

Fados Tradicionais


Fado Mouraria
A Fuga da Mariquinhas
Letra: Torre da Guia
Música: (popular)
Intérprete: Nuno de Aguiar
Depois do tal leilão
A Mariquinhas, com fé
Deu-se d'alma e coração
Ao Porto, e vive na Sé
Com as tralhas no passeio
Sobre a troça das vizinhas
Enervada, a Mariquinhas
Sem medo do devaneio
Zangada tirou do seio
Um antigo medalhão
Saudosa recordação
Que guardava com amor
Seu derradeiro valor
Depois do tal leilão
Não fazendo caso delas
Passou pelo penhorista
E com o dinheiro à vista
Foi à feira de Odivelas
Com a maior das cautelas
Comprar em boa maré
Um *burro* cor de café
E pedindo a Deus mais sorte
Pôs-se a caminho do norte
A Mariquinhas com fé
O *burro* tinha manias
Era teimoso, era torto
Mas lá chegaram ao Porto
Ao cabo de quinze dias
Pondo fim às arrelias
A Mariquinhas, então
Alugou um rés-do-chão
Com o resto do dinheiro
E àquele pardieiro
Deu-se d'alma e coração
Como viu valer a pena
E até gostava do ócio
Tratou de arranjar um sócio
Que é um tal Gil de Vilhena
Que de mão firme e serena
Sabedoria e gajé
Pôs o fado ali de pé
Hoje em dia a Mariquinhas
Deu o cofre e as tabuinhas
Ao Porto, e vive na Sé
Intérprete: Nuno de Aguiar
Título: A Fuga da Mariquinhas
Autor da Letra: Torre da Guia
Autor da Música: (autor desconhecido)
Guitarra Portuguesa: Custódio Castelo
Viola de Fado: Carlos Velez
Viola-baixo: João Adelino Moreira
Data da 1ª edição: 1998
Editora: "Movieplay"
Ref. CD MOV 30. 382

Fado Mouraria
De autor desconhecido, é este Fado que se toca nas e, por vezes, também nos Fados onde aparecem quadras glosadas em décimas. Género muito popular desde o princípio do século vinte, ou até mesmo na última metade do século dezanove, daria origem a vários Fados, como o Mouraria antigo, o Mouraria estilizado, o Fado das Horas e outros. Aqui pode começar uma conversa sem fim à vista, pois parece que a história de não se saber quem é o autor deste Fado pode não ser tão verdadeira assim. Sairia reforçada a posição dos que afirmam que há dois Fados de onde partiu a grande maioria dos que hoje conhecemos: o Fado Menor e o Fado Maior (a que se chama Fado Corrido). Destapo apenas a tampa da panela, por não ser este o lugar mais próprio para entrar em grandes congeminações sobre os segredos bem guardados que o Fado tem. Os objectivos deste trabalho não são de apresentar respostas e soluções para as muitas dúvidas que existem em torno do Fado. As pistas e os caminhos ficam delineados para que quem estiver interessado os possa desenvolver e corrigir, se for o caso. Pensar pode ser, para alguns, uma ginástica incómoda, mas é muito salutar.
Pequena biografia do intérprete:
Nuno de Aguiar
Nasceu na Travessa do Olival à Graça e revelou-nos que desde muito cedo se sentiu
rendido ao mundo do Fado. Na sua vida infância, Concórdio Henriques
(seu verdadeiro nome) trocava de bom agrado os pontapés na bola de futebol para
ouvir e cantar o Fado. O fadista de hoje recorda os momentos em que, as vizinhas
lhe pediam para fazer recados, e com os tostões que lhe davam, descia até ao Vale
de Santo António para, numa tasca pagar um copo de vinho aos guitarristas,
em troca de um Fado. É em pleno bairro de Alfama, no "Retiro" do Sr. Augusto,
que Concórdio canta alguns dos Fados que ouve na Emissora Nacional. Contudo,
estes acontecimentos dão-se sempre à "revelia" dos seus pais.
Uma nota curiosa neste seu percurso é que um dos grandes apreciadores de ouvir
Concórdio a cantar, era o General França Borges, antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que frequentava o "Retiro" do Sr. Augusto e que em troca de uns tostões lhe pedia a interpretação de alguns temas de Fado.
Influenciado pelo pai, mestre em marcenaria de obras de arte, Concórdio aprende o ofício, no Instituto Industrial de Lisboa, mas cedo opta por se dedicar exclusivamente ao Fado e passa a ser solicitado para cantar, ainda que a título amador. Destaca-se então pelo estilo próprio de interpretação que o distingue de tantas outras vozes.
Em 1960 profissionaliza-se após ganhar o concurso "Primavera no Fado", no Coliseu dos Recreios, findo várias eliminatórias no "Salão Luso".
Depois do serviço militar, onde encantou os colegas com as suas interpretações de Fado, é convidado para o "Ritz Clube" (1965): “Um lugar fora do comum” dirá. Neste espaço, o Fado tinha início às 2 horas da manhã e durava até cerca das 7 horas da manhã. Aqui, Concórdio manteve-se por cerca de dois anos, até ao convite do Sr. Barros para integrar o elenco do "Retiro da Severa". Surge então a oportunidade de gravar para a editora "Estúdio", ainda que seja aconselhado a alterar o seu nome próprio - Concórdio para um nome considerado mais artístico e "nasce" Nuno de Aguiar. Praticamente todas as noites, Nuno de Aguiar interpretava o Fado "Bairro Alto", (letra de Carlos Simões Neves e música de Nuno de Aguiar) e que se revelaria um enorme sucesso e que pontua a sua carreira.
Mais tarde, é convidado por Lucília do Carmo para o elenco do "Faia" situado no Bairro Alto, local de contínua aprendizagem e óptimas recordações.
Nuno de Aguiar revela-nos ainda as actuações de sucesso que tiveram lugar no Casino do Funchal.
É neste período que a carreira do fadista conhece contornos internacionais, com incontáveis viagens e concertos um pouco por todo o mundo, com apresentações em cidades que o fadista diz conhecer tão bem como o bairro onde nasceu! Numa dessas deslocações até à América, Nuno de Aguiar acaba por ficar durante 9 anos, em concertos para a comunidade portuguesa e não só.
Passou um longo período numa casa típica em Lourenço Marques (Moçambique), até ao 25 de Abril, altura em que regressa a Lisboa.
Após o regresso inicia um novo circuito pelas casas típicas de Lisboa, salientando-se a inauguração do "Forcado" e o início de uma colaboração assídua com Rodrigo no "Picadeiro", em Cascais.
Torre da Guia é o seu poeta de eleição. Conheceram-se no serviço militar e desde então tem a particularidade de escrever a maior parte das letras que Nuno de Aguiar interpreta.
Celebra os 45 anos de carreira em 2006 assinalados com a edição de um CD, etiqueta Metro- Som: "Meu Disco, Meu Fado", e onde revela a sua faceta de poeta, ao assinar dois dos 14 fados que compõem o CD.
Fontes de informação:
Museu do Fado - Entrevista realizada em 13/18 de Julho de 2006.
http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=356&sep=1
Última actualização: Fevereiro/2008
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: Gonçalo Catelbranco
Letra: Gonçalo Castelbranco
Intérprete: Amália Rodrigues
Letra: Amália Rodrigues
Intérprete: Frei Hermano da Câmara
Letra: Vasco M. da Câmara
Intérprete: Maria Teresa de Noronha
Letra: ?
Intérprete: Alfredo Marceneiro
Letra: Linhares Barbosa



Guitarra: José Nunes
Viola: Francisco Perez
Intérprete: Alfredo Marceneiro
Letra: Carlos Conde



Guitarra: José Nunes
Viola: José Inácio
Baixo: Raúl Silva
Intérprete: Fernando Maurício e Francisco Martinho
Letra: Linhares Barbosa



Guitarra: Paulo Parreira
Viola: João Mário Veiga
Baixo: Armando Figueiredo
Intérprete: Fernando Maurício e Carlos Zel
Letra: Linhares Barbosa