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Fado Patolas (Tradição)
Fado Patolas (Tradição)
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O Embuçado
Letra:                 Gabriel de Oliveira
Música:              Alcídia Rodrigues
Intérprete:          João Ferreira Rosa


 

Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas;

Frequentava a Mouraria
E em muito palácio havia
Descantes e guitarradas   (bis)

 

 


A história que eu vou contar
Contou-ma, certa velhinha

Uma vez que eu fui cantar
Ao salão dum titular
Lá p'ro Paço da Rainha   (bis)

A esse salão doirado
De ambiente nobre e sério

Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério   (bis)

 

 


Mas certa noite, houve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala

Embuçado, nota bem
Que hoje não fique ninguém
Embuçado, nesta sala   (bis)

Ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado

Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado   (bis)

Intérprete:      João Ferreira Rosa

Título:            O Embuçado

 

Autor da Letra:         Gabriel de Oliveira
Autor da Música:     Alcídia Rodrigues

Guitarra Portuguesa:    Raul Nery

Viola de Fado:              Júlio Gomes

Viola-baixo:                   Joel Pina

   

 

Data da 1ª edição:  1965

Editora: "Valentim de Carvalho CI SA"

Ref. Columbia SLEM 22 16

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Intérprete: Joaquim Cordeiro

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Letra: Neca Rafael

O Fado Aconteceu
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Intérprete: Manuel Doellinger

Letra: Gabriel de Oliveira

alcidia rodrigues.jpg

Composto pela cantadeira Alcídia Rodrigues

Esta cantadeira iniciou a sua vida profissional no antigo Café Luso, da Avenida da Liberdade, no ano de 1934.

João Ferreira Rosa, uma das vozes maiores deste imenso universo fadista que é o Fado, Tornou este Fado popular com o poema de Gabriel de Oliveira, "O Embuçado", exemplo em apreço.

Pequena biografia da autora:

                                                                                                                                                   Alcídia Rodrigues

Filha de Luzia da Silva, costureira, e Manuel Augusto Rodrigues, marceneiro, Alcídia

Rodrigues Gameiro foi a mais nova de cinco irmãos, nascendo em Lisboa, no bairro de

Alcântara, no dia 20 de Fevereiro de 1912.

 

Em 1914, em virtude das dificuldades financeiras que a sua família vive, Alcídia parte as

Caldas da Rainha onde é acolhida por outra família. Neste local e junto da família de

acolhimento Alcídia viveu até aos oito anos de idade. Nesta cidade era frequente

acompanhar a mãe adoptiva aos "bailaricos", facto esse que nos relata: “tudo quanto elas

cantavam, eu ia para ao pé delas e aprendia os versos todos e depois ia para a minha

mãe adoptiva e cantava.” Despertava então, para a jovem Alcídia, o gosto pela música e

pela sua interpretação.

 

Aos 8 anos de idade Alcídia regressa à cidade natal, Lisboa, retomando o contacto com a sua família de origem. Aqui se estabelece e passa por vários empregos, desde costureira (como a sua mãe), a empregada de balcão e empregada num restaurante, até enveredar pela carreira artística, que é traçada da seguinte forma: “…fiz um trabalho de costura e fui entregá-lo à Calçada dos Cavaleiros. Quando passei, ouvi tocar uma guitarra e fui ver… espreitei, era uma casa onde se vendia ginjinha. Os guitarristas iam para lá ensaiar os rapazes e as raparigas. (…) Convidaram-me a entrar para ouvir cantar, disse que não podia pois tinha um trabalho para entregar. Quando vim entrei, aproveitei o convite, era mesmo isso que eu queria.”. Encorajada como o convite para entrar, Alcídia Rodrigues acaba por cantar para o público.

 

Surge também, neste contexto, a oportunidade de Alcídia Rodrigues conhecer poetas, que lhe escrevem versos, mas aos quais lhes dá uma interpretação muito pessoal.

 

Aos 16 anos de idade começa então por cantar como amadora, em colectividades e associações, muitas vezes acompanhada ao piano e banjo. Destes locais, destaque para o Avenida-Bar, vindo a estrear-se como profissional, no Café Luso no dia 6 de Fevereiro de 1934. Mais tarde, apresenta-se também nos emblemáticos Retiro da Severa, Capitólio, Café Luso e Café Mondego.

 

Ainda como amadora integra o elenco de duas peças de teatro que se estreiam no Lisboa Clube, localizado no Bairro Alto. Integrando uma companhia de teatro percorre todo o país e viaja até à Guiné, a convite de Rui Metelo, um conhecido empresário na área. Em entrevista Alcídia Rodrigues acrescentará: “Não aceitei mais contratos devido à família. Queriam que fosse às Ilhas, tive contactos para o Brasil, o Pimentel dizia que o género que cantava era muito bom, cantava fados alegres, mas não pude, tinha a família e tinha que olhar por eles…”.

 

A sua popularidade alarga-se e passa a actuar em verbenas, colectividades, festas de beneficência e várias casas particulares, com destaque para a do Conde de Burnay. É convidada a interpretar alguns temas de Fado em rádios locais tais como a Rádio Graça, a Rádio Luso e a Rádio Peninsular, Rádio Club Português. Alcídia Rodrigues revela-se então, como uma das mais acarinhadas fadistas, afirmando “fui sempre muito bem recebida pelo público.”

 

Na Rádio Graça, Alcídia Rodrigues grava o seu primeiro disco de 78 rpm que será comercializado nos Estados Unidos da América.

 

Em 1946 Alcídia Rodrigues protagoniza um curioso episódio em que, em resposta a um presumível “detractor” do fado, revela todo o seu profissionalismo e dedicação à causa fadista. Este gesto, em notícia na imprensa da época, revela Alcídia Rodrigues como “…uma pequena figura de mulher, todavia sua alma, que ela expande, glorificando-a num arrebatamento espiritual, é enorme, é vasta como a própria alma do povo.” (Cf. “Canção do Sul”, 02 de Março de 1946)

 

Em “Ídolos do Fado”, Vítor Machado, refere que os fados “Horácio” e “Martinho” são de autoria de Alcídia Rodrigues (Vítor Machado (1937): 49) e de acordo com a publicação “Canção do Sul” somam-se a estes, os seguintes registos: "Fado da Bica", e "Bailarico de Santo António", entre outros. (“Canção do Sul”, 1 Março de 1938). Destaque ainda para a música do “Fado Tradição”, sobre a qual a nos confidência: “Quem popularizou o fado Embuçado, que é o Fado Tradição, música minha e letra de Gabriel de Oliveira, foi o Ferreira Rosa. (…) Gostei que ele fizesse isso.”.

 

Alcídia Rodrigues é autora de outras músicas que entretanto registou na Sociedade Portuguesa de Autores, desejando que as mesmas tivessem maior divulgação. No seu repertório destacamos poemas de grandes poetas da época, tais como João Linhares Barbosa, Carlos Conde, Gabriel Oliveira, Armando Neves e Raul de Oliveira.

 

No decorrer da sua carreira foi acompanhada por excelentes instrumentistas, com destaque para Armandinho, Jaime Santos, José Nunes, Casimiro Ramos, Miguel Ramos, entre outros.

 

A carreira artística de Alcídia Rodrigues revelou na década de 30 um período de grande apogeu, com destaques na imprensa, que lhe atribuíam grandes elogios, registos de uma personalidade simples, alegre, uma voz graciosa e de muita dedicação à sua carreira, "Alcídia é uma fadista autêntica", dirão. Com efeito, neste período, é comum a realização de festas de homenagem aos artistas, semelhante à que decorre no dia 23 de Janeiro de 1949 no restaurante Gingão. Neste almoço de homenagem a Alcídia Rodrigues, confraternizaram nomes como Carvalhinho e Adelina Ramos. (cf. “Ecos de Portugal”, 15 de Fevereiro de 1949)

 

No âmbito da 1ª sessão do ciclo de homenagens “Eu Lembro-me de Ti”, organizada pelo Museu do Fado em Abril de 1999, Alcídia Rodrigues junta-se a outros homenageados como Adelina Ramos, Gabino Ferreira, Frutuoso França, Augusto Saraiva e Judite Pinto, integrando uma sessão de fados.

 

Fontes de informação:

“Guitarra de Portugal”, 08 Dezembro de 1935

“Guitarra de Portugal”, 20 Dezembro de 1936

“Canção do Sul”, 01 Março de 1938

“Canção do Sul”, 01 de Março de 1946

“Ecos de Portugal”, 15 de Fevereiro de 1949

Machado, A. Victor (1937) “Ídolos do Fado”, Lisboa, Tipografia Gonçalves;

Museu do Fado - Entrevista realizada em 26 de Setembro/2006.

 

Ultima actualização: Abril de 2010

O Fado "Embuçado" é dedicado a D. Carlos que aprendeu a tocar guitarra e gostava de toiradas e fados

O Rei D. Carlos, assassinado há mais de cem anos, gostava de toiradas e de fados, indo ao encontro de uma tendência cultural das época que visava "revalorizar as coisas nacionais", disse à Lusa o historiador Rui Ramos.

O fado "Embuçado", da autoria de Gabriel de Oliveira, "é uma homenagem ao Rei que ia muito aos fados e tinha até aprendido a tocar guitarra portuguesa com João Maria dos Anjos", disse à Lusa o fadista Miguel Silva, 91 anos, que conviveu com o poeta, falecido em 1953.

"O Gabriel que ficou conhecido aqui na Mouraria [Lisboa] como `Gabriel, marujo` era uma integralista monárquico, e fez o fado para a Natália dos Anjos, que foi sua companheira, cantar, em homenagem ao Rei", disse Miguel Silva.

O tema "Embuçado" tornou-se conhecido na voz de João Ferreira Rosa, que o começou a cantar em 1962, com música de Alcídia Rodrigues, habitualmente designada como "Fado Tradição".

"Quem me deu a letra foi a fadista Márcia Condessa e gravei o fado em 1965, e de facto escolhi pela música do fado Tradição", disse João Ferreia Rosa.

Originalmente, Natália dos Anjos cantava-o na música do "Fado Natália" de autoria de José Marques `Piscalarete`.

O musicólogo Rui Vieira Nery afirmou à Lusa "que há de facto essa tradição oral de que o Rei ia aos fados e há documentação relativamente ao facto de ter aprendido a tocar guitarra portuguesa, ainda na juventude, com João Maria dos Anjos".

"Sabe-se que o Rei ia muito a patuscadas, nomeadamente para a Costa de Caparica, e neste contacto com as classes populares era natural haver fado", disse Vieira Nery.

Não há notícia de alguma vez ter tocado guitarra portuguesa em público, adiantou Nery, mas "sabe-se que aplaudiu entusiasticamente o guitarrista Petrolino, quando este actuou na embaixada inglesa em Lisboa, no âmbito da visita de Eduardo VII".

"Sabe-se também que o próprio Rei chegou a convidar o fadista Fortunato Coimbra para cantar no iate Amélia", acrescentou o musicólogo.

Nesta altura, explicou o investigador, começa a tornar-se hábito, fadistas populares serem "expressamente convidados para actuarem nos palácios dos condes de Anadia, de Burnay, de Fontalva, de Pinhel, da Torre ou do marqueses de Castelo Melhor para além das casa agrícolas de grandes latifundiários como os Palha Blanco ou Camilo Alves".

O historiador Rui Ramos salientou à Lusa que o gosto de D. Carlos enquadra-se "numa viragem no fim do século XIX em que se revaloriza o que é nosso, a vida rural, as toiradas, o fado, etc.".

"D. Carlos está muito identificado com esta tendência. Gosta do Alentejo, de se vestir de lavrador alentejano, gosta de estar e ser um deles, usa até expressões populares nas suas cartas", afirmou Rui Ramos.

Por outro lado, acrescentou o investigador da Universidade de Lisboa, este gosto vem "ao arrepio da tradição da monarquia liberal que é erigida contra a vida marialva que caracterizava a fidalguia, no esteio da fama de D. Miguel I".

"D. Luís, seu pai, não gostava de toiradas que foram aliás abolidas em 1834 pois eram vistas como um desporto bárbaro e que incentivava à ferocidade da população", acrescentou.

Segundo Rui Ramos, biógrafo do monarca, D. Carlos "não tem da vida uma concepção austera ou trágica como D. Pedro V, seu tio".

"Vive de estímulos externos, gosta da vida ao ar livre, gosta de caçadas, vela, nadar, jogar ténis, pratica esgrima, equitação. Não é um intelectual, não tem uma vida interior, no sentido de reflectir muito", disse.

Rui Vieira Nery afirmou que, de facto, o Rei "era dado a uma alegre convivência" e segundo Rui Ramos, D.Carlos gostava de companhias femininas e "teve várias amantes".

"Sabe-se que a partir de dada altura o casal real não tem vida conjugal. Viviam no Palácio das Necessidades [Lisboa] mas separadamente, D.ª Amélia na ala residencial e D. Carlos na ala conventual".

"Relativamente às suas amantes há até documentação, nomeadamente sobre um caso com a mulher do embaixador brasileiro, através dos escritos deixados pelo médico da Corte, Thomaz de Mello Breyner".

Rui Ramos salientou ainda "a dimensão de `dandy` do Rei, sempre vestido `muito à moda`, usava por exemplo chapéu de abas moles, chamado na época `republicano`", afirmou.

"Esta dimensão aproxima-o do Príncipe de Gales, seu contemporâneo", futuro Eduardo VII que visitará Lisboa e ouvirá fado.

Fonte de informação:

  https://www.rtp.pt/noticias/cultura/fado-embucado-e-dedicado-a-d-carlos-que-aprendeu-a-tocar-guitarra-e-gostava-de-toiradas-e-fados_n164144

 

 

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