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Júlia Mendes

Revelando desde pequena especial talento, começou a cantar o Fado pelas ruas de

Lisboa enquanto a mãe pedia esmola.

 

Estreou-se no teatro de revista no Teatro da Trindade, no dia 25 de Dezembro de

1902, numa matinée promovida pela Tuna do Diário de Notícias.

Foi a consolidação de uma carreira iniciada nos teatros de feira, situação que viria a

prejudicá­-la junto de alguns empresários, nomeadamente José dos Santos Libório,

do Casino de Paris, o qual apesar disso lhe assegurou o primeiro contrato estável,

tornando-se desde logo conhecida do grande público pelo seu espírito trocista, ditos

brejeiros e capacidade de improviso.

Passou pelo Príncipe Real e pelo teatro Aveni­da. Ficaram célebres as suas participações nas revistas Ó da Guarda!, P'rá Frente, Zig-Zag, ABC e Sol e Sombra.

Menina mimada do povo boémio da época pela beleza da sua voz e dicção claríssima, foi con­siderada Rainha da Revista, chegando a manter um teatro com o seu nome - Salão Júlia Mendes­ na Feira de Agosto.

Desempenhou o papel de Se­vera na ópera cómica do mesmo nome, acompa­nhando-se à guitarra.

Os seus grandes olhos expressivos e alegria na­tural criaram um estilo a que não era alheio, segun­do os críticos da época, uma subtil tendência para o trágico dentro do próprio humor que levaram ao carácter eminentemente popular da sua Severa.

Representou pela última vez, em 1910, na Fei­ra de Agosto, na revista Zig-Zag.
Tal como Maria Vitória desaparecida muito jovem, com ela se formou um dos grandes mitos dos tempos do Fado do início do século.

Em 1969, na Revista Ena, Já Fala, é relembrada por Fernanda Batista, que declamava:

Acabando em apoteoso cantando o Fado ”Saudades da Júlia Mendes”, cujos autores foram: João Nobre e César de Oliveira, Rogério Bracinha e Paulo Fonseca.

 

 

Saudades de Júlia Mendes

César d'Oliveira / Rogério Bracinha / Paulo Fonseca / João Nobre

Repertório de Fernanda Batista

-
Criação de Fernanda Batista na revista *Ena, já fala*
Teatro ABC em 1969
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*


-

Declamado
Eu trago a vida suspensa / Nas cordas duma guitarra
Mas oiço com indif'rença / Quando me vêm dizer
Naquela ideia bizarra / De eu não cantar p'ra viver

Oh Júlia... trocas a vida p'lo fado

P’lo fado, esse malandro vadio
Oh Júlia...  olha que é tarde, toma cuidado

Leva o teu xaile traçado 

Porque de noite faz frio
Oh Júlia...  andas co’a noite na alma

Tem calma, 'inda te perdes p'ra aí
Oh Júlia... se estás no mundo vencida

Não finjas gostar da vida 

Que ela não gosta de ti

Não fales coração

Tu és um tonto sem razão
Viver só por se querer não chega a nada
Aceito a decisão 
Que os fados trazem ao nascer
Todos nós temos que viver de hora marcada

Se Deus me deu a voz

Que hei-de eu fazer senão cantar
O fado e eu a sós queremos chorar
Eu fujo não sei bem de quê

Do mundo ou de ninguém, talvez de mim

Mas oiço alguém dizer-me assim



Não há fadista actual chamada Júlia que não cante este fado. Compreende-se.

Está escrito na primeira pessoa, o vocativo «Ó Júlia» introduz um diálogo

que «dá muita vida» a este fado.

 

Ainda por cima, contém alguma profundidade filosófica pouco usual

(… Se estás no mundo vencida / Não finjas gostar da vida / Que ela não gosta de ti)

e um confessionalismo algo torturado

(… Eu fujo não sei bem / De quê, do mundo ou de ninguém / Talvez de mim…)

que se aliam muito bem ao Fado, aliança a que não é alheia a música que o maestro

João Nobre teve de compor para nela «encaixar» esta letra tão diversificada em termos

métricos.

Actualmente, não se ouve a introdução declamada, e é pena.

 

FADOS do FADO ... 6.350 LETRAS ...: Saudades de Júlia Mendes

 

Júlia Mendes - Arquivo Sonoro Digital (museudofado.pt)

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