. Francisco Mendes.

Última atualização: Setembro/2008

bottom of page