

Fados Tradicionais


Fado das Horas
Pedi a Deus
Letra: João Ferreira Rosa
Música: (desconhecido)
Intérprete: João Ferreira Rosa
Sonhei ver os olhos teus
Muito tristes, a chorar (bis)
A sonhar pedi a Deus
Para teu sofrer me dar (bis)
Com tanto fervor rezei
Que fui escutado nos céus
A sofrer por ti fiquei
A chorar os olhos meus (bis)
Sofri, mas deixei de ver
Esses teus olhos chorando (bis)
Não me importei de sofrer
Pois tua dor foi passando (bis)
Acordei, pus-me a rezar
Novamente a Deus pedi (bis)
Que me deixasse chorar
Toda a dor que vejo em ti (bis)
Intérprete: João Ferreira Rosa
Título: Pedi a Deus
Autor da Letra: João Ferreira Rosa
Autor da Música: (desconhecido)
Guitarra Portuguesa: Raúl Nery e
José Fontes Rocha
Viola de Fado: Júlio Gomes
Viola-baixo: Joel Pina
Data da 1ª edição: 1966
Editora: "Rádio Triunfo"
Ref. Áquila EP 01 - 2
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Claúdia Leal
Letra: José António Sabrosa
Intérprete: Inês Graça
Letra: José António Sabrosa
Intérprete: Maria Teresa de Noronha
Letra: José António Sabrosa
Intérprete: Rute Rita
Letra: José António Sabrosa
Intérprete: José Pracana
Letra: José António Sabrosa
Intérprete: António Mourão
Letra: António Aleixo
Intérprete: Carlos Zel
Letra: António Cálem

Fado das Horas
É mais um estilo do Fado Mouraria, criado por Maria Teresa de Noronha (1918 - 1993)
Este Fado foi buscar a sua designação à primeira letra nele cantada, "Fado das Horas", poema de D. António de Bragança:
Chorava por te não ver
Por te ver eu choro agora
Chorava só por querer
Querer ver-te a todo a hora
Passa o tempo de corrida
Quando falas eu te escuto
Nas horas da nossa vida
Tem cada hora um minuto
Alguns cantadores cantam, num Fado que foi feito para quadras, poemas em quintilhas. É um mero exercício estilístico que vale pelo que vale. Pessoalmente, devo referir que prefiro o Fado das Horas cantado em quadras. De José Pracana recolho esta opinião: Um característica a assinalar (refiro-me ao Fado Mouraria) é a possibilidade da mudança de ritmo poder originar outros estilos, que são tão inovadores que passam a ter autonomia na nomenclatura dos Fados, como por exemplo o Fado das Horas.
Penso que a letra a interpretar com a expressão que o intérprete lhe quiser dar podiam levar a essa mudança de ritmo que, no fundo, é um modo de estilar.
Pequenas biografia do intérprete:
João Ferreira Rosa
João Manuel Soares Ferreira-Rosa Nasceu em Lisboa, em 1937.
É um dos maiores expoentes do fado tradicional ainda vivos. Monárquico e
tradicionalista, seus fados falam da nostalgia de um Portugal já esquecido...
O seu fado mais conhecido será, sem sombra de duvida, o Fado do Embuçado.
Composição singular com música do Fado Tradição da cantadeira Alcídia Rodrigues
e letra de Gabriel de Oliveira, que é incontornável em qualquer noite ou tertúlia fadista.
O tema mais uma vez é o tempo de antigamente e uma curiosa história de um
"embuçado" (disfarçado com capote) que todas as noites ia ouvir cantar fados, tendo
um dia sido desafiado a revelar-se, eis que se descobre que o embuçado era o Rei
de Portugal que após o beija-mão real cantou o fado entre o povo.
Em 1965 adquire um espaço, no Beco dos Cortumes, em Alfama, a que chamou a Taverna do Embuçado, que abrindo no ano seguinte, viria a marcar toda uma era do Fado ao longo dos 20 anos que se seguiram, até que Ferreira Rosa deixa a gestão nos anos 80. O espaço, contudo, ainda hoje existe.
Nos anos 60 adquire ainda o Palácio Pintéus, no concelho de Loures, que estava praticamente em ruínas e destinado a converter-se num complexo de prédios.
Ferreira Rosa recupera o Palácio lutando contra diversos obstáculos burocráticos e administrativos que lhe foram sendo colocados. Nas palavras de João Ferreira-Rosa o Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) "estragou-lhe" os últimos 30 anos dos 70 que já leva de vida. Abriu o Palácio Pintéus as suas portas ao Público em 2007 e lá se realizam diversos eventos ligados ao fado.
É dentro das paredes do Palácio Pintéus que é gravada, em 1996, o 2ª disco de um dos seus mais sublimes trabalhos, "Ontem e Hoje". Ferreira-Rosa (tal como Alfredo Marceneiro, de resto) tem uma certa aversão a estúdios de gravação e à comercialização do fado, preferindo cantar o fado entre amigos, como refere nos versos do Fado Alcochete.
Nutre uma especial paixão por Alcochete onde tem vivido nos últimos anos. A esta vila escreveu o fado Alcochete, que costuma cantar no Fado da Balada de Alfredo Marceneiro.
Entre 2001 e 2003 amigos e seguidores tiveram ainda a oportunidade de o ouvir regularmente em ciclos de espectáculos organizados no Wonder Bar do Casino do Estoril.
Fonte de informação:
www.portaldofado.net/content/view/1437/327/
Última actualização: Outubro/2010
Joel Pina (1920 - 2021)
A poucos dias de completar 101 anos, no dia 17 de Fevereiro, o nosso querido Mestre e Professor Joel Pina deixou-nos. Morreu em 11 / 2 / 2021, na sequência de um AVC.
Joel Pina
Ao longo de décadas sucessivas e durante cerca de 80 anos de vida
artística, Joel Pina contribuiu e protagonizou alguns episódios do maior
significado para a história do Fado. Teve, entre outros, um contributo
determinante para a consagração do Fado como Património Cultural
Imaterial da Humanidade (UNESCO). Com Amália Rodrigues, que
acompanhou em palcos e gravações ao longo de 29 anos, levou o Fado
ao mundo. Profundamente acarinhado por distintas gerações de
intérpretes e músicos, Joel Pina foi - é - um nome Maior da música
portuguesa.
No dia 24 de Setembro a Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe
homenagem no Teatro São Luiz com um concerto de celebração dos seus 100 anos em que participaram Ana Sofia Varela, António Pinto Basto, António Zambujo, Beatriz Felício, Carminho, Gaspar Varela, Gonçalo Salgueiro, Joana Almeida, Joana Amendoeira, João Braga, Katia Guerreiro, Lenita Gentil, Maria da Fé, Mariza, Matilde Cid, Mísia, Nuno da Câmara Pereira, Pedro Moutinho, Ricardo Ribeiro, Rodrigo Costa Félix, Rodrigo Rebelo de Andrade, Tânia Oleiro, Teresa Siqueira, Teresinha Landeiro e Zé Maria Souto Moura.
“O fado é a música que mais me emociona”, diz-nos Joel Pina no documentário “Fado” (Sofia de Portugal Aurélio Vasques, 2012) e não será por acaso que no seu percurso musical encontramos mais de seis décadas de fado.
João Manuel Pina nasceu no Rosmaninhal, uma aldeia do concelho de Idanha-a-Nova, a 17 de Fevereiro de 1920. Adoptou o nome artístico de Joel Pina e a interpretação da viola baixo para o seu percurso como músico profissional.
O nome de Joel Pina é indissociável da história do fado, seja pela contribuição fundamental que deu na integração da viola baixo no conjunto de instrumentos de acompanhamento do fado, seja pela qualidade interpretativa que o destaca no universo musical, desde que se profissionalizou em 1949 até hoje.
Através das emissões radiofónicas teve os primeiros contactos com o fado, ainda em criança e, com 8 anos, começou a tocar, quando o pai, numa viagem a Lisboa, lhe comprou um bandolim. Seguiu-se a viola e a guitarra. A sua aprendizagem foi autodidacta e pela observação dos outros, como próprio descreveu a Baptista Bastos: “na minha terra tocava-se muito e, então, via os outros e talvez por uma questão de intuição comecei logo a mexer na viola e a mexer na guitarra também.” (Bastos: 256).
Em 1938 mudou a sua residência para Lisboa e, como apreciador de fado, frequentava assiduamente o Café Luso. Nessa casa conheceu Martinho de Assunção que, em 1949, o convidou para integrar o Quarteto Típico de Guitarras de Martinho de Assunção. Deste conjunto faziam também parte Francisco Carvalhinho e Fernando Couto. É neste conjunto que Joel Pina se começa a dedicar à viola baixo e que se profissionaliza como músico.
No ano seguinte passa a integrar o elenco da Adega Machado, com Francisco Carvalhinho, na guitarra, e Armando Machado, na viola. Neste ambiente Joel Pina começa a construir a presença da viola baixo no acompanhamento instrumental do fado, que até essa altura não era habitual. Vai manter-se no elenco desta casa durante 10 anos.
Em paralelo, Joel Pina trabalhou como funcionário público na Inspecção Económica, iniciou esta actividade em 1961 e que manteve até se reformar.
No decorrer do seu percurso profissional foi um dos fundadores do Conjunto de Guitarras com Raul Nery, Fontes Rocha e Júlio Gomes. Este quarteto granjeou um sucesso extraordinário e foi um marco na interpretação musical do universo do fado.
O conjunto surgiu por iniciativa de Eduardo Loureiro, chefe do departamento de música da Emissora Nacional, que convidou Raul Nery a formar um conjunto, com o intuito de apresentar na rádio, quinzenalmente, um programa de guitarradas. Em 1959 iniciaram-se as emissões regulares e o programa prolongou-se por 12 anos.
O Conjunto de Guitarras de Raul Nery “estabeleceu um conjunto instrumental maior para o acompanhamento do fado e para a execução do reportório instrumental ligado a esse género, contribuindo também para a formulação dos papéis musicais da primeira e da segunda guitarra, bem como da viola baixo.” (Castelo-Branco: 127). Para além das emissões radiofónicas e da gravação de inúmeros discos, o conjunto popularizou-se, também no acompanhamento dos mais carismáticos intérpretes de fado, nomeadamente Maria Teresa de Noronha ou Amália Rodrigues, entre muitos outros.
A partir de 1966 Joel Pina começa a acompanhar regularmente Amália Rodrigues, actividade que mantem por três décadas até ao final da carreira da fadista. Com ela percorrerá os palcos de todo o mundo, em inúmeros espectáculos e digressões que passam, por exemplo, pelo Canadá, Estados Unidos e Brasil (diversas vezes), Chile, Argentina, México, Inglaterra, França, Itália (diversas vezes), Rússia, cinco vezes ao Japão, Austrália, África do Sul, Angola, Moçambique, Macau, Coreia do Sul.
A vasta carreira de Joel Pina torna quase impossível a tarefa de enumerar os fadistas com quem tocou e que continua a acompanhar. Para além das já mencionadas Amália Rodrigues e Maria Teresa de Noronha, marca presença na gravação de discos e espectáculos de fadistas como Carlos do Carmo, Carlos Zel, João Braga, Fernando Farinha, Nuno da Câmara Pereira, João Ferreira-Rosa, Teresa Silva Carvalho, Fernanda Maria, Celeste Rodrigues, Carlos Ramos, Lenita Gentil, Rodrigo e, mais recentemente, Cristina Branco, Joana Amendoeira ou Ricardo Ribeiro.
O seu percurso artístico é consensualmente reconhecido. Foi condecorado em maio de 1992 com a Medalha de Mérito Cultural pelo Estado Português. Em 2012 recebe a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. No mesmo ano recebe a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa. A 24 de setembro de 2020 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe homenagem no Teatro São Luiz descerrando uma placa com o seu nome junto à placa evocativa de Amália Rodrigues que acompanhou em palco durante cerca de três décadas.
Até sempre, Professor!
Fontes de informação:
“Fado” (2012), documentário de Sofia de Portugal Aurélio Vasques;
Baptista-Bastos, (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Castelo-Branco, Salwa El-Shawan (1994), “Vozes e Guitarras na Prática Interpretativa do Fado”, in Fado: Vozes e Sombras, Lisboa: Museu Nacional de Etnologia;
Museu do Fado - Entrevista realizada em 21 de Setembro de 2006.
