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Fado Triplicado
Fado Triplicado
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Noite de S. João
Letra:              João Linhares Barbosa
Música:           José Marques Piscalarete
Intérprete:       Berta Cardoso

 

 

 

Foi numa noite de Verão
De emoção pelo São João
Que eu resolvi ir ao baile
Vesti um traje catita
De chita muito bonita
E o meu mais vistoso xaile   (bis)



Na cabeça pus um lenço
O lenço que não dispenso

Porque é castiço e bairrista
Bati para a Madragôa
A canoa de Lisboa  

Tão pitoresca e fadista   (bis)



Mal que cheguei ao recinto
Por instinto, não lhes minto

Senti um baque no peito
Ia ali à aventura
À procura de uma jura

Que um rapaz me havia feito

 



Cantei três ou quatro modas
Fui nas rodas quase todas

E por fim era fatal
Tive de cantar o fado
O Corrido e o Triplicado

Num canto do arraial   (bis)

 



Que noite de São João
Noite não e de traição

Naquele baile das trinas
O tal que me namorava
Também estava mas dançava

Com a mais bela das varinas   (bis)

 



Como quem ao mar se atira
Tive em mira entrar no vira

Nem sequer medi o perigo
Descalcei uma chinela
E ele que andava com ela

Virou-se e saiu comigo   (bis)

Intérprete:      Berta Cardoso

Título:            Noite de S. João

 

Autor da Letra:         João Linhares Barbosa
Autor da Música:     José Marques
Piscalarete

Guitarra Portuguesa:    Carlos Gonçalves e

                                      António Chainho

Viola de Fado:              José Maria Nóbrega

Viola-baixo:                   Raul Silva

   

 

Data da 1ª edição:  1979

Editora: "Riso e Ritmo"

Ref. FF EP 93​​​

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Letra: Domingos Gonçalves Costa

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Fado Triplicado

Composto pelo guitarrista José Marques Piscalarete (1899 - 1967)

Estilo muito popular nos anos 40 e 50, caracterizado exclusivamente pela estrutura poética. Exige-se que, nas letras em sextilhas (utilizando qualquer tema adequado a esta estrutura métrica), a última palavra do primeiro verso rime com duas palavras do segundo, uma das quais a última, enquanto a última do quarto rima com duas do quinto, uma delas a última, enquanto a última do terceiro rima com a última do sexto.

Género cultivado por alguns cantadores da época, a Rima Triplicada também se aplicou a outras formas poéticas, como a quadra. Teve praticantes muito conhecidos em "Joaquim Cegueta" e "Júlio Janota" 

Pequena biografia da intérprete:            

                                                                                                                                           Berta Cardoso

Berta dos Santos Cardoso, que adoptou o nome artístico de Berta Cardoso, nasceu

em Lisboa, na Rua da Condessa (ao Carmo), a 21 de Outubro de 1911. Os pais,

Américo Melande Cardoso e Rosalina Jorge dos Santos, tinham já quatro filhos,

dois rapazes e duas raparigas, frutos de ligações anteriores.

 

Com apenas 9 anos, e em virtude de ficar orfã de pai, a sua educação passou a

estar a cargo de uma instituição oficial, ditando-se assim um afastamento da mãe

e dos irmãos, até à data em que Berta Cardoso consegue a sua independência

económica e volta a ter junto de si a sua mãe.

 

Por influência de um dos seus irmãos, Américo dos Santos, que era violista amador, estreia-se no Salão Artístico de Fados, no Parque Mayer, com apenas 16 anos (1927). O êxito da sua actuação fez com que ficasse logo a trabalhar nessa casa.

 

Também no ano de 1927, Berta Cardoso foi mãe pela primeira vez de um rapaz a que deu o nome de Humberto, tragicamente falecido em Moçambique, em 1959, onde residia com o pai, com apenas 26 anos. Nunca casou, mas teve ainda um outro filho, de nome Américo.

 

Num tempo em que o Fado começa a ser cantado no Teatro de Revista por cantadores profissionais, e já não pelos actores e actrizes a representar nas peças, Berta Cardoso surge como uma das cantadeiras que faz larga carreira neste tipo de espectáculo.

 

Dois anos depois de se ter apresentado em público pela primeira vez, no Salão Artístico de Fados, a cantadeira inicia-se neste meio, com a participação na revista "Ricócó", em 1929, no Teatro Maria Vitória do Parque Mayer. Nesse mesmo teatro, integra outros espectáculos como o "Viva o Jazz!" e "A Nau Catrineta", revistas em cartaz no ano de 1931.

 

Esta actividade será intercalada ao longo da sua vida com o constante envolvimento em diversas actuações de Fado. Assim, em 1932, a fadista é apresentada no elenco do Salão Jansen e, nesse mesmo ano, recebe um convite para se juntar à Companhia Maria das Neves. Passa a integrar um elenco protagonizado por Beatriz Costa e parte numa digressão de vários meses com rumo ao Brasil. As suas interpretações têm tal sucesso que são vários os jornais brasileiros a destacar a sua forma de cantar e a calorosa recepção do público presente nos espectáculos.

 

Em meados da década de 1930 já a cantadeira é uma presença incontornável no universo fadista, acumulando as críticas que a retratam, por exemplo, como "artista e mulher que tão magnificientemente sabe imprimir sentimento a todos os Fados, a todas as canções trinadas na sua magestosa garganta, que mais parece um rosário de notas musicais, tocadas de qualquer ritmo divino, que uma voz humana" (Cf. "Canção do Sul", 16 de Janeiro de 1936).

 

Tal como Ercília Costa, Berta Cardoso tem um papel fundamental num primeiro período de internacionalização do Fado, com deslocações que se centram no Brasil, nas ilhas e nas colónias portuguesas. Testemunho dessa linha de novos mercados, é não só a viagem ao Brasil realizada com a Companhia Maria das Neves, mas também o agrupamento com outros intérpretes de nomeada para uma longa digressão em terras africanas.

 

Neste contexto surge o "Grupo Artístico de Fados", formado pelas cantadeiras Berta Cardoso e Madalena de Melo, e pelos instrumentistas Armando Augusto Freire (Armandinho), Martinho d’ Assunção Junior e João da Mata, que é constituído no ano seguinte, 1933.

 

Este conjunto de intérpretes de renome parte a bordo do navio Niassa para um percurso de espectáculos na África Ocidental e Oriental e também nas ilhas portuguesas. Concretiza-se como a primeira viagem que o Fado faz a África, tornando-se numa digressão muito noticiada pelos jornais, uma vez que os espectáculos se desenrolam ao longo de quase um ano, passando por diversos locais, de onde destacamos Angola, Moçambique e Rodésia.

 

Fadista muito apreciada pelo público e pela crítica, Berta Cardoso faz a sua primeira gravação discográfica em 1931, para a editora Odeon, e a convite dos representantes da marca em Lisboa desloca-se a Madrid para gravar juntamente com Cecília de Almeida, estando o acompanhamento de ambas a cargo da guitarra de Armandinho e da viola de Georgino de Sousa. Nos anos trinta e quarenta do século XX, Berta Cardoso prossegue a gravação de discos, nesta altura para a editora Valentim de Carvalho.

 

Berta Cardoso desenvolve uma actividade intensa ligada ao Teatro de Revista, onde se apresenta com uma regularidade de cerca de duas peças por ano. Aparece frequentemente na imprensa, em particular na que se dedica a temas fadistas, que vai fazendo o registo da sua interpretação de números de Fado nestas peças, e lhe dispensa numerosas apreciações que nos permitem assegurar o seu lugar de destaque junto do público e da crítica.

 

Nos anos de 1936 a 1938, Berta Cardoso participa em diversas revistas, apresentadas em palcos de diferentes teatros. Mas, apesar das muitas intervenções e da grande relação com os palcos teatrais, Berta Cardoso considera-se sempre uma cantadeira e continua a assegurar apresentações em elencos dos melhores espaços e casas de Fado de Lisboa, nomeadamente no Café Luso, em 1936, e no Retiro da Severa, em 1937.

 

Neste mesmo ano, e nesta última casa, Retiro da Severa, o elenco privativo transforma-se na "Embaixada do Fado do Retiro da Severa", integrando grandes nomes como Maria Emília Ferreira, Maria do Carmo Torres, Alfredo Duarte (Marceneiro), Júlio Proença, ou José Porfírio.

 

Esta Embaixada desloca-se para actuar, durante vários dias, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e no Teatro Variedades, com apresentações sempre esgotadas e descrições nos jornais, tanto no norte como em Lisboa, de um espectáculo de grande qualidade, onde muitas vezes são destacadas as actuações de Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro.

 

Em 1939 a fadista é contratada pela Companhia Beatriz Costa, que tem em Beatriz Costa a figura central, para fazer um regresso a terras brasileiras, onde se estreiam, no mês de Março, com a revista "Eh, Real", no Teatro República do Rio de Janeiro. Apresentam também as revistas "Oh, meu rico São João", "Dança da Luta" e "Pega-me ao Colo".

 

Ainda em 1939 a fadista é homenageada pelos seus colegas no Retiro da Severa e, antes de embarcar para o Brasil, grava, com Alfredo Marceneiro, actuações no Teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme "Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. Este filme estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952.

 

Após o regresso do Brasil, em 1940, passa a integrar a "Embaixada do Fado do Solar da Alegria", que obtem grande êxito em deslocações ao Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Neste elenco juntam-se a Berta Cardoso, outros nomes consagrados da interpretação do Fado, caso de Maria Carmen, Júlio Proença e Amália Rodrigues. Também no decorrer deste ano, Berta Cardoso prossegue as suas interpretações no teatro, participando nas peças "Porto ao Sol", no Teatro Sá da Bandeira, e "Toma Lá Cerejas!", estreada no Teatro Pax-Julia com a Companhia do Teatro Apolo.

 

Posteriormente a fadista integra o elenco da empresa Monumental, como primeira figura do elenco (cf. "Guitarra de Portugal", 25 de Dezembro de 1945), com o qual se apresenta não só em Lisboa, mas também no Porto. Nos anos seguintes Berta Cardoso viaja para actuar no Cine-Jardim, na Madeira, em 1947, e, em 1948, na peça "Isto é o Porto", levada à cena no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.

 

A revista "Lisboa é Coisa Boa", de autoria de Eduardo Fernandes e Ricardo Covões, estreia em Fevereiro de 1951, no Coliseu dos Recreios, precisamente no dia em que se realiza o funeral da mãe de Berta Cardoso, sendo feito um reconhecimento público à fadista pelo seu profissionalismo, por se ter mantido em actuação num momento tão doloroso.

 

Também durante o mês de Fevereiro de 1951, Berta Cardoso tirou a sua carteira profissional, inscrevendo-se na categoria de "Artista Dramática". Mas a partir de 1960, a cantadeira decide abandonar definitivamente os palcos do teatro de revista.

 

Prossegue pois com a sua carreira de fadista e com as gravações discográficas que, durante as décadas de 1950 e 1960, são realizadas na Estoril, a mesma editora que muitas décadas mais tarde, em 1992, lança o CD "Orquestra de Guitarras", numa edição especial numerada e autografada, que integra seis dos seus Fados com maior êxito.

 

A partir desta altura, a actividade artística de Berta Cardoso vai-se centrando mais nas actuações em Casas de Fado, como é o caso do Faia, casa onde os seus colegas e amigos lhe prestam uma merecida homenagem em 1954.

 

Desde 1961 e até ao final da década seguinte, Berta Cardoso estabelece-se no elenco da Viela, casa onde foi, também, homenageada em 1967.

 

Como figura conceituada da interpretação do Fado tradicional, Berta Cardoso fez também as suas aparições na televisão, destacando-se a sua presença, em 1969, no programa de grande audiência "Zip, Zip", ou na transmissão da sua festa no programa "Bodas de Ouro de uma Fadista".

 

Berta Cardoso finaliza a sua longa carreira artística no ano de 1982, quando actua no Poeta, espaço aberto, nesse mesmo ano, pelo poeta José Luís Gordo e a sua esposa, a fadista Maria da Fé.

 

Apesar de concluir o curso de enfermagem, com a especialização de obstetrícia, na Faculdade de Medicina, em 1943, e de vários jornais e revistas anunciarem o seu afastamento dos palcos do Fado, tal nunca veio a suceder. Berta Cardoso nunca exerceu as funções de enfermeira e manteve a profissão de cantadeira muito activa até 1982.

 

Berta Cardoso foi internada num lar da Santa Casa da Misericórdia por lhe ter sido diagnosticada uma doença degenerativa do sistema nervoso, já em estado muito avançado, em 1996, a qual implicava cuidados e vigilância permanentes, tendo falecido, nesse mesmo lar, a 12 de Julho de 1997.

 

Já após a sua morte foram editados vários CDs com a sua obra gravada, nomeadamente "The Story of Fado", pela editora Hemisphere, em 1997, "Portugal, Fado: Chant de l’mee", pelas Éditions du Chên, em 1998, "Berta Cardoso, Márcia Condessa e Adelina Ramos", na colecção "Fados do Fado", da editora Movieplay, em 1998 e, da mesma editora o volume 1 da colecção "Fado Português", editado em 1999.

 

Reconhecendo Berta Cardoso como uma figura emblemática do Fado tradicional, com uma larga carreira sempre associada a esta canção urbana e representante de um período muito característico da História do Fado, em 2006, o Museu do Fado organizou uma exposição temporária centrada nesta fadista.

 

 

Selecção de Fontes de Informação:

"Guitarra de Portugal", 30 de Outubro de 1930;

"Guitarra de Portugal", 24 de Junho de 1933;

"Canção do Sul", 16 de Janeiro de 1936;

"Guitarra de Portugal", 27 de Agosto de 1937;

"Guitarra de Portugal", 10 de Maio de 1938;

"Canção do Sul", 1 de Dezembro de 1939;

"Guitarra de Portugal", 25 de Dezembro de 1945;

"Ecos de Portugal", 1 de Outubro de 1948;

Brito, Joaquim Pais de (Dir.), 1994, “Fado: Vozes e Sombras”, Lisboa, Lisboa94/ Electa;

Pereira, Sara (Dir), 2006, "Berta Cardoso", Lisboa, EGEAC/ Museu do Fado.

www.bertacardoso.com

 

Última actualização: Março de 2008

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