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Fado Fora de Horas

 

Fado Fora de Horas

Letra:            José Belo Marques

Música:         José Belo Marques

Intérprete:     Fernanda Maria

 

 

Fadista geme a tua desventura

Não faças conta ao tempo quando choras

Que o Fado em certas horas de amargura

Só deve ser cantado fora de horas

 

Não bate o coração a horas tantas

Nem sabe quando ri ou quando chora

O Fado é mais sentido quando cantas

Se a hora de o cantar passa da hora

 

O Fado é o destino de uma hora

Um dia ela virá, mas não sei quando

Quem tem um coração que canta e chora

Não pode ouvir as horas que vão dando

 

Bateu-me o Fado à porta lentamente

A quem fui receber de mãos abertas

Meu triste coração ficou doente

E nunca mais bateu a horas certas

                                                                                                                               

José Ramos Belo Costa Marques du Boutac

 (Leiria25 de janeiro de 1898 — Sobral de Monte Agraço27 de março de 1987

 foi um violoncelistacompositor e orquestrador português.  

Em 2013, a família de Belo Marques doou o seu espólio ao Arquivo Distrital de Leiria.

 

Pequena biobrafia do autor:                                                José Belo Marques

Nascido na região de Batalha, em 25 de Janeiro de 1898, iniciou em

 Leiria os seus estudos musicais aos nove anos de idade, com o

Prof. Joaquim Silva, aprendendo a lidação de vários instrumentos,

e participando em vários agrupamentos musicais, prosseguindo-os

em Lisboa. E era já considerado "menino prodígio" por dominar já

vários instrumentos aos treze anos, após quatro anos de estudo,

dado a que não teve uma formação musical convencional.

Aos 16 anos, Belo Marques foi contratado para o Casino Mondego,

na Figueira da Foz, onde conheceu o violoncelista João Passos, que

virá a ser o seu mentor na escolha desse instrumento.

Tornou-se músico profissional em 1918, dedicando-se à atuação em

paquetes que se dirigiam à América do Sul, percorrendo vários países

da Europa e da América, e aprofundando os seus conhecimentos

musicais.

Em 1924, regressou a Portugal para cumprir o serviço militar. Em 1926, foi para Santarém, onde fundou e dirigiu o Orfeão Scalabitano. Em 1929, viajou até às Ilhas Adjacentes dos Açores e da Madeira, dirigindo em Funchal uma orquestra privativa de 35 elementos, à qual imprimiu um estilo de grande qualidade, e que durou até ao final da sua carreira.

Regressa a Lisboa para fazer parte da Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro de São Carlos, dirigida por Pedro Blanch, e da Orquestra Sinfónica de Lisboa, dirigida por David de Sousa, e entre 1932 e 1935, começa a trabalhar regularmente no Casino Estoril. Em 1935, ingressou nos quadros da Emissora Nacional, onde permaneceu três anos como 1º violoncelista da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por Pedro de Freitas Branco.

Durante a sua estadia na estação oficial, com um salário bastante reduzido, e considerado pelo próprio como "Mesquinho", Belo Marques orientou o quarteto vocal de Motta Pereira, Paulo Amorim, Guilherme Kjolner e Fernando Pereira, fundando também a Orquestra de Salão, e remodelando a Orquestra Típica Portuguesa, à altura dirigida por Raúl de Campos.

Em 1938, abandona a Emissora Nacional para desempenhar o cargo de Director do Rádio Clube de Moçambique, onde fundou o seu Coro Feminino e as suas Orquestras Típica e de Salão.

Durante a sua estada em Moçambique, estudou profundamente o folclore indígena, faz uma recolha etno-musicológica da região de Tonga e Machangane, das terras de Zavala e Inharrime, do qual resultou o livro Música Negra. Estudos do Folclore Tonga, editado pela Agência Geral das Colónias, em 1943

Os ritmos e melodias por si recolhidos foram reunidos numa obra em seis andamentos, Fantasia Negra, uma fantasia sinfónica para coro e orquestra, que viria a estrear em 19 de Outubro de 1944, no Teatro de São Carlos, com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por si.

Regressou à Emissora Nacional, em 1941, onde se dedica totalmente à canção popular e ligeira, sómente por motivos economico-financeiros, regressando à Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional como violoncelista e regente de ensaios, sendo responsável pela criação de 4 orquestras novas na estação pública: a Orquestra Ligeira, dirigida por Fernando de Carvalho e Tavares Belo, a Orquestra de Variedades, dirigida por António Melo e Fernando de Carvalho, a Orquestra Típica Portuguesa, refundada sob a sua direcção, e a Orquestra de Salão, em parceria com René Bohet, entre 1942 e 1945, e depois como titular entre 1948 e 1954.

Na Emissora Nacional, criou o Centro de Preparação de Artistas, que contribuiu para o lançamento de novas estrelas da rádio como os cançonetistas Francisco JoséJúlia BarrosoTony de MatosSimone de OliveiraMadalena Iglésias e Maria de Fátima Bravo, entre outros

No Festival da Canção Latina, foi representar Portugal com Maria de Lourdes Resende e Guilherme Kjolner, sendo-lhes concedidos os dois primeiros prémios.

Dirigiu durante as décadas de 40 e 50, em simultâneo, a Orquestra Típica Portuguesa, até à sua extinção em 1954, por ordem da direcção da Emissora, a Orquestra de Salão da Emissora Nacional e o Coro Feminino da Emissora Nacional.

Com a extinção das mesmas, Belo Marques reformula a sua orquestra privativa de estúdio, e com os elementos da Orquestra Típica Portuguesa, viria a fundar a sua orquestra típica, e ambas ficariam em constante actividade, gravando muitos discos até 1960.

Em 1956, viria a ser um dos ajudantes na fundação da Orquestra Típica e Coral de Alcobaça, que teria uma projecção e popularidade surpreendentes na década de 60 do Séc. XX, quando foi dirigida por Alves Coelho Filho.

Em 1958, foi demitido da Emissora Nacional, em virtude de ter votado no General Humberto Delgado, e retirou-se na década de 1960, com o relançamento em 78 rotações das gravações oficiais do "Fandango da Suite Alentejana" de Luís de Freitas Branco, e da "Rapsódia Alentejana" de Sousa Morais.

Com a chegada do 25 de Abril de 1974, de imediato, Belo Marques escreveu uma carta à estação oficial para poderem ver o que podiam fazer sobre a sua situação e a sua obra na estação, que resultou na nomeação imediata como Consultor de Programas Musicais, com um ordenado vitalício fixo de 11.500 escudos, e que Belo Marques exerceu com muito empenho até 1981, quando foi reformado compulsivamente para receber uma pensão de 5 mil escudos.

Foi precisamente em 1981 que Belo Marques foi homenageado por Raúl SolnadoCarlos Cruz e Fialho Gouveia no 1º programa da série "E o Resto São Cantigas", sendo nomeado como director dos programas da nova televisão de Moçambique.

Faleceu em 1987, na sua casa em Sobral do Monte Agraço.

 

Obra Musical

Em 1913, Belo Marques providencia a sua primeira composição, «Águas Correntes», com poema de Couceiro da Costa.

O seu currículo musical, entregue pelo próprio à Emissora Nacional, é constituído por 18 peças de Música Sinfónica, 600 partituras de arranjos e orquestrações diversas do Folclore Português, e 700 canções.

No espólio de Música Sinfónica, encontram-se peças como "Canção de Um Dia", "Concerto de Violino e Orquestra", e a ópera "O Moinho do Diabo".

Em 1938, Belo Marques escreveu a banda sonora do filme Rosa do Adro, de Chianca de Garcia, compondo também a música da revista Rosmaninho, de Silva Tavares e Mário Marques. A canção A Minha Aldeia, incluída nesta peça, e interpretada pela voz de Maria Helena Matos. Este tema constituiu o seu primeiro sucesso comercial, registado em disco no ano de 1954, pela sua Orquestra privativa, e cantado por Anita Guerreiro, com a guitarra de Casimiro Ramos e a viola de Miguel Ramos. Ambos com muito sucesso.

Em 1940, compôs a "Marcha Triunfal a Mousinho", nas festas dedicadas a Mouzinho de Albuquerque, no Teatro Gil Vicente, em Lourenço Marques (actual Maputo), um evento que viria a reunir os vários orfeões participantes - o orfeão do Instituto Portugal, Escola Chinesa, Escola de Artes e Ofícios da Moamba e o grupo coral Indo-Português, compondo em simultâneo a "Marcha à Mocidade Portuguesa de Inhambane".

Em 1941, compôs o poema sinfónico "Bartolomeu Dias" e a fantasia "Masseça", fantasia composta "sobre motivos indígenas”, tendo como base a canção que é cantada em tôda a região de Masseça com a mesma popularidade do «Vira» em Portugal. Ambas as peças foram incluídas na sua "Fantasia Negra", fantasia em seis andamentos, onde o próprio conseguiu, com muita dificuldade, executar a técnica da Escala Nicrocromática do Quarto de Tom, recolhido pelo próprio em Moçambique, durante as suas investigações em Zavala, e aprovado por um Congresso Internacional em Viena de Áustria.

Em 1943, compôs para a Orquestra Típica Portuguesa uma das suas obras mais bem-sucedidas em originalidade e autenticidade, a "Valsa Portuguesa", que foi composta sobre motivos populares portugueses, à semelhança do processo de composição da fantasia "Masseça".

O curioso é que, durante muito tempo, as suas obras não tinham direito à protecção de direitos de autor, ou seja, Belo Marques não recebia nada por elas. E graças à estreia da "Fantasia Negra", António Ferro tinha determinado que Belo Marques não receberia os 14.000$00 que lhe estavam destinados. Motivo que foi o principal para Belo Marques enveredar na música ligeira, que considerava como "música fácil", "obra inferior", "melodia acompanhada com efeitos harmónicos espampanantes", ou "música de ocasião". Opinião partilhada por Fernando Lopes-Graça, um dos reconhecedores do talento do compositor.

A sua composição mais conhecida, Alcobaça, com letra de João Silva Tavares, criação de Cidália Meireles e interpretação de Maria de Lourdes Resende, data dos finais dos anos 40 e inícios dos anos 50. E como costumava afirmar em várias entrevistas, o sucesso da canção pagou-lhe a casa que construiu em Arruda dos VinhosSobral de Monte Agraço.

A mesma Maria de Lourdes viria a consagrar também Feia, outro sucesso comercial saído da pena de Belo Marques, que muitos criticaram pelo facto de a mesma não se adequar ao perfil da cançonetista.

Uma das canções mais importantes de Belo Marques é "Sabe-se Lá", cantada por Manuel Fernandes, em que o autor emocionava-se sempre que a executava ou a escutava, não conseguindo conter as lágrimas.

Grande parte dos seus êxitos foram registados em disco a partir de 1951, nas marcas das editoras "Ibéria" e "Estoril", através de vários intérpretes e orquestras, entre eles a Orquestra Típica PortuguesaMaria de Lourdes ResendeTristão da SilvaFrancisco JoséMaria Fernanda Soares, a Orquestra Típica de Belo Marques, a Orquestra Ibéria, a Orquestra Típica Estoril, a Orquestra Típica da Ibéria, a Orquestra privativa do compositor, etc.

Todo esse legado viria a ser reeditado, em grande parte, em CDs editados pela Fundação Manuel Simões, através da Discoteca Amália, com a marca "Estoril", e que hoje são muito raros de se encontrar no mercado.

No final da sua vida, compôs "Joaninha dos Olhos Verdes", uma ópera inspirada na figura criada por Garrett, e que estava para ser estreada no Teatro de São Carlos,

 

Distinções

Entre as distinções que lhe foram conferidas, contam-se as seguintes:

  • Regente honoris causa da Escola de Música do Conservatório Nacional;

  • Primeiro prémio do Festival Internacional Latino, de Paris (1938);

  • Segundo prémio do Concurso Internacional da Canção Latina, de Veneza (1955)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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