top of page
Fado Manganine
(ou Manganito)

Fado do 112

Letra:                 Júlio Pomar

Música:              Armandinho

Intérprete:          Carlos do Carmo

 

 

 

Sem capricho ou presunção
Nesta torre de papel
Deita sete olhares de mel
Em metade dum limão

Na noite mais traiçoeira

Ruím, medonha, brutal
Descontada a pasmaceira

Do inferno do normal

Se me vires a cara séria

Juíz togado ou em fralda
A julgar faltas á balda

Num tribunal multimédia

E tomado o pensamento

Por rombo, machado ou moca
Pego no laser da moda

Dou-te o meu assentimento

Se me vires por fraqueza

Por perfídia ou aflição
Mergulhado na tristeza

Com que se mói a razão

E servi-la á sobremesa

Das ceias da frustração
Assentado na baixeza

O programa da nação

Por favor, peço-te só

Não te demores, vem logo
Traz gasolina, põe fogo

Meu amor não tenhas dó

Intérprete:   Carlos do Carmo

Título:         Fado do 112

 

Autor da Letra:        Júlio Pomar
Autor da Música:     Armandinho

Guitarra Portuguesa:    José Manuel Neto

Viola de Fado:              Carlos Manuel Proença

Viola-baixo:                  Marino de Freitas

 

 

 

            Divagando

Esta gravação data de 1946 e pertence à Face A do disco de 78 R.P.M. editado pela “His Master’s Voice”, etiqueta “Valentim de Carvalho”, em que o guitarrista Armando Augusto Freire, conhecido por tudo e por todos como “Armandinho”, com a sua guitarra e a viola de Santos Moreira, interpreta este tema musical da sua autoria. Este é o número musical “Divagando”, uma guitarrada em variações interpretada por Armandinho, e que alcançou muita popularidade na época, tendo sido uma das últimas guitarradas que Armandinho gravou em disco meses antes do seu falecimento. Esta guitarrada foi uma das mais populares da carreira de Armandinho, e uma das mais transmitidas na Emissora Nacional durante a década de 40 e 50 do Século XX, principalmente nos programas de guitarradas da estação oficial. Os puristas do fado vieram a incluir esta composição na lista oficial dos fados tradicionais, rebaptizando-o com o nome "Fado Manganine", e também com o nome de "Fado Manganito", sendo imediatamente escritas poesias em quadras para esta composição, tendo alcançado popularidade o "Fado 112" de Carlos do Carmo, com versos de Júlio Pomar. Este registo foi retirado do disco original que estava inserido na Discoteca da Emissora Nacional, catalogado com a cota “A 484”, e que foi recentemente disponibilizado no Arquivo Sonoro Digital do Museu do Fado.

Outras versões do mesmo Fado

Foi Tudo Amor
00:00 / 02:16

Intérprete: Tina Santos

Letra: Alice Maria

Voltei a Teu Lado
00:00 / 02:11

Intérprete: Alice Maria

Letra: Alice Maria

Fado Manganine (ou Manganito)                                                                                                                                           

Pequena biografia do autor:                                                          
                                                                                                                                                Armandinho

 

Armando Augusto Salgado Freire, nasceu em Lisboa em 1891, no Pátio dos

Quintalinhos, ali às Escolas Gerais, bem junto do Bairro de Alfama, tendo vivido

bem de perto os anos da grande popularização do Fado. Faleceu também em Lisboa,

em 1947.Desde criança, que se dedicou à Guitarra Portuguesa e, com apenas       

14 anos, estreou-se numa casa típica na Madragoa, tendo sido discípulo de Petrolino,

alcunha pela qual ficou conhecido o guitarrista setubalense Luís Carlos Silva

( 1859 - 1933 ).
Em termos de executantes da guitarra foi de estilo individual e de trinado perfeito,

tendo sido grande influenciador do estilo outros grandes mestres como Raul Nery,

José Nunes e Jaime Santos.
Armandinho, deixou um imensa obra de Fados Tradicionais: Alexandrino Antigo, do Armandinho ( exemplo

em apreço ), do Estoril, do Penim, e Novo; Alice, da Adiça, de S . Romão, de S. Miguel, de Sintra, Fernandinha, Fontalvo, Formosa, Maggiogly, Manganine, Mayer, entre outros!
Destas lindas melodias, nasceram das mãos dos grandes mestres da Guitarra Portuguesa, dezenas de outros fados e variações.
Realizou várias digressões, nomeadamente aos Açores, Madeira, Angola, Moçambique, Brasil e Argentina.
Foi enorme a sua contribuição ao Fado e à Guitarra Portuguesa, de tal forma que apesar de tardiamente

(1999 ), a Câmara Municipal de Lisboa, atribuiu o seu nome, à Via 2 à Rua do Vale Formoso de Cima, na Zona Oriental da Cidade, o seguinte topónimo: Rua Armandinho, Guitarrista.

                                                                                                                  
Com o pai aprende a tocar bandolim mas, aos dez anos, começa a interessar-se pela guitarra portuguesa e quatro anos depois, em 1905 faz a sua primeira actuação em público, no Teatro das Trinas, iniciando desta
forma a sua carreira como instrumentista, profissão onde ficará conhecido pelo nome de Armandinho.
A sua carreira é impulsionada quando, em 1914, conhece o mais famoso guitarrista da época - Luís Carlos da
Silva, conhecido por Luís Petrolino, e se torna seu discípulo. Ainda assim, manterá diversas profissões seja
como meio-oficial de sapateiro, moço de bordo, operário da Companhia Nacional de Fósforos, servente do
Casão Militar ou fiscal do Mercado da Ribeira.
Armandinho, apresentou-se pela primeira vez em público em 1905, com apenas 14 anos, no velho Teatro das
Trinas, na Madragoa. Mas a sua estreia como guitarrista profissional tem lugar no Olímpia Club, situado na
Rua dos Condes, acompanhado à viola por João da Mata Gonçalves.
Em 1925 acompanha cantadores e cantadeiras no Solar da Alegria, local de culto dos amantes do Fado que,
amiúde, ali se deslocam para se deliciarem com as "improvisações" de Armandinho ou para ouvi-lo
interpretar as composições do seu Mestre, Luís Petrolino.
Em 1926 faz a primeira gravação em Portugal em microfone de bobine eléctrica móvel. Grava seis
composições, acompanhado na viola por Georgino de Sousa, para a His Master’s Voice, que em Portugal é
financiada e vendida pela Valentim de Carvalho.
Dois anos depois, em 1928, também acompanhado por Georgino de Sousa, Armandinho grava em duas
sessões no Teatro S. Luís, um conjunto de Fados, variações em tons diferentes uma marcha, mais uma vez
editados no formato de 78 rpm. Estas faixas serão reeditadas em CD pela editora Heritage, em 1994.
Armandinho foi dos primeiros a realizar digressões artísticas fora do continente português. Em 1922 anuncia
a sua ida a Espanha e a Inglaterra com João da Mata Gonçalves (cf. "Guitarra de Portugal", 4 de Novembro
de 1922). Entre 1932 e 1933 desloca-se em tournée pelas Ilhas portuguesas, por Angola e Moçambique,
acompanhado pelo mesmo violista e por Martinho d'Assunção, Ercília Costa, Berta Cardoso e Madalena de
Melo. Sobre as suas tournées, relata o próprio em 1936, na publicação "Azes do Fado": "Constituímos um pequeno grupo, que foi muito bem acolhido: Ercília Costa, João da Mata, Martinho de Assunção e eu. Mais

tarde, animados pelo êxito deste primeiro voo, organizámos uma «tournée» à África (...). Percorremos as

Costas Ocidental e Oriental. (...). A terceira «tournée» em que entrei, porventura a mais importante, já pelo número de artistas, já pelo reportório, foi ao Brasil, Argentina e Uruguai. Era a Embaixada do Fado, embaixada luzidia em que figuravam, além da minha humilde pessoa, Maria do Carmo, Maria do Carmo Torres, Lina Duval, Branca Saldanha, José dos Santos Moreira, Alberto Reis, Felipe Pinto, Joaquim Pimentel e Eugénio Salvador." Nesta última digressão Lina Duval e Eugénio Salvador apresentavam coreografias.
Músico autodidacta, toca de ouvido e, para além de um excelente executante, é também compositor de
grandes melodias. Autor de muitos Fados e variações que sobrevivem até aos dias de hoje criou temas que se tornaram "clássicos", casos de "Fado Armandinho", "Fado de S. Miguel", "Fado do Cívico", "Fado do 39
Bacalhau", "Fado Mayer", "Fado do Ciúme", "Fado Estoril", "Variações em Ré Menor", "Variações em Ré
Maior", "Ciganita", "Fado Fontalva", "Fado Conde da Anadia", entre muitos outros.
O guitarrista afirma que a sua primeira composição foi o "Fado Armandinho" e, para o teatro, foi o "Fado do
Cívico", cantada por Estêvão Amarante na revista "Torre de Babel", levada à cena no Teatro Apolo em 1917.
Depois, também para teatro, compôs o "Fado do Bacalhau", interpretado por José Bacalhau a que se
seguiram numerosas colaborações.
São inúmeras as vozes fadistas que acompanhou quer em actuações em espectáculos e casas de fado quer em gravações discográficas, a título de exemplo salientamos: Alberto Costa, Maria Vitória, Ângela Pinto,
Adelina Ramos, Berta Cardoso, Madalena de Melo ou Ercília Costa, entre muitos outros.
Armandinho actuou nas mais emblemáticas casa de Fado de Lisboa, e, em 1930, tornou-se empresário,
quando abriu o seu próprio espaço no Parque Mayer, o Salão Artístico de Fados, onde actuou durante alguns
anos, mas depressa tomou consciência de que teria de se repartir por digressões e espectáculos pelo que
abandonou este projecto.
Actuou ainda, em inúmeras casas particulares, especialmente nas casas da fidalguia como, por exemplo, nas

da Família Burnay, Fontalva e Castelo Melhor.
Para além de João da Mata, Georgino de Sousa ou Martinho d'Assunção, outros grandes violistas tocaram
com ele, entre os quais se destacam Abel Negrão, Fernando Reis, Santos Moreira ou Pais da Silva.​
As suas interpretações são suaves e subtis, incluem pianinhos que retirava da guitarra tocando com as suas
próprias unhas e, para determinados efeitos tímbricos, recurso à surdina. Armandinho revelou-se um marco
na execução da guitarra portuguesa, criando "escola" onde se filiaram outros grandes nomes como José
Marques Piscalareta, Carvalhinho, José Nunes, Jaime Santos, Raul Nery ou Fontes Rocha, entre outros.
O guitarrista exibia uma técnica adaptada aos fadistas que acompanhava, criando uma espécie de diálogo que evidenciava as particularidades interpretativas dos cantadores e que lhe permitia assumir uma posição de igualdade com os fadistas e não a subalternização dos guitarristas muito vulgarizada nas primeiras décadas do século XX. As suas interpretações tinham tal força que inspiraram ao poeta Silva Tavares as seguintes quadras:

 

“A guitarra - alma da raça,
Amante do meu carinho,
Tem mais perfume e desgraça
Nas mãos do nosso Armandinho.
 

Benditos os dedos seus
Que arrancam assim gemidos
Tal como se a voz de Deus
Falasse aos nossos ouvidos.”

 

Armandinho faleceu a 21 de Dezembro de 1946 na sua casa situada na Travessa das Flores, em Lisboa,
deixando o Fado de luto como escreveu na sua capa o jornal "Guitarra de Portugal" de 1 de Janeiro de 1947.
Deixou viúva e um filho, também guitarrista: Armindo Freire.
Foi um dos membros fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses em 1927.
Desta forma assumiu-se como responsável pela recolha de muitas melodias de Fado e pelo registo dos seus
autores naquela sociedade, facto que nos permite o conhecimento actual de muitas destas melodias.
A Câmara Municipal de Lisboa, através de Edital de 01/08/2005, atribuiu o nome de Armandinho a um
arruamento da Freguesia de Marvila.

Fontes de Informação:

“Guitarra de Portugal”, 4 de Novembro de 1922;
“Guitarra de Portugal”, 12 de Junho de 1931;
“Guitarra de Portugal”, 31 de Julho de 1933;
“Guitarra de Portugal”, 1 de Janeiro de 1947;
Cabral, Pedro Caldeira (1999), "A Guitarra Portuguesa", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube;
Guinot, Maria, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório (1999) "Histórias do Fado", Col. "Um Século de
Fado", Lisboa, Ediclube;
Rodrigues, Mário (1936), "Armandinho: sua vida - sua história", in "Azes do Fado", Ano I, nº 2, 15 de
Fevereiro;
Sucena, Eduardo (1992), "Lisboa, o Fado e os Fadistas", Lisboa, Vega.
CD "Arquivos do Fado Vol. IV - Armandinho (As sessões HMV 1928-1929) ", Ed. Heritage, 1994.

Última actualização: Fevereiro/2008

Armandinho
guitarra.jpg
guitarra.jpg

Todos os Fados do Site

Todos os Fados do Site

Início

Início

bottom of page