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Fado Carlos da Maia 5ª

O Aprendiz
Letra:             Adriano Reis
Música:          Carlos da Maia
Intérprete:      Maria Alice
 

 ​

Levado ao peso da carga

Passa o garoto ligeiro

Trazendo o luto na manga

Do seu fatito de ganga

Aprendiz de serralheiro

Sempre na sua rotina

Dá-lhe a zanga certa graça

A pensar na sua sina

Quando vai para a oficina

Parece um homem que passa

Chega a trazer a sangrar

O calo das suas mãos

Comove-me o seu olhar

Tão novinho a trabalhar

Para ajudar  seus irmãos

E sem que tenha outro bem

Arrastando a vida vai

Fez-lhe muita falta a mãe

O maior calvário tem

Desde que ficou sem pai

 

Em nenhum dia há desesperança

Nas horas da sua lida

Ai  de quem sem ter esperança

Começa desde criança

A ter que lutar pela vida

Fado Carlos da Maia 5ª

Por vezes grafado como Carlos da Maia, o autor usava habitualmente o pseudónimo de Manuel Lencastre e era irmão do oficial da Armada José Carlos da Maia (1878 - 1921) que foi um conhecido conspirador no tempo da Monarquia. Herói da revolução republicana de 5 de Outubro, foi assassinado, com Machado dos Santos e António Granjo, pelo grupo anarquista dito do "Dente de Ouro" (de seu nome Abel Olímpio) durante a revolução de 19 de Outubro de 1921.

Existem três Fados com o mesmo nome, um em quadras, outro em quintilhas e o outro em sextilhas.

Esta gravação data de 1936 e pertence ao 22º disco de 78 R.P.M. editado pela "Columbia", marca "Valentim de Carvalho", em que a cantadeira Maria Alice, acompanhada à guitarra e à viola, interpreta este fado tradicional, de seu nome "O Aprendiz", fado da autoria de Adriano Reis e Carlos da Maia. Este fado explica a história de um menino que é aprendiz de serralheiro e tem uma vida de trabalho um bocadão miserável. Este disco, além dos outros gravados por Maria Alice, quer em 1929 pela "Brunswick", quer em 1936 pela "Columbia", era um dos mais ouvidos na rádio, quer na CT1AA, quer na Emissora Nacional, quer no Radio Clube Português, quer nas rádios locais de Lisboa, numa época em que às 10 horas da manhã, com críticas dos jornais, ouviam-se "duches" de fados desta artista. Esta gravação foi editada pela primeira vez em vinil na Banda 2 da Face A do disco LP de 33 R.P.M. "Maria Alice - Fados dos Anos 20 e 30", editado pela "EMI-Valentim de Carvalho", em 1977, disco de onde foi retirado o registo que estamos a ouvir.

Pequena biografia da intérprete:

​                                                                                                                                                 Maria Alice

(01 de setembro de 1904 - 13 de fevereiro de 1996)

Glória Mendes adotou o nome artístico Maria Alice, e nasceu em Paião, em 1 de

setembro de 1904, embora gostasse de dizer que era de Figueira da Foz.

Na verdade, seus pais sempre viveram naquela cidade e se mudaram pouco antes

da criança nascer.

Filha de José Leal e Maria José Mendes, a pequena Glória não foi registrada com o

sobrenome do pai, o que lhe causou muita dor e a fez "adotar" o sobrenome Leal em

suas assinaturas comuns.

Ela se muda aos 14 anos e vem para Lisboa com o homem que seria pai de seus

dois filhos (António, 1921 e Graciete, 1923), o advogado Bernardino Morais.

Pelas mãos de Adelina Fernandes, e com Maria do Carmo como madrinha, Glória entra na cena do fado. Será Adelina quem um dia, em 1928, a levará ao Ferro de Engomar, e Glória, que já cantou com alegria em casa, tenta fazê-lo em público, sendo muito bem sucedida.
 

Ela então adotou o nome artístico Maria Alice e sempre teve ofertas de trabalho como cantora, tanto em Portugal, quanto no Brasil – onde foi duas vezes, uma vez durante cinco meses e se tornando incrivelmente bem sucedida.

Cantou nas casas Ferro de Engomar (onde estreou em 1928), Charquinho, Caliça e Pedralvas, em diversos eventos beneficentes e em touradas. Em 1931 cantou na opereta "História do Fado", de Avelino de Sousa. Ela se apresentou com Leonor Fialho no Coliseu de Coimbra, no dia 4 de outubro de 1931, um domingo, acompanhada por Armandinho e José Marques.

Em 1932, ela recebeu o título de "Melhor Cantora (que coincidentemente se chamava Maria Alice...) em uma competição no Rio de Janeiro.

Em 1934 viajou para o Brasil com o elenco da Companhia de José Loureiro, juntamente com Estevão Amarante, Adelina Abranches, Maria Sampaio e Lina Demoel, além do cantor Manuel Cascais, do guitarrista português Casimiro Ramos e do guitarrista espanhol Armando Silva.

Em 1943 formou um grupo artístico, Troupe Music-Hall,juntamente com Rui Metelo, Octávio Bramão, Mário Fernandes e Dora Vieira, com o qual se apresentou várias vezes; no mesmo ano, o grupo embarcou no navio Quanza para a África Portuguesa. (Cf. Canção do Sul, 16 de agosto de 1943) Certa vez, no Rio de Janeiro, junto com Berta Cardoso e Ercília Costa, ela participou de uma competição pelo "Sorriso Mais Bonito", votada pelo público e ganhou o primeiro prêmio. Podemos dizer que ela conquistou a glória na cena artística portuguesa.

Conheceu Valentim de Carvalho, com quem se casou na década de 1940. Ela então adotou o sobrenome do marido e se aposentou completamente da vida fado, vivendo apenas para sua família, em sua casa em Restelo. Quando o marido morreu, mudou-se para o Hotel Internacional, onde ficou por vários anos. Ela passou seus últimos anos, um pouco mais difícil e dependente, na Casa Orquídea Vermelha, na paróquia de Lumiar.

Para perpetuar a memória da cantadeira de fado, a Câmara Municipal de Lisboa deu seu nome a uma rua de Lisboa, localizada no Bairro da Cruz Vermelha. Ela morreu aos 92 anos, em 13 de fevereiro de 1996.

Armando Neves escreveu a letra que cantou em "Fado Margarida":

"Tanto na vida já tenho cantado

o fado que o destino me predice

que o povo português que adora o Fado

me chama com razão Maria Alice.

 

Este nome é a Estrela do meu norte:

Maria Alice sou p'ra toda a gente,

Maria para a vida e para a morte

Alice para o Fado eternamente.

 

Maria Alice é um nome que, afinal,

contém, não sei que mágica beleza!

Maria da tristeza em Portugal,

Alice da saudade portuguesa.

 

Maria Alice canta, ri e chora

o fado tão antigo e sempre novo;

e se o povo a Maria Alice adora

também Maria Alice adora o povo !»

 

Fontes de informação:

Cf. João Brás, em Canção do Sul, 16 de fevereiro de 1936;

"Canção do Sul", Canção do Sul, 16 de agosto de 1943;

Sucena, Eduardo (1992) "Lisboa o Fado e os Fadistas", Lisboa, Vega.

Maria Alice - Museu do Fado

 

 

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