

Fados Tradicionais


Fado Fora de Horas
Fado Fora de Horas
Letra: José Belo Marques
Música: José Belo Marques
Intérprete: Fernanda Maria
Fadista geme a tua desventura
Não faças conta ao tempo quando choras
Que o Fado em certas horas de amargura
Só deve ser cantado fora de horas
Não bate o coração a horas tantas
Nem sabe quando ri ou quando chora
O Fado é mais sentido quando cantas
Se a hora de o cantar passa da hora
O Fado é o destino de uma hora
Um dia ela virá, mas não sei quando
Quem tem um coração que canta e chora
Não pode ouvir as horas que vão dando
Bateu-me o Fado à porta lentamente
A quem fui receber de mãos abertas
Meu triste coração ficou doente
E nunca mais bateu a horas certas
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Manuela Cavaco
Letra: José Belo Marques
Intérprete: Raquel Boaventura
Letra: José Belo Marques
Intérprete: Tânia Oleiro
Letra: José Belo Marques
Intérprete: Zita Ribeiro
Letra: José Belo Marques
Intérprete: Isabel de Oliveira
Letra: Carlos Zamara
DISCO Nº 5274 DA EMISSORA NACIONAL!
Esta gravação data de 1961 e pertence à Banda 1 da Face A do disco EP de 45 R.P.M. editado pela marca “Rapsódia” da Casa Figueiredo, com a matriz discográfica “EPF 5.130”, a matriz fonográfica “EP 0135 F” e o nome “Fados por Isabel de Oliveira”, em que a referida fadista, acompanhada por Fontes Rocha na Guitarra Portuguesa, Joaquim do Vale na Viola, mencionado no disco como "Joaquim Duval" (dado a que muita gente detesta o termo "Guitarra Clássica") e Joel Pina no Baixo de Fado, interpreta 4 fados do seu reportório, que são “Ser Mãe”, “Eu Sei o que Quero”, “Feliz Prisão” e “Nada é Eterno”.
Aqui, escutamos o Fado Tradicional “Fora de Horas” do maestro José Belo Marques, o único do género composto pelo Violoncelo Tutti da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, Fundador das Orquestras de Variedades, Típica, Ligeira e de Salão, concebido para Piano no Gabinete de Estudos Musicais, e com muitíssima má vontade!
Só pelo motivo de poder garantir o pão da sua família! Segundo as palavras do próprio, que passo a citar: «O povo, como sempre abandonado, não teve outra saída se não o refúgio dos fadinhos. Estes, nascidos em séculos passados e filhos de conquistadores, vieram saudosamente até nós e aninharam-se ali para os lados da senhora da saúde. Encarrapitados numa guitarra que dizem “portuguesa” mas que de português só tem uma corda, os fadinhos são ainda (hoje) escapatória das lágrimas do povo.».
E isto não é nenhuma ironia, ao contrário do que muitos fanáticos e melómanos pretendem fazer acreditar! Não chamemos obras-primas a músicas que surgiram como um produto da miséria e da desgraça! Como diz e muito bem Belo Marques: “Enganar os outros para me enganar a mim mesmo, isso nunca!”. Foi gravado em 78 rotações pela cançonetista Maria de Lourdes Resende, quando ela não utilizava o apelido “Resende”, sendo esta a interpretação vocal de Isabel de Oliveira, com a poesia “Ser Mãe” de Carlos Zamora, interpretação essa que consagrou este fado na lista oficial dos fados tradicionais portugueses.
Obteve visível popularidade nas rádios portuguesas, principalmente na Emissora Nacional, onde o disco foi catalogado com o nº 5274, e foi reeditado em cassete, na compilação “Isabel de Oliveira – O Xaile de Minha Mãe” de 1982, relançado em CD no ano de 2001.




José Ramos Belo Costa Marques du Boutac
(Leiria, 25 de janeiro de 1898 — Sobral de Monte Agraço, 27 de março de 1987
foi um violoncelista, compositor e orquestrador português.
Em 2013, a família de Belo Marques doou o seu espólio ao Arquivo Distrital de Leiria.
Pequena biografia do autor:
José Belo Marques
Nascido na região de Batalha, em 25 de Janeiro de 1898, iniciou em
Leiria os seus estudos musicais aos nove anos de idade, com o
Prof. Joaquim Silva, aprendendo a lidação de vários instrumentos,
e participando em vários agrupamentos musicais, prosseguindo-os
em Lisboa. E era já considerado "menino prodígio" por dominar já
vários instrumentos aos treze anos, após quatro anos de estudo,
dado a que não teve uma formação musical convencional.
Aos 16 anos, Belo Marques foi contratado para o Casino Mondego,
na Figueira da Foz, onde conheceu o violoncelista João Passos, que
virá a ser o seu mentor na escolha desse instrumento.
Tornou-se músico profissional em 1918, dedicando-se à actuação em
paquetes que se dirigiam à América do Sul, percorrendo vários países
da Europa e da América, e aprofundando os seus conhecimentos
musicais.
Em 1924, regressou a Portugal para cumprir o serviço militar. Em 1926, foi para Santarém, onde fundou e dirigiu o Orfeão Scalabitano. Em 1929, viajou até às Ilhas Adjacentes dos Açores e da Madeira, dirigindo em Funchal uma orquestra privativa de 35 elementos, à qual imprimiu um estilo de grande qualidade, e que durou até ao final da sua carreira.
Regressa a Lisboa para fazer parte da Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro de São Carlos, dirigida por Pedro Blanch, e da Orquestra Sinfónica de Lisboa, dirigida por David de Sousa, e entre 1932 e 1935, começa a trabalhar regularmente no Casino Estoril. Em 1935, ingressou nos quadros da Emissora Nacional, onde permaneceu três anos como 1º violoncelista da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por Pedro de Freitas Branco.
Durante a sua estadia na estação oficial, com um salário bastante reduzido, e considerado pelo próprio como "Mesquinho", Belo Marques orientou o quarteto vocal de Motta Pereira, Paulo Amorim, Guilherme Kjolner e Fernando Pereira, fundando também a Orquestra de Salão, e remodelando a Orquestra Típica Portuguesa, à altura dirigida por Raul de Campos.
Em 1938, abandona a Emissora Nacional para desempenhar o cargo de Director do Rádio Clube de Moçambique, onde fundou o seu Coro Feminino e as suas Orquestras Típica e de Salão.
Durante a sua estada em Moçambique, estudou profundamente o folclore indígena, faz uma recolha etno-musicológica da região de Tonga e Machangane, das terras de Zavala e Inharrime, do qual resultou o livro Música Negra. Estudos do Folclore Tonga, editado pela Agência Geral das Colónias, em 1943
Os ritmos e melodias por si recolhidos foram reunidos numa obra em seis andamentos, Fantasia Negra, uma fantasia sinfónica para coro e orquestra, que viria a estrear em 19 de Outubro de 1944, no Teatro de São Carlos, com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida por si.
Regressou à Emissora Nacional, em 1941, onde se dedica totalmente à canção popular e ligeira, somente por motivos económico-financeiros, regressando à Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional como violoncelista e regente de ensaios, sendo responsável pela criação de 4 orquestras novas na estação pública: a Orquestra Ligeira, dirigida por Fernando de Carvalho e Tavares Belo, a Orquestra de Variedades, dirigida por António Melo e Fernando de Carvalho, a Orquestra Típica Portuguesa, refundada sob a sua direcção, e a Orquestra de Salão, em parceria com René Bohet, entre 1942 e 1945, e depois como titular entre 1948 e 1954.
Na Emissora Nacional, criou o Centro de Preparação de Artistas, que contribuiu para o lançamento de novas estrelas da rádio como os cançonetistas Francisco José, Júlia Barroso, Tony de Matos, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias e Maria de Fátima Bravo, entre outros
No Festival da Canção Latina, foi representar Portugal com Maria de Lourdes Resende e Guilherme Kjolner, sendo-lhes concedidos os dois primeiros prémios.
Dirigiu durante as décadas de 40 e 50, em simultâneo, a Orquestra Típica Portuguesa, até à sua extinção em 1954, por ordem da direcção da Emissora, a Orquestra de Salão da Emissora Nacional e o Coro Feminino da Emissora Nacional.
Com a extinção das mesmas, Belo Marques reformula a sua orquestra privativa de estúdio, e com os elementos da Orquestra Típica Portuguesa, viria a fundar a sua orquestra típica, e ambas ficariam em constante actividade, gravando muitos discos até 1960.
Em 1956, viria a ser um dos ajudantes na fundação da Orquestra Típica e Coral de Alcobaça, que teria uma projecção e popularidade surpreendentes na década de 60 do Séc. XX, quando foi dirigida por Alves Coelho Filho.
Em 1958, foi demitido da Emissora Nacional, em virtude de ter votado no General Humberto Delgado, e retirou-se na década de 1960, com o relançamento em 78 rotações das gravações oficiais do "Fandango da Suite Alentejana" de Luís de Freitas Branco, e da "Rapsódia Alentejana" de Sousa Morais.
Com a chegada do 25 de Abril de 1974, de imediato, Belo Marques escreveu uma carta à estação oficial para poderem ver o que podiam fazer sobre a sua situação e a sua obra na estação, que resultou na nomeação imediata como Consultor de Programas Musicais, com um ordenado vitalício fixo de 11.500 escudos, e que Belo Marques exerceu com muito empenho até 1981, quando foi reformado compulsivamente para receber uma pensão de 5 mil escudos.
Foi precisamente em 1981 que Belo Marques foi homenageado por Raul Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia no 1º programa da série "E o Resto São Cantigas", sendo nomeado como director dos programas da nova televisão de Moçambique.
Faleceu em 1987, na sua casa em Sobral do Monte Agraço.
Obra Musical:
Em 1913, Belo Marques providencia a sua primeira composição, «Águas Correntes», com poema de Couceiro da Costa.
O seu currículo musical, entregue pelo próprio à Emissora Nacional, é constituído por 18 peças de Música Sinfónica, 600 partituras de arranjos e orquestrações diversas do Folclore Português, e 700 canções.
No espólio de Música Sinfónica, encontram-se peças como "Canção de Um Dia", "Concerto de Violino e Orquestra", e a ópera "O Moinho do Diabo".
Em 1938, Belo Marques escreveu a banda sonora do filme Rosa do Adro, de Chianca de Garcia, compondo também a música da revista Rosmaninho, de Silva Tavares e Mário Marques. A canção A Minha Aldeia, incluída nesta peça, e interpretada pela voz de Maria Helena Matos. Este tema constituiu o seu primeiro sucesso comercial, registado em disco no ano de 1954, pela sua Orquestra privativa, e cantado por Anita Guerreiro, com a guitarra de Casimiro Ramos e a viola de Miguel Ramos. Ambos com muito sucesso.
Em 1940, compôs a "Marcha Triunfal a Mousinho", nas festas dedicadas a Mouzinho de Albuquerque, no Teatro Gil Vicente, em Lourenço Marques (actual Maputo), um evento que viria a reunir os vários orfeões participantes - o orfeão do Instituto Portugal, Escola Chinesa, Escola de Artes e Ofícios da Moamba e o grupo coral Indo-Português, compondo em simultâneo a "Marcha à Mocidade Portuguesa de Inhambane".
Em 1941, compôs o poema sinfónico "Bartolomeu Dias" e a fantasia "Masseça", fantasia composta "sobre motivos indígenas”, tendo como base a canção que é cantada em tôda a região de Masseça com a mesma popularidade do «Vira» em Portugal. Ambas as peças foram incluídas na sua "Fantasia Negra", fantasia em seis andamentos, onde o próprio conseguiu, com muita dificuldade, executar a técnica da Escala Nicrocromática do Quarto de Tom, recolhido pelo próprio em Moçambique, durante as suas investigações em Zavala, e aprovado por um Congresso Internacional em Viena de Áustria.
Em 1943, compôs para a Orquestra Típica Portuguesa uma das suas obras mais bem-sucedidas em originalidade e autenticidade, a "Valsa Portuguesa", que foi composta sobre motivos populares portugueses, à semelhança do processo de composição da fantasia "Masseça".
O curioso é que, durante muito tempo, as suas obras não tinham direito à protecção de direitos de autor, ou seja, Belo Marques não recebia nada por elas. E graças à estreia da "Fantasia Negra", António Ferro tinha determinado que Belo Marques não receberia os 14.000$00 que lhe estavam destinados. Motivo que foi o principal para Belo Marques enveredar na música ligeira, que considerava como "música fácil", "obra inferior", "melodia acompanhada com efeitos harmónicos espampanantes", ou "música de ocasião". Opinião partilhada por Fernando Lopes-Graça, um dos reconhecedores do talento do compositor.
A sua composição mais conhecida, Alcobaça, com letra de João Silva Tavares, criação de Cidália Meireles e interpretação de Maria de Lourdes Resende, data dos finais dos anos 40 e inícios dos anos 50. E como costumava afirmar em várias entrevistas, o sucesso da canção pagou-lhe a casa que construiu em Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço.
A mesma Maria de Lourdes viria a consagrar também Feia, outro sucesso comercial saído da pena de Belo Marques, que muitos criticaram pelo facto de a mesma não se adequar ao perfil da cançonetista.
Uma das canções mais importantes de Belo Marques é "Sabe-se Lá", cantada por Manuel Fernandes, em que o autor emocionava-se sempre que a executava ou a escutava, não conseguindo conter as lágrimas.
Grande parte dos seus êxitos foram registados em disco a partir de 1951, nas marcas das editoras "Ibéria" e "Estoril", através de vários intérpretes e orquestras, entre eles a Orquestra Típica Portuguesa, Maria de Lourdes Resende, Tristão da Silva, Francisco José, Maria Fernanda Soares, a Orquestra Típica de Belo Marques, a Orquestra Ibéria, a Orquestra Típica Estoril, a Orquestra Típica da Ibéria, a Orquestra privativa do compositor, etc.
Todo esse legado viria a ser reeditado, em grande parte, em CDs editados pela Fundação Manuel Simões, através da Discoteca Amália, com a marca "Estoril", e que hoje são muito raros de se encontrar no mercado.
No final da sua vida, compôs "Joaninha dos Olhos Verdes", uma ópera inspirada na figura criada por Garrett, e que estava para ser estreada no Teatro de São Carlos,
Distinções:
Entre as distinções que lhe foram conferidas, contam-se as seguintes:
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Regente honoris causa da Escola de Música do Conservatório Nacional;
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Primeiro prémio do Festival Internacional Latino, de Paris (1938);
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Segundo prémio do Concurso Internacional da Canção Latina, de Veneza (1955)
Fonte de informação:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.