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Fado Modesto

Velho Fadista
Letra:              António Vilar da Costa
Música:           Júlio Proença
Intérprete:       Alcindo de Carvalho
 

 

 

Na Mouraria,

numa noite, a fadistagem

Cantava e ria

numa sã camaradagem

Saudosamente

ali estava ao nosso lado

Velho e doente, 

um fadista já cansado

 

Quando cantei,

dediquei-lhe no Corrido

Uns versos em que falei

num fadista já esquecido

Ele escutou,

porém notei-lhe no rosto

O seu amargo desgosto, 

quando o passado lembrou

 

Ao terminar,

ele sorrindo com mágoa

Veio-me abraçar,

com os olhos rasos de água

E qual demente,

desapertando a samarra

Nervosamente, 

abraçou uma guitarra

 

A banza trina,

e ele encetou com fervor

Uma cantiga em surdina,

no velho Fado Menor

Não terminou,

pois coma alma em pedaços

Veio cair em braços, 

não pôde cantar, chorou

Intérprete:      Alcindo de Carvalho

Título:            Velho Fadista

 

Autor da Letra:           António Vilar da Costa
Autor da Música:        Júlio Proença

Guitarra Portuguesa:     Carlos Gonçalves e

                                       António Chainho

Viola de Fado:                Manuel Martins

Viola-baixo:                    Raul Silva 

 

Data da 1ª edição:  1969

Editora: "Marfer"

Ref. EP 2 - 135​​​

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Fado Modesto
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julio proença

Fado Modesto

Composto pelo cantador Júlio Proença (1901 - 1970)

Pequena biografia do autor:
​                                                                                                                                           Júlio Proença
Filho de Amélia da Conceição Proença, Júlio Proença nasceu em Lisboa, no bairro
da Mouraria, no dia 25 de Outubro de 1901. Desde cedo Júlio Proença sentiu o
apelo fadista, aprendendo a cantar com a sua mãe.


Sobrinho do cantador António Lado, começou aos 16 anos (1917) a cantar o fado
como amador e, até à sua profissionalização em 1929, na opereta "Mouraria"- que
se estreou no Coliseu dos Recreios, cantou em inúmeras festas de beneficência,
nas esperas de touros, e outros espaços.


Júlio Proença exerceu sempre a profissão de estofador-decorador numa das mais
importantes casas do ramo sita na cidade de Lisboa.
Ao longo da sua actividade artística, Júlio Proença passou pelo “Salão Artístico

de Fados” e pelos retiros: “Charquinho”, “Ferro de Engomar”, “Caliça” e “Pedralvas”, entre outros.

 


Na década de 20 fez parte da primeira digressão artística de artistas de Fado que percorreu algumas terras do país e de que faziam parte os colegas Maria do Carmo, Joaquim Campos, Alberto Costa, Raul Ceia, os guitarristas Armando Freire "Armandinho", Herculano Rodrigues e o violista Abel Negrão.
Júlio Proença passou também pelos teatros: “Apolo”, “Trindade”, “Avenida”, “Maria Vitória”, “Joaquim de Almeida”, “Éden-Teatro”, “São Luís”, “Variedades” e “Capitólio” e nos clubes “Ritz”, “Monumental”, “Olímpia” e “Maxim's”, evidenciando, em inúmeros espectáculos, o seu enorme talento.

 


Posteriormente, cantou no “Retiro da Severa”, no “Solar da Alegria” (que dirigiu em conjunto come Deonilde Gouveia em 1931) e cafés “Gimnásio”, “Mondego” e “Luso”.
Júlio Proença foi um dos primeiros cantadores a cantar nas emissoras C.T.1 A.A, Rádio Luso, Rádio Peninsular e Rádio Condes.


Destacamos as gravações: “Mentindo Sempre”, “Olhos Fatais”, “Como Nasceu o Fado”, “Mentindo”, “Três Beijos”, “Meu Sentir”, “Meu Sonho”, “Minha Terra” (de cuja música é autor), bem como das músicas dos fados “Verbena”, “Lélé”, “Arlete”, “Fado Proença”, “Modesto” e “Fado Moral”. Regista-se também a gravação em dueto com Joaquim Campos dos discos “Dueto sobre o Fado” e “Romance”.


Participou numa audição de fados no Forte de Monsanto, no dia de Novembro de 1934, «1ª festa que da grande série que este jornal está empenhado em realizar em estabelecimentos prisionais e hospitalares», conjuntamente com Maria Carmen, Rosa Maria, Joaquim Campos, Joaquim Seabra, Júlio Correia e António Sobral (cf. Guitarra de Portugal de 14 de Novembro de 1934).
Júlio Proença (juntamente com Ercília Costa e Márcia Condessa) tomou parte no espectáculo da "Mãe de Portugal" que se realizou no Coliseu do Porto, sob o alto patrocínio de Madame Carmona." (cf. Canção do Sul de 16 Setembro de 1944).
Em 1946 partiu para Moçambique onde fixou residência e onde viria a falecer, em Setembro de 1970.
Observações:
Em 21-05-1946, aquando da sua ida para África, foi homenageado numa festa realizada na Sala Júlia Mendes no Parque Mayer.


Fontes de informação:

“Guitarra de Portugal” 14 de Novembro de 1937;
“Canção do Sul” 16 de Setembro de 1944;
“Guitarra de Portugal”, 15 de Agosto de 1946;
Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;
Sucena, Eduardo (1992) “Lisboa, O Fado e os Fadistas”, Lisboa Vega;


Última actualização: Maio de 2008

Pequena biografia do intérprete:

                                                                                                                                                   Alcindo de Carvalho

Alcindo Simões de Carvalho nasceu a 9 de Janeiro de 1932, em Lisboa, na Rua da Rosa,

localizada no emblemático e castiço Bairro Alto. Aqui, Alcindo de Carvalho cresceu junto do

seu pai, alfaiate de profissão e amante do fado, e dos seus cinco irmãos, entre os quais a

guitarra e a viola marcavam presença em pequenos concertos familiares onde se tocava e

cantava o fado. Aos poucos, Alcindo de Carvalho foi-se deixando abraçar pelo género

musical e inicia a interpretação em público dos seus primeiros temas de fado.

Mais tarde, ingressa no mercado de trabalho e já empregado numa casa de comércio presta

as primeiras provas na rádio. Curioso é que, este facto teve como impulsionadora a filha do

patrão onde trabalhava, que o inscreve na Emissora Nacional com o propósito de prestar

provas. O resultado é feliz, e Alcindo de Carvalho passa a ser convidado para, regularmente,

integrar alguns programas radiofónicos. Estamos no ano de 1953.

Dentro do meio artístico o seu talento é descoberto por Márcia Condessa, também amiga da família, e aos 18 anos, a desafio do guitarrista Carvalhinho, passa a cantar na casa típica Márcia Condessa, estreando-se desta forma para um percurso de sucesso; “… a primeira casa onde trabalhei foi precisamente na Márcia Condessa, estive lá 18 anos (…) Ela era uma mulher maravilhosa e tinha uma casa maravilhosa”, confidenciará o fadista em entrevista.

Certo dia, após um programa na Emissora Nacional, é convidado por Lucília do Carmo para integrar o elenco do Faia, onde conhece Carlos do Carmo. Alcindo de Carvalho acrescenta: “Fui e estive lá 17 anos. Gostei muito, foi uma casa que me inspirou muito, uma casa maravilhosa, ainda hoje lá vou mas vejo que é já um pouco diferente (…) o Faia marcou-me muito”.

Embora o seu pai fosse um grande admirador de fado, não aceitava de bom grado o facto de Alcindo de Carvalho seguir uma carreira artística: “…. Achava que era uma vida boémia, mas depois começou a gostar, achava que eu cantava bem e ia ouvir-me cantar.”, declarou em entrevista.

Durante mais de 25 anos, Alcindo de Carvalho foi vendedor de tintas da Sotinco, trabalho esse que realizava de dia, conjugando com as apresentações diárias nas diversas casas típicas de Lisboa, um período tido como mais “duro”, mas felizmente já ultrapassado. Apesar das poucas horas de sono, Alcindo de Carvalho guarda as melhores lembranças desses tempos, em que trabalhou com grandes nomes no género, casos de Carlos Ramos, Tristão da Silva, Fernando Farinha, Alfredo Marceneiro, entre outros.

No percurso das casas típicas destaca-se ainda a permanência durante 21 anos na Parreirinha de Alfama, propriedade de Argentina Santos e da excelente relação que ainda hoje mantêm com a fadista. Este episódio permitiu-lhe poder conciliar, em determinado momento da sua carreira, as actuações na Parreirinha de Alfama, na Taverna do Embuçado e mais recentemente no Clube de Fado.

De Carlos Ramos, Alcindo de Carvalho guarda os melhores momentos, e declara “Ele foi uma pessoa maravilhosa para mim, tenho o repertório dele, canto muitas coisas dele, foi ele que me deu um livro de poemas antes de morrer. Fiquei muito triste com a morte dele, foi uma pessoa que me tocou muito.”. Hoje, Alcindo de Carvalho ainda revive os momentos que passou com o célebre fadista e que se tornou numa referência para a sua vida e carreira artística. “Ele tinha poemas maravilhosos, escritos por poetas maravilhosos e aquelas letras para mim dizem-me qualquer coisa”, estes momentos, em que Alcindo de Carvalho interpreta o repertório de Carlos Ramos, revelam-se de um grande saudosismo e emoção.

Do repertório de Alcindo de Carvalho também fazem parte letras de Artur Ribeiro, Moniz Pereira e Lopes Vítor, autor da controversa “A Morte da Mariquinhas”, entre outros.

Em 1974 Alcindo de Carvalho estreia-se na televisão; “fiz dois programas seguidos. Quer dizer: gravei um e passado três ou quatro dias recebi um telefonema para fazer outro programa. Fiquei até muito admirado.”.( Baptista-Bastos (1999): 18). Todavia, apesar de terem sido programas bem recebidos pelo público, acabaram por não ter continuidade.

È na década de 80 que grava o seu primeiro disco para a etiqueta Telectra, um 45 rpm. Outras edições se seguiram (33 rpm, cassetes e cd´s) mas hoje em dia o fadista recusa-se a gravar, “resolvi não gravar mais discos nenhuns…”, afirma sem grande nostalgia.

Mais recentemente, já na década de 90, Alcindo de Carvalho é convidado por Ricardo Pais a participar num programa de fados intitulado “Fados” e apresentado no Centro Cultural de Belém. Aqui o fadista contracena ao lado de José Pedro Gomes e Carlos Zel. Este espectáculo foi também apresentado em Marselha. Mais tarde, é convidado por Filipe La Feria para o espectáculo “Cabaret”, com estreia no Teatro Politeama. No decurso destas experiências, Alcindo de Carvalho também nos partilha o convite que teve para participar num festival em Londres, por ocasião da Semana de Portugal.

Na Grande Noite do Fado do ano 2004, Alcindo de Carvalho recebe o Prémio de Carreira, e é homenageado num espectáculo decorrido no Teatro de S. Luiz, em Lisboa.

Em Julho de 2005 sobe ao palco, em estreia no Teatro Nacional de São João (Porto), o espectáculo de Ricardo Pais "Cabelo Branco é Saudade". Alcindo de Carvalho partilha o elenco com Argentina Santos, Celeste Rodrigues e Ricardo Ribeiro e afirma: “têm sido casas cheias em todo o lado para onde vamos (…) Estou muito feliz e contente de agora, depois da minha idade, andar a fazer isto. Acompanhados pela guitarra de Bernardo Couto, pela viola-baixo de Nando Araújo e sob a direcção musical de Diogo Clemente (também viola), este “Cabelo Branco é Saudade” já se apresentou em inúmeros espectáculos pela Europa e Japão.

Do seu vasto repertório destaque para os temas "Não venhas tarde" de Aníbal da Nazaré, “Bons Tempos" de José Galhardo, ambos popularizados por Carlos Ramos e "Fado de Ser Fadista" de Artur Ribeiro.

 

Fontes de informação:

Baptista-Bastos (1999), "Fado Falado", Col. "Um Século de Fado", Lisboa, Ediclube.

Programa do espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" (2005), Porto, Teatro Nacional de São João.

Museu do Fado - Entrevista realizada em 05 de Setembro/2006.

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