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Fado Alexandrino do Marceneiro
Fado Alexandrino do Marceneiro
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Alexandrino (Eu Lembro-me de Ti)

Letra:          Linhares Barbosa
Música:       Alfredo Rodrigo Duarte (Marceneiro)
Intérprete:   Alfredo Marceneiro

 

Eu lembro-me de ti, chamavas-te saudade
Vivias num moinho, ao cimo dum outeiro
Tamanquinha no pé, lenço posto à vontade
Nesse tempo eras tu, a filha dum moleiro

 



Eu lembro-me de ti, passavas para a fonte
Pousando num quadril, o cântaro de barro
Imitavas em graça, a cotovia insonte
E mugias o gado, até encheres o tarro

 



Eu lembro-me de ti, que às vezes a farinha
Vestia-te de branco, e parecias então
Uma virgem gentil, que fosse à capelinha
Num dia de manhã, fazer a comunhão

 



Eu lembro-me de ti, e fico-me aturdido
Ao ver-te pela rua, em gargalhadas francas
Pretendo confundir, a pele do teu vestido
Com a sedosa lã, das ovelhinhas brancas

 



Eu lembro-me de ti, ao ver-te num casino
Descarada a fumar, luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo, o teu busto franzino
Com o avental da cor, e o cântaro de barro

 



Eu lembro-me de ti, quando no torvelinho
Da dança sensual, passas louca rolando
Eu sonho eu fantasio, e vejo o teu moinho
Que bailava também, ao vento, assobiando

 



Eu lembro-me de ti, e fico-me a cismar
Que o nome de Lucy, que tens, não é verdade
Que saudades eu tenho, e leio no teu olhar
A saudade que tens, de quando eras saudade

Guitarra:   Francisco Carvalhinho

Viola:       Martinho d'Assunção

1961 Edições Valentim de Carvalho, S.A.

Outras versões do mesmo Fado

O Camponês e o Pescador
00:00 / 05:21

Intérprete: Alfredo Marceneiro e Vítor Duarte

Letra: Henrique Rêgo

Mansarda
00:00 / 02:45

Intérprete: João Ferreira Rosa

Letra: João Ferreira Rosa

Noite Apressada
00:00 / 02:50

Intérprete: Camané

Letra: David Mourão Ferreira

Alexandrino
00:00 / 02:51

Intérprete: Margarida Bessa

Letra: Carlos Freire

Sobre o Fado Alexandrino interpretado por:

Margarida Bessa

Guitarra:   Ricardo Rocha e Paulo Parreira

Viola:        Francisco Gonçalves

Baixo:       Joel Pina

Coliseu do Porto no dia 24 de Março de 1994.

Depois do Carnaval
00:00 / 04:07

Intérprete: Alfredo Marceneiro

Letra: João Carlos Conde

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Fado Alexandrino do Alfredo Marceneiro


Fado em modo maior, que como todos os fados Alexandrinos, assim chamados em homenagem ao poeta francês Alexandre Berné, tem como característica ser cantado com versos em quadras de 12 sílabas, e

com a particularidade do cantador se antecipar ligeiramente à música! Os fados Alexandrinos, são

considerados fados da 1ª geração ou, como diz o "expert" na matéria Dr. Nuno de Siqueira, da 1ª geração

e 1/2...!

Também conhecido por Fado Alexandrino "Eu lembro-me de ti", foi composto pelo cantador Alfredo Rodrigo

Duarte ( Marceneiro ) e deve esse nome à primeira letra em que foi cantado da autoria de Linhares Barbosa.


Pequena biografia do autor
                                                                                                                                      Alfredo Marceneiro
Alfredo Rodrigo Duarte, que ficou conhecido por Alfredo Marceneiro, dada a sua
profissão, nasceu em Lisboa, no dia 29 de Fevereiro de 1888, embora o seu
bilhete de identidade referisse o seu nascimento a 25 de Fevereiro de 1891.
Filho de Gertrudes da Conceição e Rodrigo Duarte, Alfredo foi o primeiro filho
do casal, seguiram-se dois irmãos - Júlio e Álvaro - e uma irmã - Júlia.
Em 1905, quando tinha apenas 13 anos, o seu pai faleceu e Alfredo Duarte
abandonou os estudos para ir trabalhar e ajudar no sustento da família. O seu
primeiro emprego foi o de aprendiz de encadernador.
Tomou contacto com o Fado ao assistir às cegadas de rua. Conheceu então Júlio
Janota que, para além de participar nas cegadas, tinha o ofício de marceneiro e

lhe arranjou lugar como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique.
Alfredo Duarte começou por cantar Fados nos bailes populares que frequentava, entre os 14 e os 17 anos.

É nesta altura, em 1908, que faz a sua estreia na cegada do poeta Henrique Lageosa, inspirada no

argumento do filme mudo O Duque de Guise, onde interpreta o papel da amante do Duque.
Para além de participar nas cegadas, onde desenvolve o seu método de dizer bem e dividir as orações,
Alfredo Duarte começa a cantar em diversas festas de solidariedade e nos retiros do Caliça, Bacalhau,

José dos Pacatos, Cachamorra, Baralisa e Romualdo, mas é no 14 do Largo do Rato que se torna mais conhecido.
É alcunhado de "Alfredo Lulu" por se vestir de forma elegante e aprumada, mas será o apelido de
"Marceneiro", que se eternizará, cantado pelo próprio fadista no poema de Armando Neves, de que
reproduzimos um excerto:

"Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro"

Esse nome artístico - "Alfredo Marceneiro" - surge numa festa de homenagem aos cantadores Alfredo dos
Santos Correeiro e José Bacalhau, como o próprio fadista conta: "Uma noite fui convidado por amigos que

já me tinham ouvido cantar em paródias próprias da idade a ir ao Club Montanha (hoje Ritz). Dirigia a festa

o poeta Manuel Soares e perguntou: «Quem é este rapazinho? Como se chama? Que ofício tem?» Então,
quando me apresentou ao público, esquecendo o meu apelido, anunciou: «Vai cantar a seguir o principiante
Alfredo... Alfredo... Olhem não me ocorre o apelido. É Alfredo... Marceneiro...» E ainda hoje sou o Alfredo
Marceneiro." (cf.”Guitarra de Portugal”, 15 Julho de 1946).
Ao longo da sua vasta carreira, e apesar de manter a sua profissão de marceneiro, Alfredo Duarte é
contratado para exibições em casas como o Clube Olímpia, onde esteve com Armandinho, Júlio Proença e
Filipe Pinto, e depois em outras casas típicas como a Boémia, na Travessa da Palha, o Ferro de Engomar,
o Castelo dos Mouros, o Solar da Alegria, ou o Júlio das Farturas, onde cantou durante um ano.
No ano de 1924 participa num concurso de Fados do Sul-América, um espaço situado na Rua da Palma, e
onde ganhou a "Medalha de Ouro". Nesse mesmo ano canta durante dois meses no Chiado Terrasse para
animar as noites de cinema e é presença na "Festa do Fado" organizada pelo jornal "Guitarra de Portugal"

no Teatro São Luis.
A partir desta data a sua carreira prossegue com grande sucesso actuando em casas como o Retiro da

Severa, o Solar da Alegria ou o Café Mondego. Chega mesmo a ter a sua própria casa, o Solar do

Marceneiro, no final da década de 1940, mas sendo um espírito irrequieto não consegue cingir-se a cantar diariamente nesse espaço.
Como exemplo dos momentos mais evidentes da admiração e fama que adquiriu ao longo da sua longa
carreira salientamos: a organização de uma festa artística, em 1933 no Júlio das Farturas do Parque Mayer;
em 1936, o segundo lugar do título "Marialva", ganho num concurso do Retiro da Severa; a 10 de Maio de
1941 um outro espectáculo denominado "Festa Artística de Alfredo Marceneiro", desta feita no Solar da
Alegria; ou, ainda, a consagração como "Rei do Fado", no Café Luso, a 3 de Janeiro de 1948.
Apesar do sucesso da sua carreira nunca saiu de Portugal para actuações e raramente deixou Lisboa,

embora na década de 1930 tivesse integrado alguns espectáculos de grupos criados para efectuar tournées

por Portugal, caso da "Troupe Guitarra de Portugal", com Ercília Costa, Rosa Costa, Alberto Costa, João Fernandes (guitarra) e Santos Moreira (viola); ou da "Troup Artística de Fados Armandinho", com

Armandinho, Georgino Gonçalves, Cecília d’ Almeida, Filipe Pinto e José Porfírio.
Alfredo Marceneiro cantou também no Teatro, subindo ao palco do Coliseu dos Recreios, em 1930, com a
Opereta "História do Fado", onde actuavam Beatriz Costa e Vasco Santana. As suas interpretações em

palcos de teatros incluíram também o São Luiz, o Avenida, o Apolo, o Éden - Teatro, o Capitólio, o

Politeama, o Maria Vitória, e outros.
Em 1939, com a conhecida cantadeira Berta Cardoso, grava actuações no Teatro Variedades e no Retiro do
Colete Encarnado, que serão apresentadas no filme" Feitiço do Império", de António Lopes Ribeiro. O
"Feitiço do Império" estreia nas salas de cinema em 1940, e tem apresentações até 1952. O filme foi
protagonizado por Luís de Campos e Isabel Tovar, Francisco Ribeiro (Ribeirinho), António Silva e
Madalena Sotto. Lamentavelmente, a película existente na Cinemateca Portuguesa apresenta-se bastante
deteriorada.
As gravações discográficas da sua obra não são muitas, uma vez que não apreciava cantar senão nos

locais que considerava próprios e com a presença do público. Assim, apesar de ter gravado o seu primeiro

disco, para a Casa Cardoso, em 1930, com os temas "Remorso" e "Natal do Criminoso", passou logo depois

a ser artista privativo da Valentim de Carvalho. Seguiram-se apenas quatro LP’s e três EP’s, o último,

"Fabuloso Marceneiro", gravado aos 70 anos.
O fadista também fez poucas aparições em programas de televisão. Em 1969, uma equipa técnica

constituída por Henrique Mendes e Carlos do Carmo, como produtores, Luís Andrade, como realizador e

José Maria Tudella, como operador de imagem, tem de se deslocar ao Bairro Alto para acompanhar Alfredo Marceneiro nas suas interpretações e poder assim realizar uma reportagem documental para a RTP. Dez

anos mais tarde, em 1979, será pela intervenção do seu neto Vítor Duarte, que acederá a realizar um

programa para a RTP, o qual foi exibido a 14 de Janeiro de 1980 e editado em DVD, pela Ovação, em 2007.
Apesar da sua fama e sucesso crescente mantém a profissão de marceneiro, até à década de 1930 nas

oficinas de Diamantino Tojal e, posteriormente, nas Construções Navais do Arsenal do Alfeite, que depois passaram a ser administradas pela C.U.F.
Só em 1946 se dedica exclusivamente ao Fado como profissional, conservando no entanto em casa

o banco de marceneiro e as ferramentas com que se entretinha a fazer pequenos trabalhos, um dos quais

"A Casa da Mariquinhas", obra que merece especial relevo pelo cariz emblemático que assume para a

própria História do Fado de Lisboa. Trata-se de uma construção em madeira, na escala de 1 por 10, em que, inspirado na letra de Silva Tavares, construiu/reconstruiu a casa evocada na descrição do poeta. Esta peça

está actualmente na exposição permanente do Museu do Fado.
Alfredo Marceneiro considerava-se um estilista e nesta criação de estilos acabou por ser autor de
composições que são hoje consideradas Fados tradicionais. A sua primeira composição foi a "Marcha do
Alfredo Marceneiro", mas seguiram-se muitas outras como: "Fado Laranjeira", "Lembro-me de ti", "Fado
Bailado", "Fado Bailarico", "Fado Balada", "Fado Cabaré", "Fado Cravo", "Fado CUF", "Fado Louco",
"Mocita dos Caracóis", "Fado Pagem", "Fado Pierrot", "Bêbado Pintor" e "Fado Aida". Com a ajuda de
Armando Augusto Freire (Armandinho), que lhe passa para pauta as suas criações, o fadista regista as suas músicas na Sociedade de Escritores e Autores Teatrais Portugueses.
O fadista foi pai de cinco filhos. Os primeiros dois: Rodrigo Duarte e Esmeraldo Duarte, resultaram de duas
relações efémeras e os outros três: Carlos, Alfredo e Aida são fruto da sua união com Judite de Sousa
Figueiredo com quem viveu até à data da sua morte, a 26 de Junho de 1982.
"Ti’ Alfredo" para os fadistas e amigos continua a ser considerado um dos fadistas maiores, seguido como
um modelo na forma de dividir os versos cantados, não permitindo que as pausas musicais interrompam o
sentido das orações. A sua figura característica, sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, será

recordada juntamente com o seu modo particular de interpretar, com o balancear de ombros e tronco e

as mãos nos bolsos.
Alfredo Marceneiro reforma-se em 1963, realizando-se a 25 de Maio desse ano, no Teatro S. Luís, a festa

consagração e despedida do Grande Artista Alfredo Duarte Marceneiro. Na verdade esta não foi uma despedida, Alfredo Marceneiro continuou a cantar durante quase mais duas décadas.
Em 23 de Junho de 1980, numa cerimónia realizada no Teatro São Luiz, é-lhe entregue a "Medalha de Ouro
de Mérito da Cidade de Lisboa", pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Eng.º Krus Abecassis.
Homenagens póstumas:
- "Comenda da Ordem do Infante D. Henrique", atribuída a 10 de Junho de 1984 pelo Presidente da
República General Ramalho Eanes;
- A Câmara Municipal de Lisboa dá o seu nome a uma rua do Bairro de Chelas;
- Em 1991 foi comemorado o centenário do nascimento do fadista e entre outros eventos foi lançado o duplo
álbum "O melhor de Alfredo Marceneiro" (EMI-Valentim de Carvalho) e foi exibido na RTP o
documentário "Alfredo Marceneiro é só Fado".



Fontes de Informação:

“Guitarra de Portugal”, 10 de Novembro 1926;
“Trovas de Portugal”, 4 de Fevereiro 1934;
“Guitarra de Portugal”, 20 de Julho 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Setembro 1935;
“Canção do Sul”, 16 de Novembro 1943;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Julho 1946;
“Ecos de Portugal”, 1 de Janeiro 1948;
“Voz de Portugal”, 1 Outubro 1957;
“Flama”, 12 de Outubro de 1962;
“Álbum da Canção”, 1 de Agosto 1963;
“Diário de Lisboa”, 20 de Março 1968;
“Rádio e Televisão”, Novembro 1969;
“Flama”, 26 de Abril de 1974;
“Diário de Notícias”, 27 de Junho de 1981;
“Correio da Manhã”, 28 de Junho de 1982;
“Mais”, 2 de Julho de 1982;
Machado, Vítor (1937), “Ídolos do Fado”, Tipografia Machado;
Duarte, Vítor (1995), “Recordar Alfredo Marceneiro”, Venda Nova, Sistema J;
Duarte, Vítor (2001), “Alfredo Marceneiro...Os Fados que ele cantou”, Lisboa, Clássica Editora.
DVD “3 Gerações de Fado”, Ovação, 2007.
www.alfredomarceneiro.com
http://alfredomarceneiro.blogs.sapo.pt
Informações fornecidas pelo neto do fadista Vítor Duarte


​Última actualização: Novembro/2007

Sobre o Fado "Depois do Carnaval"

Esta gravação data de 1972, foi efectuada nos Estúdios Valentim de Carvalho, em Paço d’Arcos, e pertence à Banda 4 da Face A do disco LP de 33 R.P.M. editado pela marca "Columbia", etiqueta da "Valentim de Carvalho", referência “8E 062-40222”, nome "Alfredo Marceneiro - Nos Tempos em que Eu Cantava", em que o cantador Alfredo Marceneiro, acompanhado à guitarra por José Nunes, e à viola por Francisco Peres, interpreta novos e variados números do seu reportório, como é o caso de "Domingo de Agosto", "Nos Tempos em que Eu Cantava", "Foi na Velha Mouraria", "Café de Camareiras" e outros mais.

 

Aqui, escutamos o “Fado Alexandrino do Marceneiro”, um Fado Tradicional composto em modo maior, que tal como todos os fados Alexandrinos, assim chamados em homenagem ao poeta francês Alexandre Berné, tem como característica ser cantado com versos em quadras de 12 sílabas, e com a particularidade do cantador se antecipar ligeiramente à música. Considerado pelos peritos como fados da 1ª geração ou, como diz o Sr. Dr. Nuno de Siqueira, da 1ª geração e meia, e também conhecido erradamente por “Fado Alexandrino Eu lembro-me de ti”, denominação que foi originária da primeira letra em que foi cantado, registada em disco pelo próprio no LP “O Fabuloso Marceneiro” de 1960. Neste registo, Marceneiro canta a seguinte poesia de Carlos Conde, de seu nome “Depois do Carnaval”, que passo a reproduzir o melhor possível:

 

Depois do Carnaval, Ao canto dos salões,

O lixo se amontoa Em rolos colossais,

E quem muito dançou, Sentindo vibrações,

Se riu, há-de chorar Nos outros Carnavais

 

Os pés trouxeram lama, E mesmo os corações,

À custa do bailar, A lama separou-se...

E reduzida a pó, Ficou e amontoou-se

Depois do Carnaval, Ao canto dos salões

 

Na Feira Mundial À porta dum cinema

Gritava um estrião “Vinde ver, ó mortais

O fenómeno vivo Assombro da Ciência

Que outrora se dizia O Rei dos Animais!”

 

E ao sair da escola Chorava um rapazito

E acalcando a pés A história natural

Ficou mal no Exame Por dizer ao Professor

Que o Homem pertencia Ao Reino Mineral

 

Este fonograma foi reeditado em CD no ano de 2004, na compilação “EMI Gold – Grandes Êxitos: Alfredo Marceneiro”, editada pela "EMI Music Portugal" sob licença exclusiva das Edições Valentim de Carvalho, e que já não se encontra à venda no mercado.

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