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Fado Cabaré ou Pierrot

Cabaré
Letra:              Henrique Rêgo
Música:           Alfredo Rodrigo Duarte "Marceneiro" 
Intérprete:       Alfredo Rodrigo Duarte "Marceneiro" 
 

 ​

Foi num cabaré de feira, ruidoso 
Que uma vez ouvi cantar, comovido 
Uma canção de rameira, sem ter gozo 
Que depois me fez chorar, bem sentido

 

Era a canção da alegria, couplé novo 
Mas a pobre que a cantava, eu bem a vi 
Naquela noite sorria, para o povo 
E ao mesmo tempo chorava, para si

 

É que a linda cantadeira, tão formosa 
Mais linda do que ninguém, certamente 
Sentia a dor traiçoeira, rancorosa 

A magoar-lhe o peito de mãe, cruelmente

 

Tinha um filhinho doente, quase á morte 
E a pobre ganhava a vida, só de fel 
Cantando a rir tristemente, por má sorte 
Uma canção de perdida, bem cruel

Intérprete:    Alfredo Rodrigo Duarte "Marceneiro" 

Título:          Travessa da Palha

Autor da Letra:       Henrique Rego
Autor da Música:    Alfredo Duarte "Marceneiro" 

Guitarra Portuguesa:    António Bessa

Viola de Fado:              Fernando Reis

 

Data da 1ª edição:  1972

Editora: "Estúdio"

Ref. EEP 50 200

Outras versões do mesmo Fado

No Cabaré
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Intérprete: Alfredo Marceneiro

Letra: Henrique Rêgo

O PRIMEIRO DISCO DO MARCENEIRO!

Esta gravação data de 1930, foi efectuada em Madrid, Espanha, e pertence à Face A do disco de 78 R.P.M. editado pela “Odeon”, etiqueta “Valentim de Carvalho” comercializada pela “Casa Cardoso” na época, com a matriz “A 187273”, em que o fadista Alfredo Duarte (Marceneiro), acompanhado pela Guitarra Portuguesa de Armando Augusto Freire, e pela Guitarra Clássica de Georgino de Sousa, interpreta dois fados do seu reportório, que são “No Cabaret” e “Última Carta”. Aqui, escutamos o fado tradicional “No Cabaret” de sua autoria, conhecido nos meios fadistas como “Fado Cabaret Versículo”, com versos de Henrique Rego, que relatam-nos a história de uma mulher que cantava um fado cheio de alegria, ternura e felicidade, e cantava com uma alegria disfarçada, pois estava ali somente para dar pão ao seu filho quasi moribundo, cenário que comoveu o cantor e que é mais um daqueles cenários típicos do “fado da desgraçadinha”. A música em questão foi composta em 1928, e deu entrada na Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (S.E.C.T.P.) no ano seguinte, sendo patenteada em disco neste ano de 1930, o ano da fundação da União Nacional, partido único do Estado Novo, da promulgação do Acto Colonial pelo General Carmona, e do 1º concerto sinfónico português transmitido em estúdio através da Rádio Hertziana, com a Orquestra Sinfónica de Lisboa, dirigida por Frederico de Freitas. Quando o disco foi lançado, foi sucesso instantâneo, e passagem obrigatória em todas as rádios portuguesas, e durante os primeiros tempos da Emissora Nacional, foi um dos discos de música portuguesa que mais se difundiu na estação oficial, suscitando o ódio dos poderosos do Estado Novo e das críticas oficiosas, como afirma esta crítica do jornal “A Voz”, órgão oficial da imprensa fascista, em 31 de Julho de 1935: «“a musicata de revista, composições de pretenso sabor popular, arengas piores que o chá de dormideiras, fox trots, música de pretalhada e fado, fado e mais fado!... É demais meu querido amigo! É Demais! Há um ror de dias que o sr. Henrique Galvão, na sua faina de bem afadistar Portugal, ilhas e ultramar, transformou a estação de Barcarena e os estúdios do Quelhas no Zé dos Pacatos e no Retiro da Quinta do Charquinho... ele é Maria Amélia, Maria do Carmo, Ercília Costa, o Alfredo Marceneiro e não sei até se o Chico da Aurora - a fina flor da Fadistagem! Possivelmente se a estranja não lhe tem comido os ossos, o Zé Fistula, de camiliana memória, já teria vindo ao microfone cantar á guitarra as suas ameijoadas com a pascoela e o destino que deu aos dez contos da Felícia...» Uma opinião típica de gente mentecapta, que foi imediatamente contestada por António Lopes Ribeiro, através de inúmeros artigos em defesa da difusão da música mecânica, era ele então chefe da Secção de Música Mecânica da Emissora Nacional, defesa essa que veio a aumentar o sucesso destes fonogramas do Fado Tradicional. Incluído desde sempre na lista oficial dos fados tradicionais portugueses, foi o primeiro disco de Alfredo Marceneiro, que viria a regravar esta música nos anos 70 com o mesmo sucesso, pois o fonograma original desapareceria das rádios a partir de 1956, quando a Emissora Nacional abdicou definitivamente da transmissão de discos de 78 rotações. Este registo foi reeditado em MP3 pelo meu amigo José Moças, e lançado no 10º volume da compilação “Portuguese Sound Archives – Fado” da editora “Tradisom”.

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Fado Cabaré

Conhecido inicialmente por Alfredo Lulu, pelo cuidado que colocava na sua aparência (cantava de laço, em vez da tradicional gravata só muitos anos depois substituída pelo lenço de seda que se tornaria na sua imagem de marca), apenas na década de Vinte o fadistas passaria a ser conhecido artísticamente como Marceneiro, num altura em que a sua reputação já era assinalável no meio fadista,. 


Pequena biografia do autor
                                                                                                                                      Alfredo Marceneiro
Alfredo Rodrigo Duarte, que ficou conhecido por Alfredo Marceneiro, dada a sua
profissão, nasceu em Lisboa, no dia 29 de Fevereiro de 1888, embora o seu
bilhete de identidade referisse o seu nascimento a 25 de Fevereiro de 1891.
Filho de Gertrudes da Conceição e Rodrigo Duarte, Alfredo foi o primeiro filho
do casal, seguiram-se dois irmãos - Júlio e Álvaro - e uma irmã - Júlia.
Em 1905, quando tinha apenas 13 anos, o seu pai faleceu e Alfredo Duarte
abandonou os estudos para ir trabalhar e ajudar no sustento da família. O seu
primeiro emprego foi o de aprendiz de encadernador.
Tomou contacto com o Fado ao assistir às cegadas de rua. Conheceu então Júlio
Janota que, para além de participar nas cegadas, tinha o ofício de marceneiro e

lhe arranjou lugar como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique.
Alfredo Duarte começou por cantar Fados nos bailes populares que frequentava, entre os 14 e os 17 anos.

É nesta altura, em 1908, que faz a sua estreia na cegada do poeta Henrique Lageosa, inspirada no

argumento do filme mudo O Duque de Guise, onde interpreta o papel da amante do Duque.
Para além de participar nas cegadas, onde desenvolve o seu método de dizer bem e dividir as orações,
Alfredo Duarte começa a cantar em diversas festas de solidariedade e nos retiros do Caliça, Bacalhau,

José dos Pacatos, Cachamorra, Baralisa e Romualdo, mas é no 14 do Largo do Rato que se torna mais conhecido.
É alcunhado de "Alfredo Lulu" por se vestir de forma elegante e aprumada, mas será o apelido de
"Marceneiro", que se eternizará, cantado pelo próprio fadista no poema de Armando Neves, de que
reproduzimos um excerto:

"Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro"

Esse nome artístico - "Alfredo Marceneiro" - surge numa festa de homenagem aos cantadores Alfredo dos
Santos Correeiro e José Bacalhau, como o próprio fadista conta: "Uma noite fui convidado por amigos que

já me tinham ouvido cantar em paródias próprias da idade a ir ao Club Montanha (hoje Ritz). Dirigia a festa

o poeta Manuel Soares e perguntou: «Quem é este rapazinho? Como se chama? Que ofício tem?» Então,
quando me apresentou ao público, esquecendo o meu apelido, anunciou: «Vai cantar a seguir o principiante
Alfredo... Alfredo... Olhem não me ocorre o apelido. É Alfredo... Marceneiro...» E ainda hoje sou o Alfredo
Marceneiro." (cf.”Guitarra de Portugal”, 15 Julho de 1946).
Ao longo da sua vasta carreira, e apesar de manter a sua profissão de marceneiro, Alfredo Duarte é
contratado para exibições em casas como o Clube Olímpia, onde esteve com Armandinho, Júlio Proença e
Filipe Pinto, e depois em outras casas típicas como a Boémia, na Travessa da Palha, o Ferro de Engomar,
o Castelo dos Mouros, o Solar da Alegria, ou o Júlio das Farturas, onde cantou durante um ano.
No ano de 1924 participa num concurso de Fados do Sul-América, um espaço situado na Rua da Palma, e
onde ganhou a "Medalha de Ouro". Nesse mesmo ano canta durante dois meses no Chiado Terrasse para
animar as noites de cinema e é presença na "Festa do Fado" organizada pelo jornal "Guitarra de Portugal"

no Teatro São Luís.
A partir desta data a sua carreira prossegue com grande sucesso actuando em casas como o Retiro da

Severa, o Solar da Alegria ou o Café Mondego. Chega mesmo a ter a sua própria casa, o Solar do

Marceneiro, no final da década de 1940, mas sendo um espírito irrequieto não consegue cingir-se a cantar diariamente nesse espaço.
Como exemplo dos momentos mais evidentes da admiração e fama que adquiriu ao longo da sua longa
carreira salientamos: a organização de uma festa artística, em 1933 no Júlio das Farturas do Parque Mayer;
em 1936, o segundo lugar do título "Marialva", ganho num concurso do Retiro da Severa; a 10 de Maio de
1941 um outro espectáculo denominado "Festa Artística de Alfredo Marceneiro", desta feita no Solar da
Alegria; ou, ainda, a consagração como "Rei do Fado", no Café Luso, a 3 de Janeiro de 1948.
Apesar do sucesso da sua carreira nunca saiu de Portugal para actuações e raramente deixou Lisboa,

embora na década de 1930 tivesse integrado alguns espectáculos de grupos criados para efectuar tournées

por Portugal, caso da "Troupe Guitarra de Portugal", com Ercília Costa, Rosa Costa, Alberto Costa, João Fernandes (guitarra) e Santos Moreira (viola); ou da "Troup Artística de Fados Armandinho", com

Armandinho, Georgino Gonçalves, Cecília d’ Almeida, Filipe Pinto e José Porfírio.
Alfredo Marceneiro cantou também no Teatro, subindo ao palco do Coliseu dos Recreios, em 1930, com a
Opereta "História do Fado", onde actuavam Beatriz Costa e Vasco Santana. As suas interpretações em

palcos de teatros incluíram também o São Luís, o Avenida, o Apolo, o Éden - Teatro, o Capitólio, o

Politeama, o Maria Vitória, e outros.
Em 1939, com a conhecida cantadeira Berta Cardoso, grava actuações no Teatro Variedades e no Retiro do
Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme" Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. O
"Feitiço do Império" estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952. O filme foi
protagonizado por Luís de Campos e Isabel Tovar, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), António Silva e
Madalena Sotto. Lamentavelmente, a película existente na Cinemateca Portuguesa apresenta-se bastante
deteriorada.
As gravações discográficas da sua obra não são muitas, uma vez que não apreciava cantar senão nos

locais que considerava próprios e com a presença do público. Assim, apesar de ter gravado o seu primeiro

disco, para a Casa Cardoso, em 1930, com os temas "Remorso" e "Natal do Criminoso", passou logo depois

a ser artista privativo da Valentim de Carvalho. Seguiram-se apenas quatro LP’s e três EP’s, o último,

"Fabuloso Marceneiro", gravado aos 70 anos.
O fadista também fez poucas aparições em programas de televisão. Em 1969, uma equipa técnica

constituída por Henrique Mendes e Carlos do Carmo, como produtores, Luís Andrade, como realizador e

José Maria Tudella, como operador de imagem, tem de se deslocar ao Bairro Alto para acompanhar Alfredo Marceneiro nas suas interpretações e poder assim realizar uma reportagem documental para a RTP. Dez

anos mais tarde, em 1979, será pela intervenção do seu neto Vítor Duarte, que acederá a realizar um

programa para a RTP, o qual foi exibido a 14 de Janeiro de 1980 e editado em DVD, pela Ovação, em 2007.
Apesar da sua fama e sucesso crescente mantém a profissão de marceneiro, até à década de 1930 nas

oficinas de Diamantino Tojal e, posteriormente, nas Construções Navais do Arsenal do Alfeite, que depois passaram a ser administradas pela C.U.F.
Só em 1946 se dedica exclusivamente ao Fado como profissional, conservando no entanto em casa

o banco de marceneiro e as ferramentas com que se entretinha a fazer pequenos trabalhos, um dos quais

"A Casa da Mariquinhas", obra que merece especial relevo pelo cariz emblemático que assume para a

própria História do Fado de Lisboa. Trata-se de uma construção em madeira, na escala de 1 por 10, em que, inspirado na letra de Silva Tavares, construiu/reconstruiu a casa evocada na descrição do poeta. Esta peça

está actualmente na exposição permanente do Museu do Fado.
Alfredo Marceneiro considerava-se um estilista e nesta criação de estilos acabou por ser autor de
composições que são hoje consideradas Fados tradicionais. A sua primeira composição foi a "Marcha do
Alfredo Marceneiro", mas seguiram-se muitas outras como: "Fado Laranjeira", "Lembro-me de ti", "Fado
Bailado", "Fado Bailarico", "Fado Balada", "Fado Cabaré", "Fado Cravo", "Fado CUF", "Fado Louco",
"Mocita dos Caracóis", "Fado Pagem", "Fado Pierrot", "Bêbado Pintor" e "Fado Aida". Com a ajuda de
Armando Augusto Freire (Armandinho), que lhe passa para pauta as suas criações, o fadista regista as suas músicas na Sociedade de Escritores e Autores Teatrais Portugueses.
O fadista foi pai de cinco filhos. Os primeiros dois: Rodrigo Duarte e Esmeraldo Duarte, resultaram de duas
relações efémeras e os outros três: Carlos, Alfredo e Aida são fruto da sua união com Judite de Sousa
Figueiredo com quem viveu até à data da sua morte, a 26 de Junho de 1982.
"Ti’ Alfredo" para os fadistas e amigos continua a ser considerado um dos fadistas maiores, seguido como
um modelo na forma de dividir os versos cantados, não permitindo que as pausas musicais interrompam o
sentido das orações. A sua figura característica, sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, será

recordada juntamente com o seu modo particular de interpretar, com o balancear de ombros e tronco e

as mãos nos bolsos.
Alfredo Marceneiro reforma-se em 1963, realizando-se a 25 de Maio desse ano, no Teatro S. Luís, a festa

consagração e despedida do Grande Artista Alfredo Duarte Marceneiro. Na verdade esta não foi uma despedida, Alfredo Marceneiro continuou a cantar durante quase mais duas décadas.
Em 23 de Junho de 1980, numa cerimónia realizada no Teatro São Luís, é-lhe entregue a "Medalha de Ouro
de Mérito da Cidade de Lisboa", pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º Krus Abecassis.
Homenagens póstumas:
- "Comenda da Ordem do Infante D. Henrique", atribuída a 10 de Junho de 1984 pelo Presidente da
República General Ramalho Eanes;
- A Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a uma rua do Bairro de Chelas;
- Em 1991 foi comemorado o centenário do nascimento do fadista e entre outros eventos foi lançado o duplo
álbum "O melhor de Alfredo Marceneiro" (EMI-Valentim de Carvalho) e foi exibido na RTP o
documentário "Alfredo Marceneiro é só Fado".


​Fontes de Informação:

“Guitarra de Portugal”, 10 de Novembro 1926;
“Trovas de Portugal”, 4 de Fevereiro 1934;
“Guitarra de Portugal”, 20 de Julho 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Setembro 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Novembro 1943;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Julho 1946;
“Ecos de Portugal”, 1 de Janeiro 1948;
“Voz de Portugal”, 1 Outubro 1957;
“Flama”, 12 de Outubro de 1962;
“Álbum da Canção”, 1 de Agosto 1963;
“Diário de Lisboa”, 20 de Março 1968;
“Rádio e Televisão”, Novembro 1969;
“Flama”, 26 de Abril de 1974;
“Diário de Notícias”, 27 de Junho de 1981;
“Correio da Manhã”, 28 de Junho de 1982;
“Mais”, 2 de Julho de 1982;
Machado, Vítor (1937), “Ídolos do Fado”, Tipografia Machado;
Duarte, Vítor (1995), “Recordar Alfredo Marceneiro”, Venda Nova, Sistema J;
Duarte, Vítor (2001), “Alfredo Marceneiro...Os Fados que ele cantou”, Lisboa, Clássica Editora.
DVD “3 Gerações de Fado”, Ovação, 2007.
www.alfredomarceneiro.com
http://alfredomarceneiro.blogs.sapo.pt
Informações fornecidas pelo neto do fadista Vítor Duarte


​Última actualização: Novembro/2007

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