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Fado Natália

O Embuçado
Letra:                 Gabriel de Oliveira
Música:              José Marques Piscalarete
Intérprete:          Márcia Condessa


 

Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas;

Frequentava a Mouraria
E em muito palácio havia
Descantes e guitarradas   (bis)

 

 


A história que eu vou contar
Contou-ma, certa velhinha

Uma vez que eu fui cantar
Ao salão dum titular
Lá p'ro Paço da Rainha   (bis)

A esse salão doirado
De ambiente nobre e sério

Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério   (bis)

 

 


Mas certa noite, houve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala

Embuçado, nota bem
Que hoje não fique ninguém
Embuçado, nesta sala   (bis)

Ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado

Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado   (bis)

Intérprete:      Márcia Condessa

Título:            O Embuçado

 

Autor da Letra:              Gabriel de Oliveira
Autor da Música:           José Marques Piscalarete

Guitarra Portuguesa:       Alberto Vilar e

                                        Jorge Fernandes

Viola de Fado:                 Joaquim do Vale

 

Data da 1ª edição:  1962

Editora: "Rádio Triunfo"

Ref. Alvorada AEP 60 440

​​

Fado Natália

Composto pelo guitarrista José Marques Piscalarete (1895 - 1967)

Deve o seu nome ao facto de ter sido composto para a cantadeira Natália dos Anjos. O grande poeta que foi Gabriel de Oliveira, "o Poeta Marujo" (1891 - 1953), para ela escreveu a letra "O Embuçado", celebrizada mais tarde por João Ferreira-Rosa, embora com outra música, o Fado Tradição (Patolas).

Para ela se escreveu, entre tantas outras letras, uma de Carlos Conde "Carlos Augusto da Silva Conde" (1901 - 19812) que transcrevo em parte:

A Natália, essa Fadista

De voz terna saudosista

Toda encanto e melodia

Foi a melhor companheira

Que o Gabriel de Oliveira

Teve ali, na Mouraria

Quando em 1949 se fecharam de vez os portões da Praça da Figueira, a Natália "Galinheira" (por alcunha) era uma figura franzina que, parada à porta com sua mãe, com quem partilhava um lugar de venda de aves domésticas, contemplava pela última vez um local de trabalho onde esteve mais de duas décadas.

Noite de Santo António. Praça da Figueira Fechada. Não joga a bota com a perdigota, mas foi assim.

Existe outro Fado com o mesmo nome, composto pelo cantador e guitarrista Bernardo Lino Teixeira.

Pequena biografia do poeta:
                                                                                                                                          Gabriel de Oliveira

Gabriel de Oliveira - Poeta Popular, terá nascido em 1891, e provavelmente

em Lisboa. Morreu na Figueira da Foz em 1953.
Em 1909 assentou praça na Marinha de Guerra como aluno, tendo completado o

curso de artilheiro. Combatente da Primeira Guerra Mundial como artilheiro, foi

condecorado com a medalha da Vitória. A sua alcunha de marujo surge, pois, da

sua profissão.
De estatura imponente e grande valentia, participou activamente no apoio a Sidónio

Pais, fazendo comícios no Largo da Guia, na Mouraria. Terá mesmo posto ao serviço

deste político alguns barcos, o que lhe valeu outra alcunha, a de "Marujo Almirante".

Mais tarde entra para a Intendência, onde exerce as funções de fiscal.
Manteve uma longa ligação com a cantadeira Natália dos Anjos, das suas composições contam-se algumas das mais clássicas letras do repertório fadista como é o caso de Igreja de Santo Estêvão, para ser cantado por Joaquim Campos (com o qual frequentemente trabalhou) na famosa composição deste Fado Vitória, e Café das Camareiras, com letra e criação de Alfredo Marceneiro a quem também se deve a música para Senhora do Monte, que após ter sido um sucesso na voz de Marceneiro, o foi igualmente na interpretação de Carlos Ramos. Ainda para música de Marceneiro (a Marcha do Alfredo), escreveu Há Festa na Mouraria, criado por este,  e que teve grande  êxito também cantado por Amália, gerador de outros temas como «a Rosa do Capelão», «a procissão da Senhora da Saúde», entre outros.
Inspirando-se  alegadamente ao gosto do rei D. Carlos pela guitarra e pelo Fado, escreveu  a letra do Fado, O Embuçado. Originalmente criado para Natália dos Anjos, a música foi composta pelo guitarrista José Marques Pis­calarete, que lhe deu o título de Fado Natália que, como tema musical, entraria igualmente no repertório fadista com outras letras. Os restos mortais de Gabriel de Oliveira repousam na Cripta dos Combatentes da Grande Guerra, em Lisboa.

​Fonte de informação:

http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/274766.html

Última actualização:  Junho/2012

Pequena biografia da intérprete:

                                                                                                                                          Márcia Condessa

Márcia Condessa nasceu em Monção, no Minho, a 28 de Setembro de 1915.

Não tendo possibilidade para realizar estudos, veio ainda jovem para Lisboa para

procurar trabalho.

A sua ligação ao fado inicia-se no restaurante da Bica onde Márcia Condessa

trabalhava e, por vezes, cantava fados e também algumas canções galegas.

Em 1938, quando o jornal "Canção do Sul" organiza o Concurso da Primavera, os

frequentadores e habitantes do bairro pedem a Márcia Condessa que participe em

representação da Bica. A fadista acede aos pedidos, passa nas eliminatórias e

chega à final do concurso, realizada a 11 de Julho de 1938, numa das salas da

redacção do jornal.

Nesta prova cada cantadeira interpreta dois fados do seu repertório, um castiço e

outro canção e, conforme é referido na edição do jornal de 16 de Julho, onde se publica a acta do concurso, foi atribuído pelo júri o "1º prémio e por unanimidade, o título de «Rainha do Fado - 1938» à candidata do Bairro da Bica, Márcia Condessa, a qual reúne sobejamente os predicados requeridos de dicção, voz e expressão."

Vencido o concurso e apresentada a fadista na capa da referida edição do jornal "Canção do Sul", a cantadeira passa a actuar em várias casas de fado e espectáculos vários até abrir, na década de 1950, o seu próprio restaurante típico.

Quando em 1938 Márcia Condessa arrecadou o título de «Rainha do Fado», no Concurso da Primavera do jornal "Canção do Sul", abraçou a carreira de fadista como sua profissão.

Os locais onde interpretou o fado abarcam várias casas de fado, mas foi na Adega Machado que integrou o elenco permanente durante vários anos, até ter inaugurado o restaurante "Márcia Condessa" , desde aí condicionando a sua carreira artística para as apresentações diárias e gestão deste espaço.

A 16 de Abril de 1942, Márcia Condessa volta a ser a capa do jornal "Canção do Sul" que apenas quatro anos passados da sua estreia a adjectiva como "Uma Titular no Fado Antigo" e "A Voz da Humildade".

Em 1944, a fadista actuou no Coliseu do Porto, no espectáculo "Mãe Portuguesa", onde se juntava na interpretação a dois outros grandes nomes do universo fadista, Ercília Costa e a Júlio Proença. (cf: "Canção do Sul", 16 de Setembro de 1944).

É no nº 38 da Praça da Alegria que a fadista abre a casa "Márcia Condessa", a qual se tornará um ponto de referência nos circuitos de exibição dos fadistas mais destacados. Para além das actuações da própria Márcia Condessa, passaram por este espaço artistas como Celeste Rodrigues, Alcindo Carvalho, Teresa Nunes, Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha ou Beatriz da Conceição.

Este será o espaço onde a cantadeira se manterá até decidir afastar-se da carreira artística em meados da década de 1970, passando depois o espaço a ser gerido por um sobrinho seu e, mais tarde, passando pelas mãos de vários sócios, que mantiveram o nome da casa. No decorrer da década de 1990 a casa deixou de ser espaço de apresentação de fado e passou a ser o restaurante "O Púcaro".

Márcia Condessa fez também actuações no estrangeiro. Durante 8 meses esteve no Brasil, integrada numa companhia de teatro, da qual faziam também parte Irene Isidro, António Silva e Ribeirinho. E, já depois de ter a sua casa aberta ao público, fez um espectáculo em Marrocos, integrando uma comitiva de Estado.

Apesar da sua longa carreira não existem quase registos discográficos de Márcia Condessa. Em formato CD existe apenas uma edição conjunta com Adelina Ramos e Berta Cardoso, na colecção "Fados do Fado" da Movieplay. Aqui surgem reeditados os quatro temas que a fadista gravou para a editora Alvorada em 1962: "Embuçado", "Fado menor (quadras soltas)", "Canção do Mar" e "Fado das Caravelas".

Márcia Condessa faleceu a 1 de Julho de 2006, quando estava perto de completar 91 anos. O seu funeral realizou-se na sua terra natal, em Monção.

Fonte de informação:

Márcia Condessa - Museu do Fado

gabriel de oliveira.jpg

O Fado "Embuçado" é dedicado a D. Carlos que aprendeu a tocar guitarra e gostava de toiradas e fados

O Rei D. Carlos, assassinado há mais de cem anos, gostava de toiradas e de fados, indo ao encontro de uma tendência cultural das época que visava "revalorizar as coisas nacionais", disse à Lusa o historiador Rui Ramos.

O fado "Embuçado", da autoria de Gabriel de Oliveira, "é uma homenagem ao Rei que ia muito aos fados e tinha até aprendido a tocar guitarra portuguesa com João Maria dos Anjos", disse à Lusa o fadista Miguel Silva, 91 anos, que conviveu com o poeta, falecido em 1953.

"O Gabriel que ficou conhecido aqui na Mouraria [Lisboa] como `Gabriel, marujo` era uma integralista monárquico, e fez o fado para a Natália dos Anjos, que foi sua companheira, cantar, em homenagem ao Rei", disse Miguel Silva.

O tema "Embuçado" tornou-se conhecido na voz de João Ferreira Rosa, que o começou a cantar em 1962, com música de Alcídia Rodrigues, habitualmente designada como "Fado Tradição".

"Quem me deu a letra foi a fadista Márcia Condessa e gravei o fado em 1965, e de facto escolhi pela música do fado Tradição", disse João Ferreia Rosa.

Originalmente, Natália dos Anjos cantava-o na música do "Fado Natália" de autoria de José Marques `Piscalarete`.

O musicólogo Rui Vieira Nery afirmou à Lusa "que há de facto essa tradição oral de que o Rei ia aos fados e há documentação relativamente ao facto de ter aprendido a tocar guitarra portuguesa, ainda na juventude, com João Maria dos Anjos".

"Sabe-se que o Rei ia muito a patuscadas, nomeadamente para a Costa de Caparica, e neste contacto com as classes populares era natural haver fado", disse Vieira Nery.

Não há notícia de alguma vez ter tocado guitarra portuguesa em público, adiantou Nery, mas "sabe-se que aplaudiu entusiasticamente o guitarrista Petrolino, quando este actuou na embaixada inglesa em Lisboa, no âmbito da visita de Eduardo VII".

"Sabe-se também que o próprio Rei chegou a convidar o fadista Fortunato Coimbra para cantar no iate Amélia", acrescentou o musicólogo.

Nesta altura, explicou o investigador, começa a tornar-se hábito, fadistas populares serem "expressamente convidados para actuarem nos palácios dos condes de Anadia, de Burnay, de Fontalva, de Pinhel, da Torre ou do marqueses de Castelo Melhor para além das casa agrícolas de grandes latifundiários como os Palha Blanco ou Camilo Alves".

O historiador Rui Ramos salientou à Lusa que o gosto de D. Carlos enquadra-se "numa viragem no fim do século XIX em que se revaloriza o que é nosso, a vida rural, as toiradas, o fado, etc.".

"D. Carlos está muito identificado com esta tendência. Gosta do Alentejo, de se vestir de lavrador alentejano, gosta de estar e ser um deles, usa até expressões populares nas suas cartas", afirmou Rui Ramos.

Por outro lado, acrescentou o investigador da Universidade de Lisboa, este gosto vem "ao arrepio da tradição da monarquia liberal que é erigida contra a vida marialva que caracterizava a fidalguia, no esteio da fama de D. Miguel I".

"D. Luís, seu pai, não gostava de toiradas que foram aliás abolidas em 1834 pois eram vistas como um desporto bárbaro e que incentivava à ferocidade da população", acrescentou.

Segundo Rui Ramos, biógrafo do monarca, D. Carlos "não tem da vida uma concepção austera ou trágica como D. Pedro V, seu tio".

"Vive de estímulos externos, gosta da vida ao ar livre, gosta de caçadas, vela, nadar, jogar ténis, pratica esgrima, equitação. Não é um intelectual, não tem uma vida interior, no sentido de reflectir muito", disse.

Rui Vieira Nery afirmou que, de facto, o Rei "era dado a uma alegre convivência" e segundo Rui Ramos, D.Carlos gostava de companhias femininas e "teve várias amantes".

"Sabe-se que a partir de dada altura o casal real não tem vida conjugal. Viviam no Palácio das Necessidades [Lisboa] mas separadamente, D.ª Amélia na ala residencial e D. Carlos na ala conventual".

"Relativamente às suas amantes há até documentação, nomeadamente sobre um caso com a mulher do embaixador brasileiro, através dos escritos deixados pelo médico da Corte, Thomaz de Mello Breyner".

Rui Ramos salientou ainda "a dimensão de `dandy` do Rei, sempre vestido `muito à moda`, usava por exemplo chapéu de abas moles, chamado na época `republicano`", afirmou.

"Esta dimensão aproxima-o do Príncipe de Gales, seu contemporâneo", futuro Eduardo VII que visitará Lisboa e ouvirá fado.

Selecção de fontes de informação:

  https://www.rtp.pt/noticias/cultura/fado-embucado-e-dedicado-a-d-carlos-que-aprendeu-a-tocar-guitarra-e-gostava-de-toiradas-e-fados_n164144

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