

Fados Tradicionais


Fado Cravo
Velho Faroleiro
Letra: João de Freitas
Música: Alfredo Rodrigo Duarte (Marceneiro)
Intérprete: Júlio Peres
Naquela rocha escarpada
Sempre batida p'lo mar
Onde um farol existia
Quase sempre uma balada
Quando era lindo o luar
A altas horas se ouvia (bis)
Era um velho faroleiro
Fadista antigo, de garra
Que tivera uma voz de oiro
E que cantava altaneiro
Tocando a sua guitarra
P'ra ele o maior tesoiro (bis)
E nos murmúrios do vento
Levada como um lamento
Sua voz entristecida
Era uma eterna saudade
Relembrando a mocidade
Da sua cansada vida (bis)
Mas aconteceu um dia
O farol ser demolido
E ele à dor não resistiu
E nunca mais a magia
Do velho fado corrido
Naquela rocha se ouviu (bis)
Intérprete: Júlio Peres
Título: Velho Faroleiro
Autor da Letra: João de Freitas
Autor da Música: Alfredo Duarte (Marceneiro)
Guitarra Portuguesa: Francisco Carvalhinho e
Armandino Maia
Viola de Fado: José Maria de Carvalho
Viola-baixo: Pedro Machado
Data da 1ª edição: 1978
Editora: "Riso e Ritmo"
Ref. RR LP 2062
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Alfredo Marceneiro
Letra: Guilherme Pereira Rosa
Intérprete: Raquel Tavares
Letra: João Dias
Intérprete: Carminho
Letra: Carlos Conde
Intérprete: Mariza
Letra: Armando Vieira Pinto
Intérprete: Camané
Letra: João Ferreira Rosa
Guitarra: Ângelo Freire
Viola: Diogo Clemente
Baixo: Marino de Freitas
Intérprete: Maria da Nazaré
Letra: Fernanda Santos



Guitarra: Pedro Castro
Viola: Jaime Santos
Baixo: Francisco Gaspar
Intérprete: Ricardo Ribeiro
Letra: João Dias



Guitarra: Sérgio Costa
Viola: Nelson Aleixo
Baixo: André Moreira
Intérprete: Pedro Moutinho
Letra: Vasco de Lima Couto



Guitarra: Ângelo Freire
Viola: Pedro Soares
Intérprete: Ana Moura
Letra: Armando Vieira Pinto



Esta gravação data de 1972, foi efectuada nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos, e pertence à Banda 4 da Face A do disco LP de 33 R.P.M. editado pela marca "Columbia", etiqueta da "Valentim de Carvalho", referência “8E 062-40222”, nome "Alfredo Marceneiro - Nos Tempos em que Eu Cantava", em que o cantador Alfredo Marceneiro, acompanhado à guitarra por José Nunes, e à viola por Francisco Peres, interpreta novos e variados números do seu reportório, como é o caso de "Domingo de Agosto", "Nos Tempos em que Eu Cantava", "Foi na Velha Mouraria", "Café de Camareiras" e outros mais.
Esta canção intitula-se "Oh Águia!", uma poesia de Henrique Rego, uma bela ode a um dos animais voadores mais célebres do Mundo, a Águia, que foi o símbolo dos nazis, e é actualmente o símbolo do Sport Lisboa e Benfica.
Neste poema, Alfredo Marceneiro vê uma bela águia, elogia-a e pede-lhe para levá-la ao céu, para poder beijar a alma da sua mãe.
Trata-se de um tema que pode emocionar os mais sensíveis, e com razão, pois com temas assim, qualquer um que tenha coração emociona-se.
Foi um dos primeiros fados da carreira de Alfredo Marceneiro, gravados na Casa Cardoso em 1930, cuja gravação original se escuta na melodia do “Fado Bacalhau” de José Bacalhau, e foi muitas vezes difundida na Emissora Nacional, durante os seus primeiros tempos.
Aqui, Marceneiro canta na melodia do seu “Fado do Cravo”, anunciado no disco como sendo da autoria de Armandinho, que creio ser somente o autor dos arranjos musicais do tema. Como podem verificar, é mais uma interpretação daquele que foi o seu último disco de toda a sua carreira, e que nunca mais foi reeditado pela "Valentim de Carvalho", nem em vinil nem em CD.
Os seus registos tem sido divulgados em variadas compilações feitas pela editora, como foi o caso de "O Melhor de Alfredo Marceneiro" de 2008 da IPLAY/Valentim de Carvalho.
Este registo foi retirado da compilação "Alfredo Marceneiro - Perfil", disco CD de 2010 da IPLAY/Valentim de Carvalho, considerado uma das melhores compilações de êxitos de Alfredo Marceneiro, Sua Majestade El Rei do Fado.
Intérprete: Alfredo Duarte (Marceneiro)
Letra: Henrique Rêgo



Fado Cravo
Este Fado adquiriu o nome da primeira letra nele cantada. Por ser quase uma raridade, achei por bem reproduzir esse poema.
Foi em noite de luar Andamos na roda os dois Nessa madrugada santa
Na noite de S. João E saltamos à fogueira Por meu mal me deste um cravo
Que eu te vi, oh minha amada Meu peito era uma brasa No lado esquerdo o guardei
No baile foste meu par Findou o baile e depois Minha paixão era tanta
E dei-te o meu coração Foste minha companheira Fui do teu capricho escravo
Foste minha namorada Levei-te p`ra minha casa Eterno amor te jurei
Foram dias decorrendo Numa noite, ao conhecer
Semanas, um ano feito Mentira no teu amor
De amor eu tinha a fragrância De raiva desfiz o cravo
Mas o cravo emurchecendo Não mais quis por ti sofrer
Revelava que o teu peito Deitei fora a murcha flor
Não tinha a mesma constância Deixei de ser teu escravo

Pequena biografia do autor
Alfredo Marceneiro
Alfredo Rodrigo Duarte, que ficou conhecido por Alfredo Marceneiro, dada a sua
profissão, nasceu em Lisboa, no dia 29 de Fevereiro de 1888, embora o seu
bilhete de identidade referisse o seu nascimento a 25 de Fevereiro de 1891.
Filho de Gertrudes da Conceição e Rodrigo Duarte, Alfredo foi o primeiro filho
do casal, seguiram-se dois irmãos - Júlio e Álvaro - e uma irmã - Júlia.
Em 1905, quando tinha apenas 13 anos, o seu pai faleceu e Alfredo Duarte
abandonou os estudos para ir trabalhar e ajudar no sustento da família. O seu
primeiro emprego foi o de aprendiz de encadernador.
Tomou contacto com o Fado ao assistir às cegadas de rua. Conheceu então Júlio
Janota que, para além de participar nas cegadas, tinha o ofício de marceneiro e lhe
arranjou lugar como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique.
Alfredo Duarte começou por cantar Fados nos bailes populares que frequentava, entre os 14 e os 17 anos. É nesta altura, em 1908, que faz a sua estreia na cegada do poeta Henrique Lageosa, inspirada no argumento do filme mudo O Duque de Guise, onde interpreta o papel da amante do Duque.
Para além de participar nas cegadas, onde desenvolve o seu método de dizer bem e dividir as orações,
Alfredo Duarte começa a cantar em diversas festas de solidariedade e nos retiros do Caliça, Bacalhau, José
dos Pacatos, Cachamorra, Baralisa e Romualdo, mas é no 14 do Largo do Rato que se torna mais conhecido.
É alcunhado de "Alfredo Lulu" por se vestir de forma elegante e aprumada, mas será o apelido de
"Marceneiro", que se eternizará, cantado pelo próprio fadista no poema de Armando Neves, de que
reproduzimos um excerto:
"Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro"
Esse nome artístico - "Alfredo Marceneiro" - surge numa festa de homenagem aos cantadores Alfredo dos
Santos Correeiro e José Bacalhau, como o próprio fadista conta: "Uma noite fui convidado por amigos que já me tinham ouvido cantar em paródias próprias da idade a ir ao Club Montanha (hoje Ritz). Dirigia a festa o
poeta Manuel Soares e perguntou: «Quem é este rapazinho? Como se chama? Que ofício tem?» Então,
quando me apresentou ao público, esquecendo o meu apelido, anunciou: «Vai cantar a seguir o principiante
Alfredo... Alfredo... Olhem não me ocorre o apelido. É Alfredo... Marceneiro...» E ainda hoje sou o Alfredo
Marceneiro." (cf.”Guitarra de Portugal”, 15 Julho de 1946).
Ao longo da sua vasta carreira, e apesar de manter a sua profissão de marceneiro, Alfredo Duarte é
contratado para exibições em casas como o Clube Olímpia, onde esteve com Armandinho, Júlio Proença e
Filipe Pinto, e depois em outras casas típicas como a Boémia, na Travessa da Palha, o Ferro de Engomar,
o Castelo dos Mouros, o Solar da Alegria, ou o Júlio das Farturas, onde cantou durante um ano.
No ano de 1924 participa num concurso de Fados do Sul-América, um espaço situado na Rua da Palma, e
onde ganhou a "Medalha de Ouro". Nesse mesmo ano canta durante dois meses no Chiado Terrasse para
animar as noites de cinema e é presença na "Festa do Fado" organizada pelo jornal "Guitarra de Portugal" no Teatro São Luís.
A partir desta data a sua carreira prossegue com grande sucesso actuando em casas como o Retiro da Severa, o Solar da Alegria ou o Café Mondego. Chega mesmo a ter a sua própria casa, o Solar do Marceneiro, no final da década de 1940, mas sendo um espírito irrequieto não consegue cingir-se a cantar diariamente nesse espaço.
Como exemplo dos momentos mais evidentes da admiração e fama que adquiriu ao longo da sua longa
carreira salientamos: a organização de uma festa artística, em 1933 no Júlio das Farturas do Parque Mayer;
em 1936, o segundo lugar do título "Marialva", ganho num concurso do Retiro da Severa; a 10 de Maio de
1941 um outro espectáculo denominado "Festa Artística de Alfredo Marceneiro", desta feita no Solar da
Alegria; ou, ainda, a consagração como "Rei do Fado", no Café Luso, a 3 de Janeiro de 1948.
Apesar do sucesso da sua carreira nunca saiu de Portugal para actuações e raramente deixou Lisboa, embora na década de 1930 tivesse integrado alguns espectáculos de grupos criados para efectuar tournées por Portugal, caso da "Troupe Guitarra de Portugal", com Ercília Costa, Rosa Costa, Alberto Costa, João Fernandes (guitarra) e Santos Moreira (viola); ou da "Troup Artística de Fados Armandinho", com Armandinho, Georgino Gonçalves, Cecília d’ Almeida, Filipe Pinto e José Porfírio.
Alfredo Marceneiro cantou também no Teatro, subindo ao palco do Coliseu dos Recreios, em 1930, com a
Opereta "História do Fado", onde atuavam Beatriz Costa e Vasco Santana. As suas interpretações em palcos de teatros incluíram também o São Luís, o Avenida, o Apolo, o Éden - Teatro, o Capitólio, o Politeama, o Maria Vitória, e outros.
Em 1939, com a conhecida cantadeira Berta Cardoso, grava actuações no Teatro Variedades e no Retiro do
Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme" Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. O
"Feitiço do Império" estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952. O filme foi
protagonizado por Luís de Campos e Isabela Tovar, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), António Silva e
Madalena Sotto. Lamentavelmente, a película existente na Cinemateca Portuguesa apresenta-se bastante
deteriorada.
As gravações discográficas da sua obra não são muitas, uma vez que não apreciava cantar senão nos locais que considerava próprios e com a presença do público. Assim, apesar de ter gravado o seu primeiro disco, para a Casa Cardoso, em 1930, com os temas "Remorso" e "Natal do Criminoso", passou logo depois a ser artista privativo da Valentim de Carvalho. Seguiram-se apenas quatro LP’s e três EP’s, o último, "Fabuloso Marceneiro", gravado aos 70 anos.
O fadista também fez poucas aparições em programas de televisão. Em 1969, uma equipa técnica constituída por Henrique Mendes e Carlos do Carmo, como produtores, Luís Andrade, como realizador e José Maria Tudella, como operador de imagem, tem de se deslocar ao Bairro Alto para acompanhar Alfredo Marceneiro nas suas interpretações e poder assim realizar uma reportagem documental para a RTP. Dez anos mais tarde, em 1979, será pela intervenção do seu neto Vítor Duarte, que acederá a realizar um programa para a RTP, o qual foi exibido a 14 de Janeiro de 1980 e editado em DVD, pela Ovação, em 2007.
Apesar da sua fama e sucesso crescente mantém a profissão de marceneiro, até à década de 1930 nas oficinas de Diamantino Tojal e, posteriormente, nas Construções Navais do Arsenal do Alfeite, que depois passaram a ser administradas pela C.U.F.
Só em 1946 se dedica exclusivamente ao Fado como profissional, conservando no entanto em casa o banco de marceneiro e as ferramentas com que se entretinha a fazer pequenos trabalhos, um dos quais "A Casa da Mariquinhas", obra que merece especial relevo pelo cariz emblemático que assume para a própria História do Fado de Lisboa. Trata-se de uma construção em madeira, na escala de 1 por 10, em que, inspirado na letra de Silva Tavares, construiu/reconstruiu a casa evocada na descrição do poeta. Esta peça está actualmente na exposição permanente do Museu do Fado.
Alfredo Marceneiro considerava-se um estilista e nesta criação de estilos acabou por ser autor de
composições que são hoje consideradas Fados tradicionais. A sua primeira composição foi a "Marcha do
Alfredo Marceneiro", mas seguiram-se muitas outras como: "Fado Laranjeira", "Lembro-me de ti", "Fado
Bailado", "Fado Bailarico", "Fado Balada", "Fado Cabaré", "Fado Cravo", "Fado CUF", "Fado Louco",
"Mocita dos Caracóis", "Fado Pagem", "Fado Pierrot", "Bêbado Pintor" e "Fado Aida". Com a ajuda de
Armando Augusto Freire (Armandinho), que lhe passa para pauta as suas criações, o fadista regista as suas músicas na Sociedade de Escritores e Autores Teatrais Portugueses.
O fadista foi pai de cinco filhos. Os primeiros dois: Rodrigo Duarte e Esmeraldo Duarte, resultaram de duas
relações efémeras e os outros três: Carlos, Alfredo e Aida são fruto da sua união com Judite de Sousa
Figueiredo com quem viveu até à data da sua morte, a 26 de Junho de 1982.
"Ti’ Alfredo" para os fadistas e amigos continua a ser considerado um dos fadistas maiores, seguido como
um modelo na forma de dividir os versos cantados, não permitindo que as pausas musicais interrompam o
sentido das orações. A sua figura característica, sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, será recordada juntamente com o seu modo particular de interpretar, com o balancear de ombros e tronco e as mãos nos bolsos.
Alfredo Marceneiro reforma-se em 1963, realizando-se a 25 de Maio desse ano, no Teatro S. Luís, a festa de consagração e despedida do Grande Artista Alfredo Duarte Marceneiro. Na verdade esta não foi uma despedida, Alfredo Marceneiro continuou a cantar durante quase mais duas décadas.
Em 23 de Junho de 1980, numa cerimónia realizada no Teatro São Luiz, é-lhe entregue a "Medalha de Ouro
de Mérito da Cidade de Lisboa", pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º Krus Abecassis.
Homenagens póstumas:
- "Comenda da Ordem do Infante D. Henrique", atribuída a 10 de Junho de 1984 pelo Presidente da
República General Ramalho Eanes;
- A Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a uma rua do Bairro de Chelas;
- Em 1991 foi comemorado o centenário do nascimento do fadista e entre outros eventos foi lançado o duplo
álbum "O melhor de Alfredo Marceneiro" (EMI-Valentim de Carvalho) e foi exibido na RTP o
documentário "Alfredo Marceneiro é só Fado".
Fontes de Informação:
“Guitarra de Portugal”, 10 de Novembro 1926;
“Trovas de Portugal”, 4 de Fevereiro 1934;
“Guitarra de Portugal”, 20 de Julho 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Setembro 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Novembro 1943;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Julho 1946;
“Ecos de Portugal”, 1 de Janeiro 1948;
“Voz de Portugal”, 1 Outubro 1957;
“Flama”, 12 de Outubro de 1962;
“Álbum da Canção”, 1 de Agosto 1963;
“Diário de Lisboa”, 20 de Março 1968;
“Rádio e Televisão”, Novembro 1969;
“Flama”, 26 de Abril de 1974;
“Diário de Notícias”, 27 de Junho de 1981;
“Correio da Manhã”, 28 de Junho de 1982;
“Mais”, 2 de Julho de 1982;
Machado, Vítor (1937), “Ídolos do Fado”, Tipografia Machado;
Duarte, Vítor (1995), “Recordar Alfredo Marceneiro”, Venda Nova, Sistema J;
Duarte, Vítor (2001), “Alfredo Marceneiro...Os Fados que ele cantou”, Lisboa, Clássica Editora.
DVD “3 Gerações de Fado”, Ovação, 2007.
www.alfredomarceneiro.com
http://alfredomarceneiro.blogs.sapo.pt
Informações fornecidas pelo neto do fadista Vítor Duarte
Última actualização: Novembro/2007



Intérprete: Alfredo Duarte (Marceneiro)
Letra: Fernando Teles
DISCO “A 368” DA EMISSORA NACIONAL!
Esta gravação data de 1946 e pertence à Face B do disco de 78 R.P.M. editado pela “Columbia”, etiqueta “Valentim de Carvalho”, matriz “M.L. 115”, em que os guitarristas Casimiro Ramos e Miguel Ramos, músicos e compositores de alta reputação no Fado, integrados na Orquestra Típica Portuguesa da Emissora Nacional, dirigida na época por Belo Marques e Joaquim Luis Gomes, acompanham o fadista Alfredo Duarte (Marceneiro) na interpretação de dois fados do seu reportório, que são “Ironia” e “Amor Pungente”, o fado que escutamos agora, cuja base musical é claramente o “Fado do Cravo”, da autoria do intérprete.
O poema, de seu nome "Amor Pungente", é da autoria de Fernando Teles, que é mais um dos temas musicais que nos relatam a história do tríptico amoroso entre Maria Severa, o Conde de Vimioso e o Custódio. Aqui vai a poesia:
Quando passo à Mouraria
Em noites de chuva e vento
Que é quando a Tristeza impera
Todo o meu sangue se esfria
Se penso no sofrimento
do Custódia pela Severa
Em que esse pobre aleijado
Tendo no peito a paixão
Pela cigana fatal
Era por ela mandado
Tinha que ir beijar a mão
Ao fidalgo seu rival
Dos seus lábios sensuais
Um beijo volupto e fogoso
Nunca o Custódio acolheu
Por isso ele sofreu mais
Do que o próprio Vimioso
Quando a Severa morreu.
Trata-se da 2ª gravação discográfica oficial do seu muito reputado “Fado do Cravo”, com uma interpretação bem peculiar de Marceneiro, já típica da sua maneira e do seu estilo inconfundível de cantar o Fado, cujo disco foi catalogado na Emissora Nacional com a cota “A 368”.
Claramente, este número musical foi transmitido com bruta regularidade nos programas de discos com “Fados e Guitarradas”, seleccionados por D. João da Câmara, que providenciava também a apresentação de programas fadistas ao vivo, para despeito de Salazar, que considerava que o Fado fazia deprimente o orgulho de se ser Português, mas compreendeu que o mesmo era, e sempre o será, uma página importante e decisiva da definição das Artes e da Cultura em Portugal, principalmente em Lisboa.
O guitarrista que colabora nesta gravação, Casimiro Ramos, já providenciava gravações de solos de guitarra para a estação oficial, sendo populares nos referidos programas as “Variações em Fá Sustenido Menor”. Também era elemento colaborador da Orquestra Típica Portuguesa, dirigida por Belo Marques e Joaquim Luís Gomes, e foi guitarrista privativo do 1º durante muito tempo, sendo acompanhante da maioria das gravações fadistas da marca “Estoril” e “Ibéria”, durante o consulado presidencial do General Craveiro Lopes, entre 1951 e 1958.
O sucesso do disco em questão foi de tal ordem, que dois anos depois, o cantador e empresário Filipe Pinto decidiu coroar Alfredo Marceneiro com um título do qual o intérprete nunca mais ficaria dissociado, o de “Rei do Fado”.