

Fados Tradicionais


Fado Manuel Soares
Tia Macheta (Maus Agoiros)
Letra: Linhares Barbosa
Música: Manuel José Soares
Intérprete: Maria de Fátima
O amante não aparecera
Triste a Severa,
Sempre fiel (bis)
Chamou a tia Macheta
Velha alcoveta,
Para saber dele (bis)
A velha pegou nas cartas
Sebentas fartas
De mãos tão sujas (bis)
E antes de as embaralhar
Pôs-se a grasnar
como as corujas (bis)
Ele não vem minha filha
Di-lo a espadilha
Que há maus agoiros (bis)
Há também uma viagem
Um personagem
A dama d'oiros (bis)
Este conde é o meu fraco
Tome um pataco
Tia Macheta (bis
E a velha guardou as cartas
De sebo fartas
Sob a roupeta (bis)
Caíram três badaladas
Fortes, pesadas
Três irmãs gémeas (bis)
Cá fora nos portais frios
Cantam vadios
Feias blasfémias (bis)
O fidalgo não voltou
Severa o esperou
Até ser dia (bis)
Desde essa noite é que existe
O fado triste
Da Mouraria (bis)
Intérprete: Maria de Fátima
Título: Tia Macheta (Maus Agoiros)
Autor da Letra: Linhares Barbosa
Autor da Música: Manuel José Soares
Guitarra Portuguesa: António Parreira e
Arménio de Melo
Viola de Fado: Francisco Gonçalves
Viola-baixo: José Vilela
Data da 1ª edição: 1968
Editora: "Riso e Ritmo"
Ref. RC 7011


Fado Manuel Soares
Composto pelo cantador Manuel José Soares (? - 1947)
Manuel Soares foi companheiro das lides fadistas de João Black (1872 - 1955), Avelino de Sousa (1880 - 1946), Carlos Harrington (1870 - 1916), e João Maria dos Anjos (1891 - 1956). Este Fado viria o tomar o nome do seu autor. é, porém, na voz de Berta Cardoso, com poema daquele a quem chamavam o "Príncipe dos Poetas", João Linhares Barbosa, que este Fado faz fulgurante carreira.
Pequena biografia do poeta:
João Linhares Barbosa
João Linhares Barbosa nasceu a 15 de Julho de 1893 em Lisboa, no Bairro da Ajuda onde
sempre viveu e foi lá que veio a falecer em 1965.
Figura incontornável do universo do Fado, a sua obra poética estima-se em mais de 3.000
versos. A defesa do Fado que preconizou toda a vida - nomeadamente dos seus
ambientes e seus protagonistas - a par de um imenso talento poético consagrá-lo-iam
como o “Príncipe dos Poetas” vulto maior de entre os Poetas Populares do Fado.
Autodidacta, activo até 1965 - ano em que viria a falecer – João Linhares Barbosa viu os
seus primeiros versos publicados no jornal “A Voz do Operário” chegando muitas das
vezes a ser ele próprio a declamá-los quando contava apenas 14 anos de idade.
Mais tarde, exerceria a profissão de torneiro mecânico até à fundação do seu próprio
jornal, “Guitarra de Portugal”, precisamente no dia em que completou 29 anos, no dia 15
de Julho de 1922. Este periódico viria rapidamente a assumir-se como um dos mais emblemáticos títulos de uma imprensa especializada no fado que vingou, a partir de 1910.
Sob a sua direcção, a Guitarra de Portugal não só divulgou centenas e centenas de poemas para o repertório fadista como se envolveu em duras polémicas com os críticos do Fado, particularmente activos durante a década de 30.
O jornal contou com numerosas colaborações (Stuart de Carvalhais, Artur Inês, António Amargo) e constituiu um precioso elemento de ligação entre os amadores de Fado, tendo assinantes em praticamente todo o país.
Nos primeiros tempos de vida da Guitarra de Portugal, João Linhares Barbosa contou com a colaboração dos amigos, também poetas populares, Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai). Foi nas páginas da “Guitarra de Portugal” que, ao longo dos anos, João Linhares Barbosa defendeu o Fado, os poetas e os fadistas, dos ataques de um grupo de detractores do Fado que teve em Luiz Moita, célebre autor da obra “O Fado, Canção de Vencidos” um dos maiores expoentes. Para além de uma vastíssima obra poética, a João Linhares Barbosa se fica a dever uma acção preponderante na reabilitação do Fado e na dignificação da carreira dos fadistas.
Vivia exclusivamente do fruto das suas composições, vendendo as suas cantigas, tal como os outros poetas da altura, pois não havia como hoje as gravações, e portanto era uma forma de receber monetariamente o retorno do seu trabalho.
Foi muito tempo Director Artístico do Salão Luso. Em 1963 é Homenageado no Coliseu dos Recreios, recebendo o prémio da Imprensa para o “Melhor Poeta de Fado” Em 1995 a Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a justa consagração dando o seu nome a uma rua de Lisboa, no Bairro do Camarão da Ajuda.
Fonte de informação:
Dados biográficos fornecidos pelo Sr. Francisco Mendes.
Última actualização: Setembro/2008
(manuscrito original)
Outras versões do mesmo Fado
Tia Macheta
Este é um dos mais emblemáticos fados
do repertório de Berta Cardoso e é também, na minha modesta opinião, uma das mais conseguidas letras do genial J. Linhares Barbosa que, nesta aguarela fadista, representa a génese do Fado triste…
Uma fadista, a Severa, um fidalgo, o Vimioso, e o Amor presente, mas unilateral e impossível… e a tia Macheta, a que tem poderes de adivinhar o futuro, a quem (ontem como hoje) se recorre como reduto da esperança, de que leia nas cartas os bons presságios e não os mais que certos “Maus Agoiros”, como acontece nesta história e que, por isso, o poeta assim intitulou.
É curioso que o Fado tenha ficado conhecido pelo nome de quem anuncia a desgraça, a Tia Macheta; como se, na história e na vida, este personagem se confundisse com o próprio Destino…
Intérprete: Berta Cardoso
Letra: Linhares Barbosa
Intérprete: Lenita Gentil
Letra: Linhares Barbosa
Intérprete: Natalina Bizarro
Letra: Linhares Barbosa