Fados Tradicionais
Fado Pedro Rodrigues 6ª
Duas Lágrimas de Orvalho
Letra: Linhares Barbosa
Música: Pedro Rodrigues
Intérprete: Carlos do Carmo
Duas lágrimas de orvalho
Caíram nas minhas mãos
Quando te afaguei o rosto;
Pobre de mim, pouco valho
P'ra te acudir na desgraça
P'ra te valer no desgosto (bis)
Porque choras não me dizes
Não é preciso dizê-lo
Não dizes, eu adivinho
Os amantes infelizes
Deveriam ter coragem
Para mudar de caminho (bis)
Por amor, damos a alma
Damos corpo, damos tudo
Até cansarmos na jornada
Mas quando a vida se acalma
O que era amor, é saudade
E a vida já não é nada (bis)
Se estás a tempo, recua
Amordaça o coração
Mata o passado e sorri
Mas se não estás, continua
Disse isto minha mãe
Ao ver-me chorar por ti (bis)
Intérprete: Carlos do Carmo
Título: Duas Lágrimas de Orvalho
Autor da Letra: (autor desconhecido)
Autor da Música: Pedro Rodrigues
Guitarra Portuguesa: Fernando Freitas e
José Nunes
Viola de Fado: Martinho d'Assunção
Viola-baixo: Vítor Ferreira
Data da 1ª edição: 1970
Editora: "Tecla"
Ref. TE 1064
Fado Pedro Rodrigues 6ª
Composto pelo cantador Pedro Rodrigues.
Este Fado, de que existem três versões, uma em quadras, outra em quintilhas e outra em sextilhas, deve o seu nome ao autor, o cantador Pedro Rodrigues.
Pequena biografia do intérprete:
Carlos do Carmo
Figura maior do panorama fadista, Carlos Alberto do Carmo Almeida, que adoptou o nome
artístico de Carlos do Carmo, é filho único da grande fadista Lucília do Carmo e do
empresário Alfredo Almeida, e nasceu em Lisboa no dia 21 de Dezembro de 1939.
O fadista fez um curso superior de hotelaria na Suíça, que incluiu um curso de
contabilidade e gestão e o estudo de várias línguas estrangeiras, facto que lhe permite
falar fluentemente francês, inglês, alemão, italiano e espanhol.
Após a morte do pai, em 1962, Carlos do Carmo fica a gerir a casa de fados Faia, casa
aberta pelos seus pais quando tinha apenas 8 anos. No ano seguinte inicia a sua carreira
como intérprete, acumulando durante essa década e na seguinte, a gestão da casa com
a vida artística. O fadista é casado há mais de 40 anos, tem 3 filhos e 4 netos.
Carlos do Carmo contacta muito prematuramente com o fado, frequenta com os pais as matinés e verbenas de fim-de-semana. Filho de uma das figuras de maior destaque do universo fadista - Lucília do Carmo - o intérprete diz-nos ter começado a ouvir fado no ventre da mãe, e o seu próprio nascimento foi noticiado pelo jornal "Guitarra de Portugal" (cf. “Guitarra de Portugal”, 28 de Dezembro,1939).
Ao assumir a gestão da casa de fados, Carlos do Carmo começa a prestar outra atenção a este género musical com o qual convivia desde que nasceu. Apesar de apenas saber de cor o Fado "Loucura", de autoria de Júlio de Sousa, ao interpretá-lo numa reunião de amigos, em 1963, é de tal modo elogiada a sua forma de cantar que lhe pedem para gravar essa faixa, editado num EP do seu amigo Mário Simões.
O tema começa a passar regularmente na rádio e, em consequência do sucesso que tem, edita, logo no ano seguinte, um EP em nome próprio, o disco "Carlos do Carmo com Orquestra de Joaquim Luiz Gomes". Desde essa data até hoje o fadista apresenta o seu repertório em edições discográficas regulares, premiadas pela qualidade e pelo número de vendas, construindo e solidificando uma das mais exemplares carreiras do panorama artístico português.
Em 1967 a Casa da Imprensa distingue-o com o prémio “Melhor Intérprete” e, em 1970, atribui-lhe o prémio Pozal Domingues de “Melhor Disco do Ano”, para o seu primeiro álbum, intitulado "O Fado de Carlos do Carmo", editado pela Alvorada em 1969.
Posteriormente lançou numerosos EPs e LPs, como os discos “O Fado em Duas Gerações, Carlos do Carmo e Lucília do Carmo”, “Por Morrer uma Andorinha” ou “Carlos do Carmo”, mas referência obrigatória na história do Fado é o disco "Um Homem na Cidade", editado em 1977 pela Trova, onde o fadista interpreta poemas de Ary dos Santos aliados a um conjunto de composições musicais inovadoras, de autorias tão diversas como José Luís Tinoco, Paulo de Carvalho, António Vitorino de Almeida, Frederico de Brito, Fernando Tordo, Joaquim Luís Gomes, Moniz Pereira ou Martinho d’Assunção.
Temas como “Um Homem na Cidade”, “O Cacilheiro”, “Fado do Campo Grande”, “O Amarelo da Carris” ou “O Homem das Castanhas” tornaram-se verdadeiros clássicos de sucesso entre o vasto repertório de Carlos do Carmo.
Ainda no âmbito da discografia do fadista salienta-se o lançamento, em 1984, de "Um Homem no País", novamente um projecto em torno de poemas de Ary dos Santos, que se destaca como a primeira edição em formato Compact Disc de um artista português.
Desde essa primeira vez em que Carlos do Carmo cantou, de forma informal, para um grupo de amigos, que se sucedem as apresentações ao vivo, em palcos dos cinco continentes. As suas passagens no Olympia de Paris, nas Óperas de Frankfurt e de Wiesbaden, no Canecão do Rio de Janeiro, no Savoy de Helsínquia, no Auditório Nacional de Paris, no Teatro da Rainha em Haia, no Teatro de São Petersburgo, no Place des Arts em Montréal, no Tivoli de Copenhaga ou no Memorial da América Latina em São Paulo são momentos muito altos na carreira do fadista. Em entrevista ao jornal “A Capital”, Carlos do Carmo revela que “cantar é um ato de prazer, mas sobretudo no palco, que é um constante jogo de sedução, uma troca indescritível de sentimentos e emoções” (cf. “A Capital”; 14 de Dezembro de 1996).
Até ao final do ano de 1979, o fadista acumula a gestão do Faia com a carreira artística, pelo que actua com a sua mãe, de forma diária, na sua casa de fados. Para além desse espaço faz frequentes apresentações na televisão e, em 1972, produz e apresenta um programa semanal na RTP. O "Convívio Musical" pauta-se por ser palco de grandes nomes da canção portuguesa e internacional.
As primeiras digressões são realizadas no início da década de 1970, com espectáculos em Angola, Estados Unidos e Canadá e, em 1973, estreia-se no Brasil, cantando ao lado de Elis Regina, no Copacabana Palace do Rio de Janeiro.
No ano de 1976 o fadista representa Portugal no Festival da Eurovisão na Holanda, com a canção "Uma Flor de Verde Pinho", um poema de Manuel Alegre com música de José Niza. Carlos do Carmo foi o único intérprete do Festival RTP da Canção desse ano, tendo posteriormente editado o disco "Uma Canção Para a Europa", onde se incluíam, para além da canção vencedora, temas como "Estrela da Tarde" (Ary dos Santos – Fernando Tordo), "No teu Poema" (José Luís Tinoco) ou "Lisboa, Menina e Moça" (Ary dos Santos e Joaquim Pessoa – Paulo de Carvalho e Fernando Tordo).
O fadista canta pela primeira vez no Olympia, em Paris, a 11 e 12 de Outubro de 1980 e na Alte Oper de Frankfurt em 1982, palco onde tem tal sucesso que a gravação do espectáculo é editada em disco e onde regressa para actuar nos dois anos seguintes.
Ainda na década de 1980, Carlos do Carmo é distinguido com diversos prémios, dos quais destacamos o prémio “Fadista”, atribuído pela revista “Nova Gente”, em 1983; e o Título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro, em 1987.
O fadista realiza grandes espectáculos comemorativos dos aniversários da sua actividade nomeadamente nos 25, 30, 35 e 40 anos de carreira. O seu percurso internacional foi projectado, como sempre gosta de afirmar, "pelos Portugueses que saíram da minha terra à procura de vida melhor e que me foram passando para as mãos de empresários e agentes culturais dos vários países onde residem".
Na celebração dos seus 25 anos de carreira, em 1988, faz digressões pelos Estados Unidos, Europa e Brasil, facto bastante revelador da sua popularidade, em particular junto das comunidades portuguesas.
No início da década de 1990 Carlos do Carmo sofre um acidente durante um espectáculo em Bordéus, caindo do palco para a primeira fila da plateia, uma queda de uma altura equivalente a um andar, que obriga o fadista a uma longa recuperação. Em Março de 1991 faz o seu regresso no Casino Estoril apresentando um espectáculo intitulado "Vim Para o Fado e Fiquei". E, nesse mesmo ano, a Casa da Imprensa, entrega-lhe o prémio “Prestígio”, no decorrer do espectáculo da Grande Noite do Fado.
Dois anos depois, em 1993, volta a realizar grandes digressões no âmbito da celebração dos 30 anos de carreira. Nesta comemoração edita com as Selecções do Reader's Digest a colecção "O Melhor de Carlos do Carmo", onde apresenta um depoimento sobre cada um dos seus discos.
Um concerto no grande auditório do Centro Cultural de Belém, mais tarde editado em CD, é a forma escolhida para celebrar os 35 anos de actividade de Carlos do Carmo como fadista. E, na soma de 40 anos de carreira, o palco escolhido para a apresentação é o do Coliseu dos Recreios em Lisboa, com posterior lançamento de CD e DVD do espectáculo. O Museu do Fado aliou-se a esta celebração apresentando a exposição "Carlos do Carmo: Um Homem no Mundo", uma mostra relativa à sua vasta e consagrada carreira.
É inquestionável o sucesso dos temas popularizados na voz de Carlos do Carmo, bem como o do próprio fadista como comunicador, demonstrado na apresentação do programa televisivo com o seu nome - "Carlos do Carmo", transmitido em mais de 30 emissões entre 1997 e 1998, onde o fadista dialoga com inúmeros convidados sobre temas que vão desde o óbvio Fado, passando por outras músicas, até história e património ou teatro, entre outros.
No final da década devemos destacar a atribuição, pelo Presidente da República, em 1997, do Grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique e, no ano seguinte o Globo de Ouro "Excelência e Mérito", com que foi distinguido pela SIC.
Apesar de algumas interrupções forçadas por motivos de saúde, Carlos do Carmo mantém-se activamente empenhado em apresentar-se ao vivo para um vasto público que o fadista fidelizou ao longo de mais de 4 décadas.
A intensa actividade de Carlos do Carmo inclui espectáculos por salas dos cinco continentes, programas de televisão onde está bem patente a sua facilidade de comunicação com o público na transmissão de valiosa informação para a história do Fado, mas também uma relação próxima com as novas gerações do fado, por vezes apresentando-se em actuações conjuntas, como já aconteceu com Camané (concerto de encerramento das Festas de Lisboa, na Torre de Belém, em Setembro de 2006, por exemplo) ou Mariza (Gala de Fado do Casino Estoril, a 8 de Junho de 2004, por exemplo). Na verdade é o próprio que revela que “nunca me senti distante das gerações que vão chegando. Eu comecei a cantar para a geração dos meus pais, depois trouxe a minha comigo e outra que é a dos meus filhos”. (cf. “Expresso”, 30 de Novembro de 1996).
Em 2002 a estação de televisão SIC voltou a salientar a actividade de Carlos do Carmo, distinguindo-o com o Globo de Ouro "Melhor Disco do Ano", atribuído pelo lançamento do seu disco “Nove Fados e Uma Canção de Amor".
No dia 7 de Novembro de 2007, Carlos do Carmo apresentou, no Museu do Fado, o seu mais recente trabalho discográfico, um álbum intitulado "À Noite", que reúne textos inéditos de Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, Maria do Rosário Pedreira, Júlio Pomar, Luís Represas, José Luís Tinoco e José Manuel Mendes para as músicas de Fados tradicionais da autoria de Armandinho, Joaquim Campos e Alfredo Marceneiro. Este lançamento foi acompanhado de uma pequena mostra expositiva elaborada em torno do seu mais recente disco.
Carlos do Carmo para além de ser das maiores referências da actual interpretação do fado, é também fiel na sua preocupação com a divulgação e estudo desta forma de música, pelo que para além dos já referidos programas de televisão, tem abraçado projectos onde a valorização do Fado é central, de que são exemplo a sua participação na publicitação da maior colecção editada sobre Fado, de título "Um Século de Fado", num lançamento da Ediclube, ou a presença, desde os alvores da sua idealização, no núcleo de consultores do Museu do Fado, ou ainda, a contribuição, também como consultor, no filme "Fados", do conceituado realizador Carlos Saura.
O fadista participa também como intérprete no filme de Carlos Saura o que lhe valeu a atribuição, em 2008, do prémio Goya "Melhor Canção Original", para o tema "Fado da Saudade", distinção da Academia Espanhola das Artes Cinematográficas.
Carlos do Carmo está a festejar os seus 45 anos de carreira, cantando o Fado com a mesma sofisticação e brilhantismo que o têm caracterizado. O fadista revelou a Baptista Bastos que não conhece “música popular na minha terra com mais capacidade narrativa do que o fado” e nós congratulamo-nos por continuar a ouvi-lo cantar essas histórias.
Fontes de Informação:
"Guitarra de Portugal", 28 de Dezembro de 1939;
"Expresso", 13 de Agosto de 1994;
"Expresso", 30 de Novembro de 1996;
“A Capital”, 14 de Dezembro de 1996;
"Pública", 6 de Dezembro de 1998;
"A Capital", 11 de Outubro de 2003;
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Pereira, Sara (Dir), (2004), Carlos do Carmo: um homem no mundo, catálogo de exposição, Lisboa, EGEAC/ Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa;
Teles, Viriato, (2003), Carlos do Carmo. Do Fado e do Mundo: uma conversa em oito andamentos, Lisboa.
www.carlosdocarmo.com
Última actualização: Junho/2009
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Inês Pereira
Letra: Manuela de Freitas
Intérprete: Luísa Vilas Boas
Letra: Manuela de Freitas
Intérprete: José Pinto
Letra: José Ferreira
Intérprete: Valentim Matias
Letra: Moita Girão
Intérprete: Manuel de Almeida
Letra: Carlos Conde
Intérprete: Ada de Castro
Letra: Fernando Peres
Intérprete: Fernanda Maria
Letra: Frederico de Brito
Guitarra: Francisco Carvalhinho
Viola: Pais da Silva
Intérprete: Fernanda Maria
Letra: David Mourão Ferreira
Guitarras: Francisco Carvalhinho e António Couto
Viola: Martinho d'Assunção
Intérprete: Gil Costa
Letra: Armando Costa
Guitarras: Luís Ribeiro e Lelo Nogueira
Viola: Jaime Martins
Intérprete: António Mourão
Letra: Maria Manuela de Freitas
António Mourão
Foi ao cumprir o serviço militar obrigatório que a sua voz começou a dar nas vistas. Passou a cantar, como amador, nas casas de fado de Lisboa. Em 1964, foi contratado para a Parreirinha de Alfama, casa típica de "Argentina Santos". Foi ali a sua estreia profissional.
A verdadeira notabilidade foi ganha em 1965 através de uma peça de teatro. Na revista "E Viva o Velho", no Teatro Maria Vitória, interpretou "Oh Tempo Volta Para Trás", que viria a ser um dos maiores êxitos da história da música portuguesa.
António Mourão tornou-se num cantor muito popular, pelo que, de forma natural, percorreu o país e chegou a cantar em vários palcos no estrangeiro, em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Venezuela, África do Sul, França e Alemanha. Também gravou outros temas marcantes, de fado e de folclore, como "Os Teus Olhos Negros, Negros", "Chiquita Morena", "Oh Vida dá-me outra vida", "Fado do Cacilheiro" ou "Varina da Madragoa".
Estes e outros sucessos foram registrados em mais de uma vintena de álbuns:
É Sempre Sucesso (1968), Folclore das Províncias (1970), Meu Amor, Meu Amor (1971), Se Quiseres Ouvir Cantar (1973), Oh Razão da Minha Vida (1984), Não Há fado sem Verdade (1989), ou as colectâneas Álbum de Recordações (1984) e Oh Tempo Volta para Trás (1992).