Fados Tradicionais
Fado Helena
O Chico do Cachené
Letra: Linhares Barbosa
Música: Miguel Ramos
Intérprete: Fernando Farinha
Certa vez, foi à noitinha
O Chico do cachené;
Chamou-me e disse, Farinha
Vou contar-te a vida minha
Para saberes como é (bis)
Bem criado e malfadado
Os meus pais, tinham de seu
Por eles era adorado
Instruído e educado
Cheguei a andar no liceu (bis)
Eu era menino e moço
Simples como uma donzela
Mas um dia de alvoroço
Passei à Rua do Poço
Vi a Micas, gostei dela (bis)
Vivi com ela dez anos
Duas vezes lhe pus casa
Mas os seus olhos tiranos
Vadios como dois ciganos
Fugiram, bateram asa (bis)
Hoje não tenho um afago
Um carinho, uma afeição
Sou um esquecido mal pago
E é no vinho que eu apago
O fogo desta paixão (bis)
Depois de contar-me a vida
O Chico pôs-se de pé
Pediu mais uma bebida
E uma lágrima atrevida
Caiu-lhe no cachené (bis
Intérprete: Fernando Farinha
Título: O Chico do Cachené
Autor da Letra: Linhares Barbosa
Autor da Música: Casimiro Ramos
Guitarra Portuguesa: Raul Nery e
Fontes Rocha
Viola de Fado: Júlio Gomes
Data da 1ª edição: 1960
Editora: "Valentim de Carvalho CISA"
Ref. ATEP 6081
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Vicente da Câmara
Letra: Maria de Jesus Facco Viana
DISCO Nº 16029 DO REGISTO 18085 DA RADIODIFUSÃO PORTUGUESA!
Esta gravação data de 1970, foi efectuada no Estúdio A da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa, e pertence à Banda 6 da Face B do disco LP de 33 R.P.M. editado pela “Alvorada”, etiqueta “Rádio Triunfo”, matriz “LP-S-04-79-A”, nome “Vicente da Câmara – O Fado Antigo É Meu Amigo”, em que o fadista Vicente da Câmara, acompanhada pelas Guitarras Portuguesas de Fontes Rocha e Carlos Gonçalves, e pela Guitarra Clássica de Pedro Leal, interpreta 12 fados do seu reportório, entre eles “O Fado Antigo é Meu Amigo”, “Há Saudades Toda a Vida”, “A Cinza Nunca Está Morta” ou “Quadras de Barro”.
Aqui, escutamos o “Fado Helena” do viola de Fado Miguel Ramos, interpretado por Vicente da Câmara duma maneira exemplar, com a poesia romântica “Partes Sem te Despedires” de Maria de Jesus Facco Viana, num registo muito bem acolhido pelas rádios portuguesas, merecendo destaque a Renascença, que fez com que este fosse o fado mais ouvido de todos os fados de Vicente na Emissora Católica, e a Emissora Nacional, onde o disco foi catalogado com o nº 16029 do registo 18085.
Este fonograma foi reeditado em CD na compilação “Clássicos da Renascença – Vicente da Câmara”, lançada em 2000 pela Movieplay Portuguesa.
Fado Helena
Composto pelo viola de Fado Miguel Ramos (1901 - 1973)
Mais uma vez, há uma história muito engraçada ligada a este Fado. Fernando Farinha celebrizou-o com o poema de Linhares Barbosa, com o título "O Chico do Cachené". Até aqui nada de especial. Onde esta história se torna interessante é a partir do momento em que nos perguntamos - mas afinal, quem é este "Chico do Cachené"? Nada mais que um simples boneco de madeira, ao qual a arte e o talento de dois homens deram vida e popularidade. Conta-se em poucas palavras a forma como "nasceu" este meliante.
Corria o ano de 1945, quando um grupo de amigos que saía da "Adega Machado", após um belo almoço, deu de caras com um ferro-velho ambulante, uma figura típica lisboeta que, a pouco e pouco, foi desaparecendo. Faziam parte desse grupo o poeta João Linhares Barbosa e o artista plástico Tom. Este reparou que o ferro-velho trazia no cesto, um boneco de madeira todo despido, que lhe despertou a atenção. Daí até à compra, foi o tempo de negociar, pagar, e lá foi ele com o boneco debaixo do braço.
O facto despertou o riso de outros componentes do grupo, mas, como já estavam habituados a estas excentricidades do Tom...Passados uns dias, ele apareceu na "Adega Machado" com o boneco já vestido a rigor como um Faia dos fins do século XIX, calça à boca de sino, colete, jaquetão todo debruado e, na cabeça, um chapéu posto de forma a deixar passar uma melena de cabelo preto. Ao ver aquele autêntico "Fadista", Linhares Barbosa, de imediato baptizou-o de "Chico do Cachené". Armando Machado, dono da casa, logo lhe arranjou uma peanha, colocando-o num sítio bem visível. Mas não se ficou por aqui a história do "Chico". João Linhares Barbosa, inspirando-se neste boneco, resolveu escrever um Auto poético-Fadista, baseado na vida desregrada que o meliante levava, vivendo à custa da Micas. E foi assim que nasceu o "Auto do Julgamento do Chico do Cachené", que teve a sua estreia no dia 28 de Julho de 1945, pelas 15h00, para cerca de 80 convidados, entre os quais se encontravam o actor Nascimento Fernandes, Dr. Carlos Costa, Guilherme Pereira de Carvalho, o cavaleiro tauromáquico José Casimiro, o Conde da Covilhã, entre muitas outras personalidades. Nem o Chico nem a Micas tiveram existência real...
Simples, como se vê...
Pequena biografia do autor:
Miguel Ramos
Miguel Ramos, nasceu em Lisboa em 1901, onde veio a falecer em 1973.
É o irmão mais jovem do saudoso guitarrista e compositor, Casimiro Ramos.
Violista de fado, também foi ( como o seu irmão ), compositor de fados como
Fado Alberto, Fado Margarida, Fado Helena ,Fado Oliveira ou da Freira, etc.
A observar que o Fado Alberto, foi e ainda é, um fado muito gravado,
existindo mais de 40 gravações (em suporte CD ) deste fado.
Alguns dos seus fados, foram compostos em parceria com o seu irmão,
sendo a autoria de alguns desses fados atribuíram, por vezes, ora a um, ora
a outro dos irmãos "Pinóia".
Apesar de ter iniciado a sua actividade profissional tocando um reportório musical erudito (acompanhando algumas vezes o guitarrista Carmo Dias em teatros e no Conservatório Nacional no final da década de 1920), foi no âmbito do fado que teve mais oportunidades de actuação, e (podemos supor) uma recepção salarial mais adequada. Esse novo caminho deu-lhe acesso à uma faceta - que será de importante contribuição à cultura portuguesa (particularmente destacando o Fado) - a de compositor.
Miguel Ramos, foi considerado um artista de referência, e era admirado pelos fadistas, violistas e guitarristas, entre os quais Martinho d'Assunção Júnior e José Nunes.
Tal como o seu irmão, acompanhou grandes vozes do Fado, em casas de fado, espectáculos e na gravação de fonogramas.
Tocava com unhas postiças. O seu estilo interpretativo caracterizava-se pela clareza na articulação das notas, a ressonância dos bordões e acordes, tanto no acompanhamento de fadistas, como de instrumentais, adaptando o percurso harmónico ao gosto de cada fadista; nos instrumentais, utilizava um acompanhamento harmónico mais enriquecido, notavelmente articulado com as guitarras, contra cantos, e a percussão ( utilizando a caixa de ressonância da viola ).
Durante muitos anos, foi tocador privativo do Restaurante “A Tipóia”, no Bairro Alto.
Fonte de informação:
http://www.g-sat.net/todos-os-fados-de-a-a-z-historia-2128/fado-alberto-208297.html
DISCO Nº 3555 DA EMISSORA NACIONAL!
Esta gravação data de 29 de Julho de 1960, foi realizada nos Estúdios Valentim de Carvalho, na Costa do Castelo, em Lisboa, e pertence à Banda 2 da Face A do disco EP de 45 R.P.M. editado pela da "Valentim de Carvalho" com o selo da “Parlophone”, a matriz de disco “LMEP 1072”, a matriz de fonograma “7TCEF 242” e o nome "Fernando Farinha - Beijo Emprestado". Neste disco, Raul Nery e o Seu Conjunto de Guitarras da Emissora Nacional, constituído por si, Fontes Rocha, Júlio Gomes e Joel Pina, acompanha o cantador Fernando Farinha na interpretação de quatro fados do seu reportório, que são "Beijo Emprestado", "O Tempo é Quem Manda", "O Chico do Cachené" e "Pobre de Mim".
Este é um dos maiores sucessos do Rei da Rádio Portuguesa de 1962, e que foi um dos campeões em níveis de transmissões radiofónicas na Emissora Nacional, onde este disco foi catalogado com o nº 3555. Trata-se da poesia "O Chico do Cachené" de João Linhares Barbosa, que relata a história amorosa dum dos personagens mais característicos de Lisboa, o Chico do Cachené, que puxa prá desgraça, e magistralmente interpretado por Fernando Farinha na melodia do "Fado Helena", de Miguel Ramos, composição musical interpretada originalmente por Berta Cardoso com o poema nacionalista "Marinheiros de Portugal", gravado em 1936 para a "Columbia", etiqueta da "Valentim de Carvalho", num disco de 78 rotações, que foi um dos discos de música portuguesa mais ouvidos na Emissora Nacional.
Este sucesso de Fernando Farinha foi valente e retumbante, sendo activa presença nas rádios portuguesas da época, e foi um dos fados que era regularmente transmitido na Rádio Voz de Lisboa, emissor regional lisboeta da Rádio Renascença, que se apanhava em Onda Média em Alcácer do Sal, em 963 kHz, a frequência onde actualmente trabalha a Rádio "Sim", posto radiofónico associado, que continua a transmitir regularmente este êxito de Farinha.
Esta canção também tem que se lhe diga. À 1ª vista, para os especialistas mais puristas e mais reaccionários, seria preferível e muito melhor que existisse menos exuberância na voz do intérprete, e um andamento mais repousado e lento, a condizer com o dramatismo da letra. Só que esta produção, mesmo assim de superior cunho fadistão, começou por ser uma brincadeira.
Na Adega Machado, em Lisboa, existia um boneco de madeira, vestido a preceito, personificando o anunciado Chico. Numa noite de 1941, alguém sugeriu fazer-se o seu julgamento. Entre o elenco da casa e alguns aderentes distribuíram-se os papéis de juiz, advogado de defesa e acusação, e respectivas testemunhas. Linhares Barbosa, o autor da poesia, ofereceu-se gentilmente para a criação do texto, em versos para vários fados. A parte que coube a Fernando Farinha foi a interpretação, ou seja, esta. Assim se explica a aparente contradição, e se espera ver em breve a 3ª representação desta verdadeira opereta fadista, já que houve uma 2ª, em 1951, no Café Luso.
Assim é a história daquele que é, indubitavelmente, um dos maiores êxitos do "Miúdo da Bica". Esta gravação foi restaurada e remasterizada digitalmente nos Estúdios Abbey Road, da EMI Music Company, em Londres, em Fevereiro de 1998, tendo sido utilizado o sistema "CEDAR Audio Restoration", e editada em CD na compilação histórica "Biografias do Fado - Fernando Farinha", editado pela marca "Lisboa Discos", etiqueta da "EMI-Valentim de Carvalho", um CD que ficou para a história de Portugal por ser o 1º CD a realizar uma antologia perfeita da carreira de Fernando Farinha, e que o recolocou na história como grande figura de proa da nossa música popular.
Este disco já desapareceu do mercado, e só por sorte consegui adquiri-lo na loja "O Covil do Vinil", loja revendedora de discos em 2ª mão. Existe outro exemplar na Fonoteca Municipal de Lisboa. Mais tarde, em 2 de Junho de 2008, foi reeditado na compilação "O Melhor de Fernando Farinha", da "IPLAY/Valentim de Carvalho", que reeditou 18 dos 20 temas da compilação de 1998, e que até há poucos meses estava retirado do mercado, e agora foi relançado a preços elevados. E finalmente, em 2 de Novembro de 2014, este registo foi reeditado na última faixa da compilação "Fernando Farinha - Essencial", editado pela "Valentim de Carvalho", em conjunto com a Companhia Nacional de Música.