Fados Tradicionais
Fado Estela
Contraste
Letra: Carlos Conde
Música: Joaquim Campos
Intérprete: Frutuoso França
É longo e triste o calvário
De quem com arte e preceito
Gasta a vida a trabalhar
Olha para aquele operário
Que tantas casas tem feito
E sem ter onde morar
E tantas no ano inteiro
Muitas vezes sem ter pão
Sem o calor de uma brasa
Repara nesse mineiro
Que enche o mundo de carvão
E mal tem carvão em casa
Esta sonha a paz fagueira
Numa vida calma e lêda
Por ser pobre e ser bonita
Tens aqui a costureira
Que faz vestidos de seda
E veste saia de chita
Ele há quem ande engatado
Entre varais feito lixo
Lamentando a sorte sua
Ele há tanto desgraçado
A morder o pó do lixo
Que os outros lançam à rua
Neste contraste profundo
Que se vê a cada passo
Onde a crença anda perdida
É que as riquezas do mundo
Caminhando de par a passo
Com as misérias da vida (bis)
Intérprete: Frutuoso França
Título: Contraste
Autor da Letra: Carlos Conde
Autor da Música: Joaquim Campos
Guitarra Portuguesa: António Chainho e
Armindo Fernandes
Viola de Fado: José Maria Nóbrega
Viola-baixo: Pedro Nóbrega
Data da 1ª edição: 1978
Editora: "Rádio Triunfo"
Ref. Alvorada LP S 50 105
Fado Estela
Composto pelo cantador Joaquim Campos (1911 - 1981)
Nome derivado de dedicatória a sua filha Maria Estela.
Na sequência do que foi anteriormente feito para algumas situações, mostrar documentos até hoje não publicados e de relevante interesse histórico é, também, um dos objectivos deste trabalho. Para o campo da Investigação, aqui se reproduz um escrito assinado por um tal E. Garcia:
"INFORMAÇÃO" E. GARCIA" DE 3 DE DEZEMBRO DE 1941"
Os cantadores de Fado, Frutuoso França e Maria do Carmo Torres, foram à Casa Valentim de Carvalho gravar uns discos para propaganda Inglesa. Os versos foram feitos por Norberto Ferreira e os discos seguiram para a BBC de Londres."
Este excerto, de que se mostra apenas este parágrafo, faz parte de um longo relatório feito por um agente da PIDE que, ao que parece, andava muito pelos meios fadistas; o resto do referido documento fala de mais alguns nomes de pessoas ligadas ao Fado.
Pequena biografia do autor:
Joaquim Campos
Joaquim Campos Silva, conhecido apenas por Joaquim Campos era filho de
Joaquim Maria da Silva e de Maria Campos, tendo nascido em Lisboa em 1911.
Aos 12 anos, vivia em Alfama tendo começado a cantar o fado junto da família
e dos amigos.
Aos completar os 16 anos, Joaquim Campos emprega-se como funcionário da
secretaria da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Juntamente com Alberto Costa foi um dos fundadores do Grémio Artístico
Amigos do Fado.
Joaquim Campos fez a sua estreia na “Cervejaria Boémia” no ano de 1927.
Também em 1927 a “Guitarra de Portugal” noticiava: “Cantou numa festa
humanitária realizada a 27 de Setembro de 1927 (Domingo) no recinto da verbena do Orfanato Ferroviário da CP, em favor de "um pobre proletário a quem as vicissitudes da vida atiraram para a desgraça deixando sem amparo uma numerosa prole".
Em Dezembro de 1933 vivia com a cantadeira Rosa Maria.
Participou numa audição de fados no Forte de Monsanto, no dia de Outubro de 1934, «1ª festa que da grande
série que este jornal está empenhado em realizar em estabelecimentos prisionais e hospitalares»,
conjuntamente com Maria Cármen, Rosa Maria, Júlio Proença, Joaquim Seabra, Júlio Correia e António
Sobral (cf. Guitarra de Portugal de 14 de Novembro de 1934)
Joaquim Campos tomou parte da festa de homenagem aos tocadores Júlio Correia (guitarra) e António
Sobral (viola) no dia 4 de Novembro de 1934 levada a cabo por um grupo de sócios do Grémio Recreativo
Amadores do Fado. (cf. “Guitarra de Portugal” de 14 de Novembro de 1934).
Foi também possível vê-lo cantar em festas de beneficência, em retiros e esperas de touros. Participou,
juntamente com Maria do Carmo, Alberto Costa, Júlio Proença e Raul Seia, numa digressão por todo o
Algarve, com grande êxito. A sua projecção e sucesso levam-no ao Coliseu dos Recreios, ao Éden-Teatro,
Maria Vitória, Apolo e aos ambientes da época: “Solar da Alegria”, “Retiro da Severa”, no “Café Luso” e
“Café Mondego”.
Considerado na época como uma das melhores vozes de fado, Joaquim Campos foi também compositor,
com registo para os seguintes temas: “Fado Vitória”, “Fado Tango”, “Fado Rosita”, entre outros.
É de sua autoria a música do fado Povo que Lavas no Rio, com letra de Pedro Homem de Melo, celebrizado
por Amália Rodrigues.
Faleceu em 1981.
Fontes de informação:
“Guitarra de Portugal”, 24 de Setembro de 1927;
“Guitarra de Portugal” de 22 de Dezembro de 1933;
“Guitarra de Portugal” de 14 de Novembro de 1934;
Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves.
Última actualização: Maio/2008