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Fado Raquel
(ou Maria Alice)

Padre Nosso (sem carinho)

Letra:                 Frederico de Brito              

Música:              Frederico de Brito

Repertório:          Ercília Costa

Notas:                Fado Alice

 

 

 

Sem carinho de ninguém
Sou andorinha perdida

Que nem mesmo beiral tem
Minha vida faz lembrar
Uma guitarra esquecida
Que ninguém quer dedilhar

 

(refrão)
Cantar, cantar uma balada tristonha
Para não acordar quem sonha

de ilusões que a vida tem
Eu vou rezando um Padre Nosso baixinho
Para que as pedras do caminho

rezem comigo também
 


Neste inferno, por meu mal
Sou qual barca sem governo
À mercê dum temporal
Sofri tanto, que nem sei
Se faria um mar de pranto
Tanto pranto que eu chorei

 

(refrão)

Cantar, cantar uma balada tristonha
Para não acordar quem sonha

de ilusões que a vida tem
Eu vou rezando um Padre Nosso baixinho
Para que as pedras do caminho

rezem comigo também

                                                                                                                               

Pequena biografia do autor:

                                                                                                                                           Frederico de Brito

Joaquim Frederico de Brito, nasceu em Carnaxide ( Oeiras ), em 25 de Setembro

de 1894, tendo falecido em Lisboa, em Março de 1977.

Cantador, compositor e poeta, era conhecido no meio do Fado com o diminutivo

de “Britinho” e também poeta-chauffer, alcunha que lhe atribuíram porque durante

muitos anos foi motorista de táxi, depois de ter sido estocador durante alguns

anos; no entanto, vem a reformar-se como empregado da companhia petrolífera

Atlantic, onde entrou, quando deixou de conduzir taxis!

Aos 8 anos, leu o livro de Avelino de Sousa, “Lira do Fado”, que o levou a escrever

versos, que o seu irmão mais velho, João de Brito, cantava em festas de amadores.

É um facto adquirido, que durante a sua vida, escreveu mais de um milhar de letras

e compôs várias centenas de músicas.

Participou na opereta "História do Fado", de Avelino de Sousa, com Alfredo Marceneiro e outros, cantando versos de sua autoria.

Em 1931, edita um livro de sua autoria, “Musa ao Volante”, compilação de todos os versos que até aí tinha escrito.

Para além de grande poeta, foi também um extraordinário compositor!

Assim, são de sua autoria, ( letra e música ), "Biografia do Fado", ( criação de Carlos Ramos ); "Fado do Cauteleiro"( criação de Estêvão Amarante ); "Janela virada para o mar" ( criação de Tristão da Silva ); "Não digam ao Fado...!" ( criações de Carlos do Carmo e Beatriz da Conceição ) e "Canoas do Tejo"( tema popularizado pela criação de Carlos do Carmo e, mais tarde, também cantado por Max, Beatriz da Conceição, Francisco José, Tony de Matos e muitos outros ).

O "Fado Carmencita", na voz de Amália Rodrigues, foi também um dos seus sucessos, tal como foram “Troca de olhares”, “Rapaz do camarão", “Casinha dum Pobre” e Fado Corridinho ( ambos com música de Martinho d' Assunção ), “Fado Britinho”; “Fados dos Sonhos” e o celebérrimo “Fado da Azenha”, que David Mourão- Ferreira, considerou das melhores criações da poesia popular portuguesa!

Vários compositores, entre eles Raul Ferrão, Raul Portela, Jaime Mendes e Alves Coelho ( filho ) escreveram músicas para letras de Joaquim Frederico de Brito.

As revistas ”Anima-te Zé” ( Teatro Maria Vitória, 1934 ), “Salsifré” ( Teatro Apolo, 1936 ), “Bocage” ( Eden Teatro, 1937 ), “Chuva de Mulheres” ( Eden Teatro, 1938 ), “Sol e Dó” ( Teatro Variedades, 1939 ) e “Haja saúde!”, com a qual se inaugurou o Teatro ABC, integraram várias composições de sua autoria.

Era muito estimado nos meios fadistas ( o carinhoso diminutivo “Britinho”, reflectia aliás essa generalizada simpatia ).

Poeta popular, que manteve os padrões do Fado tradicional, sem “lamechas retrógradas”, sem terminologia de exagerado lirismo, seduzindo assim compositores de nomeada, já acima referidos, que compõem para as suas letras, de cunho bem fadista, e que foram cantadas no teatro, por fadistas e cançonetistas da época.

Joaquim Frederico de Brito, deixou-nos um valioso espólio, que continua a ser interpretado por inúmeros artistas, recebendo do grande público, enorme aceitação e agrado!

Seleção de fontes de informação:

http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/96690.html



Última atualização:  Dezembro/2009

2010 - present

2010 - present

                                                                                                                                      

                                                                                                                                     

 

                                                                                                                                                      

Pequena biografia da intérprete:

                                                                                                                                                        Ercília Costa

 

Ercília Costa nasceu na Costa da Caparica a 3 de Agosto de 1902. Quando tinha apenas

3 anos a sua família mudou a residência para a Rua Maria Pia, facto que resultou no

grande carinho pelo bairro de Alcântara que a fadista afirmou durante toda a sua vida.
Para ajudar na subsistência familiar iniciou a profissão de ajudante de costureira, mas

cedo a trocou por uma carreira artística, começando pelo teatro de revista, onde se

apresentou ao lado de grandes vedetas como Luísa Satanella ou Beatriz Costa, mas

realce-se que registou os seus maiores êxitos e consequente popularidade, na

interpretação do Fado.
A entrada de Ercília Costa na vida artística resulta do gosto que desde muito nova tinha

em cantar. Ainda adolescente apresentou-se numa audição, em resposta a um anúncio, para integrar o elenco de uma récita a realizar no Teatro São Carlos. Apesar de ter sido uma das selecionadas o projeto acabou por ser cancelado, mas a qualidade da sua interpretação ficou na memória do Actor Eugénio Salvador, que lhe fez um convite para a Companhia do Teatro Maria Vitória.
Já o seu início de carreira como cantadeira de Fado deu-se no ano de 1927, no Teatro da Trindade, onde fez um dueto com Alberto Reis mas, como revelou Ercília Costa ao jornal “Trovas de Portugal”: “Antes mesmo de cantar o Fado já eu cantava em teatro... Na Companhia Almeida Cruz andei três meses pela província contratada como corista.” (cf. “Trovas de Portugal”, 24 de Junho de 1933)
Em 1930 a fadista vence o 1º prémio de cantadeira, no Concurso de Fados do “Sul América”, uma organização do jornal “Guitarra de Portugal”. O intérprete masculino vencedor foi Alfredo Marceneiro, com quem integra, pouco tempo depois, a “Troupe Guitarra de Portugal”, um conjunto de fadistas e instrumentistas que se disponibilizam para digressões pelo país. A este grupo pertenciam, para além dos já mencionados Ercília Costa e Alfredo Marceneiro, os cantadores Rosa Costa e Alberto Costa, e os instrumentistas João Fernandes e Santos Moreira.
Ao longo da década de 1930 Ercília Costa, a exemplo do que já vinha acontecendo com Adelina Fernandes, fará parte das fadistas convidadas a apresentar-se regularmente na interpretação do Fado no Teatro de Revista, substituindo as intervenções de atores no Fado e criando assim um espaço próprio de apresentação dos profissionais do Fado, que será seguido por grandes nomes como Berta Cardoso ou Hermínia Silva.
Destacam-se na sua ligação ao Teatro de Revista as peças “Feira da Luz”, levada à cena em 1930 no Teatro da Trindade; “O Canto da Cigarra”, apresentada, no ano seguinte, no Teatro Variedades, onde Ercília Costa fez um grande sucesso com o tema “Fado Lisboa”, de autoria de Álvaro Leal e Raúl Ferrão; ou, ainda, “Fogo de Vistas”, em 1933, no Teatro Avenida; “Fim do Mundo”, em cena no Coliseu dos Recreios, em 1934; e “A
Boca do Inferno”, apresentada em 1937 no Teatro Apolo.
A fadista fez, também, algumas aparições no grande écran, nos filmes “Amor de Mãe”, realizado por Carlos Ferreira em 1932, “Amargura”, “Lisboa 1938” e, por último, na longa metragem “Madragoa”, onde interpretava o papel de mãe do protagonista, personagem a cargo de Carlos José Teixeira. Nesta película de Perdigão Queiroga, estreada em Janeiro de 1952, participavam, ainda, Estevão Amarante, Helga Liné, Silva Araújo, Costinha e a fadista Deolinda Rodrigues.
Ercília Costa exibiu-se ao vivo na rádio, nas emissões da primeira estação de Portugal, a Chiado CT1AA, e em retiros e casas típicas, como o Ferro de Engomar ou o Solar da Alegria, mas cedo teve oportunidade de realizar longas digressões de espetáculos, em Portugal e no estrangeiro.
Assim, logo em 1932, acompanhada por João da Mata, Armandinho e Martinho d’ Assunção, faz espetáculos na Madeira e nos Açores e, em 1936 faz a sua primeira saída do país, para apresentações no Brasil, iniciando uma série de deslocações de longa duração que a tornarão na primeira fadista a internacionalizar-se junto das comunidades emigrantes.
Na sua primeira ida ao Brasil fazia parte da Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, mas o seu sucesso foi de tal forma estrondoso que acabou por permanecer uma longa temporada nesse país, regressando apenas no ano seguinte, em 1937, altura em que Lisboa lhe realizou duas festas de homenagem, uma no salão de chá do Café Chave d’ Ouro e outra no Retiro da Severa.
Ainda nesse mesmo ano de 1937, Ercília Costa vai a Paris, para fazer espetáculos na sala Comédie Française nos Campos Elísios de Paris. Em 1939 desloca-se, a convite do Secretariado de Propaganda de Portugal, aos Estados Unidos, para fazer um espetáculo no Pavilhão Português da Feira Internacional de Nova Iorque, acompanhada por Carlos Ramos.
A esta atuação na grande exposição de Nova Iorque seguem-se dez meses de atuações por inúmeras cidades dos Estados Unidos, apresentando-se a fadista com grande êxito na Califórnia, onde atua em Los Angeles e em Hollywood. Em 1945 faz a sua terceira digressão para atuações no Brasil, a qual dura quinze meses, e passa por espetáculos em teatros, cinemas e atuações na rádio. Nesta temporada Ercília Costa é integrada, como única artista portuguesa, na Companhia de Alda Garrido.
Muitas vezes apelidada de ”Santa do Fado”, por colocar as mãos em posição de oração, Ercília Costa é hoje pouco recordada, fruto possivelmente da falta de reedição em formato CD das muitas gravações que fez, por estas serem datadas da primeira metade do século XX. Neste formato encontra-se apenas disponível uma recolha das suas gravações com Armandinho, editada em 1995 na coleção “Arquivos do Fado” da Tradisom.
As suas primeiras gravações discográficas datam de 1929, altura em que se deslocou a Madrid para gravar para a Odeon, integrando uma comitiva constituída por Berta Cardoso, Joaquim Campos e Cecília de Almeida, sendo todos os fadistas acompanhados pela guitarra portuguesa às mãos de Armandinho e pela viola de Georgino de Sousa. Posteriormente terá também edições discográficas em Portugal, bem como no Brasil e nos Estados Unidos. O seu último registo discográfico, o LP “Museu do Fado” data de 1972.
Ercília Costa popularizou inúmeros temas como: “Amor de Mãe”, “O Meu Filho”, “Fado Tango”, “Fado Aida”, “Fado Ercília”, “Juro” ou “Fado da Amargura”, sendo também compositora de alguns dos seus maiores êxitos, caso de “Fado da Mocidade” e de “O Filho Ceguinho”, este último vulgarizado no meio fadista como o “Menor da Ercília”.
A fadista resolveu dedicar-se inteiramente ao seu casamento e, sem despedidas, retirou-se totalmente da vida artística em 1954. Ercília Costa não fez mais espetáculos ao vivo até à data da sua morte, em 1985.

 

Seleção de fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 17 de Setembro de 1930;
“Trovas de Portugal”, 24 de Junho de 1933;
“Canção do Sul”, 3 de Novembro de 1934;
“Guitarra de Portugal”, 8 de Outubro de 1936;
“Guitarra de Portugal”, 10 de Setembro de 1938;
“Guitarra de Portugal”, 10 de Junho de 1939;
“Canção do Sul”, 1 de Maio de 1940;
“Guitarra de Portugal”, 1 de Julho de 1946;
Machado, Vítor (1937), “Ídolos do Fado”, Tipografia Machado.

Última atualização: Abril/2008

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