

Fados Tradicionais


Fado Castanheiro
Fado do Castanheiro
Letra: João Augusto de Vasconcellos e Sá
Música: Joaquim Campos Silva
Intérprete: Maria Teresa de Noronha
No cimo daquele outeiro
Debruçado castanheiro
Morre de sede e fadiga
Torcendo os braços ao vento
Dando à visão tormento
Sobre uma rocha inimiga
Tão velhinho e tão mirrado
Perdeu as folhas coitado
Fogem dele os passarinhos
Nem mesmo em noites suaves
Ele pode abrigar as aves
Nem pode embalar os ninhos
Um ramo de era viçosa
Que viveu sempre amorosa
Ao pobre tronco segura
Abraça o pobre velhinho
Cada vez com mais carinho
Cada vez com mais ternura
Ó era que não dás flor
Teu coração para amor
Deve ser igual ao meu
Singela planta que eu amo
Jamais se esqueceu do ramo
Onde uma vez se prendeu
Conjunto de Guitarras de Raúl Nery
Esta gravação data de 1950 e pertence à face A do disco de 78 R:P.M. editado pela marca "Rouxinol", etiqueta da "Rádio Triunfo" destinada aos fadistas da aristocracia como Maria Teresa de Noronha ou Vicente da Câmara, em que a cantadeira Maria Teresa de Noronha, acompanhada à guitarra pelo sr. Engenheiro F. Pinto Coelho e à viola por Arménio Silva, interpreta dois fados do seu reportório, que são o "Fado Batê" e este que é um dos mais célebres do seu reportório, de seu nome "Fado do Castanheiro", da autoria de Pedro Rodrigues, sobre versos de João de Vasconcelos e Sá. Este disco foi o segundo que Maria Teresa de Noronha gravou em 1950 fora da Emissora Nacional. Este fado explica a história de um velho e simples castanheiro que, de tão velhinho que está, já não pode abrigar as aves nem embalar os seus ninhos. A gravação que estamos a ouvir foi mais tarde, em 1974, incluída na compilação EP de 45 R.P.M. editado pela marca "Melodia" da "Rádio Triunfo", intitulada "Maria Teresa de Noronha - Minha Culpa". Este fado foi regravado em disco pela mesma cantadeira, mas já em 1964, na Banda 5 da Face B do LP de 33 R.P.M. "Saudade das Saudades", em que Maria Teresa de Noronha recria o fado, mas desta vez com a letra completa, pois se repararem, há uma estrofe que falta ao fado, e que não pôde ser gravada porque o fado era demasiado comprido para a capacidade do disco de 78 rotações, que só tinha no máximo três minutos de duração. Quando foi regravado, tinha somente o nome de "Castanheiro". Este fado foi um dos mais badalados da carreira de Maria Teresa de Noronha. Esta gravação realizada em 1950 foi editada pela primeira vez em CD na compilação "O Melhor dos Melhores - Maria Teresa de Noronha e Vicente da Câmara", editada em 1994 pela Movieplay Portuguesa, repetindo-se tal em 2000 na compilação "Clássicos da Renascença" dos mesmos artistas, em cooperação com a Rádio Renascença.

Pequena biografia do autor:
Joaquim Campos da Silva
Joaquim Campos da Silva, nasceu em Lisboa, na Fonte Santa, em 1911, tendo
falecido em Mem Martins ( Sintra ), em 1981.
Era filho de Joaquim Maria da Silva e de Maria Campos
Aos 16 anos, empregou-se na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses
- CP, como escriturário, lugar em que permaneceu até à reforma, sem todavia
deixar de cantar o Fado, que foi a grande paixão da sua vida.
Ainda criança, passou a viver em Alfama, onde se iniciou a cantar o Fado.
Foi, no entanto, em Setúbal, que se apresentou em público pela primeira vez, em
1923, com 12 anos de idade, cantando uma letra que adquirira num quiosque do
Rossio, onde se vendiam folhetos com cantigas de poetas populares.
Participou em inúmeras festas de caridade, andou por retiros e esperas de toiros e,
com Alberto Costa, foi um dos fundadores, em 1923, do Grémio Artístico Amigos do Fado, apologista de uma dignificação do Fado, pela sua interpretação em salões, em detrimento dos tradicionais retiros e tabernas.
Joaquim Campos fez a sua estreia na “Cervejaria Boémia” no ano de 1927.Também em 1927 a “Guitarra de Portugal” noticiava: “Cantou numa festa humanitária realizada a 27 de Setembro de 1927 (Domingo) no recinto da verbena do Orfanato Ferroviário da CP, em favor de "um pobre proletário a quem as vicissitudes da vida atiraram para a desgraça deixando sem amparo uma numerosa prole".Em Dezembro de 1933 vivia com a cantadeira Rosa Maria.Participou numa audição de fados no Forte de Monsanto, no dia de Outubro de 1934, «1ª festa que da grande série que este jornal está empenhado em realizar em estabelecimentos prisionais e hospitalares»,conjuntamente com Maria Cármen, Rosa Maria, Júlio Proença, Joaquim Seabra, Júlio Correia e António Sobral (cf. Guitarra de Portugal de 14 de Novembro de 1934)
Em 1937, é exaltado como a melhor voz dos últimos 20 anos, juntando ainda o facto de dizer primorosamente os versos que interpretava, impregnando-os de sentimento: - Chamaram-lhe o Bruxo do Fado, devido à sua marcante personalidade e estilo pessoal, aliada a um fino sentido musical a que não terá sido alheio o convívio em jovem com Luís Carlos da Silva ( Petrolino ); por isso foi, considerado por muitos, o maior cantador da sua geração.
Joaquim Campos tomou parte da festa de homenagem aos tocadores Júlio Correia (guitarra) e António Sobral (viola) no dia 4 de Novembro de 1934 levada a cabo por um grupo de sócios do Grémio Recreativo-Amadores do Fado. (cf. “Guitarra de Portugal” de 14 de Novembro de 1934).Foi também possível vê-lo cantar em festas de beneficência, em retiros e esperas de touros. Participou,juntamente com Maria do Carmo, Alberto Costa, Júlio Proença e Raul Seia, numa digressão por todo o Algarve, com grande êxito. A sua projecção e sucesso levam-no ao Coliseu dos Recreios, ao Éden-Teatro,Maria Vitória, Apolo e aos ambientes da época: “Solar da Alegria”, “Retiro da Severa”, no “Café Luso” e“Café Mondego”.Considerado na época como uma das melhores vozes de fado, Joaquim Campos foi também compositor,com registo para os seguintes temas: “Fado Vitória”, “Fado Tango”, “Fado Rosita”, entre outros.É de sua autoria a música do fado Povo que Lavas no Rio, com letra de Pedro Homem de Mello, celebrizado por Amália Rodrigues.
Actuou no Coliseu dos Recreios, Teatros Éden, Maria Vitória e Apolo, Solar da Alegria, Retiro da Severa e nos Cafés Luso e Mondego.
Efectuou diversas digressões, das quais se destacou aquela, em que na companhia de Maria do Carmo, Alberto Costa, Júlio Proença e Raul Seia, percorreu todo o Algarve.
São de sua autoria, temas essenciais do reportório de Fado clássico, ainda hoje profusamente utilizado, como são o caso dos Fados Vitória, Tango, Rosita, Estela, Castanheira, Amora, Olivais, Simples, Amadores, Camélia e Contraste, entre outros.
As suas composições, celebrizaram os versos de alguns poetas populares com os quais trabalhou mais de perto, tais como Fernando Teles, Manuel Soares, João Linhares Barbosa e Gabriel de Oliveira.
Da sua obra discográfica, assumem especial interesse as desgarradas com Ercília Costa e Júlio Proença.
Foi companheiro da cantadeira Rosa Maria, até à morte prematura desta.
Faleceu em 1981.
Fontes de informação:
“Guitarra de Portugal”, 24 de Setembro de 1927;
“Guitarra de Portugal” de 22 de Dezembro de 1933;
“Guitarra de Portugal” de 14 de Novembro de 1934;
Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves.
Última actualização: Maio/2008
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Maria da Graça Noronha
Letra: Maria da Graça Noronha
Intérprete: João Braga
Letra: João Ferreira Rosa



Guitarra: José Manuel Neto
Viola: Carlos Manuel Proença
Baixo: Marino de Freitas
2007 Universal Music Portugal, S.A.
Intérprete: Carlos do Carmo
Letra: Maria do Rosário Pedreira
Intérprete: Manuel Delindro
Letra: Maria do Rosário Pedreira