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Fado da Freira (ou da Oliveira)

A Última Tourada Real de Salvaterra
Letra:                      Maria Manuel Cid

Música:                   Casimiro Ramos

Intérprete:                Rodrigo


Conta-nos a tradição
Que em tempos que já lá vão
O Pombal em franca guerra

 

Acabou para nunca mais
Com as touradas reais
Em praças de Salvaterra (bis)

Toureava nesse dia
Ante nobre fidalguia
O jovem conde dos Arcos

 

Cujo sangue valoroso
Por capricho desditoso
Na arena ficava em charcos (bis)

De marialva, o Marquês
Olha o touro que desfez
O seu filho tão amado

 

E diz El-Rei com fervor:
"Eu vos juro, meu senhor,
O Conde será vingado!" (bis)

El-Rei nega por temor
Mas desvairado pela dor
O Marquês saltou para a praça

 

E vinga com decisão
Pela sua própria mão
O sangue da sua raça (bis)

E então El-Rei, que chorava,
Ao ministro que aguardava
Disse o Marquês de Pombal:

 

"Jamais, fique ordenado,
Haverá no meu reinado
Outra tourada real!" (bis)

​Pequena biografia do intérprete:

                                                                                                                                            Rodrigo
Nasceu no seio de uma família com enormes carências económicas, pelo que

aos 12 anos deixou de estudar e começou a trabalhar para ajudar a família, na

UTIC, uma empresa de peças para automóveis. Mais tarde entra para a

Companhia Nacional de Navegação onde se manteve até aos 19 anos.
É neste período que dá os primeiros passos na música fazendo parte de um

grupo vocal chamado "Os Cinco Réis", que interpretava músicas

latino-americanas, em versões portuguesas. Essa banda chega a gravar um

disco: "O Pepe" e a aparecer em vários programas de televisão. Mas, entretanto

Rodrigo é chamado para o serviço militar e a banda termina.
Aos 21 anos de idade Rodrigo emigra pela primeira vez, com destino a França, impelido por uma vontade de conhecer e aprender novas coisas. Na véspera da viagem, juntamente com os amigos, terminam a noite de despedida numa casa de Fados em Alcântara, a "Cesária", uma experiência singular para Rodrigo, não só pelo ambiente que o rodeia, como pelo facto de cantar pela primeira vez em público o único Fado que sabia: "Biografia do Fado" de Carlos Ramos. Foi esta a sua "apresentação ao Fado", um sucesso entre os que o ouviam, deixando-o definitivamente seduzido pelo género.
Este momento deixa marcas na sua vida e durante a permanência em França sintonizava os programas da Emissora Nacional para ouvir Fado.
Rodrigo regressa em definitivo a Portugal aos 26 anos e passa a frequentar e a cantar assiduamente nas casas de Fado amador, a sua grande maioria situadas em Cascais e arredores, onde conhece uma singular geração de fadistas; Teresa Tarouca, António Melo Correia, João Braga, José Pracana, Carlos Zel, Carlos Guedes Amorim, Teresa Siqueira, entre outros. Começou a ser solicitado para espetáculos ao vivo e convidado para a primeira gravação.
Profissionaliza-se em 1975, mas ainda como amador gravou os seus primeiros discos, como é o caso de "Eu sou povo e canto esperança", em 1973.
A projeção nacional chegará com o álbum "Coentros e Rabanetes", editado em 1976, e com ele inúmeros concertos, entrevistas e programas na televisão. Rodrigo chega inclusive a ser convidado para uma Gala no Casino da Figueira da Foz.
No início dos anos 80 abriu a sua própria casa de Fados, em Birre, nos arredores de Cascais, "O Arreda", seguiu-se o "Picadeiro" e o "Estribo" que passou para "Forte D. Rodrigo", dedicando-se quase em exclusivo à sua grande paixão, o Fado.
Em meados da mesma década Rodrigo foi um dos impulsionadores da União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV).
Face ao assinalável êxito, são inúmeras as viagens e espetáculos que integra, salientando a forte ligação às comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo. Todos os espetáculos são preparados ao ínfimo pormenor, desde o cuidado na escolha do repertório, dos músicos que o acompanham, -habitualmente António Parreira, José Nobre Costa na guitarra portuguesa, Francisco Gonçalves e Raúl Silva na viola.
Recebeu um título de Cidadão Honorário atribuído pelo Senado do Estado de Rhode Island (E.U.A.)
Do seu repertório destacamos os grandes êxitos: "Cais do Sodré" de Francisco V. Bandeiras, "Gente do Mar" e "Eu sou povo e canto esperança" de João Dias, "Coentros e Rabanetes" de Jorge Atayde.
Com uma personalidade muito própria, Rodrigo continua a ser um assinalável caso de popularidade.

 

 

 


Seleção de fontes de informação:

Museu do Fado – Entrevista realizada em 03 de Novembro de 2006
http://rodrigofadista.blogspot.com

 


Última atualização: Fevereiro/2008

​Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                        Casimiro Ramos
Casimiro Ramos nasceu no bairro da Ajuda, em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1901.

Começou desde novo a ouvir guitarradas, nomeadamente os ensaios da Troupe

Mayerber de que faziam parte o seu pai e Domingos Serpa, entre outros. Foram

também os nomes de Diamantino Mourão, Agostinho, Júlio Sales, Carlos Cortador

que despertaram a curiosidade de Casimiro Ramos, mas também a aprendizagem

e o gosto profundo pela guitarra portuguesa. (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de

Março de 1934, p. 1).

Casimiro Ramos atuou em diversas casas de fado, com especial destaque para

o Café-Restaurante Luso, na década de trinta, ao lado do irmão Miguel Ramos, e mais tarde na Tipóia, onde se manteve por mais de 20 anos. Estreia-se no cinema em 1933 participando no filme “A Canção de Lisboa”, com Beatriz Costa e Vasco Santana.

Em 1934 o guitarrista merece o destaque na primeira página da imprensa. Na edição da “Guitarra de Portugal” escreve-se sobre o seu regresso ao Brasil: “Sim, Casimiro Ramos vai ao Brasil, como acompanhador da atriz-cantadeira Maria Albertina (…) Não é impunemente que se é artista. Já há muito tempo que este guitarrista voltou daquela grande nação e ainda hoje nos não constou uma falta de brio profissional.” (cf. “Guitarra de Portugal, 31 de Março de 1934, p.1).

Com efeito, na sua primeira deslocação ao Brasil integrou o elenco da Companhia de José Loureiro, de que faziam parte Estevão Amarante, Adelina Abranches, Maria Alice, Maria Sampaio e Lina Demoel, o cantador Manuel Cascais e o violista Armando Silva. Não tardou que em Abril de 1934 os colegas e amigos proporcionassem ao distinto guitarrista uma festa de homenagem. No ambiente da Cervejaria Jansen estiveram presentes, entre muitos outros nomes, Maria Albertina, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Maria Emília Ferreira, Maria Amélia Martins, Rosa Maria, Joaquim Pimentel, Filipe Pinto, Artur Pinha, Alfredo Duarte, Júlio Duarte, Mário dos Santos. (cf. “Guitarra de Portugal”, 21 Abril de 1934, p. 6).

A 4 de Abril de 1936 a “Guitarra de Portugal” noticia a “Festa da Guitarra de Portugal”, que decorreu no “Portugal Cinema”, contando com a presença de Casimiro Ramos e de um vastíssimo leque de artistas. Ainda nessa edição, e sensivelmente um mês mais tarde, a 30 de Abril de 1936, estava prevista a realização da primeira festa artística de Casimiro Ramos, também no "Portugal Cinema"; e que contaria “com um maravilhoso espetáculo de Fado" integrado por Berta Cardoso e Maria do Carmo Torres, entre outros nomes. (cf. “Guitarra de Portugal”, 4 Abril de 1936, p. 6).

Casimiro Ramos foi o responsável pela organização de algumas festas de apoio a membros da "família fadista", tal como aconteceu com a festa do "Cantador Solitário", o fadista Manuel José Ribeiro, realizada na sede do Sporting Club Rio Seco, no dia 5 de Julho de 1936, pelas 15 horas. Em Julho de 1938, na reabertura de um dos mais emblemáticos locais de fado, Solar da Alegria, e sob a direção artística de Filipe Pinto, Casimiro Ramos vem a integrar o leque de guitarristas e violistas, composto por Armando Machado, Fernando Freitas e Martinho d´Assunção. (cf. “Guitarra de Portugal”, 25 de Julho de 1938, pp.8 e 9).

Casimiro Ramos foi, na sua época e a par do seu talento musical, figura de destaque no que concerne à defesa dos direitos dos artistas. Requisitado pela imprensa do género, o guitarrista expressou as suas preocupações: “Registe-se, pois, na “Guitarra de Portugal”, que não há decadência do Fado. Há, sim coisas, que não estão certas, mas que, com cuidado e um pouco de trabalho, podem ser remediadas.

E, procedendo-se a uma revisão do atual sistema, muito se fará de útil para o nosso meio fadista. (cf. “Guitarra de Portugal”, 15 de Outubro de 1946, p. 1) Irmão do violista Miguel Ramos, por quem nutria grande admiração, com ele atuou durante largos ano tendo acompanhado inúmeros cantadores e cantadeiras de fado. Casimiro Ramos gravou inúmeros discos, sobretudo enquanto acompanhante e colaborou em programas de rádio, sobretudo na década de 50. Dotado de rara sensibilidade e autor de célebres composições musicais, nomeadamente “Noturno”, são de sua autoria outros inúmeros registos:  “Fado da Fé”, “Fado Maria Emília”, “Fado Pinóia”, “Fado Três Bairros”, "Fado Amélia Martins"; "Apolo"; "Rainha Santa"; "Terezinha"; "Alice", "Fado do Rio", "Lolita", entre outros. Musicalmente, as suas composições figuram em gravações de gerações de fadistas; Ada de Castro, Adelina Ramos, Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Fernanda Maria, João Braga, Maria da Fé, Manuel de Almeida, Vasco Rafael, são alguns dos nomes a que damos destaque. Gravado em 1952, resultou em 1992 pela etiqueta “Estoril” o CD intitulado “Guitarradas Imortais”. Consagrado como guitarrista de génio, Casimiro Ramos falece em Lisboa, a 29 de Abril de 1973.

Seleção de fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 29 de Novembro de 1933; “Guitarra de Portugal”, 31 de Março de 1934; “Guitarra de Portugal”, 21 de Abril de 1934; “Guitarra de Portugal”, 04 de Abril de 1936; “Guitarra de Portugal”, 25 de Julho de 1938; “Guitarra de Portugal”, 15 de Novembro de 1945; “Guitarra de Portugal”, 15 de Outubro de 1946 Parreira, António e Machado, Jorge (1999) “Notas de Música”, Col. “Um Século de Fado”, Lisboa, Ediclube.

 


Última atualização: Julho/2009

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