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Fado Varela

Aqui
Letra:                  Mário Raínho

Música:               Renato Varela
Repertório:           Fernando Maurício

 

 

 


Aqui, em cada fado, há uma flor
No canteiro da alma de quem canta

​Aqui, cada guitarra embala a dor
Quando à noite a saudade se levanta (bis)

 

 

 

 

Aqui, cada poema é gota de água
Que às vezes mata a sede à solidão

​Aqui, cada cigarro engana a mágoa
E perfuma a tristeza de ilusão (bis)

 

 

 

Aqui, toda a distância do passado
Senta-se à minha mesa de mansinho

​Aqui, as minhas veias bebem fado
Que nasce em cada canjirão de vinho (bis)

 

 

 

 

Aqui, sinto a coragem de ser eu
Ao rir do meu passado fatalista

​Cantando com a voz que Deus me deu
Aqui, de corpo e alma, sou fadista (bis)

Pequena biografia do poeta:

​                                                                                                                                                  Mário Raínho

Os poemas de Mário Raínho têm sido gravados, e são cantados todas as noites, pelas

mais diferentes vozes do fado.

Entre elas encontram-se a dos consagrados - casos de Ada de Castro, Ana Moura,

Anita Guerreiro, Alice Pires, Beatriz da Conceição, Camané, Carlos Macedo, Cidália

Moreira, Elsa Laboreiro, Fernanda Maria, Fernando Maurício, Jorge Fernando, Maria

Armanda, Maria da Fé, Marina Mota, Mariza, Pedro Moutinho, Ricardo Ribeiro, Rodrigo,

Sara Reis, Vasco Rafael, entre outros - aos amadores.

Entre os inúmeros músicos que compuseram para os seus poemas, saliente-se José

Fontes Rocha que muito admira e que, conforme afirma "com tantas geniais músicas vestiu os meus versos".

A formação de Mário Rainho foi feita na vivência fadista, mas passa também pelos estudos que realizou nas ordens religiosas Dominicana, Franciscana, e Jesuíta. Talvez por isso tenha escrito, para Fernando Maurício, falecido em Julho de 2003, um dos grandes nomes que mais o marcou, seu companheiro de várias fadistagens e amigo, esta quadra: "Cada verso é uma oração / Um Padre Nosso rezado / E na minha Confissão / vão as rimas do meu fado".

Como poeta de fado começou a escrever em 1973, todavia já anteriormente o meio fadista de tertúlia e mavioso canto das palavras o fascinava, tendo começado a cantar em 1966, datando a sua estreia como profissional de 1970. Gravou para várias editoras mas acabou por se dedicar às belas letras, escrevendo especialmente para fado, mas também para canção, sendo um dos mais profícuos poetas.

O percurso de Mário Raínho passa também pelo Teatro de Revista, tendo-se estreado no Teatro Villaret com "Ora bate, bate manso". Tornar-se-á mais tarde chefe de parceria em "Mamã eu quero" no Teatro ABC anteriormente tinha feito parecerias com Henrique Santa na. Eduardo Damas, Francisco Nicholson, Nuno da Nazareth Fernandes, Gonçalves Preto e Marcelino Mota.

Até 2006 assinou a autoria e encenação de cinco revistas.

Como autor o seu talento estendeu-se à televisão tendo sido autor entre outras séries, de "Ouem casa quer casa", "Ora bolas Marina", "Marina, dona revista" ou "Cabaret".

Galardoado em 2006 com o Prémio Amália Rodrigues Melhor Poeta de Fado, o seu trabalho foi distinguido com vários galardões, nomeadamente dois Pateota ou a Máscara de Ouro, mas garante que como "amaliano nenhum lhe agrada mais que esta distinção" .

Seleção de fontes de informação:

http://www.portaldofado.net/content/view/2177/327/

Última atualização:  Novembro/2010

Renato Varela, Fadista - (1909-1946)

Pequena biografia do intérprete:

                                                                                                                                         Fernando Maurício
Fernando da Silva Maurício nasceu em Lisboa na Rua do Capelão, em pleno coração
da Mouraria em 21 de Novembro de 1933.
Oriundo de uma família centenária naquele bairro, com apenas oito anos de idade
cantava já numa taberna da sua rua, o Chico da Severa, onde se reuniam os fadistas
que regressavam das festas de beneficência, então frequentes, onde participavam
graciosamente.
Desses tempos idos da infância recorda com saudade as fugas de casa de seus pais,
nas madrugadas em que “abria o ferrolho, abria a porta pela surdina e ia para a taberna.
Eles (os artistas) iam para ali matar o bicho e de vez em quando tocavam ali um fadinho. Eu tinha uma paixão pela guitarra. Era uma loucura. Punham-me em cima de uma pipa e eu começava para ali a cantar...parecia um papagaio...”
Em 1947, com apenas 13 anos de idade, trabalhava já como manufator de calçado e cantava em associações de recreio quando se organizou, no “Café Latino” o concurso de Fados “João Maria dos Anjos”. Depois de obter um meritório 3º lugar iniciaria, nessa época, com uma autorização especial da Inspeção dos Espetáculos, a sua carreira profissional.
Em 29 de Junho do mesmo ano, participa já na Marcha Infantil da Mouraria representando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severa.
Foi então contratado pelo empresário José Miguel para atuar aos fins-de-semana nas casas que ele, por essa altura explorava, designadamente o “Café Latino”, o “Retiro dos Marialvas”, o “Vera Cruz” e o “Casablanca” no Parque Mayer.
Depois de profissionalizado cantou, nos anos 50 no “Café Luso”, no Bairro Alto, na “Adega Machado” e na casa típica “O Faia”.
Nos anos 60 e 70, casas como a “Nau Catrineta”, a “Kaverna”, “O Poeta”, a “Taverna d’El Rey” e, novamente, o “Café Luso”, conquistaram novos públicos com as atuações daquele a que o destino apelidaria de Rei do Fado. Na década de 80, esta sorte bateria à porta da “Adega Mesquita”.
Durante cerca de 20 anos Fernando Maurício cantou em programas de Fados na Emissora Nacional, atuou na RTP, gravou discos, obteve prémios – Prémio da Imprensa (1969) e os Prémios Prestígio e de Carreira da Casa da Imprensa (1985/1986) – tendo participado em inúmeros espetáculos no estrangeiro: Luxemburgo, Holanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
Da discografia gravada destacam-se, para além dos Fados com Francisco Martinho e da participação em inúmeras coletâneas de Fado, os discos, atualmente disponíveis no mercado: “De Corpo e Alma Sou Fadista” (Movieplay, 1984), “Fernando Maurício, Tantos Fados Deu-me a Vida” (Discossete, 1995), “Fernando Maurício, Os 21 Fados do Rei” (Metro-Som, 1997), “Fernando Maurício”, col. “O Melhor dos Melhores” (Movieplay, 1997) e, finalmente, “Fernando Maurício”, Clássicos da Renascença (Movieplay 2000).
Despreocupado em relação à necessidade de uma regular carreira discográfica, e dotado de um perfil pleno de abnegação e humanismo, Fernando Maurício cantou, durante toda a sua vida, em centenas de festas de beneficência, por todo o país.
Considerado o maior fadista da sua geração, possuidor de uma das mais originais vozes de Fado, a sua vasta carreira fez dele Rei do Fado e da Mouraria.
Recusando os galões, Fernando Maurício manteve-se fiel a uma simplicidade autêntica, preferindo manter-se ligado às raízes, ali mesmo na Mouraria, que visitava diariamente.
Ali revia os amigos da sua juventude: das cantorias, dos bailaricos de Verão, das cegadas na Adega do Luís Saloio, dos passeios pela Praça da Figueira, a ver os magalas e as sopeiras, do futebol, do jogo da Laranjinha e do Rei Mandado, da malandrice, dos banhos no Chafariz da Guia, das correrias a Alfama, da Calçada de Santo André até à Rua da Regueira, das brincadeiras no Tejo, onde aprendeu a nadar.
Desses tempos recorda com saudade: “havia uma padaria na Rua do Capelão onde eu nasci e nós naquela altura - nos anos 40 - dormíamos todos na rua. De manhã levantávamo-nos e íamos lavar a cara ao Chafariz da Guia. Eram muitos amigos que eu tinha. Tínhamos uma equipa de futebol e jogávamos à bola na Rua do Capelão. Entre o Capelão e a Guia. Jogávamos descalços. Nessa padaria havia cestos de verga com pão quentinho, acabadinho de sair do forno. De madrugada, enquanto o padeiro trabalhava, encostávamo-nos à porta e tirávamos uns pães. Era uma época muito má. Corriam os tempos da guerra. Nós éramos 5 irmãos, depois nasceram os dois mais novos. A minha mãe era do Bonfim, do Porto. Lavava roupa para ajudar em casa”.
Aos amigos e à família estima acima de tudo. A filha, Cláudia, a quem Amália Rodrigues costumava apelidar de Rainha Cláudia, é, para Fernando Maurício, motivo de um imenso orgulho.
Com os amigos – o Zé Brasileiro, o Calitas, o Lenine e outros tantos - adora partilhar memórias, perder o tempo em conversas longas, ao sabor de um baralho de cartas, evocando as memórias de um quotidiano vivido no bairro da Mouraria.
Fernando Maurício faleceu a 15 de Julho de 2003.
Observações:
Em Junho de 1989, Amália Rodrigues descerrou, na Rua do Capelão, duas lápides evocativas das vozes emblemáticas da Mouraria - Maria Severa Onofriana e Fernando da Silva Maurício.
Em 31 de Outubro de 1994, a comemoração das bodas de ouro artísticas de Fernando Maurício acontece no Teatro Municipal de S. Luiz, numa Festa de Homenagem promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Em 12 de Maio de 2001, o Município presta-lhe nova homenagem no Coliseu dos Recreios em Lisboa sendo-lhe atribuído, pela Presidência da República, o título honorífico da Comenda de Bem Fazer.
A 5 de Fevereiro de 2004, num espetáculo intitulado “Boa Noite Solidão”, o Município presta-lhe uma homenagem póstuma no Coliseu dos Recreios de Lisboa, com a participação de inúmeros colegas do Fado. As receitas deste espetáculo revertem na sua totalidade para a família do fadista Fernando Maurício.
Excerto do texto “O Fado é o meu bairro”, Lisboa, CML, 2001; atualizado com informação após o falecimento do fadista.



Seleção de fontes de informação:

http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=301


Última atualização: Abril/2008

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