

Fados Tradicionais


Fado Georgino
O Teu Retrato
Letra: João da Mata
Música: Georgino de Sousa
Intérprete: Manuel de Almeida
Dos momentos impiedosos
Que escurecem o deserto
Do meu torturado peito
Há dois que são dolorosos
De manhã, quando desperto
À noite, quando me deito (bis)
É que nesses dois momentos
Tenho à força que te ver
E lembrar o que foi nosso
Revolvo mil pensamentos
E luto p’ra te esquecer
Mas francamente, não posso (bis)
Em frente dos olhos teus
Nesses momentos de dor
Minh’alma é sempre vencida
Como é possível, meu Deus
Um simples retrato impor
A tragédia duma vida (bis)
Nos domínios da loucura
Brilha o fogo numa crença
Que nos persegue veloz
Não há maior desventura
Que sentirmos a presença
De quem está longe de nós (bis)
Intérprete: Manuel de Almeida
Título: O Teu Retrato
Autor da Letra: João da Mata
Autor da Música: Georfino de Sousa
Guitarra Portuguesa: (não referido)
Viola de Fado: (não referido)
Viola-baixo: (não referido)
Data da 1ª edição: 1965
Editora: "Orfeu"
Ref. ATEP 61 41
Outras versões do mesmo Fado
Intérprete: José Maia
Letra: Fernando Peres
Intérprete: Maria Augusta (Bessa)
Letra: Agostinho Mendes
Intérprete: Vicente da Câmara
Letra: Rodrigo de Melo
Intérprete: Teresa Tarouca
Letra: Teresa Tarouca
Intérprete: Fernando Maurício
Letra: Jorge Rosa
Intérprete: João Braga
Letra: Manuel de Andrade

Fado Georgino
Composto pelo violista Georgino de Sousa, de seu nome completo, Georgino de Sousa Ferrão (1889 - 1949)
Pequena biografia do intérprete:
Manuel de Almeida
Filho de Manuel de Almeida e de Belmira Ferreira, Manuel Ferreira de Almeida
nasceu a 27 de Abril de 1922, em Lisboa, no Bairro da Bica.
O fadista completou a instrução
primária, mas sendo pouco interessado pela escola, com o acordo dos pais, não
prosseguiu os estudos.
Com apenas dez anos circulava pelos retiros fadistas, onde assistia às actuações
de inúmeros fadistas, passando, mais tarde, a aventurar-se em interpretações
ainda de carácter amador. Tendo de escolher uma actividade profissional, Manuel
de Almeida enveredou, aos quinze anos, pela carreira de desenhador de calçado
de senhora, profissão que manteve até ser incorporado no exército para cumprir
o serviço militar. Após cumprir o serviço militar, Manuel de Almeida casa-se, em 1947, e dois anos depois, o casal tem uma filha a quem dá o nome de Edite.
Antes de se iniciar nos circuitos de interpretação profissional do fado, Manuel de Almeida começa por ser autor de algumas letras, das quais se destaca o poema "Ala Arriba", que Alberto Cardia interpretou e gravou em disco com grande sucesso.
É por sugestão de Maria Pereira, à data contratada da casa típica Tipóia, que Manuel de Almeida acede ao incentivo de experimentar cantar publicamente nesta casa. Como o próprio relata: “Fui e cantei dois fados. Desde logo passei também a participar do elenco da Tipóia”. (cf. “Diário Ilustrado”, 31 de Maio de 1960).
Assim, Manuel de Almeida só se profissionalizou com 29 anos, em 1951, para poder actuar regularmente na Tipóia, casa que funcionava sob a direcção de Adelina Ramos, e onde obteve o seu primeiro cachet de 60 escudos por noite.
A partir do momento em fez a sua estreia profissional, Manuel de Almeida abandonou definitivamente a sua outra actividade e desenvolveu, com grande sucesso, uma carreira no Fado, mantendo uma estreita ligação com as casas típicas.
O fadista cantou no Retiro do Malhão, no Estribo, no Olímpia Clube, no Faia e regressou à Tipóia, desta vez permanecendo no elenco durante 12 anos.
Da Tipóia transitou para a casa Lisboa à Noite, já na década de 1960, propriedade de Fernanda Maria, onde se fixa durante onze anos.
Ao decidir estabelecer residência em Cascais, o fadista optou por passar a actuar no Picadeiro da Torre e, posteriormente, no Forte D. Rodrigo, casa inaugurada pelo fadista Rodrigo, em 1979, e na qual Manuel de Almeida se apresentou ao longo de dezasseis anos.
As actuações de Manuel de Almeida não se restringem às casas de Fado, fazem-se também em palcos, nacionais e estrangeiros, em programas de rádio, particularmente da Emissora Nacional, e de televisão. O fadista participou nas sessões experimentais da RTP, em 1956, e posteriormente faz aparições em inúmeros programas.
Dos seus espectáculos em território nacional destacam-se as deslocações ao Porto e a realização de uma festa artística, a 24 de Novembro de 1962, com lotação completamente esgotada no Pavilhão dos Desportos.
Manuel de Almeida iniciou mais tardiamente os espectáculos no estrangeiro, em 1966 afirma mesmo que foi apenas ao estrangeiro uma vez, a Espanha, para se apresentar em casas particulares (cf. “Flama”, 16 de Dezembro de 1966). Mas ao longo da sua carreira actuou em vários palcos das comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo.
Em 1971 deslocou-se com Ada de Castro a Moçambique, a convite do Centro de Informação e Turismo e voltou a Lourenço Marques, logo no ano seguinte, 1972, desta vez para actuar no restaurante “Muimbeleli”, em conjunto com Lucília do Carmo.
A 10 de Junho de 1977 participou nas comemorações do Dia de Portugal em Joanesburgo e, no mesmo âmbito, actuou, no ano seguinte, em Estugarda. Em Fevereiro de 1985 fez várias apresentações nos Estados Unidos, na zona da Califórnia, e, mais uma vez, o sucesso foi tal que o levou a regressar no ano seguinte.
Acompanhando Rão Kyao, fez chegar o Fado à Coreia do Norte, com a participação no Festival Internacional de Música Típica, no ano de 1986. A sua colaboração com Rão Kyao prosseguiu no ano seguinte, quando este produziu o LP “Eu Fadista Me Confesso”, disco que teve grande destaque na imprensa e que foi reeditado em formato CD em 1992.
Em 1993 participou no Festival Internacional de Music Croisée em Saint Sever, um marco importante para o longo percurso do fadista, uma vez que recebeu um prémio de interpretação e, ainda, uma medalha da cidade.
A sua forma característica de interpretar o Fado ficou registada em cerca de uma dezena de LPs e quase três dezenas de singles. Os seus primeiros discos, ainda em formato de 78 RPM, foram editados pela etiqueta Estoril, na década de 1950, e incluem os temas: “Tempos que já lá vão”, “Antigamente”, “Fado Rambóia”, “Fado da Saudade”, “Sofrer d’ Amor” e “Os Teus Olhos”.
O seu primeiro LP individual foi gravado em Barcelona, mas, anteriormente, em 1963, tinha já lançado em Portugal um disco em parceria com a fadista Mariana Silva.
Alguns dos seus álbuns foram reeditados em CD, sendo também frequente a inclusão das suas interpretações em colectâneas representativas do melhor do Fado.
É nas décadas de 1960 e 70 que a sua carreira atinge o apogeu, somando no seu repertório um conjunto próprio de duzentos fados, muitos dos quais da sua autoria. (cf. “Álbum da Canção”, 1 de Fevereiro de 1967).
Manuel de Almeida tornou emblemáticas as suas interpretações do “Fado Antigo” e “Mãos Cheias de Amor”, mas popularizou, também, vários poemas das sua própria autoria como “Não vale a pena meu bem”, “Por te querer tanto”, “Tempos que já lá vão”, “Longe de ti”, ou “É a saudade”. Na Sociedade Portuguesa de Autores estão registados mais de 50 temas atribuídos ao fadista, seja como poeta ou compositor.
O fadista centrou-se mais na interpretação do fado castiço, considerando que este era o que melhor se adaptava à sua maneira de ser. É também como representante fidedigno deste género que ele é mais admirado no universo fadista.
Paralelamente, durante toda a sua vida, Manuel de Almeida foi apaixonado pelo desporto, tendo praticado, basquetebol, atletismo e boxe, mas foi ao atletismo que se dedicou durante mais tempo. Mantendo a sua boa forma, o fadista de 1,80 m, manteve sempre uma actividade física, correndo de forma regular nas pistas do Estádio Nacional ou praticando ciclo turismo.
A 21 de Fevereiro de 1994, comemorando os 50 anos de carreira com um espectáculo de homenagem no Teatro São Luiz, Manuel de Almeida continuava a apresentar-se com regularidade em espectáculos ao vivo, tendo mesmo participado no ano anterior num Festival internacional de música em França.
O Forte Dom Rodrigo foi a última casa de fados onde o fadista se manteve em actuação quase até ao final da sua vida. Manuel de Almeida faleceu em Cascais, com 73 anos de idade, em 1995. Em homenagem ao fadista, os seus familiares e amigos organizam anualmente uma reunião no dia do seu aniversário.
Reconhecendo a sua ligação ao concelho de Cascais o seu nome está atribuído a uma rua da cidade e a outra situada em Alcabideche.
O Museu do Fado, em co-produção com a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, prestou homenagem a Manuel de Almeida a 23 de Novembro de 2006, numa apresentação de Ana Maria Mendes acompanhada por um diaporama de Vítor Duarte, integrada no ciclo “Amigos – Memórias e Fado”.
Alguns Prémios e homenagens:
- Diploma de agradecimento do Senado de Rhode Island pela sua contribuição para a Cultura da Comunidade Luso-Americana;
- Prémio da Imprensa, atribuído pela Casa da Imprensa, em 1964;
- Prémio Gratidão, atribuído pela Casa da Imprensa, em 1992;
- Prémio de interpretação no Festival Internacional de Music Croisée, realizado em Saint Séver (França), em 1993;
- Medalha da Cidade, Saint Séver (França), em 1993;
- Prémio Carreira, atribuído pela Casa da Imprensa a título póstumo, em 1997.
Fontes de Informação:
“Diário Ilustrado”, 31 de Maio de 1960;
“Rádio e Televisão”, 30 de Março de 1963;
“Flama”, 16 de Dezembro de 1966;
“Álbum da Canção” nº 48, 1 de Fevereiro de 1967;
“Correio da Manhã”, 11 de Fevereiro de 1994;
“Público”, 20 de Fevereiro de 1994.
Última actualização: Março/2008
Guitarras: José Pracana e Fontes Rocha
Violas: Francisco Perez e José Carlos da Maia



Intérprete: Maria Teresa de Noronha
Letra: Carlos Nozes



Esta gravação data de 1950, foi efectuada no Estúdio A da Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa, e pertence à Face A do disco de 78 R.P.M. editado pela “Rouxinol”, etiqueta “Rádio Triunfo”, matriz “T. 7 / G.E. 3”, catalogado na Discoteca da Emissora Nacional com a cota “A 139”, em que a cantadeira Maria Teresa de Noronha, acompanhada por Raúl Nery, na guitarra portuguesa, e Joaquim do Vale, seu habitual acompanhante de guitarra clássica, interpreta dois fados tradicionais do seu reportório.
Este é o “Fado Georgino”, uma composição da autoria do intérprete Georgino de Sousa, conhecido nos meios fadistas, e devidamente registado na S.E.C.T.P., aqui interpretado por Maria Teresa de Noronha, com a poesia maravilhosa do “Pombalinho”, da autoria de Carlos Nozes, que renomeio carinhosamente de “Há Saudades a Sorrir!”.
Trata-se de um poema que nos fala de uma casa afastada, onde a miséria fincou o pé, mas existem saudades sorridentes. Uma casa onde a miséria e a pobreza podem estar presentes, mas mesmo que a saudade nos bata à porta, a esperança entra logo de seguida.
Um poema que segue os ditames da divulgação dos valores conservadores do Estado Novo através da Música Portuguesa, mas que pauta pela sua extraordinária simplicidade e singularidade, e que na voz de Maria Teresa de Noronha assenta que nem uma luva.
Gravado no Estúdio A da Emissora Nacional, durante um dos programas quinzenais da cantadeira, transmitidos no Programa do Ribatejo, em 655 kc/s, aos Domingos, às 23 horas, com apresentação de D. João da Câmara e organização da própria intérprete, a sua edição em disco pela marca “Rouxinol” foi um esmagador sucesso na época, e alvo de inúmeras transmissões radiofónicas, principalmente nos programas mencionados, quando Maria Teresa de Noronha não podia cantar ou estar presente no estúdio.
Anos mais tarde, em 1967, Maria Teresa de Noronha, já retirada da carreira artística pública, gravou este fado no LP “Saudade das Saudades”, com a companhia do Conjunto de Guitarras de Raúl Nery. Gravação essa que hoje é a mais conhecida, sendo repetida por Vicente da Câmara em 1993, aquando do falecimento da tia, e depois pela sua fã nº 1, a cantadeira Margarida Bessa, alta seguidora do seu estilo interpretativo.
Este registo foi retirado do disco original, e reeditado em 2019 pela “Valentim de Carvalho”, na compilação “Maria Teresa de Noronha em Estúdio”.