

Fados Tradicionais


Fado Magala
Quadras Soltas
Letra: (não referido no registo)
Música: José Carlos Gomes
Intérprete: Fernanda Maria
Sabendo que em tua ausência
Trazer algo a que conforta
No momento em que saíste
A saudade entrou-me a porta (bis)
Não te sigo, para que voltar
Aos tempos que já lá vão
É pelo prazer de pisar
A tua sombra no chão (bis)
Sobre uma coisa eu jurei
Nunca mais para ti olhar
E cumpri meu juramento
Porque ceguei a chorar (bis)
Se eu de saudades Morrer
Apalpa o meu coração
Talvez eu torne a viver
Ao calor da tua mão (bis)
Intérprete: Fernanda Maria
Título: Quadras Soltas
Autor da Letra: (não referido no registo)
Autor da Música: José Carlos Gomes
Guitarra Portuguesa: Conjunto de Guitarras
"Lisboa à Noite"
Data da 1ª edição: 1975
Editora: "Rádio Triunfo"
Ref. Alvorada LP S 0460

Fado Magala
Composto por José Carlos Gomes
Este Fado foi composto em parceria com o seu irmão Acácio Gomes. Aparece por vezes grafado como Artur Magala, desconhecendo-se a razão. Na verdade, não encontrei, até hoje, nenhum personagem ligado ao Fado com este nome ou, quem sabe, com esta alcunha. Há ainda quem atribua este Fado a Raul Portela.
Pequena biografia da intérprete:
Fernanda Maria
Maria Fernanda Carvalheira dos Santos nasceu na freguesia do Socorro, Hospital de
S. José em 06 de Fevereiro de 1937. O seu pai era tipógrafo e cantava muito bem o
Fado, e segundo Fernanda Maria deverá ter sido com ele que apanhou o compasso e
o gosto pelo Fado.
Desde muito nova, 12/13 anos, empregou-se a servir à mesa, na "Adega Patrício", de
que era proprietária a fadista Lina Maria Alves. Mais tarde passou para o restaurante
de Argentina Santos, a "Parreirinha de Alfama", e foi ali, naquele espaço tão especial,
que surgiu uma das maiores intérpretes do género, símbolo do mais puro estilo fadista.
Fernanda Maria começa a sentir o apelo de cantar e incentivada pelos frequentadores
das casas onde servia à mesa, descobre a sua vocação. Impulsionada por Alfredo
Lopes inicia os testes para a Emissora Nacional e feitas as devidas provas estreia-se
no Serão para Trabalhadores, emitido a partir da Voz do Operário. Em 1957 tira a carteira profissional e para além dos programas na Emissora Nacional passa a participar em variados espectáculos como o "Passatempo APA" no Cinema Éden, "Do Céu Caiu uma Estrela" no Òdeon, e o "Comboio das 6h30" no Capitólio. Uns dos momentos que Fernanda Maria recorda com mais saudade são os espectáculos de variedades realizados no Pavilhão dos Desportos e no Coliseu dos Recreios.
Por motivos de vida familiar recusou muitos convites ao estrangeiro, mantendo as suas actuações assíduas nas casas de Fado "A Severa", "Toca", "Nau Catrineta" e "Viela" até se fixar no seu próprio espaço, a casa típica "Lisboa à Noite", que abriu em 1964, e deixou após o falecimento do seu marido, Romão Martins. Passaram por este espaço grandes nomes do género, Manuel de Almeida, Manuel Fernandes, Tristão da Silva, Alice Maria, Maria da Fé, Cidália Moreira, entre outros.
A primeira gravação de disco deu-se quando actuava na "A Severa" e mais tarde gravou também pelas editoras Valentim de Carvalho e Alvorada. A convite do empresário José Miguel, Fernanda Maria integra o elenco da revista "Acerta o Passo" (1964) junto de Ivone Silva, contudo foi uma breve passagem, já que a fadista não se fascina por esta arte e pelos grandes palcos.
Foi acompanhada por grandes instrumentistas: Pais da Silva, Acácio Rocha, Jaime Santos, Carvalhinho, Martinho D´Assunção, Raul Nery, Fontes Rocha, Joel Pina.
Fernanda Maria, voz carismática e peculiar, tem como principais referências Argentina Santos e Maria Teresa de Noronha, pelas quais nutre um enorme respeito e admiração. Do seu vasto repertório fazem parte versos de grandes poetas, casos de: Linhares Barbosa, Nelson de Barros, Frederico de Brito, João Dias e Carlos Conde, dos quais resultaram grandes sucessos tais como "Não passes com ela à minha rua", de Carlos Conde, e "Zanguei-me com o meu amor" de Linhares de Barbosa.
Símbolo máximo do Fado castiço, Fernanda Maria é distinguida em 1963 com o Prémio da Imprensa, na categoria Fado e em 2006 com o Prémio Amália Rodrigues Carreira Feminina.
Fontes de informação:
Museu do Fado - Entrevista realizada a 14 de Novembro/2006.
Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado" Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.
Última actualização: Dezembro/2007
OBS: É frequente encontrarmos nos registos de Fernanda Maria, a expressão "Conjunto de Guitarras Lisboa à Noite". Esta casa de Fados teve quase sempre, no seu elenco artístico, músicos de eleição; Martinho d' Assunção, Jaime Santos, Francisco Carvalhinho e tantos outros. Por isso, a referência "Conjunto de Guitarras Lisboa à Noite" não nos dá, de imediato, a composição desse mesmo "Conjunto...". Acaba por se identificar os músicos (já que os estilos de cada um são de fácil identificação para um ouvinte mais atento). Sé que um disco, na minha opinião, não deve apenas ser dirigido aos entendidos. Se as editoras não se precaverem, daqui a 30 anos - quando já forem muito poucas as testemunhas capazes de identificar, assim de repente, "quem toca o quê quem escreveu o quê ou quem cantou o quê - será cada vez mais difícil escrever sobre Fado com o mínimo de rigor. Bom seria que, para além da identificação completa de quem canta, de quem toca, de quem escreve, de quem compõe, figurassem nos diversos registos, e já agora, de preferência sem erros, as autorias certas, os músicos certos e, se possível, as datas de gravação, de edição, de mistura e masterização. Todos estes pormenores seriam igualmente bem-vindos.
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Francisco Salvação Barreto
Letra: Maria da Graça Ferrão
Intérprete: Valéria Carvalho
Letra: José Luís Gordo
Intérprete: Mariza
Letra: Mário Raínho
Intérprete: Berta Cardoso
Letra: Linhares Barbosa
(Existe um documento manuscrito original de um poema de Linhares Barbosa para a música deste Fado que haveria de ser um enorme êxito: "Cinta Vermelha". A censura (lápis azul) daquele tempo ordenou a João Linhares Barbosa que alterasse o título original que, que como se pode verificar, era "Coisas Vermelhas"... curiosidades...)



Este fado, originalmente intitulado "Coisas vermelhas", escrito em 1954 para o repertório de Berta Cardoso, por João Linhares Barbosa, é "Um fado castiço", como o próprio menciona em subtítulo, na página do manuscrito. Cantado no Fado Magala, cuja autoria se atribui a José Carlos "Magala" e a seu irmão, o guitarrista Acácio Gomes, é mais um dos fados emblemáticos de Berta Cardoso, que outras fadistas têm interpretado também, retirando-lhes, é claro,os versos que referem o nome da sua criadora.